sábado, 9 de janeiro de 2010

Uma canção de amor, um carinho para o público.





Em 2001, quando havia acabado de ingressar na Faculdade de Letras da UFRJ, tive o privilégio de assistir logo em minha primeira semana de aula, uma palestra com a autora Maria Adelaide Amaral, de quem já era admirador por conta do remake de Anjo Mau e da minissérie A muralha. Àquela altura, ela havia acabado de adaptar para TV o romance Os maias (talvez seu mais primoroso trabalho) e nos falava sobre a repercussão da minissérie. Lembro que fiquei tão impressionado com tamanha inteligência, cultura e classe que escrevi uma crônica sobre a palestra com o título de “Encontro com Minerva” para um concurso promovido pela faculdade. Minha crônica não venceu, mas a partir daquele encontro, meu fascínio pela escrita televisiva voltou a ser despertado e fiquei ainda mais fã de Maria Adelaide.

Por esse motivo, não tive nenhuma surpresa ao me deparar com a delicadeza, o primor e o deslumbre do trabalho da autora em “Dalva e Herivelto – uma canção de amor”. Biografias são sempre perigosas, ainda mais se tratando de duas figuras públicas, cuja historia deixou muitas marcas na família de ambos. De cara, notei que a autora fugiu de uma abordagem mais documental ao eleger os últimos momentos de Dalva e a expectativa pela visita de Herivelto como fio condutor. Com isso, criou-se ganchos, entrechos e deixou a história com cara de épico, de novelão, que fisgou o público desde o primeiro momento. Sem medo de ferir suscetibilidades, muitas vezes o texto deixava a reverência de lado e tornava-se ácido, mordaz, provocador. Enfim, Maria Adelaide conseguiu emprestar a uma história que já era interessante por si só muitas pitadas dos mais saborosos temperos ficcionais das grandes obras: paixão, lirismo, poesia, música, conflitos, tudo na dose certa. Parabéns a ela e a sua dupla de colaboradores, Letícia Mey e Geraldo Carneiro.

“Dalva e Herivelto” foi um acerto do começo ao fim. Texto, elenco, direção de Denis Carvalho, inclusive a musical da dupla Möeller-Botelho, maravilhosa, produção de arte, figurino, edição, enfim, uma aula de como se fazer televisão com audiência e qualidade. Adriana Esteves foi soberba, sobretudo quando “interpretava” Dalva no palco. Sem o recurso da imensa voz da cantora, a atriz foi fantástica nos gestos, nas expressões arrebatadas e na emoção. Fábio Assunção também pegou todos os trejeitos do compositor. Aliás, todos os atores que interpretaram os cantores do rádio estiveram perfeitos em suas composições. Nando Cunha trouxe Grande Otelo de volta e a saudade que sentimos dele. O que foi a Dercy de Fafy? Impagável. Um show à parte! Mas, sem dúvida, a cena mais emocionante, foi a final, com Pery (Thiago Fragoso, perfeito! Aplausos, aplausos e aplausos pra ele!) sussurrando uma canção para a mãe em seus momentos finais. Uma cena que, sem dúvida, emocionou muita gente e vai entrar pra galeria das grandes cenas de todos os tempos. Sensibilidade pura! E os cortes, a edição, a seleção de cada canção no momento certo fechando com a deslumbrante “Hino ao amor”. Tudo na medida certa, como uma composição perfeita.

Arrisco a dizer que essa minissérie entrará para a história. Que maravilha que os jovens conheçam um pouco da história da nossa música, sobretudo a de um período tão rico como a época do rádio. “Dalva e Herivelto” é um tipo de trabalho que, não só nos proporciona prazer, entretenimento e emoção, mas também nos enche de orgulho! Parabéns a nossa TV por produzir algo de tão alto nível. Ainda resta uma esperança... Que venham muitos outros encontros televisivos com “minha” Minerva!

8 comentários:

Anônimo disse...

Também adorei, Vituxo. E não nos esqueçamos da emocionante "Queridos amigos".
Robério.

Carlos Fernando disse...

Mais uma excelente minissérie dessa poderosa Maria Adelaide. Tudo perfeito ou perto disso. Atores, música, figurino, luz, tudo estava muito bom. Prova que uma bom trabalho tem por trás uma equipe competente e afiada. A história da Dalva de Herivelto por si só já tem todos os componentes para marcar um grande folhetim. E mais, muito dos personagens retratados estão vivos e podem corroborar e ajudar na composição dos atores e situações. Maria Adelaide, com sua competência e experiência pegou esse material e deu um tempero especial. Acrescentou, dando uma visão que para mim fêz com que eu tivesse a sensação de que não era a Maria Adelaide que contava a história e sim a própria Dalva. Alguns pontos a ressaltar:
1 - Ficou a impressão que como a minissérie tinha que acabar na sexta, ficou um pouco corrido e o própria cena final que , apesar de linda, poderia render mais.
2 - A Adriana Esteves embora excelente, em algumas passagens quase lembrou a Celinha do recente finalizado "Sai de baixo". Talvez pelo fato dela gravar os dois personagens ao mesmo tempo.
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No mais foi relembrar, pois eu já era um moço bonito (sic!) na fase final da vida de Dalva. Foi realmente uma emoção a morte dela e a certeza que perdia-se uma grande intérprete da musica brasileira.
Que venham outras minisséries retratando nossa história musical e teatral. Elas serão benvindas e talvez assim, esse nosso povinho tão burrinho, possa se aculturar um pouco, visto que, essas minisséries passam em horários pós nobre.

Ivan disse...

eu amei Dalva e Herivelto!!! gostei pq não achei pretensioso ou cheio de frases de efeito, a produção foi primorosa!!! o final foi muito bonito!

Carlos Fernando disse...

.... e tem mais: a minissérie "detonou" com o Herivelto. Mais do que isso. Detonou com o machismo existente na época e até hoje. Gente, como é que se prefere sofrer a ter de assumir erro ou perdoar. Sei que o ser humano é complexo e isso, por incrível que pareça, pode exolicar muita coisa, mas isto já é outro assunto....

Unknown disse...

"Dalva & Herivelto" acho que foi muito além das expectativas gerais. Um trabalho em todos os detalhes feito com o maior carinho, como há muito não se via nas minisséries (e olhem que temos "Maysa" como um bom exemplo). Estou sabendo que lamentavelmente capítulos tiveram de ser editados e reduzidos a um mínimo, em virtude da proximidade do deplorável Big Brother na programação da Globo. O texto de Maria Adelaide Amaral é tão coeso e brilhante que superou esse grave obstáculo e encontrou um diretor à altura em Denis Carvalho, impecável no que apresentou. Excelente, o rendimento do elenco, o que não deixou de se constituir em uma grande surpresa.

Unknown disse...

Muito legal o seu texto. Maria Adelaide Amaral merece todas as homenagens. É uma autora fora de série. Muito boa mesmo. Suas histórias são pura emoção. Merece todo reconhecimento mesmo.

E gostei muito mesmo do seu jeito de escrever. Bem montado, com uma linha de raciocínio que dá ao leitor facilidade para entender seu texto. Vou colocar o link do seu blog lá no www.literaturaexposta.blogspot.com

Sucesso rapaz!!

Walter de Azevedo disse...

Tatu visitando Melão rsrs.
Fiquei feliz quando soube que a Globo colocaria no ar uma minissérie sobre a vida de Dalva de Oliveira, cantora de quem eu tanto gosto. Minha felicidade aumentou quando descobri que Maria Adelaide Amaral seria a responsável pelo texto. Com tanta expectativa, o risco da decepção era grande. Não houve decepção. Dalva & Herivelto foi muito melhor do que eu poderia ter imaginado. Como é bom ver um produto televisivo com tanta qualidade em todos os aspectos. A cena final vai ficar pra sempre na minha memória, assim comoo Trio de Ouro cantando Ave Maria no Morro. Lindo demais. Aplausos para todos. Maria Adelaide, Dênis, Adriana (soberba), Fábio, Moeller, Botelho e todos que fizeram parte da minissérie. Que venham Ângela, Cauby, Dircinha, Linda, Emilinha, Marlene, Sílvio, Chico, Orlando...

O Vitor viu... disse...

Obrigado, Leonardo! Vou visitar seu blog também! Sucesso pra ti e um grande abraço!

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