Que notícia
triste, amadinhos! “Cheias de Charme” chega ao fim essa semana deixando uma
legião de curicos órfãos dessa deliciosa novela que agradou do inicio ao fim,
trazendo frescor e diversão para o horário das sete. Já entrou seguramente para
a galeria das grandes novelas. Que venha Sílvio de Abreu e sua nova “Guerra dos
Sexos”, mas antes vamos fazer um balanço da novela e enumerar alguns dos
motivos pelos quais ela se tornou antológica.
10)
NOVELÃO MUSICAL:
A novela apostou em
um gênero pouquíssimo explorado em nossa teledramaturgia: o musical. E o
resultado não podia ter sido melhor. Os hits das Empreguetes, de Chayene e de
Fabian, em pouco tempo, já foram parar na boca do povão. Quem nunca cantarolou “Voa
voa brabuleta” ou “Vida de empreguete” que atire o primeiro CD. Além disso, os
números musicais foram muitíssimo bem produzidos e toda a trama ambientada no
universo do showbizz bastante verossímil.
9) NARRATIVA TRANSMÍDIA:
Pela primeira vez em
nossa teledramaturgia, a internet foi utilizada de forma efetiva,
complementando a trama televisiva. O hit “Vida de empreguete”, que na novela
acabou vazando na rede, foi exibido primeiro na internet e teve milhões de
acessos em pouquíssimos dias, alavancando ainda mais a audiência da novela.
Além disso, a internet teve papel fundamental em vários desdobramentos da
trama. Os autores mostram que não pararam no tempo e estão ligados na
tecnologia dos dias atuais.
8) DIREÇÃO AFIADA:
De nada adiantaria
uma boa trama e um elenco de peso se a direção não acompanhasse a qualidade da
novela. Sob o núcleo de Denise Saraceni e direção geral de Carlos Araújo, os
diretores deram agilidade à trama e embarcaram pra valer no estilo kitsch e divertido da saga das
empreguetes. E os números musicais sempre foram valorizados ao máximo.
7) IDENTIDADE VISUAL:
Poucas novelas
tiveram uma identidade visual tão forte quanto “Cheias de Charme”, o que a
tornou inconfundível. Tudo isso graças ao incrível trabalho de figurino, cenografia,
produção, direção de arte, tudo na mais absoluta sintonia com a trama, um conto
de fadas moderno cheio de charme e com muito glitter.
6) DRAMA NA MEDIDA CERTA:
Se “Cheias de Charme”
foi uma novela que mergulhou no humor com tudo sem o menor pudor, também não
deixou a desejar no drama, dando a dimensão humana necessária para que os
personagens cômicos não se tornassem meros tipos de programas humorísticos.
Além disso, os
elementos indispensáveis do velho e bom melodrama não faltaram, como a trama
que envolvia Cida (Isabelle Drummond) com a família Sarmento, passando de
empregada à dona da casa, o que rendeu ótimas atuações, não só de Isabelle, mas
também de toda a família com destaque para Tato Gabus e Alexandra Richter, que
provou que pode ir muito além de uma atriz cômica, protagonizando cenas
dramáticas com a mesma competência com que faz comédia.
A questão do duplo,
sempre muitíssimo bem explorada nas tramas de Janete Clair, aqui também ganhou
uma divertida versão com os sósias Fabian e Inácio, ótimo trabalho de Ricardo
Tozzi, sobretudo nessa reta final em que teve que interpretar um personagem
fingindo ser outro.
Outro grande destaque
dramático ficou por conta de Malu Galli, a “patroete” do bem, Lígia, que teve
peso de uma protagonista durante a novela inteira e também emocionou o público
com seus dramas amorosos e familiares. Como não amar Lígia e torcer por sua felicidade?
Além do drama na medida certa, o talento e o carisma da atriz contribuiu
bastante para o sucesso da personagem.
5) ELENCO DE PRIMEIRA:
Além dos destaques já
citados no elenco, a novela contou com um time de peso: ótimos veteranos e um
elenco jovem dos melhores. Muitos foram os destaques e raríssimas foram as
exceções. Nomes consagrados como Aracy Balabanian, Edney Giovenazzi, Ilva Niño
(adorável), Maria Pompeu, Marcos Palmeira (surpreendente), Leopoldo Pacheco, Dhu
Moraes e Daniel Dantas dividiram a cena com um ótimo time jovem, com destaque
para Chandelly Braz (como não amar Brunessa?), Humberto Carrão, Simone
Gutierrez, Gisele Batista, Tainá Muller, Fabio Nepo e muitos outros, todos
ótimos em seus personagens. O trabalho de Kika Kalache também merece destaque
como Ivone, a empreguete evangélica amiga de Penha, longe de estereótipos e
também adorável. Enfim, o elenco foi um dos maiores acertos da novela e estou
até sendo injusto não citando os demais atores. Mais uma vez, ponto para os
autores que, generosos, souberam dar a cada um o momento e a oportunidade certa
para brilharem.
4) BRABULETA-REVELAÇÃO:
Ela já foi mencionada
no texto anterior sobre a novela escrito por Marcio Adson, mas nunca é demais
rendermos todos os elogios à “quarta empreguete” Socorro, em genial
interpretação de Titina Medeiros, de longe a maior revelação do ano.
Contracenando com nomes de peso, a atriz não deixou a peteca cair e foi a responsável
por muitos dos mais hilariantes momentos da trama. A cena em que ela emerge do
rio a la Isadora Ribeiro na abertura do “Fantástico” já entrou para a galeria das
mais engraçadas da televisão. E nessa reta final, também esteve impagável como
Lady Praga. Vida longa para sua carreira televisiva.
3) CLAUDIA ABREU:
O que a guerrilheira
Heloísa, a cachorra Laura e a esfuziante Chayene têm em comum? Quase nada,
salvo o fato de serem interpretadas pela mesma atriz, a camaleônica e
multitalentosa, Claudia Abreu, que fez de sua Chayene um verdadeiro furacão. Mesmo
cometendo as piores vilanias, não tem como não amar a irresistível “brabuleta”,
que sempre tinha uma ótima tirada na ponta da língua e sempre se dava mal em
suas armações, lembrando os clássicos vilões de desenho animado. Mais um
trabalho impecável de Claudia Abreu, que deu um novo giro de 180 graus em sua
carreira, provando ser capaz de fazer absolutamente TUDO em cena. Chayzinha,
sem dúvidas, vai deixar muitas saudades. Os versos “ela se acha toda toda toda
toda, faz o que der na veneta e o resto que se exploda” não vão sair tão cedo
de nossa memória e são a melhor tradução da personagem. A “brabuleta-rainha”
vai voar, mas certamente não vai sair nunca mais do coração do público.
2) AS EMPREGUETES, É CLARO!
Em tempos em que somente
as vilãs dominam a cena e as mocinhas, quase sempre, ficam em segundo plano,
elas conseguiram uma proeza: foram as que mais brilharam do início ao fim e, de
cara, já atraíram a paixão por parte do público. Diferentes entre si, mas
genialmente complementares, essas Marias foram o centro das atenções, dividiram
opiniões quando separadas e ganharam a torcida para ficarem juntas até o fim.
Mérito absoluto das atrizes, que fizeram bonito com os ótimos personagens que
ganharam. Cida, a mais romântica, espécie de Cinderela pós-moderna, mas que
também soube ir à luta, ganhou doçura e força na medida certa na interpretação
de Isabelle Drummond; Penha, a que mais
representa o imaginário da mulher brasileira, guerreira, amiga, emocionante e
emocionada, com seu jeito todo peculiar de falar, explodiu em popularidade na
brilhante atuação de Taís Araújo; e Rosário, a grande heroína da trama, símbolo
da determinação e da garra na busca de seus ideais, teve em Leandra Leal a
intérprete perfeita. Mesmo ganhando a antipatia por parte do público por
colocar a carreira em primeiro lugar, é inegável: Rosário é a alma da novela. E
Leandra Leal, mostrou mais uma vez, que é uma das melhores atrizes de sua
geração. O trio foi absolutamente perfeito e a química das três atrizes funcionou
desde o início. Por isso, mais do que entrechos amorosos e a busca pelo
sucesso, “Cheias de Charme” é, acima de tudo, uma ode à amizade.

1) TEXTO IMPECÁVEL:
Claro que sou
suspeitíssimo por colocar o texto em primeiro lugar, mas seria impossível não
valorizar o trabalho impecável dos estreantes Filipe Miguez, Izabel de Oliveira
e seu time de colaboradores: Daisy Chaves, Izabel Muniz, João Brandão, Laís
Mendes Pimentel, Paula Amaral e o grande Sérgio Marques, além, é claro, da
supervisão de Ricardo Linhares, que soube respeitar completamente o estilo da
trama. Um fator fundamental para que a novela fosse um grande acerto é o fato
de sua história compacta e seu enredo ter sido muitíssimo bem construído.
Nenhum fio da trama era solto e uma situação parecia sempre levar à outra,
consequência de uma estória que parece ter sido pensada e planejada há muito
tempo, além, é claro, dos diálogos inspiradíssimos. Mesmo depois que a trama
caiu um pouco por conta da separação das Empreguetes, era notório o esforço da
equipe em criar novos entrechos e situações até a retomada da trama central.
Enfim, uma combinação perfeita dos elementos tradicionais do folhetim com o
ritmo, agilidade e criatividade dos tempos de hoje.
“Cheias de Charme”
vai deixar saudades e uma difícil missão para sua sucessora: segurar o enorme
sucesso que conquistou.
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Até eu congelei no glitter... |
E vocês, sentirão saudades da novela? Quais foram
os maiores destaques?
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