sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em 2011, o melão preferiu...


Ø  HORÁRIO ENCANTADO




ü  O horário das seis trouxe duas excelentes novelas. A primeira delas, “Cordel Encantado”, foi um sopro de criatividade ao unir, de forma genial, dois universos aparentemente distintos: o cangaço do sertão e a corte europeia. As autoras Duca Rachid e Thelma Guedes construíram um conto de fadas romântico, mas ao mesmo tempo irreverente e sedutor, com a cara do Brasil. Com elenco afiadíssimo e direção primorosa, o resultado não podia ser outro: a novela caiu nas graças do público e deixou saudades.



ü  Depois do desbunde visual e criativo de “Cordel Encantado”, veio “A vida da gente”, da estreante Lícia Manzo com a difícil missão de manter o sucesso de sua antecessora e conseguiu. Ao contrário da despretensão de “Cordel Encantado”, o que temos visto é um novelão dos bons, sério, denso, incomum para o horário, digno de novela do horário nobre. A trama adulta e a ausência de núcleos cômicos e vilões caricatos, tão típicos do horário, não foram empecilhos para que a novela caísse no gosto popular. Com um texto primoroso, uma trama apaixonante e um trio de excelentes jovens protagonistas que vem dando um show a cada capítulo, a novela vem ganhando elogios desde sua estreia. Destaque também para as irrepreensíveis atuações de Ana Beatriz Nogueira, Gisele Froes e Nicete Bruno. Enfim, uma novela que não menospreza a inteligência do espectador e surpreende a casa capítulo, fugindo do maniqueísmo e de soluções fáceis ao contar a trama do jovem dividido entre duas irmãs. Dá gosto de ver.


Ø  AGORA É QUE SÃO ELES, OS VILÕES

Gabriel Braga Nunes, que deu vida ao maquiavélico Léo de "Insensato Coração"

Pedindo licença pra usar o título do blog amigo, mas em matéria de vilania, esse ano foi dos homens. Em “O astro”, tivemos atuações magistrais de Marco Ricca e Humberto Martins, que como Samir e Neco, fizeram de tudo para infernizar a vida de Herculano Quintanilha, mas que divertiu o público com altas doses de ironia e sarcasmo; em “Fina Estampa”, Alexandre Nero chega a dar raiva de tão asqueroso é seu Baltazar; e em “Insensato Coração”, Gabriel Braga Nunes simplesmente arrasou como o charmoso, cínico e dissimulado Léo, um personagem cheio de nuances que o ator soube defender de forma genial.

Ø  RAINHAS DO DRAMA



ü  Se por outro lado, os homens arrasaram na vilania, as mulheres arrasaram no quesito “drama”. Intensas, apaixonadas, loucas... elas ultrapassaram o limite do bem e do mal e se mostraram assustadoramente humanas e ricas dramaturgicamente. E nesse carrossel de emoções, ninguém superou Clô Hayalla. Passional ao extremo, Clô Hayalla mudava de temperamento de acordo com seu penteado e só mesmo uma atriz com o talento “monstro” de Regina Duarte seria capaz de interpretá-la. Inteligentíssima, La Duarte imprimiu uma marca tão forte que não conseguimos imaginar outra Clô se não a dela. Na contramão dessas emoções, Rosamaria Murtinho fez um contraponto perfeito com Regina e, dentro da contenção de gestos e sentimentos da sofrida Tia Magda, a atriz foi absolutamente soberba, emocionando o público com uma precisão milimétrica. As sequências finais de sua personagem conseguiram arrancar lágrimas de todos, não só pela bela maneira com a qual interpretou o texto, mas também pela coragem de se mostrar de cara limpa. Foi, sem dúvida, o melhor papel de Rosamaria em anos.



ü  Também não posso deixar de mencionar as incríveis atuações de Cássia Kis Magro, que fez de sua mãe coragem a razão de ser de “Morde &Assopra”, comédia das sete em que, ironicamente, o drama roubou todas as cenas.



ü  E o que dizer do “Insensato Coração” de Norma (Gloria Pires)? Para muitos, o grande motivo para se assistir à novela. Uma personagem que foi sendo construída no decorrer da novela com maestria pelos autores e que propiciou mais um show de interpretação de Gloria Pires. Mesmo com atitudes pra lá de questionáveis, o público se apaixonou por Norma e torceu por ela até o fim. Nem santa, nem megera, mas sim uma vítima das circunstâncias. Uma das cenas que mais definiu a enorme dimensão humana da personagem foi a da morte de Teodoro (Tarcisio Meira), quando Norma se arrepende do que fez e chora desesperada no leito de morte do marido. O desfecho trágico de Norma era inevitável, mas mesmo assim Norma conseguiu se vingar de Léo (Gabriel Braga Nunes), seu grande objetivo na trama. Mais um grande momento de Gloria Pires, colecionadora de inesquecíveis personagens em nossa tevê.

ü  E por fim, um duelo de peso em “A vida da gente”, entre duas mulheres fortes, dominadoras, determinadas e, por vezes, muito cruéis: Eva e Vitória, vividas respectivamente por Ana Beatriz Nogueira e Gisele Fróes. E aqui também há um contraponto interessante, pois enquanto a loucura e a obsessão de uma é totalmente motivada pelo amor, a outra age com uma frieza e aparente total ausência de sentimentos. Personagens complexos defendidos com garra por duas grandes atrizes.

Ø  LILIA, A CAMALEÔNICA


Já virou praxe por aqui destacar o talento de Lilia Cabral. Quem diria que a romântica e feminina Mercedes da série “Divã” e a masculinizada e lutadora Griselda de “Fina Estampa” podem ser vividas por uma mesma atriz? Pois Lília é dessas atrizes raras, que transitam em qualquer universo e desempenham lindamente papéis diametralmente opostos. E depois de quase três décadas de carreira televisiva e ótimos serviços prestados, Lilia finalmente chegou ao patamar que merece: o posto de protagonista absoluta do horário nobre. E isso é motivo o suficiente para comemorar. Que venham muitas outras heroínas. E viva o talento reconhecido!



Ø  HUMOR EM DOSE DUPLA



ü  No quesito humor, parece que esse foi o ano das duplas. Destaco, pelo menos, três, que me divertiram bastante no decorrer do ano. Janete e Valéria, vividas pelos impagáveis e talentosíssimos amigos Thalita Carauta e Rodrigo Sant’anna, donos absolutos da cena do “Zorra Total”, que conseguiram a proeza de despertar gargalhadas gerais, das classes A a E, não tem quem não tenha rido e admirado essa dupla em 2011. Sei que é só o começo, pois talento os dois têm de sobra.



ü  Outra dupla que me divertiu demais até antes de entrarem em cena (porque quando lia os capítulos, já os imaginava encenando e ria sozinho aqui em casa) foram os divertidíssimos Cleiton e Pablo, vividos pelos queridos Frank Menezes e Pablo Sanábio, que fizeram misérias no salão “Penha Fashion” e sempre quebravam o constante clima de tensão de “O astro”. A cada aparição da dupla, uma enxurrada de elogios no Twitter. Juntos ou separados, espero ainda rir e me emocionar com os dois por muitos e muitos anos.



ü  Por fim, Sueli (Andrea Beltrão) e Fátima (Fernanda Torres) abusaram do humor popular de “Tapas e Beijos” e conquistaram o público. O talento dessas duas não é novidade pra ninguém, mas vamos combinar que juntas foram sensacionais, sobretudo La Beltrão, que foi além da graça e soube humanizar Sueli na dose certa, fazendo com que todos torcessem por ela. Grande atriz de múltiplos recursos. E que venha a segunda temporada.

Ø  E O PRÊMIO “COMO NÃO AMAR?” VAI PARA...



A impagável Tia Neném, vivida por Ana Lúcia Torre? Escalada apenas para a primeira parte de “Insensato Coração”, a personagem caiu nas graças do público e seguiu até o fim. Fofoqueira, interesseira, maldosa, hipocondríaca e dissimulada, Tia Neném praticava pequenas maldades em proveito próprio. Uma intriguinha aqui, outra ali e pronto: o circo já pegava fogo e ela assistia a tudo de camarote. A mais completa tradução do ditado “parente é serpente”. Quem não tem ou não conhece uma tia Neném?

Ø  HOT, HOT, HOT...



Nesse quesito, sorry, não tem pra ninguém: só deu “O astro”, que trouxe de volta as cenas quentes que estavámos acostumados a ver nas novelas nos ótimos tempos pré-politicamente corretos. É fato que chocou alguns adolescentes caretas que não foram acostumados a isso (esses moços, pobres moços...), mas que agradou a maioria e matou a saudade dos tempos em que as novelas tinham mais liberdade. Vários casais protagonizaram ótimas cenas como as fantasias sexuais de Neco e Beatriz (Humberto Martins e Guilhermina Guinle); o tigrão Samir e sua coelhinha Valéria (Marco Ricca e o furacão Ellen Rocche) e o amor por muitas vezes voraz e desesperado de Márcio e Lili (Thiago Fragoso e Alinne Moraes). Mas nenhum casal mexeu tanto com nossos hormônios como Herculano e Amanda (Rodrigo Lombardi e Carolina Ferraz). Há tempos não tínhamos um casal protagonista com uma química tão forte, que já se manifestava no olhar. E foram tantas cenas fantásticas ao som de “Easy”, que vai ser impossível ouvir a canção sem se lembrar dos dois.

Ø  VALE A PENA VER E REVER DE NOVO

E no campo das reprises, o Canal Viva continua reinando absoluto. Um prazer ímpar rever minisséries de minha memória afetiva como “Anos Dourados” e “Anos Rebeldes” e também que ainda faziam parte de minha memória recente como “Labirinto”. O fenômeno “Vale Tudo” deu lugar a “Roque Santeiro” sem a mesma força, mas com grande entusiasmo. Foi bom também rever “Vamp” e, mesmo constatando que a novela ficou datada e que a trama não era tão boa assim, é sempre divertido revisitar o passado e relembrar uma novela que conquistou pelo inusitado. E pra melhorar, ainda reprisam “Top Model”, essa sim com uma trama maravilhosa e envolvente até hoje (o bom e velho melodrama é mesmo a base de tudo). E que maravilha ver Malu Mader no auge da beleza, Maria Zilda com seu habitual tipo femme fatale e Zezé Polessa como uma espécie de Zelda Scott balzaquiana. E o melhor elenco adolescente que uma novela já teve com destaque para Gabriela Duarte, Carol machado, Rodrigo Penna, Marcelo Faria e Adriana Esteves no auge da puberdade. Estou voltando no tempo, meus pelos pubianos até estão crescendo novamente... (risos).

Ø  ENQUANTO ISSO, NA TV FECHADA...



Não perco um episódio de “Oscar Freire 279”, o endereço mais bafônico de Sampa. A série do Multishow, escrita por Antonia Pellegrino e Julia Spadaccini, dirigida por Márcia Faria, consegue driblar o baixo orçamento e garantir ótimos momentos, fugindo de clichês ao contar a história de Dora (a ótima Livia de Bueno), jovem arquiteta que vai pra São Paulo se tornar florista e acaba virando garota de programa. Sem julgar e nem fazer apologia, a série se passa quase que inteiramente em um único cenário, onde se desenrolam os dramas dos personagens e cenas pra lá de calientes. Destaque para Maria Ribeiro, ótima como a garota de programa experiente, espécie de mentora de Dora e, nos episódios mais recentes, quem brilhou foi a excelente Carla Ribas, no papel de Cíntia, mãe de Dora, uma espécie de “desperate housewife” que se redescobre no endereço em questão. A série continua em 2012 e a julgar pelos ótimos ganchos que fecham cada episódio, ainda promete muitos acontecimentos surpreendentes.

Ø  MINHA PEDRA É AMETISTA!


    Por motivos óbvios, sei que sou totalmente parcial sempre que falo de “O astro”, mas como esse blog é subjetivo mesmo e também não estou sozinho nos elogios, me sinto mais que à vontade para destacar esse projeto, que é mais do que especial em minha vida. Além de colaborador, também fui, de certa forma, espectador, pois sempre que recebia a escaleta ou o capítulo pronto dos autores, vibrava com cada cena, com cada gancho e, como qualquer telespectador, ficava ansioso pelos próximos acontecimentos. A novela das onze trouxe de volta o bom e velho gancho, imprimiu um novo ritmo (que causou certa estranheza), mas manteve o texto no melhor estilo folhetinesco e melodramático. Os autores, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, foram absolutamente fiéis ao estilo apaixonado e apaixonante da mestra Janete Clair e tenho certeza de que, mesmo se não estivesse envolvido no projeto, seria um espectador fervoroso. Seria deselegante destacar alguma atuação do elenco e também injusto, pois todos estiveram ótimos. Por isso, destaco três cenas que me levaram às lágrimas: imagens da maravilhosa Dina Sfat, a Amanda da versão original, quando Ferragus (Francisco Cuoco) se lembra de um grande amor do passado, o velório de Natal (Antonio Calloni) e a morte de Jôse (Fernanda Rodrigues). Pra mim, três momentos, dentre tantos inesquecíveis, que merecem entrar para a antologia das grandes cenas das telenovelas de todos os tempos. Já estou morrendo de saudades e, para sempre, minha pedra será ametista!

Jôse (Fernanda Rodrigues) no leito de morte: emoção à flor da pele.


O velório de Natal emocionou o público e o elenco

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Agora, o melão quer saber? O que vocês preferiram em 2011?

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Leia também:

Em 2009, eu preferi....






8 comentários:

Diogo C. disse...

Parabéns pelo texto :)

Realmente em 2011 as NOV6 foram os maiores destaques. Parece que tiraram o drama das 21h e jogaram ás 18h...

E outra grata surpresa foi a NOV11... chocando (com louvor) a sociedade, trazendo coisas que o politicamente correto e a neurose da classificação indicativa tinham banido há anos.

Clô Hayalla marcou. Sem mas.

Nilson Xavier disse...

Só faltou vc dizer, caro Vitor, que 2011 foi o ano do Melão!

Parabéns pelo ótimo texto!
Ótimas observações!

Um 2012 de sucesso à TV brasileira
e a todos nós!

Ivan disse...

eu quero é mais Vitor de Oliveira na TV em 2012! 2013, 2014, 2015..... (Ficou parecendo DIREITO DE AMAR! eheheh)
SUCESSO SEMPRE!

Anônimo disse...

Ótimo texto!!!
Em 2011 eu preferi meu texto no melão... Afinal, nem eu esperava tanto de mim mesmo! rsrsrs
Aproveitando, agradeço mais uma vez pela oportunidade e pelo grande abre-alas!

Feliz 2012!
^^

Sérgio Santos disse...

Concordo com tudo. Acrescentaria ainda a ótima dupla formada pela Jandira Martini e Vera Mancini em Morde & Assopra; e também a série "Macho Man" com o humor ácido de Fernanda Young e Alexandre Machado. Antonio Calloni se destacou como o Natal em O Astro, e foi um prazer rever a Maria Pompeu interpretando a avó do personagem dele.

José Ono Junior disse...

Delicioso texto!
Concordo em gênero, número e grau. 2011 foi o ano da teledramaturgia! A Vida da Gente e O Astro foram ótimas surpresas.
Cito também três outras atrações: a reprise de Mulheres de Areia, no Vale a Pena Ver de Novo, de Barriga de Aluguel no Viva, e o lançamento do dvd de Dancin Days, que me arrepia a cada capítulo.
Parabéns pelo blog! Adoro melão!

Eddy Fernandes disse...

Adorei as preferências do Melão! Assino embaixo! Sobretudo, no que se refere ao excelente trabalho de Rosamaria Murtinho e Regina Duarte em "O astro".

Anônimo disse...

Olá, Vítor! Lília Cabral realmente deu um show de versatilidade. Curti muito as tuas impressões. E, pelo jeito, o saudosismo corre solto com as reprises do Viva hehehe... Abraço!
Lucas - www.cascudeando.zip.net

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