Foi-se o tempo em que a Branca de Neve precisava de um príncipe para salvá-la das maldades de sua madrasta má. A Branca de Neve do século XXI levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Vai à luta para recuperar o que perdeu e se vingar daqueles que fizeram mal a ela. Nesse início da nova novela das nove, “Avenida Brasil”, e a julgar pelas informações que temos do que virá pela frente, é impossível não fazer alusão ao famoso conto de fadas dos Irmãos Grimm. Só que, ao invés do Reino Encantado, o universo da trama é a movimentada e pulsante Avenida Brasil, que corta os principais bairros do subúrbio carioca.
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Rita (Mel Maia) e Carminha (Adriana Esteves) em excelentes atuações |
Assim como no conto de fadas, a menina Rita (Mel Maia, um escândalo de talento) é vítima da maldade de sua madrasta, a terrível Carminha (Adriana Esteves com o diabo no corpo), que dá o golpe no pai da menina (Tony Ramos, genial como sempre) e, após se apropriar do dinheiro dele, pede ao “fiel caçador”, digo, ao comparsa Max (Marcello Novaes), que abandone a menina em um lixão. Assim como a floresta do conto de fadas, o lixão da novela é um lugar cheio de perigos, com direito a velho do saco e tudo (outra lenda que aterrorizava as criancinhas). No lugar dos sete anões, Rita será amparada pela personagem de Vera Holtz. A menina cresce disposta a acertar as contas com sua rival. A partir daí, só mesmo o autor João Emanuel Carneiro e sua inspirada equipe poderão nos surpreender com situações pra lá de eletrizantes, assim como foram os primeiros capítulos da trama, que não deixaram ninguém desgrudar os olhos da telinha da tevê e da tela do computador, já que todos os Trending Topics do Twitter eram sobre a novela.
João Emanuel Carneiro não tem o estilo operístico de um Aguinaldo Silva, tampouco o naturalismo de um Manoel Carlos. Seus personagens também não possuem a dimensão humana dos personagens dos folhetins de Gilberto Braga, em que as vilãs, muitas vezes, ganham a simpatia do público, que enxerga nas atitudes delas muitas de suas próprias atitudes. No entanto, João Emanuel Carneiro tem se mostrado mestre em conduzir tramas emocionantes cheias de reviravoltas e vilões capazes de tudo para atingirem seus objetivos sem demonstrarem remorso algum, como foi o caso da psicopata Flora, célebre personagem de Patricia Pillar em “A Favorita”. Ao que tudo indica, a Carminha de Adriana Esteves vai pelo mesmo caminho, sempre com diálogos inspirados e um jeitão debochado e irônico que faz com que o público vá ao delírio. Já estamos com medo da maçã envenenada que esta madrasta má está a preparar para sua enteada, que na segunda fase vai ser vivida por Debora Falabella.
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Debora Falabella, que viverá a heroína na segunda fase da trama |
Enfim, as tramas de João Emanuel Carneiro nunca me remetem à realidade, mas sim a uma deliciosa fábula reinventada em que príncipes encantados dão lugar a tipos bem populares como jogadores de futebol, que são os heróis da atualidade, como são os personagens dos protagonistas masculinos vividos por Murilo Benício e Cauã Reymond. A doçura e a inocência dos contos de fadas tradicionais dão lugar a um clima sombrio, assustador, de permanente tensão, em que os heróis são capazes de atitudes tão condenáveis quanto às atitudes dos vilões. Por isso, prevejo muita emoção e tensão pelos próximos meses, principalmente quando a Branca de Neve em questão decidir tomar as rédeas de sua vida e partir para sua terrível vingança. A madrasta má que se cuide...