sábado, 19 de dezembro de 2009

Balanço final do Ciclo de Palestras EscreVENDO para TV:

TIAGO SANTIAGO: Inspiração e ousadia.


Com o tema de sua palestra intitulado “O fascínio da ficção”, Tiago Santiago, além dos seres fantásticos ( e controversos) que criou em sua trilogia “Os mutantes”, falou de muitos outros assuntos, como sua trajetória como colaborador até se tornar autor-titular, sua experiência nem sempre agradável como consultor de teledramaturgia da Record e a empolgação pela nova empreitada que tem pela frente no SBT.


Extremamente simpático e acessível, o autor respondeu a todas as perguntas relativas à contrução de um roteiro, dentre as quais a questão da verossimilhança e a importância de se atingir a todas as classes, inclusive as C, D e E que, muitas vezes, têm na novela sua única opção de lazer. “ É difícil fazer novela sem ter um conteúdo moral. O público vai aceitar e rejeitar uma série de comportamentos”, declara. Para os que desejam seguir a carreira de escrever para Tv, recomendou a leitura em seu site do texto “Carta aos autores”.


Sobre seu próximo projeto, a novela “Uma rosa com amor”, no SBT, Tiago afirma ser sua primeira novela sem violência. Ele promete uma novela envolvente, romântica e engraçada e ressalta o grande prazer que está tendo em escrever personagens para atores que nunca tinha escrito antes, dentre os quais, Betty Faria, a quem o autor afirma ser fã desde sempre, lembrando a célebre Lucinha de “Pecado Capital” (1975).


Ainda sobre “Uma rosa com amor”, ele disse que haverá muita comédia na novela e que para escrever comédia deve-se amá-la e lembra que é preciso aprender com grandes mestres do gênero, tais como Antonio Calmon, Carlos Lombardi e Aguinaldo Silva.


Quando perguntado sobre o futuro interativo da TV, ele foi enfático: “pode até ter interatividade e inovação, mas sem mocinho não há audiência”. Segundo Santiago, os protagonistas devem ter anseios que sejam considerados legítimos pela audiência e o anseio do amor sempre será o principal deles.


Por fim, ao refletir sobre a longevidade do sucesso da telenovela declarou: “todos nós temos uma tela interior no terreno do imaginário, do simbólico. A ficção é o espelho para que as pessoas pensem em seus próprios problemas e projetem seus próprios sonhos nas histórias dos outros”.



 MARIA CARMEM BARBOSA: a piada pronta.



Não estranhem se, na próxima história de Maria Carmem Barbosa, algum personagem limpar os óculos com desodorante íntimo. Pois é com pequenas pérolas do cotidiano, suas e dos outros, que a autora se alimenta para criar suas tramas. Quem compareceu em sua palestra, saiu enriquecido de (bom) humor, seja em lições teóricas, seja em deliciosos casos, como o contado acima ou seja na própria Maria Carmem, cujo sorriso e irreverência são a própria personificação do humor.


Com muitas outras histórias engraçadíssimas, a autora, além de arrancar risos da platéia o tempo todo, nos deu a real noção de onde surgem suas deliciosas loucuras que cria só ou ao lado de seu parceiro mais constante, Miguel Falabella. Aliás, como ela mesma conta, a chegada de Miguel em sua vida foi mesmo na gargalhada. Porém, mesmo declarando que seja facílimo trabalhar com ele, “às vezes raspa na parede, mas depois sopra e fica tudo bem. Nós temos um bem maior para cuidar”, confessa.


O segredo para as hilariantes histórias que conta é simples: “direcionar o olhar sempre para o humor. O que interessa é o patético, o absurdo. Gente normal não tem graça”, ensina Maria Carmem.

Ela, por si só, já é um acontecimento, uma presença carismática e envolvente. No entanto, ouvir comentários a respeito de obras maravilhosas como “Toma lá dá cá”, “A lua me disse” e “Salsa e Merengue” e “Sai de baixo” da boca da própria autora é um verdadeiro privilégio. Sobre a polêmica que envolveu as personagens Latoya e Whitney (Zezeh Barbosa e Mary Sheila, respectivamente), que eram negras e racistas, a autora polemiza ao dizer que as vezes sente que algumas entidades negras perecem não querer sair do gueto e preservar uma raiz que não existe mais.


Maria Carmem ainda falou de um antigo projeto que tem muito orgulho de ter escrito: a série “Delegacia de Mulheres” e foi enigmática ao declarar que, quem sabe ela não possa estar de volta. A torcida é grande para que, não apenas este, mas muitos outros projetos da autora ganhem vida na telinha. O público agradece e aplaude.



ANA MARIA MORETSOHN: trabalho e prazer.



Mulher de coragem, que não tem medo de ir em busca de novas conquistas, nem que pra isso tenha que abandonar terra firme e se lançar ao mar rumo ao desconhecido. Foi essa a impressão que nos deixou a simpática autora Ana Maria Moretsohn em sua palestra intitulada “A excelência da colaboração”.


A autora começou na Globo escrevendo um Caso Verdade. De aluna da Casa de Criação Janete Clair, colaboradora de novelas como “Bambolê” e “Direito de amar” até se tornar co-autora de seu mestre Aguinaldo Silva, com quem assinou sucessos como “Tieta”, “Pedra sobre Pedra” e “Fera Ferida” foi um pulo. Mas ela ressalta que sempre procurou aprender com grandes mestres como Cassiano Gabus Mendes.


Disposta a se tornar autora titular e sem vislumbrar essa possibilidade na Rede Globo, Ana deixou a emissora e foi escrever na Band, onde diz que foi muito feliz e teve muito prazer em assinar três novelas, “Perdidos de amor”, “Serras Azuis” e uma nova adaptação de “Meu pé de laranja lima”, apesar das dificuldades de infra-estrutura. Depois disso, conseguiu retornar à Rede Globo obtendo o status que desejava e assinou a autoria principal de mais três novelas: “Esplendor”, “Estrela Guia” e “Sabor da paixão”.


Entre outras histórias, contou que escreveu a maior parte das cenas românticas de “Tieta”, que no início de “Malhação”, pode-se tocar em temas polêmicos como masturbação, sexo, drogas, entre outros, mas que após a nova Lei de Classificação Indicativa, pouco se pode fazer.


Quando foi solicitada a dar alguma palavra de estimulo a aspirantes que desejam ingressar na profissão, ela deu as seguintes dicas: humildade para aprender, ler muito, ficar ligado nos assuntos atuais e escrever sempre que possível. “Novela é cachaça total. Você começa e não quer deixar de fazer”, confessa.



MANOEL CARLOS: o fascínio pelas mulheres.



 Simpático e bonachão sem nunca perder o requinte, Manoel Carlos deliciou a audiência do Teatro Café Pequeno com seu bom humor, suas inúmeras histórias e sua grande disposição em contá-las.


Lógico que as perguntas mais recorrentes foram sobre sua atual novela “Viver a Vida”. O autor não concorda com uma pesquisa que apontou uma maior identificação do público feminino com a personagem Dora (Giovanna Antonelli), em vez da protagonista Helena (Taís Araújo), mas admite que houve um estranhamento inicial do público. Além disso, elogiou o carisma e o talento de Giovanna e o fato da personagem ser extremamente solar. Afirmou, ainda, com muito bom humor, que as pessoas se sentem mais donas das Helenas do que ele e vivem dando palpites. Quanto ao fato de Luciana (Alinne Moraes) voltar a andar, ele manteve o mistério, mas contou que os próprios cadeirantes não querem que isso aconteça, para não dar uma falsa ilusão e, que embora haja exceções, eles acham que não se deve priorizá-las.


Maneco também falou sobre a advertência que recebeu do Ministério Público quando este soube de sua intenção de fazer da menina Rafaela (Klara Castanho) uma vilã, uma vez que as crianças possuem uma série de leis que as protegem com relação ao seu trabalho. No entanto, ele deixa bem claro que em suas novelas não há vilãs assassinas e extremamente cruéis como tem sido a regra e que a crueldade de Rafaela será uma crueldade natural às crianças: “ela vai começar a fazer umas maldades. Vamos ver o que vai acontecer”, declarou enigmático. Entre os absurdos e implicâncias que sofreu, o autor destaca o fato de muitas pessoas reprovarem uma cena de “Laços de Família” em que Capitu (Giovanna Antonelli) propõe a colocar uma camisinha no parceiro, sem se darem conta de que era uma cena extremamente educativa.


O autor contou muitos outros casos, como a incrível sorte de ter descoberto Mel Lisboa por acaso num comercial que estava gravado por cima dos testes de elenco de “Presença de Anita”. Citando outros exemplos de pessoas que estrearam em suas novelas como Reynaldo Gianecchini, Juliana Paes, Christine Fernandes, Larissa Maciel e Matheus Solano, Maneco afirmou que não tem medo de dar papéis importantes a novatos. Contou também que atualmente tem oito colaboradoras e confessou sua predileção em trabalhar com mulheres. Aliás, mostrou-se totalmente fascinado por elas, seja na ficção, seja na vida real.


Por fim, deixou duas frases que gosta de repetir sobre fazer ficção: uma de um autor americano que afirma que “o problema da ficção é que ela tem que fazer sentido. A realidade, não”. E também uma de Eça de Queiroz sobre o que é o romance: “sob a nudez crua da realidade o manto da fantasia”.

Um comentário:

RÔ_drigo disse...

Bom saber que minha indicação valeu tãããão apena^^ Texto bem bom hein Vitim?? Agora que não precisa mais de diploma (o que é o fim, mas fazer o que?) vira jornalista mew,rs.

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