Há alguns dias atrás
ao assistir a mais um eletrizante capítulo de “Avenida Brasil”, comentei no twitter que as caras e bocas de Carminha
eram impagáveis, uma melhor que a outra e completei afirmando que sua
intérprete, Adriana
Esteves, tinha tomado aulas com Regina
Duarte. Algumas horas depois, uma seguidora me perguntou se aquilo tinha
sido um elogio, já que ela adorava as duas atrizes. Respondi apenas mandando a
ela o link de meu texto “O dia em que conheci Clô Hayalla”, respondendo de
forma indireta à sua pergunta.
Mas o que, a
princípio, parecia apenas mais uma frase imediatista de efeito, a exemplo de 99%
do que é publicado na referida rede social, tinha mais fundamento do que eu
imaginara. De fato, a trajetória das duas atrizes é bastante semelhante, bem
como seus estilos de interpretação. Regina Duarte, no início da carreira,
exalava ternura e reinou absoluta durante muito tempo como a “Namoradinha do
Brasil”, até provar que era muito mais do que isso em “Malu Mulher” (1979) e
logo depois deu um giro de 180 graus em sua carreira como a mítica e espalhafatosa
Viúva Porcina, de “Roque Santeiro” (1985), tornando-se a atriz mais importante
e representativa da televisão brasileira.
Adriana Esteves
também começou fazendo um papel fofo como a gata de praia Tininha em “Top Model”
(1989) e confirmou essa vocação de namoradinha nas novelas seguintes, “Meu bem,
meu mal” (1990) e “Pedra sobre Pedra” (1991). A enxurrada de críticas (injustas,
na minha opinião, já que o problema era mais com a personagem do que com a
atriz) quase a fez desistir da carreira em “Renascer” (1993). Mas ela voltou em
uma passagem rápida pelo SBT na lacrimogênea “Razão de Viver” (1996) e logo
depois retornou à Globo em grande estilo como a protagonista de “A indomada”
(1997), em que Eva Wilma deitou e rolou como a endiabrada vilã Altiva, mas
Adriana não fez feio e defendeu com dignidade a personagem com os recursos que
tinha. A grande virada em sua carreira veio com a “piriguete” (naquela época
esse termo ainda nem era usado) Sandrinha em “Torre de Babel” (1998), na qual
Adriana pôde mostrar sua faceta cômica e sensual. Como prêmio, acabou sendo a
grande assassina da trama, responsável por explodir o Tropical Tower Shopping,
que acabou com a vida de vários personagens da novela. Mais tarde, em “O cravo
e a rosa” (2000), mostrou que também é ótima no humor escrachado. Sua folha de
bons serviços prestados também inclui a Celinha de “Toma lá dá cá” (2007/09) e
a visceral Dalva de Oliveira em “Dalva e Herivelto” (2010). A carreira de
Adriana já estava mais que consolidada e ela não precisava mais provar pra
ninguém a grande atriz que é. Até que veio o furacão Carminha de “Avenida
Brasil” (2012), que a colocou definitivamente na galeria das grandes atrizes televisivas
de todos os tempos.
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Adriana Esteves em um momento catártico de Carminha |
Na pele de Carminha,
Adriana Esteves nos brinda não somente com uma brilhante interpretação, o que
já seria louvável, mas não um fato único, já que muitos e muitos atores brilham com grandes interpretações em praticamente todas as novelas todos os anos
(felizmente somos riquíssimos em talento). Adriana vai além: ela nos oferece a
coragem, o risco de se aventurar na corda bamba, no limite do ridículo e do
caricato. E é nesse ponto que me lembro de Regina Duarte e sua genial Clô
Hayalla, que chegava às raias do exagero e ditava o tom adequado do delicioso melodrama
de “O astro” (2011) se fazendo antológica. Adriana também é dessas “atrizes
trapezistas”, que não estão nem aí para o risco e fazem piruetas
interpretativas sem rede de proteção. O resultado pode ser uma tragédia ou a
consagração. Felizmente, a segunda opção já está garantida, já que as caretas,
os gritos, as expressões de euforia e fúria de Carminha já conquistaram
definitivamente o público. Portanto, querida seguidora, quando comparei Adriana
com Regina estava fazendo um grande elogio. E acredite. Ser comparada com
Regina Duarte é um elogio para poucas.
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Regina Duarte na pele de Clô Hayalla em "O astro" |
Melão quer saber: qual seu personagem favorito de Adriana Esteves?
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