BLOGUEIRO CONVIDADO: Duh Secco relembra “O amor está no ar”
Mais um jovem e promissor talento dando o ar da graça no melão! E esse, além de tantos predicados, é um amigo mais que querido e uma das pessoas mais doces e gentis que conheço. Roteirista de mão cheia, Duh Secco, do alto dos seus 23 anos, já estreou profissionalmente com a minissérie “A estreia”, escrita para o Canal Casablanca, disponível em http://www.canalcasablanca.com.br/ . Nesse momento, Duh prepara um novo trabalho para o mesmo canal. Desejamos a ele ainda mais sucesso.
E junto com o inegável talento pra escrita, Duh possui uma outra qualidade, infelizmente rara entre os roteiristas: paixão por telenovela. Além de escrever, Duh é um telespectador apaixonado, com uma memória prodigiosa. Em seu currículo também consta a vitória no “Video Game”, apresentado por Angélica para o “Video Show”. Claro que um talento desse não ia passar incólume pelo melão, que o convocou a escrever um texto relembrando a simpática novela “O amor está no ar”, de 1997, do Mestre Alcides Nogueira, muso absoluto deste blog. Duh divide conosco suas lembranças e sua análise perspicaz dessa novela que é lembrada com carinho por muita gente. Com a palavra, o queridão Duh Secco!
O amor está no ar – por Duh Secco
Março de 1997. A TV Globo anunciava em suas chamadas, “a próxima estreia das seis”. Curioso. Nunca havia visto uma novela ser anunciada desta forma. A chamada da novela ainda incluía cenas de jet-sky, helicópteros, ultra-leves, acidentes de automóvel. Nada familiar ao horário. No domingo, 30, li o resumo da nova novela no jornal. Adorei e, por isso, resolvi assistir. Na segunda, 31, lá estava eu, de frente a televisão, com relógio marcando 18h, assistindo, completamente envolvido, a tal “estreia das seis”: O Amor Está no Ar.
Novela de Alcides Nogueira, dirigida por Ignácio Coqueiro sob o núcleo de Wolf Maya, O Amor Está no Ar contava a história de Sofia Schnaider (Betty Lago), mulher que vive em conflito com a filha Luiza (em ótima estreia como protagonista de Natália Lage). Tal conflito já era vendido no primeiro capítulo. Incomodada com o excesso de trabalho da mãe e com uma possível traição da mesma ao seu pai, Victor (Wolf Maya), Luiza posiciona sua moto no heliporto destinado ao pouso do helicóptero pilotado por Sofia, fazendo com que esta colida contra o prédio da empresa de turismo da família, a Estrela Dourada. O acidente sem maiores conseqüências já vendia a ideia central da novela logo no primeiro momento. Eu comprei tal ideia! E acompanhei o desenrolar do conflito entre mãe e filha, acentuado após um desastre automobilístico que vitima Victor. Viúva, a empresária se vê envolvida por Léo (Rodrigo Santoro), piloto de sua empresa e namorado de sua filha, a quem conheceu logo após acudi-la, quando Luiza sofre um desmaio ao ver uma estranha luz, que ela acredita ser emanada por seres de outros planetas.
Pronto! Estava justificado o título. O amor estava no ar porque extraterrestres rondavam o céu da fictícia Ouro Velho. Nada mais atual, numa época em que só se falava no ET de Varginha e outras criaturas estranhas. Eu estava na quarta série. 10 anos de idade. E no colégio, o comentário não era outro senão o ET da novela das seis. Já nas ruas, ouvia muita gente falando mal da trama. Quem era capaz de acreditar naquela história, sobre seres de outros planetas? A imprensa ajudava: “Novela das seis traz ET para levantar a audiência”. E eu pensando: “O que é audiência? O que isto vai mudar na novela?”.
Não mudou nada. Absolutamente nada. Eu continuei apaixonado por O Amor Está no Ar. Comprei a trilha nacional em fita K7. Confesso que a contragosto, porque eu queria mesmo era a trilha de Zazá (por conta da música do Skank). Mas minha mãe insistiu: “Leva a da novela do ET”. Depois adquiri a internacional, com as ótimas Due Ennamorati Come Noi (Laura Pausini) e The Same Moon (Phil Collins). Mas a nacional é melhor, sem dúvida. Destaque pra Não Identificado (Fênix), Amor Meu Grande Amor (Barão Vermelho), Abre Coração (Cheiro de Amor), Todo Amor Que Houver Nessa Vida (Cássia Eller), Sempre Junto de Você (Wander Taffo), Vai e Vem (Par ou Ímpar, que embalava as vinhetas de intervalo) e Exagerado, em versão remixada, com o brilhante Cazuza, tema da hilária Cuca Chicotada (Georgiana Góes).
Vibrava com cada barraco da ótima Cuca, minha personagem preferida, a princípio apaixonada por Léo e depois envolvida por Vicente (Tuca Andrada). Se minha memória não falha, Cuca e Vicente acreditavam ser irmãos, já que a mãe dele, Úrsula (Nicette Bruno), grande vilã da história, havia se envolvido com Guima (Nuno Leal Maia), pai dela, no passado. Era estranho ver Nuno Leal Maia ser disputado por duas atrizes mais velhas, como Nicette e Lady Francisco, como a ótima Candê, sua esposa oficial. Um deslize de escalação que não chegou a comprometer.
Se no triângulo amoroso, Nicette destoava, o mesmo não se pode dizer de seus momentos de vilania, quando mancomunava ao lado do genro Alberto (Luís Melo) os mais diversos planos para retirar Sofia do comando dos negócios de seu filho, Victor. Úrsula e Alberto contavam com uma poderosa aliada, Júlia (Natália do Vale), irmã de Sofia e grande paixão de Alberto, também obstinada em retirar a viúva do posto de presidente da empresa. Júlia e Alberto confabulavam ao mesmo tempo em que se deixavam levar por uma paixão avassaladora, que o levava a trair sua esposa, a abnegada Milica (Suzana Gonçalves), que, mesmo com o apoio dos filhos, Rodrigo (Thierry Figueira) e Camila (Ana Paula Tabalipa, recém saída de Malhação), não encontrava forças para pedir a separação.
Rodrigo e Camila eram dois integrantes do núcleo jovem da trama, que incluía ainda a invejosa Beatriz (Micaela Góes), irmã de Luiza, e Ivan (Marcelo Faria), trapezista do circo mantido com inúmeras dificuldades por Guima, em uma das paralelas mais interessantes da trama. Outra trama alheia a central totalmente envolvente era a do rabino David (Caco Ciocler), apaixonado por Flora (Isabela Garcia), mas fugindo da menina por já estar prometido a outra mulher. O que David sequer imaginava era que sua prometida era Flora. Bacana também era a relação do casal Filipe (Tato Gabus), irmão de Sofia e Júlia, e Matilde (Cláudia Lyra), que inauguram um restaurante em Ouro Velho.
Ao final, a grande revelação: João era mesmo um ser de outro planeta, responsável por estranhos acontecimentos ocorridos em Ouro Velho. O ET se despede de Luiza e parte. A moça, por sua vez, fica com Léo. Não sei bem se foi no último capítulo, mas os dois se beijam num cruzeiro lindo onde Luiza mantinha contato com seres de outros planetas, enquanto uma intensa luz brilha no céu. E tudo se acerta na vida de Sofia e Pedro Olímpio. O amor estava mais no ar do que nunca! E eu, mais certo de que, não importa a audiência, os fatores externos, os comentários na imprensa... Novela boa a gente sempre guarda no coração.