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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Especial 60 anos de Telenovela – minha cena favorita


Jamais vou ter a pretensão de elencar as melhores e mais marcantes cenas de todos os tempos de nossa teledramaturgia, afinal, desses 60 anos, devo ter vivenciado, no máximo, 30. Por isso vou escolher a minha cena favorita, que serve pra simbolizar todas as outras tantas e tantas cenas maravilhosas e antológicas que nos fizeram rir, chorar, vibrar, se emocionar. Mensurar a importância da telenovela na vida do brasileiro também é algo quase impossível, visto que ela está tão entranhada em nossa cultura que não conseguimos imaginar tevê sem novela. E foram tantos os astros, estrelas, autores, diretores e demais profissionais que construíram essa história, que também seria injusto mencionar esse ou aquele.



Portanto, minha cena favorita é altamente subjetiva e o principal motivo que fazem dela minha preferida é que ela é muito completa sob todos os pontos de vista. Na verdade, nem é uma cena e sim, uma sequência de cenas: A CHEGADA DE TIETA EM SANTANA DO AGRESTE em “Tieta”, novela de 1989, de Aguinaldo Silva em coautoria com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretsohn que guardo com carinho na parte mais preciosa de meu baú afetivo de recordações.

Gosto muito da sequência porque ela carrega vários elementos que uma boa telenovela deve ter: trilha sonora emocionante, belas paisagens, um quê de mistério, apresenta lindamente a protagonista, é emocionante, é engraçada, quase todo o elenco participa e, basta assistir a essa cena para se ter uma ideia bem clara do que é a novela, ou seja, Aguinaldo Silva foi absolutamente certeiro e genial em seu poder de síntese. Não conheço outra sequência de cenas que sintetize uma trama de forma tão perfeita.



Então vamos a ela. Tieta (eterna Betty Faria) chega triunfante na cidadezinha em seu carrão vermelho conversível. Ainda não vemos seu rosto. Enquanto ela chega, vai relembrando os momentos que viveu por ali. Ao som de “Coração do Agreste”, na voz e interpretação emocionante de Fafá de Belém, são inseridas cenas de Tieta quando jovem, vivida por Claudia Ohana. Quando enfim o carro chega na praça, vemos que a Tieta agora é Betty Faria e traz consigo Lídia Brondi a chamando de “mãezinha”. Após isso, vemos um momento hilário com o mendigo Bafo de Bode (um impagável Bemvindo Sequeira), que se impressiona com a voluptuosidade do derriére da moça, manda a antológica frase: “isso não é mulher, é uma plantação inteirinha de xibiu”. Mal sabe Tieta que toda a população está naquele momento celebrando a missa de sétimo dia de sua morte. E ao entrar de forma esfuziante igreja adentro é reconhecida apenas por sua madrasta Tonha (Yoná Magalhães), que explode em emoção. E aos poucos os personagens vão sendo apresentados a Tieta e a todo o público, inclusive a vilã Perpétua (Joana Fomm) e todo o seu cinismo e dissimulação. Enfim, o circo está armado. A partir dessa cena, teremos pela frente uma novela deliciosamente irreverente, emocionante, engraçada e sensual.  

Com essa sequência de cenas, melão celebra os 60 anos da teledramaturgia e parabeniza a todos nós por esse produto genuinamente brasileiro que criamos e que nos faz sonhar por noites e noite a fio. Brindemos!



E vocês? Sei que é difícil, mas qual é sua cena favorita desses 60 anos?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Roteirista convidado: Wesley Vieira apresenta “Pega Rapaz”



Com muita honra, o melão apresenta mais uma novidade: a seção ROTEIRISTA CONVIDADO, afinal a teledramaturgia que tanto amamos nasce no texto. Por isso, a seção vai apresentar sempre um trecho de um texto de algum talentoso aspirante a autor televisivo. E não poderia começar da melhor maneira, com o amigo-irmão, e sócio-editor da sucursal Minas do Melão, Wesley Vieira, conhecido por alguns como “mocinho da Janete”. O rapaz é extremamente talentoso. Participamos juntos das etapas seletivas da oficina de autores da Globo no ano passado e acho que sua hora está prestes a chegar. Por isso, o melão se antecipa e apresenta o talento do para para que um dia possa encher a boca e dizer: eu já sabia. Sobre o texto, o próprio Wesley nos apresenta. Por essa pequena amostra, já se conclui que o rapaz nasceu pra isso. É só uma questão de tempo para que se torne mais um campeão de audiência. A televisão precisa de roteiristas como Wesley que, além do talento e da capacidade criativa, possuem conhecimento e paixão pelo gênero. Autor de novela tem que gostar de novela. Comentem, participem, interajam. O melão é nosso.


Meu parceiro e mais que amigo, Vitor, o Melão (ou seria Melão, o Vitor?) fez o convite para colaborar mais uma vez com o blog e como chefe da sucursal de Minas, não me fiz de rogado e aceitei.
Quem me conhece, sabe que brinco de roteirista e no ano passado quase cheguei lá: tive a sorte de entrar numa grande Fábrica de Sonhos participando de uma seleção das brabas. Vitor e eu passamos juntos por essas emoções e angústias. Resultados diferentes, mas sensação de vitória. O certo é que ele conhece as minhas histórias e pediu para compartilhá-las aqui no Melão.
Uma das minhas sinopses para novela se chama “Pega Rapaz” - uma fábula sobre ego e cobiça. A história, uma comédia, vem sendo desenvolvida desde 2004, quando parti da seguinte premissa: “Mulher não precisa ter bunda e nem precisa ser bonita, mas, sim, um cabelo bonito.” Centralizei a história em um rapaz de caráter duvidoso num estilo janetiano e, claro, tudo isso tendo BH, a capital do meu estado, como cenário. Pesquei três cenas do primeiro capítulo onde Alexia Zambianck, ou melhor, “O Cabelo”, é humilhada pela grande Chica Joaquina Leão. É a partir dessa humilhação que Alexia tem a idéia de usar, Gil Cantuária, o tal rapaz, que chegou a BH e se meteu numa encrenca...
Espero que curtam esse aperitivo: cenas de um primeiro capítulo cheio de acontecimentos, porque aqui, trabalhamos com ganchos e muita emoção.


CENA 21. studio leoa - salão principal. Interior. dia.

CAM passeia pelo moderno e luxuoso ambiente mostrando a movimentação. Vários cabeleireiros, maquiadores, manicures, clientes passeando, clientes tratadas como deusas, muita perua, a loja com os produtos da marca “Leoa”, etc. Em vários pontos, homens trocam banners e pôsteres de propaganda que estão com o rosto de Alexia. Num outro ponto estão Orlanda e Pepita, arrumando cabelo e unha com Renatão, a anã, e outra manicure.

PEPITA      — Ai... Cuidado mocinha. Se me arrancar mais um bife, eu mando a minha filha te demitir.
ORLANDA     — Pepita, dificilmente essa moça come carne em casa. É claro que ela vai arrancar todos os bifes que estiverem disponíveis nessa sua mão, ressecadíssima por sinal. Carne de quinta, mas pra ela deve dar pro gasto. (T) Tadinha, tão pequenininha.
PEPITA      — Pequenininha não, Orlanda. Quer tomar um processo nessa cara? A moça é verticalmente prejudicada. Aprenda.
Renatão olha com nojo para a cara de Orlanda e Pepita que começam a rir de deboche.
Corta para Alcemirando que analisa o cabelo de uma cliente que reclama: queria algo moderno. Chica chega perto, pega a tesoura, analisa e dá um corte com maestria.
CHICA       — Assim é bem melhor. Veja!
CLIENTE     — Uau. Adorei. Ficou sensacional.
Corta para Pepita e Orlanda que secam Chica com inveja.
PEPITA        — Olha que terninho maravilhoso...
ORLANDA     — Combinava mais comigo.
Romilda, muito nervosa, chega interrompendo as duas.
ROMILDA     — Bomba. As senhoras viram o que estão fazendo com as propagandas da Alexia?
Corta rápido para a porta lateral onde Alexia adentra o Studio com todo o glamour e antipatia que lhe é peculiar.
SULA        — Ixi. Chegou a jacaroa.
ALCEMIRANDO — Bem feito. Quem mandou falar mal da patroa na televisão e nas revistas. Se fu..., perua.
Alexia observa os banners e pôsteres com o rosto de Marol. Ela fica apavorada e aborda rapazes que levam seu outdoor para fora do Studio.
ALEXIA      — O que está acontecendo aqui? Por que estão tirando meus banners e meus pôsteres? É ordem de quem?
RAPAZ       — Ordem da chefia. É pra tirar tudo, inclusive da cidade.
ALEXIA      — Que ousadia é essa?
RAPAZ       — A senhora ainda bate um bolão, mas tá velha pra ser garota propaganda né dona?
Alexia fica desesperada.
ALEXIA      — (Grita) Parem já com isso.
Todos se calam enquanto Alexia empurra o rapaz e se coloca na frente de outro que ia levando um enorme pôster com o seu rosto. Ela faz um espetáculo.
ALEXIA      — (Enlouquecida) Ninguém pode fazer isso.
Todos começam a rir de Alexia. Pepita vem acalmá-la.
Letreiro com o nome da personagem: ALEXIA.
ALEXIA      — (Grita) Vocês só estão aqui por causa desse meu cabelo lindo e maravilhoso.
Chica surge por entre as pessoas que estão na parte superior. Ela e Alexia se encaram.
CHICA       — Então a Leoa é isso tudo por sua causa? É isso mesmo? Você se acha no direito de falar que a Leoa só faz sucesso por conta desse seu cabelinho?
ALEXIA      — Cabelinho, não. Alto lá. A Leoa tem um contrato com a minha imagem e eu não posso ser descartada assim como uma lixa de unha. São 25 anos/
CHICA       — 25 anos? Meu Deus! Eu achei que fosse 40. Eu fiquei velha e você também. Acorda Alexia.
ALEXIA      — Eu sempre fui referência e ainda faço sucesso. Eu sou a garota propaganda dessa joça. Sou o símbolo da Leoa.
CHICA       — (Rindo) Garota propaganda? Só se for de tintura pra cabelo branco. E mais: a Marol é a nossa nova garota e garanto que ela vai triplicar as vendas dos shampoos Leoa.
ALEXIA      — (OFF) Mas a Marol não é modelo. Ela não é bonita e muito menos tem um cabelo lindo como o meu.
CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 22. SOBREVOO DE HELICOP./ heliporto. EXTERIOr. dia.
Já cortou antes. Sobre as falas em OFF, um helicóptero sobrevoa a cidade ao entardecer. Aos poucos a CAM revela que Marol é o piloto. O helicóptero vai cortando os prédios da cidade até descer num heliporto. Corte descontínuo. Marol sai do heliporto a bordo de seu carro.

CHICA       — (OFF) Despeitada, não fala bobagem. Marol é linda, simples, sofisticada, tem brilho próprio, é forte e tem o perfil da mulher que é a cara da Leoa. Você está com raiva porque ela é filha de seu ex-marido e principalmente porque ela é jovem, coisa que você não é desde... em que ano a Marol nasceu? 
CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 23. studio leoa - salão principal. Interior. dia.

Todos riem do comentário. Chica desce as escadas rolantes e para perto de Alexia.

CHICA       — Eu passo um mês vivendo como índio na Amazônia e descubro que você torrou a verba da publicidade com a sua bela imagem em revistas de quinta categoria. E você teve a coragem de ir num desses programas de mulherzinha e bradar aos sete ventos que a Leoa só faz sucesso porque você existe. Eu cansei desse seu ar de superior e dessa futilidade. Além disso, você já está bem passadinha. A Leoa precisa renovar.
ALEXIA      — Mas e o meu cabelo?
CHICA       — Pinte de azul ou raspe essa cabeleira e faça um leilão. Certamente esse embuzeiro deve valer algum dinheiro.
Chica vai andando, deixando Alexia furiosa. Os homens que carregam os banners passam perto e ela tenta segura-los. Ela sobe em cima e eles a carregam para fora. Ela cai.
     CHICA         - Você está no lugar que merece: no chão!
Todos começam a rir debochadamente. Efeito das risadas ecoando na cabeça de Alexia. Corta para parte superior onde Pepita faz menção em ajudar a filha. Orlanda também ri e Pepita a empurra em cima dos aparelhos.
PEPITA      — Sua leitoa, você também ri?
ALEXIA      — (Com ódio) Bando de idiotas. Eu vou detonar essa Leoa.

CORTA PARA:

No mês que vem, mais um roteirista convidado. Não percam!
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Leia também:

“TELL ME MORE, TELL ME MORE...” – Pombinhos se reencontram



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

“TELL ME MORE, TELL ME MORE...” – Pombinhos se reencontram


 Quem acompanha o blog de longa data, já deve ter lido alguns posts sobre “Só Você”, minha novela-fetiche dos anos 50. Já postei uma cena em que a mãe do protagonista confessa um segredo para sua confidente. Também já publiquei uma cena de um elegante chá de senhoras com torradas e hipocrisia. Agora me toquei que ainda não apresentei os protagonistas: Roberta e Gustavo. Os dois se conhecem logo no início do capítulo 1 em que ele a salva de um afogamento na praia. Essa última cena do capítulo marca o reencontro dos dois e é descaradamente inspirada na cena de “Grease” em que John Travolta e Olivia Newton-John, através da música “Summer Nights” falam um do outro para os amigos sem saberem que estão no mesmo colégio. Escrevi em 2007. Talvez escrevesse de outro jeito hoje. Mas para o post, preferi preservar as características originais. Espero que gostem.

CENA 44. COLÉGIO. QUADRA. Exterior. Dia/ COLÉGIO. PÁTIO. EXTERIOR. DIA.
QUADRA. GUSTAVO, DENIS E VINNY CHEGAM E ENCONTRAM CAMELO E ALEX. CUMPRIMENTAM-SE COM APERTOS DE MÃO TÍPICOS DE JOVENS DA ÉPOCA.
CAMELO             — Como é que foi ontem na praia?
DENIS                  — O Gustavo pescou uma sereia.
ALEX                   — Sério? Conta aí, Gustavo!
CORTA PARA PÁTIO. ROBERTA, ÉRICA E TATY CONTAM AS NOVIDADES PARA CAMILA E VIRGÍNIA.
CAMILA              — Érica, você não me engana. Tá com cara de quem aprontou na praia ontem.
TATY                    — Pra variar.
ÉRICA                  — Que nada! Quem tirou a sorte grande foi a Roberta.
VIRGÍNIA           — Roberta! Logo você?
ROBERTA           — (ENVERGONHADA) Érica, pra quê falar nisso?
CAMILA              — Ah, não! Começou, agora conta!
ÉRICA                  — Ela conheceu um rapaz na praia.
CAMILA              — Jura? E era bonito?
CORTA P/ QUADRA:
GUSTAVO           — A garota mais linda que eu já vi.
CAMELO             — Ela era boa mesmo?
GUSTAVO           — Sai fora, Camelo. Não é disso que eu tô falando.
ALEX                   — Ué, e não é isso que interessa?
GUSTAVO           — Vocês tão por fora! Tô falando que ela era diferente de todas as garotas que eu já conheci.
ALEX                   — E o que é que ela tinha de tão especial assim?
CORTA P/ PÁTIO:
ROBERTA           — Parecia um príncipe encantado. Lembro que eu tava me afogando e depois não lembro de mais nada. Quando abri os olhos, ele tava lá olhando pra mim.
VIRGÍNIA SUSPIRA. CAMILA E ÉRICA DÃO GRITINHOS. TATY OLHA COM DESDÉM.
TATY                    — Grande coisa! Uma cara de pobre...
ÉRICA                  — Inveja mata, hein Taty?
CAMILA              — Conta mais, conta. Vocês se beijaram?
CORTA P/ QUADRA:
GUSTAVO           — Não foi bem beijar. Tive que fazer respiração boca-a-boca pra ela acordar. Mas aquela boca era tão macia que eu até esqueci que era um salvamento.
CAMELO             — Parece coisa de cinema!
ALEX                   — Ela tem alguma amiga pra apresentar?
DENIS                  — O que? Só tinha brotinho! Uma mais bonita que a outra.
VINNY                 —Teve uma até que não resistiu ao charme do papai aqui. Tive que dar o que ela tava querendo.
RAPAZES GRITAM, ENCARNAM, DÃO CASCUDOS E DESCABELAM VINNY
DENIS                  — A sua sorte que o primo dela era gente boa, senão você tinha criado a maior confusão, isso sim.
CAMELO             — E aí, Guga? Pegou o telefone dela?
CORTA P/ PÁTIO:
ROBERTA           — Não. Vitor pegou a Érica de agarramento com um dos rapazes e ficou uma fera. Quis ir embora na hora. Nem consegui me despedir direito.
VIRGÍNIA           — Que pena. E agora?
CORTA P/ QUADRA:
GUSTAVO           — Agora eu não sei. (TRISTE) Nem sei onde ela está.
CORTA P/ PÁTIO:
ROBERTA           — Será que a gente vai se ver algum dia?
TOCA O SINAL. OS ALUNOS ENTRAM APRESSADOS. ROBERTA PERDE AS MENINAS DE VISTA E CAMINHA UM POUCO PERDIDA. ESBARRA NA MULTIDÃO DE ALUNOS. CADERNOS CAEM. ROBERTA SE ABAIXA PARA PEGAR O MATERIAL QUE CAIU NO CHÃO. QUANDO VAI PEGAR O ÚLTIMO CADERNO, VEMOS QUE UMA MÃO O PEGA ANTES. ROBERTA PERCEBE QUE FOI GUSTAVO QUEM PEGOU. OS DOIS SE OLHAM SURPRESOS.

FIM DO CAPÍTULO

Leia também:

UMA CENA CHAVE DE "SÓ VOCÊ": http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/07/uma-cena-chave-de-so-voce.html

ELEGANTE CHÁ DE SENHORAS DOS ANOS 50: http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/01/elegante-cha-de-senhoras-nos-anos-50.html

FLOR DE LÓTUS: http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/05/flor-de-lotus.html 

                                                                                                                                            

sábado, 31 de julho de 2010

UMA CENA-CHAVE DE "SÓ VOCÊ".


                                                                                                                                                                    
 Os mais chegados sabem que sou aficcionado pelos 50’s. Eles também sabem que tenho uma sinopse de uma novela chamada “Só Você”, uma novela jovem que narra o último ano de colégio de uma animada turma, com seis capítulos prontos e escritos durante o curso que fiz com Margareth Boury em 2007 e, portanto, sob sua supervisão. E que esse projeto de novela, que venho escrevendo, alterando e acrescentando elementos desde criança, é um apanhado de muitas referências dessa época que conviveram comigo durante minha vida toda, como as televisivas “Bambolê”, “Estúpido Cupido”, “Anos Dourados” e “Hilda Furacão” e filmes como “Juventude Transviada”, “Sabrina”, “West side story”, “A primeira transa de Johnatan”, até “Porky’s”, mas tendo “Grease” como inspiração maior. Enfim, já até postei aqui uma cena da novela que servia apenas para ambientar a época: um animado chá de senhoras da sociedade.

A cena que vou postar a seguir, mais do que retratar a época, serve para revelar ao espectador o estopim que vai gerar todo o conflito do casal protagonista. Sem medo de abusar do melodrama, afinal novela boa é novela que emociona e arrebata a torcida do público, por isso recorri mais uma vez ao bom e velho “Romeu e Julieta”, com direito a segredos e revelações de família. Veremos Sueli, camareira do famoso cabaré de Madame Antoinette, mãe de Gustavo, rapaz pobre e mocinho da trama, contando à patroa sobre o desastroso jantar da noite anterior em que, levada pelo filho, foi conhecer a família da namorada dele, Roberta, moça rica e grande heroína da trama, que vai sofrer uma grande virada mais tarde.

Aqui, Antoinette tem a função de orelha, ou seja, aquela que vai basicamente ouvir o relato de Sueli e auxiliar no andamento da cena de modo que as informações a serem contadas possam fluir naturalmente sem que a cena fique forçada ou excessivamente didática. Pelo menos foi o que tentei. Não sei se consegui. Confiram:

CAP 4. CENA 16. CABARÉ. CAMARIM. INTERIOR. DIA.


ANTOINETTE ACALMA SUELI.

ANTOINETTE — Já está melhor, minha amiga?

SUELI, AINDA CHORANDO, FAZ QUE SIM COM A CABEÇA.

ANTOINETTE — Seja lá o que for, você sabe que pode contar comigo, né? Fica à vontade. Pode desabafar se quiser.

SUELI — Madame, muito obrigada! A senhora é um anjo. Eu preciso mesmo desabafar com alguém.

ANTOINETTE — Sou toda ouvidos.

SUELI — O destino me pregou uma peça. E o meu filho é que tá pagando pelo meu passado.

ANTOINETTE — Não tô entendendo nada. Qual deles?

SUELI — O Gustavo. Ele arrumou uma namoradinha nova, a Roberta. E parece que dessa vez ele se apaixonou de verdade.

ANTOINETTE — C’est magnifique! Qual é o problema?

SUELI — O problema é que ela é a última garota por quem ele devia ter se apaixonado. Ela é da família dos meus antigos patrões.

ANTOINETTE — Sei, menina rica. Os pais estão proibindo.

SUELI — Não é isso. Ela é filha de Leonor Lucchesi, a mulher que o Nelson largou pra casar comigo.

ANTOINETTE — Mon dieu! Não acredito!

SUELI — Pode acreditar, amiga. A Leonor tava de casamento marcado com o Nelson e eu era empregada da casa. O Nelson era muito sedutor e eu era muito nova ainda. Me deixei levar. Acabei me apaixonando também.

ANTOINETTE — Já até sei onde essa história acabou. O rapaz largou a moça às portas do altar e fugiu com você.

SUELI — Eu acabei engravidando. O Nelson tava realmente apaixonado por mim. Imagina, ele largou tudo: luxo, riqueza e foi ter uma vida simples comigo.

ANTOINETTE — Nasceram os filhos /

SUELI — A paixão acabou e o cretino passou a me culpar por ter acabado com o casamento dele. Sumiu no mundo. Nunca mais ouvi falar dele.

ANTOINETTE — Que história!

SUELI — Que eu pensei que tivesse morta e enterrada. Até a noite de ontem. O Gustavo, todo feliz, levou a gente pra jantar na casa da menina. A senhora pode até imaginar a reação da Leonor quando me viu, né?

ANTOINETTE — Também não é pra menos. Coitada dessa mulher. Imagina, anos depois a mulher que roubou o marido dela aparece assim no meio da sala.

SUELI — Eu não tiro a razão da Leonor. Acho que se fosse comigo eu ia perder a cabeça também. Eu não tô triste por mim. Nem me lembrava mais dessa história. Eu tô arrasada por fazer o meu filho sofrer.

ANTOINETTE — Que ironia do destino. (RI) E o pior é que nenhuma das duas ficou com o safado.

SUELI — A vida tá cobrando o que eu fiz.

ANTOINETTE — Deixa de besteira, mulher! Não vou negar pra você que é realmente uma falta de sorte. Mas ninguém é punido por se apaixonar.

SUELI — E agora, o que é que eu faço?

ANTOINETTE — Levanta essa cabeça e ajuda o teu filho! Eu sempre te admirei porque você é uma mulher de fibra, nunca fugiu da luta. E não vai ser agora que vai fugir.

ANTOINETTE ABRAÇA SUELI COM CARINHO.
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Quem ainda não leu outras cenas minhas já postadas aqui, seguem os links:

"SÓ VOCÊ": Elegante chá de senhoras nos 50's -> http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/01/elegante-cha-de-senhoras-nos-anos-50.html

FLOR DE LÓTUS: http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/05/flor-de-lotus.html
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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Flor de Lótus


Certa vez, em um exercício de curso de roteiro, criei uma protagonista que tinha por volta de 40 anos, bem casada e estabilizada. Algo acontece e ela é obrigada a dar uma virada em sua vida. Mas ao apresentá-la, a professora nem quis ler e foi taxativa: “mocinha de 40 não rola!”. Surpreso e chocado com tal declaração, nem quis gastar energia citando Tieta, Viúva Porcina, Charlô, Raquel, Helenas do Maneco e outros exemplos bem sucedidos. Como queria agradar, desisti da ideia momentaneamente e fiz a vontade da mestra, voltando para as mocinhas puras de 18 anos.

Mas essa mulher ficou na minha cabeça e um belo dia sua história começou a se delinear melhor em minha mente, vários personagens foram sendo criados à sua volta e uma sinopse completa com primeiro capítulo surgiram. Resolvo agora publicar a primeira cena desse primeiro capítulo, que é a apresentação da personagem, o que é sempre muito difícil, pois a gente precisa começar a contar a história pro espectador sendo o menos didático possível. Criei dois momentos: ela, jovem aos 23 anos às portas de se casar e 15 anos depois, com uma aparente frustração. Não sei se faria diferente hoje, mas foi assim que comecei...


FLOR DE LÓTUS Capítulo 1 Pag.: 1


CENA 01. MANSÃO DOS TREBIANI. JARDIM. EXTERIOR. DIA.



CAM PASSEIA POR ENTRE AS FLORES DO BELO JARDIM DA MANSÃO, COM GRANDE VARIEDADE DE FLORES, DE TODOS OS TIPOS, FORMATOS, CORES E TAMANHOS DIFERENTES, FORMANDO UM CONJUNTO MUITO BONITO. CAM PERCORRE TODO O JARDIM ATÉ UM PEQUENO LAGO ONDE HÁ UMA BELA FLOR DE LÓTUS. A ÁGUA EM TORNO DA FLOR SE AGITA. CAM VAI ATÉ A UMA MÃO JOVEM E FEMININA. É LUÍSA COM 23 ANOS. DUAS MÃOS TAPAM O ROSTO DE LUÍSA. É ARNALDO. LUÍSA COLOCA AS MÃOS SOBRE AS MÃOS DELE.

LUÍSA — Como se eu não fosse adivinhar que é você, meu amor.


LUÍSA SE VIRA PRA ARNALDO E ELES SE BEIJAM


ARNALDO — Amanhã a gente casa. Tá feliz, Luísa?


LUÍSA — Feliz? Eu estou nas nuvens! Arnaldo, eu te amo!


ARNALDO — Eu também, minha flor. E eu prometo te fazer feliz por todos os dias da sua vida.


NOVO BEIJO. LUÍSA COM EXPRESSÃO PREOCUPADA.


ARNALDO — O que foi, amor? Tô te achando um pouco tensa. Vai me dizer que já tá se arrependendo?


LUÍSA — Bobo! Não é isso, não Arnaldo! É muita coisa acontecendo. De uma hora pra outra, a minha vida vai dar um giro completo. Largar o trabalho, casar com você, e principalmente /


ARNALDO — E principalmente...


LUÍSA — (T) Mudar pra essa casa. Cê sabe que a tua mãe não vai com a minha cara.


ARNALDO — É o jeito dela, Luísa. Cê ainda não notou? E eu não posso sair de casa nesse momento que eu vou assumir a presidência da empresa.


LUÍSA — (DEBOCHADA) Quem diria que Arnaldo Trebiani se tornaria o rei do papel higiênico Sedoso, o mais amado do Brasil.


ARNALDO — Isso, vai debochando. E se eu vou ser o rei do papel higiênico, adivinha quem vai ser a rainha?


LUÍSA — Fazer o quê? São as ciladas do amor.


LUÍSA E ARNALDO SE BEIJAM. CAM VOLTA PARA O LAGO LENTAMENTE E DÁ CLOSE NA FLOR DE LÓTUS.
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 CENA 02. MANSÃO DOS TREBIANI. JARDIM. EXTERIOR. DIA.



MESMA IMAGEM DO LAGO DA CENA ANTERIOR. INICIANDO NA FLOR DE LÓTUS SOBRE A ÁGUA. AS MESMAS MÃOS, AGORA COM UMA ALIANÇA, BRINCAM COM A ÁGUA. É LUÍSA, 15 ANOS DEPOIS, COM EXPRESSÃO PENSATIVA, OLHAR DISTANTE, PERDIDO, LEVEMENTE TRISTE. DUAS MÃOS TAPAM SEU ROSTO.

LUÍSA — Arnaldo?


RITA, NUM ROMPANTE, TIRA AS MÃOS DOS OLHOS DE LUÍSA.


RITA — Que é isso, garota? Vai dizer que as mãos do Arnaldo são delicadas desse jeito?


LUÍSA — Rita! Não acredito. Você veio, prima! Dá um abraço!


AS DUAS SE ABRAÇAM CALOROSAMENTE.


RITA — Diretamente do Rio de Janeiro, meu amor! E você achou que eu fosse perder o evento mais importante dos últimos anos da cidade de Recanto?


CORTA PARA:
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Cena 3?
Quem sabe um dia não possamos vê-la no ar! O que terá acontecido a Luísa? E o que vai acontecer na tal festa? Sim, a novela ainda vai começar, mas a personagem foi apresentada.


Para relembrar outra cena postada aqui no melão, um animado chá de senhoras nos anos 50, clique em:
http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/01/elegante-cha-de-senhoras-nos-anos-50.html

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Elegante chá de senhoras nos anos 50.



O CONTEXTO. A MATRIARCA DOMINADORA E PSEUDO-CONSERVADORA CARMEM LUCCHESI RECEBE SENHORAS RESPEITÁVEIS PARA UM AGRADÁVEL CHÁ DA TARDE EM SUA CASA: SUA IRMÃ, A SUBMISSA LEONOR, D. LYGIA, A AUSTERA DIRETORA DO COLÉGIO DAS FILHAS E LUCIMEI, MILIONÁRIA LIBERAL DE MODOS MODERNOS MUITO MAL VISTA PELA SOCIEDADE. TUDO TRANSCORRE BEM, APESAR DAS INTERVENÇÕES DA SOGRA DE CARMEM, DONA TININHA, UMA VELHA ASSANHADA E “PRAFRENTEX”, QUE SEMPRE DIZ O QUE PENSA.

CAP 3 - CENA 32. CASA DE CARMEM. SALA. INTERIOR. DIA.


CARMEM TOMA CHÁ COM LYGIA, LEONOR, LUCIMEI E DONA TININHA. DAÍSA ENTRA.


DAÍSA — Mais chá?


CARMEM — Não, Daísa. Pode ir.


D.TININHA — Espera, Daísa! Traz mais biscoitinho.


CARMEM — Já não comeu biscoito demais?


D.TININHA — Que é isso, Carmem, o que é que as visitas vão pensar? Que você fica regulando comida?


LYGIA — (LEVEMENTE CONSTRANGIDA) Imagina.


LEONOR — (SORRINDO) Vai acabar engordando além da conta.


D.TININHA — Ih, menina, é disso que os homens gostam. Eles adoram ter onde pegar.


CARMEM — (ENVERGONHADA) Dona Tininha!


LEONOR E LYGIA CONSTRANGIDAS. LUCIMEI SE DIVERTE.


LUCIMEI — Ah, Dona Tininha, a senhora não tá no gibi.


CARMEM — (RESIGNADA). Traz mais biscoito, Daísa. Leonor, e as meninas, por que não vieram?


LEONOR — A Renata está na aula de piano. Também, quase não sai de casa. A Roberta saiu com o namoradinho.


CARMEM — Ai, minha irmã, não me conformo de você permitir que a Roberta namore esse mecânico.


LEONOR — Que é isso, Carmem? É só um namorinho inocente. A Roberta só tem dezessete anos. Coisa da idade.


CARMEM — Não sei, não. Já faz um mês que ela tá nesse “namorinho inocente” e nada de você conhecer o rapaz. Eu soube que ele estava envolvido naquela confusão da sorveteria.


LUCIMEI — A Camila me contou que o Gustavo é um amor de rapaz. E que ele só queria defender a Roberta.


LYGIA — No colégio, ele vai indo muito bem. É um aluno bastante aplicado. Não posso negar, tira boas notas /


CARMEM — A que família ele pertence?



LEONOR — Como assim?


CARMEM — Ora, ele namora uma Lucchesi. Quatrocentos anos de tradição. E você nem sabe de que família ele é?


LEONOR — Não sei, Carmem, só sei que é gente simples.



CARMEM — Abre o olho, Leonor! Esse mundo tá cheio de aproveitadores. Francamente, eu acho um absurdo a Roberta sair com um rapaz que a gente nem conhece a família. Ah, se fosse filha minha...


LYGIA — Isso é verdade! As minhas eu levo ali no cabresto.


CARMEM — É como eu digo. Filha mulher é um castigo. Eu proponho um jantar entre as famílias.

 
LUCIMEI — (OLHA PARA O RELÓGIO) Xi, falando em filha, eu tenho que ir. Combinei de sair com a Camila.


CARMEM — Já vai, querida? É cedo.


LUCIMEI — Não, já tô atrasadíssima. A gente vai pegar a matinée. Tá passando um filme ótimo.


LUCIMEI LEVANTA. AS DEMAIS, EXCETO DONA TININHA QUE DEVORA OS BISCOITOS PARECENDO ALHEIA A TUDO, LEVANTAM PARA CUMPRIMENTÁ-LA.


LUCIMEI — Obrigado pelo chá, Carmem. Você, como sempre, recebe muito bem.


CARMEM — Imagina, vê se aparece mais.


LUCIMEI — Boa tarde, meninas!


TODAS — Boa tarde.


CARMEM — Daísa, acompanhe a Dona Lucimei até a porta.


DAÍSA ABRE A PORTA. LUCIMEI SE DESPEDE E SAI.


LYGIA — Que absurdo. Mãe e filha indo ao cinema desacompanhadas no meio da tarde. Como se fossem da mesma idade...


CARMEM — Também o que esperar de uma mãe solteira? Teve a filha não sei com quem. Não é à toa que a menina foi recusada em vários colégios.


LYGIA — Eu aceitei a matrícula por piedade. Coitadinha, a menina não tem culpa da mãe que tem.


D.TININHA — Engraçado, Dona Lygia. Eu pensei que a senhora tivesse aceitado a menina no colégio porque a mãe é milionária.


CARMEM — Dona Tininha! Mais uma dessas eu coloco a senhora lá pra dentro, hein?


DAÍSA DE LONGE RI. LEONOR DÁ UM LEVE SORRISO.


LEONOR — Carmem, não se pode negar que a Lucimei é muito boa pessoa. Ajuda nas obras da paróquia, contribui com a creche do bairro/


CARMEM — Isso é pra expiar os pecados. E aquela filha dela, solta daquele vai jeito acabar perdida igual a mãe.


LEONOR — Que exagero, Carmem!


CARMEM — Exagero nenhum! E você que não cuide da Roberta que ela vai pro mesmo caminho. Está decidido. Vamos fazer um jantar com a família desse rapaz pra saber quem é ele!


LEONOR — Mas /


CARMEM — Ai, minha irmã, o que seria da nossa família sem mim?


LYGIA E DONA TININHA SE ENTREOLHAM. LEONOR, RESIGNADA E CARMEM, DECICIDA.

(Cena 32 do cap. 3 de “Só Você”, sinopse desenvolvida por mim e com seis capítulos escritos em parceria com Fellipe Carauta e Carlos Fernando, sob a supervisão de Margareth Boury, que coordenou a oficina onde tudo começou em 2007).

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