quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nós sempre teremos melão...




Queridos, neste último dia de julho de 2013, mês em que o blog completou 4 anos de uma trajetória tanto surpreendente quanto vitoriosa, e com total sensação de missão cumprida, que anuncio que este é o último post do melão. Mas nada de tristeza ou melancolia! É tempo de comemorar, celebrar, valorizar as conquistas e olhar para frente! Nós sempre teremos melão!

Sim, o melão só me deu alegrias, desde seu nascimento, completamente descompromissado e com a pretensão apenas de dividir minhas memórias televisivas com outros noveleiros que, assim como eu, amam teledramaturgia até o vulto gigante que ele tomou, sempre com grande repercussão e elogios. Mas é preciso fechar ciclos para que outros possam vir. Nós sempre teremos melão!

Nesses quatro anos, vividos tão intensamente que mais parecem dez, tive a honra e o grande privilégio de contar com a participação de blogueiros convidados, queridíssimos amigos que tanto abrilhantaram e abasteceram o melão com suas análises e lembranças de valor inestimável; também preciso agradecer muitíssimo a todos os profissionais que concederam brilhantes entrevistas e dividiram suas histórias e sua trajetória artística com nossos leitores. O melão, acima de tudo, foi um espaço de generosidade, de compartilhar ideias, lembranças e memórias. Também não posso deixar de agradecer a Felipe Ribeiro, por todos os lindos banners e pelo belo layout que deu identidade ao melão! A TODOS VOCÊS, o meu muito obrigado. Nós sempre teremos melão!

Gostaria de deixar bem claro que o blog não será apagado, portanto todo o seu conteúdo, todos os artigos, todas as sessões, tudo será preservado e estará disponível para consulta a qualquer tempo. Não posso deixar de agradecer a todos os leitores. Não importa se vocês acompanharam o melão todo esse tempo em silêncio ou se sempre me prestigiavam com comentários. Vocês fizeram o sucesso do melão! E exatamente por respeito a vocês é que tomei essa decisão. O melão conquistou muita coisa e não seria justo mantê-lo apenas por uma questão de vaidade ou capricho. O fato é que a vida nos leva para novos caminhos e novas conquistas e nem sempre tenho tido tempo ou disponibilidade para me dedicar ao blog da maneira ele merece. Por isso, prefiro que as pessoas se lembrem do blog como o espaço dinâmico, pulsante e movimentado como sempre foi e que serviu de inspiração para tantos outros blogs que vieram depois. Nós sempre teremos melão!

Por fim, quero informar que apenas as atividades do melão nesse formato atual é que estão sendo encerradas hoje. Mas como ser inquieto que sou, já penso em um novo projeto a caminho e, é CLARO que, onde quer que esteja, o melão sempre estará presente. Aguardem!!!

Além disso, o melão de papel continua à venda e a todo vapor. Vocês podem adquirir um exemplar e obter informações sobre outros sites de venda através do site da Navilouca Livros, onde o melão também está disponível na versão e-book. Não falei? Sim, nós sempre teremos melão!

Um beijo carinhoso a todos vocês, meu muito obrigado e minha eterna gratidão a cada um que acessou esse blog.

Segue abaixo um presente carinhoso que recebi de meu amigo Gilberto Zangrande: um caprichado vídeo-montagem das fotos do lançamento do melão. Obrigado, querido, por juntar as lembranças desse dia inesquecível!




E como presente final, segue abaixo o luxuosíssimo prefácio do livro do melão, escrito pelo Alcides Nogueira, muso absoluto do melão! Tide, querido, não posso deixar de te agradecer por tudo, pela sua parceria constante, pela generosidade ímpar e pela imensa capacidade de dizer SIM! Claro que a palavra final do melão não poderia pertencer a ninguém melhor que você!

Com a palavra, Tide! Beijos e até breve!!!

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UM SUCULENTO MELÃO

Entre as muitas conquistas que a internet nos proporcionou, desde que passou a fazer parte do nosso quotidiano, está o de ter se tornado um campo de debate e exposição de ideias com uma (quase)total liberdade de expressão.

Com isso, jornais e revistas, até então os principais detentores (e manipuladores) das opiniões, hoje são obrigados a conviver com sítios e blogs que repercutem os fatos de maneira muito mais avassaladora, e em velocidade infinitamente maior que suas manchetes, reportagens, editoriais etc.

“A voz do dono e o dono da voz” é um bordão que já não tem o peso de antes. Os publishers sabem que, nestes dias, os debates acontecem no cyber space. Como um ser totêmico, a internet possui muitas faces e vozes e nenhum dono.

Discussões fundamentais para o avanço e/ou solidificação das conquistas da sociedade civil são dissecadas e discutidas por pessoas de todo o mundo e em tempo real, com maior liberdade e sem a tesoura dos editores.

Claro que, mesmo assim ou por causa disso, a internet não é nenhum mar de rosas! Se, por um lado, não há (quase) mordaças, por outro ela é um canteiro fértil para qualquer veiculação de pensamentos. Ao lado de blogs que tratam com seriedade a política, a economia, a cultura, os direitos humanos... a rede serve também como esgoto para os péssimos humores, frustrações, idiotices, e pregações perigosas de muitos internautas. Eu nem imagino como é que isso será administrado no futuro. Só espero que, jamais, o caráter libertário e informativo da internet seja prejudicado ou abalado.

Há um outro dado importante: exatamente por ser tão veloz e aberta, a internet acaba se tornando fugaz. Quantas vezes eu procurei um artigo ou um comentário postado em um blog e não encontrei mais. Sei que há os arquivos... mas eles se tornam um labirinto tão grande, que o cansaço da pesquisa acaba vencendo. Ou, então, muita coisa some mesmo!
Conjugar o suporte físico de um livro, por exemplo, com o conteúdo dos blogs é uma excelente maneira para que o registro se torne mais duradouro.

Até há pouquíssimo tempo, o interesse pela teledramaturgia estava restrito a publicações mais interessadas na vida das celebridades e fofocas de corredores ou aos sérios trabalhos acadêmicos, raramente acessíveis. Hoje, a produção televisiva desperta o interesse de muita gente. Principalmente da geração mais nova, crítica e menos benevolente do que a que viu a televisão surgir no Brasil. A teledramaturgia não é mais “uma produção intelectual menor”, como foi considerada durante muito tempo. Ainda mais no Brasil, onde a produção para a telinha é, quase sempre, de alta qualidade. Fora ser o principal entretenimento do brasileiro.

Em consonância com a própria rede, há todo tipo de blogs teledramatúrgicos: os que não passam de uma repaginação das revistas de fuxicos; os que postam gratuitos e infundados comentários ferinos e irônicos; os que não expressam nada de novo, servindo apenas para lustrar o ego de seus blogueiros e amigos... e os realmente interessantes. Um deles é o “Eu Prefiro Melão”, de Vitor de Oliveira.

Vitor, jovem e talentoso autor começando uma promissora carreira, tem um profundo conhecimento da história da teledramaturgia brasileira, uma memória incrível, faz questão de pesquisar e “desenterrar” pérolas... e posta comentários certeiros, críticos, argutos, além de entrevistas com autores, atores e atrizes, diretores. A seriedade do seu blog não tira, em momento algum, a sensação agradabilíssima de se comer um melão suculento (o título, muito sugestivo, vem do bordão usado por uma personagem criada pelo mestre Cassiano Gabus Mendes). É um puro deleite acessar o “Eu Prefiro Melão” e conhecer muito da história da nossa sessentona (e cada vez mais jovem) teledramaturgia.

Juntando os alhos com os bugalhos, temos agora um registro em livro dos comentários de Vitor de Oliveira, para que o conteúdo de seu blog não se perca no virtual. Bela iniciativa! Se Chacrinha ainda estivesse comandando o seu cassino, ou a sua discoteca, com certeza deixaria o bacalhau de lado e berraria, acompanhado de cornetadas: “Quem quer melão?” “Quem quer melão?”

Eu quero. E aposto que vocês também!
ALCIDES NOGUEIRA

São Paulo, 2011


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LEIA TAMBÉM: 

Tide, só tinha de ser com você!!! - Entrevista especial com ALCIDES NOGUEIRA!!!





segunda-feira, 15 de julho de 2013

Alô, capixabas! Melão está chegando por aí...


Queridos, essa semana vou participar de um evento muito bacana em Vitória, que vai abrir o FECIM- Festival de Cinema Independente de Muqui. Fui convidado para ser mediador de uma mesa muito especial sobre telenovela, que contará com os experts Mauro Alencar e Lucia Abreu.
E é claro que vou levar alguns exemplares do melão para uma mini tarde de autógrafos. Terei muito prazer em autografar livros e trocar um dedinho de prosa com quem estiver por lá!
Segue abaixo a programação do evento! Imperdível!



PROGRAMAÇÃO:

18 de Julho de 2013
Cine-metrópolis – Universidade Federal do Espírito Santo

GENTE EM CENA apresenta: “Teledramaturgia Brasileira – Balanços, perspectivas e a relação com as histórias do povo”.

Às 15h00 – Exibição do filme “A Arte de interpretar – A saga da novela Roque Santeiro” – Documentário de Lúcia Abreu. Duração: 85 minutos.

Às 16h30 - Participação de: Mesa de bate-papo “Teledramaturgia brasileira – balanços, perspectivas e a relação com as histórias do povo”. Mauro Alencar (TV Globo), Lúcia Abreu e mediação de Vitor de Oliveira.

Obs: O FECIM oferecerá certificados de participação para todos os estudantes cadastrados. Participação gratuita, sujeito a lotação.

APRESENTAÇÃO OFICIAL DO FESTIVAL DE MUQUI:

Às 18h00 – Mesa de bate-papo inaugural do Festival de Cinema de Muqui 2013: “Imagem, sensibilidade, produção e interiorização do cinema no Espírito Santo”. Participação de: Erly Vieira Jr., Sáskia Sá, Diego Scarparo e mediação de Léo Alves.

19h00 – Apresentação do clipe oficial da 2ª edição do FECIM e apresentação da temática, por Jussan Silva e Silva.

Abertura para entrevistas e trocas de conhecimento.
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GENTE EM CENA - Como e por que a novela está cada vez mais próxima da realidade?


Este projeto tem como principal objetivo a análise do processo de produção do gênero “telenovela” para verificação de como essa construção retrata os recortes de atividades e acontecimentos cotidianos por meio da narrativa ficcional.

MESA TELENOVELA:
            No intuito de proporcionar maior abrangência do tema da telenovela no Brasil o FECIM propõe a mesa de bate-papo “Telenovela – Representações do povo, balanços e perspectivas” em parceria com o projeto “Gente em cena”. O foco da mesa é a discussão em torno da representatividade do povo na tela/identificação, bem como abordagem e reflexão em torno dos grandes sucessos que já despontaram na área, envolvendo o público de forma efetiva, com desdobramentos na vida das pessoas e no cotidiano.



PARTICIPANTES:
Convidados:

Lúcia Abreu
Lúcia Abreu é jornalista, produtora, roteirista e diretora. Trabalhou na Europa e no Brasil, onde atuou na TV Globo, passando por programas como Fantástico, Jornal Nacional, Globo Repórter, TV Pirata dentre outros programas e novelas.  Seu último trabalho é o documentário “A Arte de Interpretar – A saga da novela Roque Santeiro”.

Mauro Alencar
Mauro Alencar é mestre e doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela USP, autor dos livros “A Hollywood Brasileira – Panorama  da Telenovela no  Brasil” e das adaptações para romances das novelas Selva de Pedra, O Bem- Amado, Pecado Capital, Roque Santeiro e Vale Tudo. É considerado por jornais, rádios e revistas como um dos maiores especialistas sobre telenovelas no mundo.
Mediador convidado:

Vitor de Oliveira
Vitor de Oliveira é professor, escritor, roteirista e dramaturgo, formado em Letras pela UFRJ. Criador do blog “Eu prefiro melão”, um dos pioneiros a publicar textos de conteúdo próprio voltado para o universo da teledramaturgia, que deu origem ao seu primeiro livro “Eu prefiro melão – melhores momentos de um blog televisivo”. Foi colaborador da nova versão da novela “O astro” (2011) da TV Globo, premiada com o “Emmy Internacional”. 


LANÇAMENTO OFICIAL DO FESTIVAL DE MUQUI (ES):
Como forma de apresentação do Festival de Muqui na capital do Espírito Santo, os coordenadores propõem a discussão do cinema no interior do Estado, refletindo sobre o potencial criativo e imagético presente na tradição e nas expressões do povo capixaba na mesa "Imagem, sensibilidade e interiorização do cinema no Espírito Santo".

PARTICIPANTES:



Sáskia Sá
Sáskia Sá é mestre em Educação pela UFES, Cine Educadora com prática em educação de nível superior e oficinas de realização em roteiro, direção e produção, além de formação cineclubista.

Erly Vieira Jr.
Erly Vieira Jr é cineasta e escritor. Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ, é professor do Departamento de Comunicação Social da Ufes. Escreveu e dirigiu nove curtas-metragens. Produz e apresenta o programa Outra Escuta, na Universitária FM.

Diego Scarparo
Diego Scarparo é graduado em Artes Visuais - UFES e atua na área de marketing e produção cultural desde 2004. Já participou de produções nacionais como Rio De Jano - HyBrazil Filmes e Viagem Capixaba - TV Cultura. Assina direção d filmes como "Sangue & Rosa" - Petrobras Cultural, O Que Bererico Vai Pensar? - SECULT, O Canarinho Mudo - SECULT.
Mediador convidado:

Léo Alves
Léo Alves é graduando em Jornalismo pela UFOP (MG), escritor, roteirista, cineasta e coordenador de projetos culturais no Espírito Santo. É autor de livros, documentários e filmes de ficção. Atualmente coordena o FECIM, Festival de TV e Cinema de Muqui (ES).

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Esperamos vocês! Até mais...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Blogueiro convidado: Marcelo Rissato relembra “Locomotivas”, marco da independência feminina nas telenovelas.



 Mais um convidado pra lá de especial, que nos brinda com um texto INCRÍVEL sobre uma novela, que representa um marco da emancipação feminina: “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes. Marcelo Rissato, jornalista, roteirista, fã nº 1 de Norma Blum e enciclopédia viva da teledramaturgia brasileira, não se limita a falar apenas da novela e nos brinda com todo um panorama da história das conquistas da mulher até culminar no ano de 1977, ano em que a novela estreou e não por coincidência, mesmo ano em que a Lei do Divórcio no Brasil foi aprovada. Vale lembrar que, no ano anterior, Janete Clair já tinha escrito uma novela chamada “Duas Vidas”, na qual a protagonista Leda (Betty Faria), já era separada e criava o filho sozinha. Mas a partir da trama de Cassiano Gabus Mendes é que a mulher deixou definitivamente a posição de mocinha que precisava ser salva e foi, definitivamente, à luta através da empreendedora Kiki Blanche, estreia de Eva Todor na tevê em grande estilo como a dona de um salão de beleza que era o principal cenário da novela. Marcelo, querido, obrigadíssimo pelo seu incrível texto, que não é apenas uma deliciosa viagem pelo universo da novela. É, praticamente, um tratado sobre o panorama da mulher em nossas telenovelas. Parabéns! Sem mais delongas, vamos ao texto:


MULHER, A LOCOMOTIVA MODERNA
Por Marcelo Rissato



Quando ainda estava no ar a novela “Estupido Cupido”, uma linda e divertida trama de Mário Prata em preto e branco, que teve apenas o penúltimo e último capitulo em cores, “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes, era anunciada como a nova novela das sete, “totalmente em cores”.

Assim era o primeiro anuncio da novela no dia 11 de fevereiro de 1977: Estúpido Cupido, últimos capítulos e vem ai: Loco-Motivas. Com: Aracy Balabanian, Walmor Chagas e a participação especial de Lucélia Santos. Loco-Motivas, a nova novela das sete da noite. A CORES.


 Uma trama envolvente e deliciosa que conquistava os telespectadores da época. A história girava em torno dos salões de beleza e os núcleos se encontravam nesse universo. Não era uma novela com grandes acontecimentos, porém colocava as mulheres, não só como as protagonistas da história, mas também na posição de independência e empreendedorismo, através do salão de beleza de Kiki Blanche (Eva Todor). Além disso, a novela apresentava um novo visual e uma nova forma de se expressar. Uma nova era estava começando para a televisão e para o país.

Talvez esse contexto envolvendo a mulher não tenha sido adotado em vão pelo autor Cassiano Gabus Mendes. Era uma época de mudança e a mulher estava em evidencia. Se destacava em vários segmentos da sociedade e o ano de 1977 era o protagonista para elas.

Mulher – A História

Sabe-se que o mundo sempre pertenceu aos homens e que a mulher de acordo com a história ficou limitada aos afazeres do lar, ficando habitualmente excluída de papéis relevantes para a sociedade. Também é conhecido o fato de homens estarem acostumados a justificar seu predomínio não somente ressaltando que a sua posição dominadora é a natural, como também que a sua dominação resulta da inferioridade da mulher. Contudo, sabe-se hoje que o rótulo de inferioridade teve como causa o contexto histórico, a falta de acesso à cultura e, como consequência, o confinamento no lar.
Acredita-se que desde os primórdios dos tempos, a discriminação feminina acabou exercendo sobre a sociedade uma conscientização e, a partir daí, surgiram reflexões sobre o que o assunto pode ajudar na luta em prol da igualdade social, política e liberdade de expressão das mulheres. No entanto, foi a partir do inicio do século passado que a situação começou a mudar.

Dia Internacional da Mulher

Talvez o episódio na Fábrica de Tecidos Cotton nos Estados Unidos em 8 de Março de 1857, tenha sido o ponto de partida para que em 8 de março de 1910, na Dinamarca, fosse finalmente instituída essa data como o “Dia Internacional da Mulher”, devido às mortes que ocorreram em virtude da greve que resultou no desaparecimento de aproximadamente 130 tecelãs que foram carbonizadas propositalmente pelo proprietário da fábrica e pela policia.


Com a eclosão do movimento feminista e os estudos de gênero, se constituíram nos fatos que forçosamente provocaram na sociedade uma mudança de atitude, diante das reivindicações que se fazia. A luta dos grupos de mulheres contra o preconceito parecia, assim, tomar forma. Apesar de importantes conquistas, a condição da mulher, ainda na sua maioria, era de submissão e explorada pelo próprio sistema. Há que se considerar, também, que na espécie feminina e dentro de cada mulher, ainda restam as sobras da teimosa crença de que todas as mulheres são inferiores a qualquer homem; e em cada homem, seja ele liberal ou libertino, uma antiga voz interior ainda concorda com essa inferioridade.

O Divórcio e a Locomotiva

Constatou-se que a época decisiva para que a mulher pudesse conquistar um lugar merecido na sociedade, se desse nos primórdios do século XX. Muitas foram as batalhas enfrentadas, contudo a conquista se deu com o que pode-se chamar de “Lei Áurea Feminina”, ou seja, uma metáfora de sua libertação que ocorreu em 1977. A mulher casava para se livrar do cativeiro do pai e se tornava cativa do marido. Com a Lei 6515 de 26 de dezembro de 1977, a Lei do Divórcio, ela adquiria finalmente sua independência, iniciando assim uma nova fase no seu comportamento, no qual transformou a figura feminina na “locomotiva moderna”, desempenhando o papel de comandante.  Apesar de tantas dificuldades, as mulheres conquistaram um espaço de respeito dentro da sociedade, mesmo que as relações entre o gênero feminino e o masculino ainda não sejam de total igualdade e harmonia. 

Entretanto, evoluindo o homem através dos múltiplos fatores que impulsionaram o gigantesco progresso da ciência, da arte, da filosofia e da moral, a subordinação feminina foi-se tornando quase inexistente. Assim, vê-se hoje a mulher, senão ao lado do homem no desempenho de todas as atividades que a este diz respeito, pelo menos desfrutando de uma liberdade maior, quer como companheira no lar ou no mercado de trabalho, com direitos e garantias que lhe foram negados no passado.

Assim, na luta pela legitimação dos seus direitos, muitas barreiras ainda precisam ser quebradas, muitos direitos precisam ser conquistados e muitas medidas preventivas e punitivas precisam ser levadas a cabo, mas enquanto ainda não acontece, a admiração e o respeito pelas mulheres devem prevalecer.
  
Anos “70” - A Mulher Locomotiva


 Para a mulher, os anos 70 representaram um marco na sua independência perante a posição masculina no âmbito social. Isso se refletiu na literatura e automaticamente na televisão. Em 1977 o saudoso Cassiano Gabus Mendes trazia para a TV uma novela que retratava exatamente esse universo feminino. Era o tempo das Locomotivas. Ao som da música “Maria Fumaça”, interpretada pelo grupo “Black Rio” na abertura, embalada ainda na trilha pela música de mesmo nome da novela, Locomotivas, por Rita Lee, a novela encantava homens e mulheres com a saga da ex-vedete Kiki Blanche (Eva Todor), que tinha apenas uma filha legitima e um filho e as outras eram adotadas. Com muito charme, uma novela deliciosa e sofisticada que trazia as cores para o horário das sete. Era o inicio de uma nova era para a televisão e para as mulheres.

A ex-vedete Kiki Blanche / Maria Josefina Cabral (Eva Todor) possuía no Rio de Janeiro um salão de beleza onde muitas das personagens se encontravam. Sua filha legitima Milena (Aracy Balabanian) e os adotivos Paulo (João Carlos Barroso), Renata (Thais de Andrade), Fernanda (Lucélia Santos) e a caçula Regininha (Gisela Rocha) conduziam os encontros e desencontros dessa deliciosa história. O grande conflito ficou em torno de Fernanda, que se apaixonou por Fábio (Walmor Chagas), que amava Milena. Essa por sua vez, abria mão do amor em prol da irmã adotiva, uma vez que sabia que Fernanda, na verdade, era sua filha legitima. A revelação só veio no último capitulo, quando Fernanda desistiu de vez de Fábio ao descobrir que sua irmã era a sua verdadeira mãe.

Triângulo amoroso central da novela

 Em outro núcleo, Netinho (Denis Carvalho) vivia cercado pelo amor possessivo de sua mãe (Miriam Pires), ao som da música “Filho Único”, interpretada por Erasmo Carlos, o jovem se apaixonou por Patrícia (Elisângela) e não teve seu amor abençoado pela mãe, sem perceber que o seu grande amor morava ao lado: era a sua vizinha Celeste (Ilka Soares). Quando Dona Margarida descobriu, o casal sofreu, lutou por esse amor e ficou junto no final.

Ainda tinha o português Machadinho (Tony Corrêa) que namorava com Gracinha (Maria Cristina Nunes) e sofria com as intrigas de sua falsa amiga Lurdinha (Teresa Sodré), porém o rapaz acabou se rendendo aos encantos da antagonista da trama, Fernanda (Lucélia Santos). 

Lucélia Santos e Tony Correa em cena
Cassiano Gabus Mendes foi um mestre na teledramaturgia brasileira e responsável por grandes sucessos da televisão com obras memoráveis, como “Anjo Mau, Elas por Elas, Tititi, Brega & Chique, Que Rei Sou Eu?” e muitas outras. “Locomotivas” não foi uma novela em vão, muito menos teve um texto banalizado. Ela marcou sua época trazendo a mulher como comandante de um trem que podemos chamar de “Trem da vida”, esse que até então tinha como maquinista os homens e com a novela, Kiki mostrava que as mulheres eram capazes de assumir esse comando com maestria. Na época, talvez muitas pessoas não entendessem a razão da novela levar o nome ligado a um trem e o logotipo ser uma mulher com a parte inferior de um biquíni a mostra, que soava ousado para aqueles tempos. Mas, Cassiano já tinha os olhos voltados ao futuro, pois com a Lei do Divórcio (6515/77) do mesmo ano da novela, a mulher adquiria sua liberdade podendo tomar as rédeas de sua vida, casando-se, separando-se, tendo filhos com pai ou sem e ainda trabalhando livremente, saindo de um cativeiro em que vivia e sendo a cabeça desse trem, ou seja, sendo a Locomotiva. 

Elenco feminino da novela
As Mulheres na Televisão 

Não só em Locomotivas que a mulher estava sendo representada naquela época. A TV Globo trazia a mulher em muitas de suas obras. Às 18 horas Dona Xepa, que era escrita por Gilberto Braga e adaptada da obra de Pedro Bloch, mostrava a mulher feirante e sem o marido que trabalhava para manter a casa e sendo a comandante do seu lar. Várias outras novelas da época principalmente do horário das 18 horas trazia a mulher como a protagonista, muitas eram adaptações de obras literárias como Nina, Sinhazinha Flô, Maria-Maria, Gina, A Sucessora, Cabocla e várias outras. Era o inicio de uma mudança que não só na dramaturgia estava presente, mas numa sociedade que durante muito tempo deixou a mulher numa camada neutra e que naqueles tempos, marcava uma nova era.

Nas séries a mulher também estava presente. Ciranda Cirandinha mostrava uma juventude em busca de sonhos e liberdade e em 1979 era a vez de Malu Mulher que representou muito bem a mulher separada, uma vez que já no episódio piloto era abordado o processo de separação de Malu (Regina Duarte) e Pedro Henrique (Dennis Carvalho), intitulado “Acabou-se o que Era Doce”.

Após os anos 80, a mulher vinha sendo representada com mais ênfase, podendo trabalhar, casar, separar e ir em busca de seus sonhos como qualquer ser humano na televisão e na sociedade. Mas isso já é outra história...

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ALGUMAS CURIOSIDADES:


  • “LocoMotivas” foi a primeira novela das sete totalmente em cores;
  • Nos créditos, Eva Todor assinava ainda como Eva Tudor, porém seu nome verdadeiro é EVA FODOR, que foi alterado logo que chegou ao Brasil devido à conotação errônea que poderia acontecer.
  • Nos créditos todas as escritas vinham em letra maiúsculas.
  • Era a segunda novela de Lucélia Santos
  • Eva Todor estreava.
  • A televisão exibia as cenas dos próximos capítulos e não do próximo capitulo como nas novelas dos anos 80.
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MARCELO RISSATO é escritor, jornalista, fotógrafo e colunista da Revista “Super Novelas”.

Marcelo Rissato, o melão e eu.
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LEIA TAMBÉM: 

Blogueiro convidado: Raphael Scire e o "gran finale" de "Ti Ti Ti"




quinta-feira, 20 de junho de 2013

Melão Express – ed. 20: POESIA, SÉRIES E UM TALENTO QUE DESPONTA.


Ø  POESIA DE TARCISIO LARA PUIATI AGITA IPANEMA



Meus queridos, é com muito prazer que convido a todos vocês a prestigiar na sexta, dia 12/07, na Livraria da Travessa, em Ipanema, o lançamento de RABIOLA, nova aventura poética de meu querido amigo e companheiro de escrita em “O astro”, Tarcísio Lara Puiati. O lançamento vai ser o máximo, com muita poesia, cultura, agitos, gente fina, elegante e sincera. Tatá arrasa, tanto em prosa, quanto em poesia.
Curta a fan page do livro e confira as orelhas virtuais de nomes como Antonio Calmon e Alcides Nogueira e também alguns poemas interpretados por Raphael Vianna, Thiago Mendonça, Pablo Sanábio, entre outros.



Esperamos todos vocês!


Ø  ÓTIMA SAFRA DE SÉRIES NO GNT

Depois da excelente “Sessão de Terapia”, o canal GNT, que vem surpreendendo com ótimas séries desde “Mothern”, vem como uma ótima e nova safra para todos os gostos, como “Copa Hotel” e “Surtadas na Yoga”. Mas minhas favoritas dessa leva são “3 Teresas” e “As canalhas”.



3 Teresas”, produzida pela Bossa Nova Films, acompanha paralelamente os acontecimentos da vida de avó, mãe e filha, as 3 Teresas do título, vividas pelas ótimas Claudia Mello, Denise Fraga e Manoela Aliperti. A série é uma criação de Luiz Villaça, Rafael Gomes, Sérgio Roveri, Leonardo Moreira e Carô Ziskind e conta sempre com um roteiro esperto, com diálogos espirituosos e trama que foge dos velhos clichês dos dramas femininos de sempre. Os assuntos recorrentes, como amor, sexo e conflitos familiares estão presentes, mas há sempre uma quebra de expectativa nos episódios que surpreende no final. As atrizes estão ótimas em cena e os personagens são muito bem construídos. Drama e humor na medida certa.


Já “As canalhas”, produzida pela Migdal Filmes, com roteiro de Anna Muylaert (que também assina a direção geral) e Carolina Castro e segue a fórmula de “As cariocas” e “As brasileiras” ao contar, a cada episódio, as peripécias de uma personagem feminina diferente, mas de uma maneira deliciosa e politicamente incorreta. São mulheres de idades e classes sociais diferentes, mas com uma característica em comum: são canalhas. Elas passam pelo salão de beleza de Marilyn (Zezeh Barbosa) e lá narram sua história para o público. Tem todo tipo de canalhice: mãe que rouba namorado da filha, cuidadora que explora idoso, mulher que troca o marido pelo cunhado e por aí vai... O elenco é ótimo: Monica Martelli, Carla Marins e Mel Lisboa são os nomes mais conhecidos, mas todas são excelentes. Todos os episódios são ótimos, repletos de um humor deliciosamente cruel. Impossível não amar e não torcer por essas adoráveis canalhas.

Ø  MELÃO APOSTA EM CLARICE ALVES: UM TALENTO QUE DESPONTA NO CINEMA.



Ela é uma atriz brasileira, mora em Madri há algum tempo e em menos de 1 ano, já desponta, com muito futuro, no cenário cinematográfico nacional. Neste período já fez o média "Entre Amores"- com roteiro e direção de Bruno Saglia; o curta "Estatísticas"- roteiro de Marcela Macedo e direção de Giuliano Nandi; será protagonista do longa "Diminuta", de Bruno Saglia- com Deborah Evelyn, Carlos Vereza e Reynaldo Giannechini e filmará ainda mais um curta-metragem ainda este ano. Claro que não vai demorar para a tevê descobrir o talento dessa linda atriz. Melão se antecipa e apresenta CLARICE ALVES! Vamos conhece-la melhor?

Melão - Quando surgiu seu desejo de ser atriz e como foi sua trajetória até a realização dos primeiros filmes? 
Clarice - Desde pequena eu queria ser atriz. Sempre adorei ver novelas, ir ao cinema e ao teatro. Sempre me interessei pelo trabalho dos atores e por tudo o que envolvia a produção dos espetáculos que assistia. Alugava filmes e depois assistia os making- offs e as entrevistas que podia. Um dia falei para a minha mãe que queria ser atriz e estudar para isso. Ela procurou cursos e me matriculou na Companhia de Artes Avancini. Lá, com 12 anos tive o meu primeiro contato com o palco e com a câmera. Desde então me apaixonei por essa profissão e tive certeza que era o que queria fazer. Mesmo estando a 7 anos fora do Brasil não parei de fazer cursos de interpretação e  de estudar. Me formei em assessoria de imagem e comecei a fazer faculdade de artes cênicas. Ano passado, enquanto estava de férias no Rio, conheci a Jackeline Barroso da agência Barroso Pires. Ela é agente de um amigo e hoje é a minha agente também. Ela conseguiu mostrar meu material para o diretor Bruno Saglia que me convidou para fazer um teste para o filme "Entre Amores". Passei! Para minha surpresa, após este teste, ele também me convidou para ser a protagonista (junto com Deborah Evelyn e Reinaldo Gianecchini) do seu próximo longa "Diminuta". Através da minha agente também consegui que o produtor Márcio Rosário visse meu material e me chamasse para participar do filme "Estatísticas".

Melão - Você participou de dois médias-metragens e ainda este ano filmará um curta, além do longa-metragem "Diminuta", no qual será protagonista. Como você explica este sucesso? 
Clarice - Gosto muito do que eu faço e por isso sempre procurei estudar e não deixar de fazer cursos, independente de onde estivesse. Ano passado participei do meu primeiro media com o diretor Bruno Saglia e foi uma experiência fantástica. Tive a oportunidade de estar com profissionais muito experientes, a quem sempre admirei como a Daniela Escobar e a Thaís de Campos. Procuro aproveitar o máximo meu tempo com todos eles porque cada trabalho é um grande aprendizado. Aprendo não só gravando como observando todos os profissionais que estão a minha volta. Enxergo cada trabalho como uma nova oportunidade de crescer como atriz e tento dar o meu melhor sempre.

Melão - O que te fez morar em Madri e o que te encanta na cidade? Tem vontade de voltar a morar no Brasil? 
Clarice - Fui para Madri com o meu marido pela sua profissão. Ele é jogador de futebol e foi vendido para o Real Madrid muito novo, quando tínhamos 17 e 18 anos. Nós mudamos para lá e já levamos quase 7 anos na cidade. Hoje em dia nos sentimos em casa em Madrid e temos um carinho enorme pela cidade. É um lugar maravilhoso, cheio de vida, com muitas coisas diferentes para fazer. Lá encontramos de tudo, parques lindos, restaurantes maravilhosos, espetáculos ótimos de teatro, lugares tranquilos, bairros alternativos com todo tipo de lojas, bares e pessoas. É uma cidade muito movimentada com muita energia e diversidade. Mesmo assim, tenho bastante vontade de voltar a morar no Brasil. Nosso povo e nossa cultura são únicos e é impossível não sentir saudades. Sempre que podemos vamos ao nosso país, seja de ferias ou a trabalho e aproveitamos o máximo possível.

Melão - Fale de sua expectativa para filmar "Diminuta", longa que você irá atuar com nomes conhecidos como Reynaldo Gianecchini, Daniela Escobar a Carlos Vereza. 
Clarice - Esse projeto é muito especial, um filme único. O roteiro do Bruno é maravilhoso, completamente inspirador e poético e ao mesmo tempo muito real. É uma historia sobre o mundo do jazz que vai conseguir reunir diferentes tipos de artistas. Poder estar dentro desta produção é um sonho. Tenho certeza que todos os profissionais estão muito empolgados de poder fazer parte deste filme. Eu ainda mais, por ter a chance de estar do lado de atores que são grandes referências no nosso país, a quem acompanho desde pequena em novelas e filmes. Sem dúvidas será uma experiência totalmente rica e inesquecível. 


Melão - Como está sendo sua preparação para compor as personagens de todos estes filmes? 
Clarice - Estou vendo filmes indicados pelos diretores para me aproximar ao máximo da ideia deles e da atmosfera de cada história. Leio o máximo de livros que posso que me ajudam na construção dos personagens. E estou aproveitando este mês de férias no Brasil para ter aulas de corpo e aulas mais específicas com a minha coach, Thais de Campos.

Melão - Você tem planos em trabalhar na televisão? Tem algum ator ou atriz que lhe sirva de inspiração?
Clarice - Tenho muita vontade de trabalhar na televisão. Adoro as novelas brasileiras e assisto desde criança.  Será um momento muito especial quando tiver a oportunidade de participar de alguma. Adoro os trabalhos da Meryl Streep, Angelina Jolie e Johnny Depp. No Brasil adoro ver a Adriana Esteves e a Claudia Abreu. Todos eles me inspiram muito.

Melão - Você costuma assistir às nossas novelas? Que sim, quais suas favoritas?  
Clarice - Sim. Tenho Globo internacional e sempre que posso assisto. Amei “Avenida Brasil”. Comecei a assistir do meio para o final, mas não conseguia perder nenhum capítulo. Os personagens e a trama eram ótimos e a Carminha uma vilã pela qual era impossível não ter empatia. Também adoro minisséries. Entre as minhas preferidas estão "A casa das sete mulheres" e "Hilda Furacão".

Obrigado pela entrevista, Clarice. O blog deseja todo sucesso a você e, em breve, venha nos contar sobre seus primeiros trabalhos televisivos!


Ø  ANOS REBELDES: ONTEM, HOJE E SEMPRE!

Claro que é uma grande coincidência, mas não deixa de ser simbólico o fato do Canal Viva estar exibindo uma reprise de “Anos Rebeldes” na mesma época em que acontecem diversas manifestações populares em todo o país. A mítica minissérie de Gilberto Braga sobre os anos de chumbo termina essa semana e não deixa de ser uma grande inspiração para todos que desejam e lutam por um país melhor. Melão apoia totalmente o movimento #VemPraRua, sem vandalismo e violência! “Caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento... eu vou, por que não?”.



Beijos e até a próxima!  

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