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sábado, 25 de setembro de 2010

Blogueiro convidado: Eddy Fernandes fala de “Separação?!”

                                                                                                                                                                 
 Muitíssimo jovem, mas com talento para a escrita digno de veterano, o queridíssimo Eddy Fernandes, diretamente de Manaus, nos deu a honra de ser o novo blogueiro convidado do melão. A julgar pelos textos televisivos que já li do moço, posso assegurar que ele vai longe! Quando seu nome figurar nos créditos de alguma abertura de novela, tomara que todos se lembrem de que ele escreveu por aqui um dia...
Além disso, ele também possui um blog engraçadíssimo, Tá Fun, que fala das dores e delícias de seu cotidiano, bem como relata as agruras da vida moderna com um humor inteligentíssimo, repleto de ironia e sarcasmo na dose exata. Não deixem de visitar!
Mas, como por aqui o assunto é teledramaturgia, Eddy nos brindou com um texto sobre a excelente Separação?!” escrito momentos após ir ao ar o último episódio da primeira temporada da série. Olha só que chique! Uma informação importante: para postar um texto por aqui, o blogueiro convidado não precisa absolutamente ter a mesma opinião do dono deste melão, mas nesse caso posso dizer que concordo em gênero, número e grau com tudo o que o texto diz e assino embaixo. Fala aê, Eddy!

E NO FIM, NEM HOUVE SEPARAÇÃO
Por Eddy Fernandes

Acaba de ir ao ar o último episódio da série “Separação?!”, escrita pelo casal Fernanda Young e Alexandre Machado. E devo confessar que estou me sentindo um pouco órfão. Nos últimos cinco meses, eu me deliciei com as peripécias do casal Karin (Débora Bloch) e Agnaldo (Vladimir Brichta), que (sobre) viviam num verdadeiro cabo de guerra. Como sugere o título, a série trata da separação iminente do casal. Evidentemente, toda a trama é conduzida com humor, mas um olhar mais apurado, podia perceber um pezinho no drama. À primeira vista, “Separação” poderia soar como uma mera reedição de “Os Normais”, sucesso da dupla que partiu em 2003 deixando muitos fãs, saudades enormes e alguns filhotes (dois longas-metragens), mas desde o primeiro episódio, a série mostrou buscar um caminho diferente daquele percorrido por Rui e Vani. Enquanto em “Os Normais”, os protagonistas funcionavam como uma espécie de metáfora de vários casais, “Separação?!” se concentrava em apenas um tipo de casal – os casais em crise – que após um longo período juntos, começam a se sentir infelizes, e a se questionar se vale à pena insistir no relacionamento ou não. A premissa interessantíssima foi muito bem desenvolvida pela dupla de autores, que usou de muita comédia nonsense e altas doses de escatologia para escrever o roteiro.
Logo a princípio, fomos apresentados aos ótimos coadjuvantes da série, que conferiram ao texto toda uma graça extra, e definitivamente, sem eles, “Separação?!” não seria a mesma! Do núcleo de Agnaldo, ficamos conhecendo o peruano De La Vega (criação inspiradíssima de Kiko Mascarenhas), sempre disposto a arrasar com o dia do protagonista; e a sua chefe quase-esquizofrênica Anete (da talentosíssima Rita Elmor), que acabou se revelando um poço de patologias, indo da loucura à ninfomania de um episódio para o outro. No núcleo de Karin, fomos apresentados à hilariante Cinira (da genial Cristina Mutarelli), chefe da “mocinha”, que com seus conselhos absurdos a respeito de relacionamentos, foi levando, aos poucos, o ódio de Karin por Agnaldo à níveis quase estratosféricos! E, por fim, o núcleo neutro, o casal de amigos felizes, Gilda (Cláudia Ventura) e Delgado (Marcelo Várzea), que sempre eram involuntariamente metidos nas discussões de Karin e Agnaldo, e serviam como uma espécie de contraponto às implicâncias dos protagonistas.
Diante deste panorama, os autores construíram uma divertida história, que foi se desenrolando ao longo da temporada, e envolvendo este que vos fala. Aos poucos, criou-se a expectativa “Afinal, Karin e Agnaldo vão mesmo se separar?”. Se a princípio, a separação era quase dada como certa – visto que a convivência entre os dois havia se tornado algo, por assim dizer, insuportável – com o tempo, criou-se uma incógnita, pois Karin e Agnaldo começaram a demonstrar que lá no fundo (e bota fundo nisso...) ainda sentiam algo um pelo outro. Agora, daí a chamar esse “algo” de amor, já seria um exagero... E no meio disso tudo, o espaço para excelentes piadas, recheadas de anarquia, sempre mantendo o espírito da série. Como, por exemplo, o divertidíssimo episódio que sacaneou com as cafoníssimas letras traduzidas, quando Karin e Agnaldo protagonizaram um hilariante clipe (quase) romântico ao som da chicletíssima “Wants To Be The First To Say Goodbye”, de Gladys Knight; à medida que o tempo foi passando, as referências à cultura pop foram aumentando; Como esquecer de Karin, literalmente enlouquecendo, no engarrafamento ao som de “Bete Balanço”? E a sequência em que Anete relata a sua transa com Agnaldo em seu microblog na Internet? Ou ainda: Karin perguntando à Cinira, no primeiro episódio, se ela a seguia no Twitter? Ainda houve espaço para tiradas inesquecíveis, como os trocadilhos dos últimos episódios, a respeito dos advogados contratados, respectivamente, por Karin e Agnaldo para uma possível entrada no processo de divórcio: “Costa Aquino Pinto” e “Paula Vadinho”.
Assim foi “Separação?!”, que procurou brincar com todos os clichês das histórias românticas, subvertendo-os. E mostrando que ainda é possível cativar e repercutir, com um texto de humor inteligente, sem precisar se render a esse público preguiçoso da TV aberta atual, que espera a piada vir mastigadinha. Evidentemente, nem tudo foram flores. Houve um excesso de escatologia como, por exemplo, os constantes acidentes com Agnaldo, explorados quase que à exaustão e também as incorreções com as crianças, sempre no limite entre o ideal e o exagero. Mas aí é que está a grande graça da série. “Separação” acabou adquirindo, com o tempo, um ar de cartoon, mandando a verossimilhança às favas, construindo uma narrativa por onde transitavam malucos neurastênicos, todos muito bem azeitados dentro da proposta nonsense do seriado. E era disso que a TV aberta estava precisando. Um show onde brilhasse o politicamente incorreto, e que “Separação?!” volte no ano que vem, para continuar alegrando as nossas noites de sexta-feira.
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