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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Entrevista: Nilson Xavier – enciclopédia televisiva.

                                                                                                                                                                   
            


"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". A frase de Cora Coralina me parece adequada para apresentar o novo entrevistado do melão: Nilson Xavier, criador do site “Teledramaturgia” e autor do “Almanaque da Telenovela Brasileira”, dois veículos que são verdadeiras fontes de conhecimento pra todo mundo que ama novelas e afins.
Noveleiro desde pequeno, Nilson anotava em um caderno todas as informações referentes a cada novela no ar. Anos mais tarde, tornou-se analista de sistemas e uniu o agradável ao útil e criou o site “Teledramaturgia”, que contém informações sobre todas, eu disse TODAS as produções teledramatúrgicas de nossa tevê desde os primórdios. Quer saber quem fez parte do elenco de “O sheik de Agadir”? Ou quer conhecer curiosidades sobre a minissérie “Quem ama não mata”? Seja o que for o que você deseja saber, está tudo no site, que atualmente passa por um processo de modernização em seu layout. Realmente um luxo!  Aos poucos, o trabalho hercúleo e importante de Nilson começou a ser reconhecido em várias instâncias e hoje em dia é muito mais do que um mero guia de consulta para telemaníacos. Além de ser procurado por vários estudantes e pesquisadores do gênero, o site também serviu de base para várias publicações importantes, dentre as quais, o projeto Memória Globo. Não satisfeito, Nilson também publicou o “Almanaque da telenovela”, que além de informativo, traz várias curiosidades sobre inúmeras novelas e séries. Feliz de nossa teledramaturgia que pode contar com pessoas como Nilson, que preservam com tanto capricho e carinho a sua memória, trabalho que deveria ser feito pelas instâncias institucionais, pois já está mais do que na hora de reconhecerem que a telenovela está para o Brasil assim como o cinema está para os States.

“Eu prefiro melão” orgulhosamente apresenta: Nilson Xavier!


            Eu prefiro melão - Quais são suas primeiras lembranças televisivas?
Nilson Xavier - Lembro, muito remotamente, de cenas da novela O Semideus (1974): de Tarcísio Meira de cabelos crespos e um casacão escuro, da personagem de Mirian Pires, uma mulher meio enlouquecida. Depois lembro de Fogo Sobre Terra, principalmente do último capítulo, pois me marcou muito a cena em que Nara, personagem de Neuza Amaral, é tragada pelas águas da represa pois se negava a deixar a sua casa. Na seqüência veio Escalada, e já lembro de mais coisas.

Eu prefiro melão - Você tinha a real noção do enorme sucesso e repercussão quando decidiu criar o site Teledramaturgia? Imaginou que ele se tornaria referência, fonte de consulta para estudiosos, acadêmicos e amantes do gênero? Sei que você já respondeu isso milhões de vezes, mas como tudo começou?
Nilson Xavier - Nunca imaginei, juro! E devo tudo isso ao meu amigo Hugo Pitada, que na época mantinha o site “Gilberto Braga On-Line” que me serviu de referência e foi a base para meu site. Na verdade, minha primeira intenção foi migrar para a rede as minhas anotações de mais de 20 anos. Somado a isso, fiz um bom trabalho de pesquisa com a bibliografia que tinha em mãos na época (1999/2000). Claro que o livro de Ismael Fernandes (“Memória da Telenovela Brasileira”) foi minha principal fonte. Mas o site foi crescendo, crescendo, num trabalho incansável.  “De formiguinha” mesmo! E, aos poucos, tornou-se o que é hoje: uma base de dados, com mais de 900 títulos catalogados, de produções teledramatúrgicas nacionais.

Eu prefiro melão - Do site você partiu para o Almanaque da Telenovela. Como surgiu a ideia do livro?


Nilson Xavier - Em 2004 a Ediouro lançou o “Almanaque dos Anos 80”, livro que gostei muito, pela identificação com a época retratada. Então imaginei que seria bastante interessante um livro nos mesmos moldes (tópicos de curiosidades e fartamente ilustrado), mas apenas com informações sobre o universo novelístico. A maioria das curiosidades sobre novelas eu já tinha, através do site. Bastava compilar de uma forma diferente (por temas), colher mais pesquisa, juntar material ilustrativo e pronto! O livro não poderia ser igual ao site, pois não faria sentido publicar algo que já se encontra na Internet. Então eu diria que o livro complementa o site: tem informações que existem no livro mas não existem no site, e vice-versa.

Eu prefiro melão - Você acha que a novela ainda é considerada pela elite cultural como gênero descartável e de segunda linha? Ou o preconceito já diminuiu?
Nilson Xavier - Acho que o preconceito tenha diminuído um pouco de vinte anos para cá, por tanto que se “bateu nesta tecla”! Mas convenhamos que as produções atuais não têm ajudado para melhorar este cenário. Como bem disse o novelista Lauro César Muniz numa entrevista, hoje em dia se nivela por baixo, e a qualidade fica aquém do esperado.

Eu prefiro melão - A que você atribui o sucesso permanente da telenovela em nosso país? Qual a relação do brasileiro com o gênero?
Nilson Xavier - A telenovela é quase uma “instituição nacional”. Muitos a comparam com o futebol e o Carnaval na preferência popular. E eu concordo. E isso se deve ao fato de as emissoras terem criado no brasileiro médio o hábito de ficar ligado na TV diariamente, em horário nobre, através de uma boa história seriada. Somado a isso, ótimos profissionais em excelentes produções.


Eu prefiro melão - Que novelas e autores você considera emblemáticos e primordiais para a história da nossa TV?
Nilson Xavier - Ah, são tantos! Tantos exemplos de novelas marcantes, que ficaram no subconsciente coletivo. Todos – inclusive quem não é fã do gênero - já ouviram falar de O Bem Amado, Roque Santeiro, Vale Tudo, Dancin´Days, Pecado Capital, Selva de Pedra, Irmãos Coragem (foto), Mulheres de Areia, Beto Rockfeller. E neste histórico, os nomes de Janete Clair, Dias Gomes, Ivani Ribeiro, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Lauro César Muniz, Manoel Carlos e tantos outros serão sempre lembrados!


Eu prefiro melão - De que forma você analisa o atual panorama da produção teledramatúrgica?  Você ainda assiste a novelas com o mesmo entusiasmo do passado? Falta a criatividade e ousadia de outros tempos?
Nilson Xavier  - Acho que o que falta é o público aceitar o novo, o moderno... ou até o revolucionário. Muita coisa mudou de 30 anos para cá. A sociedade, como um todo, por conta dos avanços tecnológicos. Mas - e conseqüentemente - o público de televisão aberta também mudou. Está menos exigente, menos aberto às novidades e menos tolerante às mudanças. Enquanto isso, a classe formadora de opinião está cada vez mais deixando de lado a TV aberta. E isso se reflete nas ótimas produções de teledramaturgia vistas hoje na TV a cabo, e até mesmo na Internet, onde, me parece, é menos nocivo arriscar-se e criar mais.

Eu prefiro melão - Classificação indicativa é uma forma de censura?
Nilson Xavier - Acho que enquanto funcionar como um “alerta” aos pais, não é censura e não atrapalha. Mas a partir do momento que extrapola, faz-se necessário revisar as regras do que “pode ou não pode”. Na minha opinião, a classificação indicativa não deveria podar horários, por exemplo. Acho que cabe aos pais, baseados na classificação indicativa, permitirem ou não o programa a seus filhos. Acho que classificação indicativa é censura quando limita a criatividade por causa de uma grade de programação.

Eu prefiro melão - Em tempos de novas mídias como internet e TV digital, para onde caminha a teledramaturgia?
Nilson Xavier - Acho que a teledramaturgia não deve ignorar as novas mídias. Pelo contrário, deve fazer uso delas, senão, vai ficar para trás, com certeza. Como a Internet é um “mundo sem fim, sem fronteiras”, aumenta-se a possibilidade de novos dramaturgos, novas cabeças pensantes, novas tendências e possibilidades que a TV aberta não consegue abraçar. E isso já está acontecendo. E , apesar destes tempos modernos, continua valendo uma das máximas do showbiz: se estabelece quem tem competência!

Nilson prefere...

Novela favorita: Elas por Elas (memória afetiva) / Roque    Santeiro (melhor novela que já acompanhei)
Minissérie: Os Maias (digno de filme hollywoodiano)
Autor: Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes
Ator: Lima Duarte e Tony Ramos
Atriz: Eva Wilma (foto) e Dina Sfat
Cena marcante: a morte de Juliana (Marília Pêra) na minissérie O Primo Basílio
Tema de novela inesquecível:  Melo do Piripipi” (Gretchen), tema de Mário Fofoca (Luiz Gustavo) em Elas por Elas.

Eu prefiro melão - Obrigadíssimo pela gentileza, querido! E não canso de repetir. Você realizou um trabalho que o Ministério da Cultura deveria desenvolver, afinal preserva a memória cultural de nosso país. Vida longa para o Teledramaturgia!
Nilson Xavier - Obrigado! ;)

                                                                                                      

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