segunda-feira, 28 de junho de 2010

#DiaComReflexão




Aplausos para a mania do momento: o Twitter! Ele tem se mostrado uma eficiente e poderosa ferramenta e dá voz para quem tem algo a dizer (e também para os que não têm), mas que não estão inseridos em nenhum contexto institucional, ou seja, é o que temos mais próximo do (ainda distante) ideal de democracia que deveria reger nosso país. Prova de sua força foi a campanha “Cala a boca Galvão” que fez com que o mundo inteiro se voltasse para nosso país ou várias notícias que são noticiadas por ali muito antes de sites ou emissoras de TV. Mas não sei se, pela novidade do veículo, por empolgação coletiva ou pela irremediável tendência do ser humano para “atirar as primeiras pedras”, caçar bruxas ou fazer justiça cega, acontecem alguns equívocos sem que haja um mínimo de reflexão a respeito deles, como a mal fadada campanha #DiaSemGlobo. Claro que muitos embarcaram na onda por empolgação e abutres se aproveitaram sem êxito para angariar alguma audiência com isso. Não estou querendo defender emissora “A” ou “B” e nem estou cego à chamada manipulação involuntária dos veículos de massa, mas convenhamos... qual era o objetivo real dessa campanha? E caso ela emplacasse, quais seriam as conseqüências?

O brasileiro, movido pelo senso comum, tem uma incompreensível mania de se voltar contra suas próprias forças. Nunca soube de alguma notícia de alguma mobilização norte-americana contra a Coca-Cola ou contra O Mc Donalds, por exemplo. Vide o caso da (quase) finada Varig. Defeitos à parte, ela era uma força brasileira que fazia diferença lá fora. O Governo virou as costas para a crise da voadora. Não houve um mínimo de mobilização popular em prol de seu salvamento. Resultado: a maioria dos vôos internacionais que ela operava foi para as empresas aéreas estrangeiras, uma vez que nem a GOL, nem a TAM possuem poder e cacife suficientes para assumir as linhas perdidas pela Varig. Sem contar os milhares de funcionários demitidos e até hoje sem pagamentos e indenizações a que têm direito. Perdeu a Varig. Perdeu o Brasil. Perdemos nós.

Pois bem. De que adianta um dia sem Globo? Sem ela, o que nos resta? A Globo é a quarta maior emissora do mundo. Sem ela, talvez não estaríamos nem entre as cem. Acho válido e digno protestar contra, mas a destruição pela destruição no melhor estilo dadaísta não leva a nada. E a Globo não obriga ninguém a prestigiar sua programação. Pelo contrário: sempre que algo de qualidade ou interesse superior na TV aberta me chama a atenção, sou o primeiro a trocar de canal. E muitas vezes a Globo é líder mais pelos deméritos das demais do que por méritos próprios. Boa ou má, a Globo gera milhares de empregos, eleva o nome do nosso país lá fora e suas concorrentes (verdade seja dita) ainda estão a anos-luz da qualidade que ela oferece em sua programação.

Não acho que a solução seja fecharmos os olhos para os defeitos, mas combatê-los com um mínimo de reflexão e racionalidade. Por que os twitteiros, ao invés do oba-oba irresponsável, não se ocuparam em promover um debate mais aprofundado dos prós e dos contras da emissora em questão, seu papel no universo midiático brasileiro e as possíveis implicações de seu declínio? Tomar posição é digno e produtivo, mas senso crítico é fundamental.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

Entrevista: RENATA DIAS GOMES, uma promessa que se cumpre.




Só digo uma coisa: valeu a pena esperar! Pra quem é leitor assíduo do melão, tinha prometido há alguns meses atrás uma entrevista especial com Renata Dias Gomes (na foto clicada pelo marido Lipe Borges). Nem eu nem ela nos esquecemos do compromisso. Acontece que meio do caminho teve a chegada de Tom, seu segundo filho. Soma-se a isso os últimos capítulos de “Uma rosa com amor” que ainda precisavam ser escritos. E a mulher não para. Ainda teve tempo de criar um novo blog que, diga-se de passagem, está uma delícia. Lógico que figura na listinha ao lado de blogs amigos do melão, mas não custa um merchan básico por aqui: http://bloglog.globo.com/renatadiasgomes/ . O último post são cenas de “Alta Estação”, de Margareth Boury, primeira novela na qual ela trabalhou como colaboradora.

Com tantos afazeres, nossa querida Renatinha cumpriu sua promessa e nos cedeu essa deliciosa entrevista. Falando em promessa, ela já deixou de ser uma há muito tempo. Muito jovem, seu promissor talento se cumpriu com “Alta Estação” em 2006. Renata nos conta dessa experiência e também de “Chamas da Vida”, “Uma rosa com amor”, do fato de ser neta de ninguém mais, ninguém menos que Janete Clair e Dias Gomes... enfim, foi um tricô delicioso que contou com o luxuoso auxílio de alguns amigos e leitores que enviaram perguntas.



Só tenho a agradecer a todos e, especialmente, à Renata, que é uma amiga querida, uma menina linda e uma inspiração constante pra todos nós.
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Perguntas do melão:
 
Como tudo começou e por que decidiu se tornar uma roteirista?


RENATA DIAS GOMES - Acho que nunca houve pra mim outra opção. Pelo menos não outra opção real porque quando estava começando e com dificuldades sempre ameaçava que faria educação física porque sou viciada em musculação (risos). Mas desde que aprendi a ler e escrever – e isso aconteceu bem cedo – queria contar histórias. Sabia que seria escritora. E como tudo que eu escrevia virava peça de teatro, trabalhar com dramaturgia foi o caminho natural. Quando precisei escolher uma faculdade, optei por cursar cinema pra ampliar a visão. Ainda na faculdade meu pai pra me ajudar ligou pro Gilberto Braga e perguntou se ele poderia me receber para conversar. Gilberto prometeu que me ligaria e ligou mesmo! Fui parar na casa dele com uma pastinha de textos embaixo do braço. Deixei com ele um roteiro e um tempão depois novamente Gilberto ligou. Ele tinha lido e gostado dos diálogos! Fui à lua de felicidade. Gilberto me indicou pra participar da oficina de roteiros da Globo, mas a oficina não ocorreria naquele momento. Ficaram com meu contato no banco de dados e a oficina demorou tanto pra acontecer que deu tempo de resolver ser mãe, engravidar, parir e minha filha já tinha quatro meses quando chegou o e-mail falando da seleção. Infelizmente não passei. Foi um baque e com uma filha pequena eu precisava trabalhar. Mandei e-mail pra todas as produtoras do Rio de Janeiro e consegui começar a escrever roteiros profissionalmente. Já tinha alguma experiência na área quando a Glória Perez conseguiu pra mim uma bolsa para participar de um ciclo de palestras da associação dos roteiristas. Nesse ciclo eu conheci o Tiago Santiago que topou ler um roteiro meu. Um tempo depois ele mandou um e-mail dizendo que tinha gostado e a Record tinha interesse na minha contratação. O Tiago então me indicou pra Margareth Boury e fui escrever Alta Estação, minha primeira experiência com novelas em que aprendi demais. Sou muito grata a todas essas pessoas.



Pergunta inevitável: quais são os prós e contras na carreira de uma roteirista que vem a ser neta de ninguém mais, ninguém menos que Janete Clair e Dias Gomes? O que procura absorver para si da obra de cada um?

RENATA DIAS GOMES - Eu só consigo ver coisas boas. Claro que tem o lado chato das cobranças, das comparações, daquelas pessoas que acham que você só chegou lá porque é neta... Mas eu só gosto de ver o lado bom! Tenho ciência que o Gilberto Braga não teria me recebido se não tivesse conhecido meu pai quando ele ainda era moleque. E que a Glória tem um carinho especial por mim por ser neta da mulher que aceitou ler seus textos quando ela ainda andava com uma pasta de roteiro embaixo do braço. Aliás, acho que esse carinho que as pessoas cultivam até hoje por meus avós é uma das maiores heranças que eles me deixaram. Eles são pra mim exemplos como autores e como pessoas. É muito legal conhecer um amigo deles de longa data e ouvir o quanto eram especiais! Meu avô é o melhor avô do mundo e deixou em todos nós da família valores fortes cravados. Conviver com ele durante quinze anos foi uma dádiva. Os dias dos pais com todos reunidos na mesa do almoço, os natais, as festas de família são lembranças inesquecíveis do maior homem que eu conheci. O autor Dias Gomes eu conheço muito menos do que deveria e só fui ler com mais afinco depois da sua morte. Mas gosto demais de tudo que eu conheço. É até intrigante porque eu já gostava de escrever textos engajados antes de ler a obra dele. Levei um susto quando percebi que mesmo tendo evitado por anos conhecer os textos do meu avô justamente pra não me influenciar, a influência dele na minha vida acabou de alguma forma aparecendo nas coisas que eu escrevo. Conheço mais da obra da minha avó porque tive que ler bastante coisa para organizar o acervo. E também acho sensacional. A carpintaria de Janete Clair é especial! Mas nada disso se compara as histórias de vida que ela deixou.



Você é muito jovem, mas já com uma considerável experiência. Como é ser colaboradora de autores de estilos tão diferentes como Margareth Boury, Cristiane Fridman e Tiago Santiago? Como é esse desafio em ser o mais fiel possível ao estilo do autor, mas ao mesmo tempo deixar sua marca? O que faz o diferencial nessa função?

Renata e Tiago Santiago

RENATA DIAS GOMES - Colaborar é uma delícia porque posso experimentar escrever sobre assuntos e de formas que talvez não me permitisse no meu trabalho autoral. Sou muito crítica, me cobro e me limito muito e nesse trabalho de colaboração acabo me soltando! É contraditório porque é um trabalho com limites muito claros. A gente tem que seguir o estilo do autor. Mas posso me censurar menos e me divertir mais. Quando o estilo bate é ainda mais maravilhoso. Aprendi demais com a Margareth Boury que é um gênio dos diálogos. Peguei com ela a acidez, o humor irônico, os diálogos rápidos e decisivos. E agora em Uma Rosa com Amor estou tendo a oportunidade de trabalhar com o Tiago, um dos autores mais eficientes da nova geração. Cada dia era um aprendizado (colocamos ponto final em Uma Rosa com Amor há algumas semanas). Nesse trabalho de colaboração é importante se adequar ao estilo do autor. Normalmente o colaborador precisa ter muita habilidade com diálogos porque é essa parte da criação que costuma nos caber. É importante ter algo a acrescentar, mas sempre obedecer aos limites do que é pedido.


Você lê muito? Que tipo de leitura é fundamental para seu trabalho?


RENATA DIAS GOMES - Leio, bastante, mas menos do que acho que deveria. Gosto de ler de tudo menos auto-ajuda rs Acho importante conhecer os clássicos da literatura, os autores contemporâneos que estão bombando e ler muito jornal. Muitas vezes de uma matéria de jornal sai uma super história.


Você é casada, tem uma linda filha e já está a caminho do segundo filhote. Como consegue conciliar vida pessoal, família e vida social quando está escrevendo novela?


RENATA DIAS GOMES - Também não sei! É difícil. Sou a pior dona de casa do planeta e tenho a sorte de ter um marido muito melhor nas tarefas domésticas do que eu. Dedico bastante do meu tempo às crianças. Maiara que já tem seis anos entende que a mãe precisa trabalhar e nós costumamos fazer acordos pra ela me deixar ficar no computador. Nem sempre funcionam. Tom já tem dois meses (demorei séculos pra conseguir responder a entrevista rs )e mama exclusivamente no peito, o que me faz virar um ás na arte de digitar com uma mão só. Vivo cada dia de uma vez. Mas quando a coisa aperta, eu lembro que minha vó tinha quatro filhos e escrevia sozinha.


Você foi auxiliar da Margareth Boury em um curso de roteiro que fiz com ela e já ministrou algumas oficinas. Que tal as experiências? Acha que falta bons cursos de formação em nosso país?


RENATA DIAS GOMES - Tem muita gente boa dando curso por aí e muita gente boa fazendo cursos de roteiro e se destacando. Falta mercado pra absorver todo mundo. Dar aula é cansativo, mas recompensador. Aprendi bastante tentando passar um conhecimento. Não se ensina a escrever, mas dá pra dividir experiências. E essa troca é sensacional!
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PERGUNTAS DOS LEITORES:
 
Se fosse pra escolher um remake de uma novela de seus avós, quais você escolheria? (Rodrigo Ferraz / SP)
 
RENATA DIAS GOMES - Difícil essa pergunta porque acho que eles já fizeram todas suas novelas da melhor forma que elas poderiam ser feitas.


Qual é, para você, a melhor forma de divisão de trabalho entre autor e co-autores para se escrever uma novela? (Fabio Costa – SP)


RENATA DIAS GOMES - Eu trabalhei com três autores apenas e posso falar só dessas experiências. Todos três trabalhavam fazendo uma escaleta e passando para os colaboradores desenvolverem cenas e diálogos. O Tiago em Uma Rosa com Amor passava um capítulo pra mim e outro pro Miguel desenvolver. Já Margareth e Cristianne dividiam as cenas de cada capítulo entre todos colaboradores. As duas formas são ótimas e funcionam bem porque o autor principal sempre passa uma redação final para acertar e deixar com a cara dele como deve ser. Eu como sou fominha gostei muito da forma do Tiago. Escrever um capítulo inteiro é bem bacana! Gosto também de reunião de criação semanal porque deixa os colaboradores bem dentro do processo criativo.


Você participou como colaboradora, na Record, de Alta Estação e Chamas da Vida. Ambas as novelas sofreram alterações devido a fatores externos (a primeira pela audiência e a segunda pelo aumento do número de capítulos). De que forma um colaborador pode ajudar o autor principal em situações como essas? Até que ponto o colaborador tem liberdade para sugerir os rumos da novela, em busca de uma audiência melhor ou de novas situações para prolongar o tempo da trama no ar? (Duh Secco - Mogi Mirim / SP)


RENATA DIAS GOMES - O colaborador pode sugerir o que quiser. O autor aceita ou não rs Novelas sempre sofrem influência de fatores externos e um bom colaborador está pronto pra auxiliar o autor principal pra tornar a tarefa dele que é a mais árdua de todas menos cansativa. Uma das principais funções do colaborador é não dar trabalho ao autor. rs


O mercado de trabalho nessa área de teledramaturgia é muito fechado e restrito. Embora já tenha provado ser talentosa e competente, você acha que o fato de ser neta de Janete Clair e Dias Gomes facilitou o seu ingresso na carreira? (Wesley Vieira – Conselheiro Lafaiete / MG)


RENATA DIAS GOMES - Acho, não. Tenho certeza absoluta! Mas conheço gente que começou de formas diversas.


Juliana Silveira e Leonardo Brício: par romântico de "Chamas da Vida"


Você trabalhou em Alta Estação, que discutia vários dilemas dos jovens; participou de Chamas da Vida, que trazia temas fortes em quase todas as tramas; e agora está em Uma Rosa com Amor, uma trama mais água-com-açúcar. Quais destes estilos se aproxima mais do que pretende mostrar, um dia, como autora titular? Os temas fortes trazem uma carga mais pesada pra quem escreve? (Duh Secco - Mogi Mirim / SP)


RENATA DIAS GOMES - Eu acho que aprendi muito com cada produção que participei e vou levar isso pra minha vida, inclusive quando me tornar autora titular. Não sei se já tenho um estilo, acho que ainda estou formando isso. Mas meu trabalho autoral costuma ter bastante humor e engajamento político e social.



Em Alta Estação, qual foi a cena mais marcante que você escreveu? (Silvestre Mendes – RJ)



Elenco principal de "Alta Estação"

RENATA DIAS GOMES - Foram muitas! Alta Estação foi muito especial. Mas pra escolher uma, eu citaria uma sequência que fez a Margareth acreditar que eu era capaz. No início ela tinha uma certa desconfiança com aquela pirralha de vinte e dois anos que mascava um pacote inteiro de chicletes. Mesmo assim ela resolveu me dar uma sequência pra escrever e eu fiz uma briga de mulher das personagens Clara e Maria Cristina com puxão de cabelo e xingamentos permitidos pro horário que ela adorou! Depois disso eu conquistei a confiança da chefe rs


Como foi encontrar o Silvio Santos pela primeira vez? Ele é esse personagem que todo domingo fala pérolas na tv? (Silvestre Mendes – RJ)


RENATA DIAS GOMES - Encontrar o Silvio Santos foi incrível. O homem se confunde com o personagem. Num primeiro momento me senti participando do Programa Silvio Santos, mas depois fiquei mais à vontade.


Como é escrever as cenas de humor de UMA ROSA COM AMOR? (Silvestre Mendes – RJ)


RENATA DIAS GOMES - Tudo em Uma Rosa com Amor é uma delícia!



Cena de "Uma rosa com amor" (2010)

Com relação a “Uma rosa com amor” quais as dificuldades de se adaptar um texto tão antigo e com tantas diferenças comportamentais entre os anos 70 e 2000? (Ivan Gomes – SP)


RENATA DIAS GOMES - Eu me peguei várias vezes no início da novela pensando nisso. Será que a Serafina vai passar verdade? E me espantei com a – excelente – reação do público quando a novela estreou. A Carla Marins defendeu a personagem brilhantemente, o personagem original já era muito bem construído e nós tentamos embasar os dramas dela. Talvez por esse conjunto ou porque o público é mais conservador do que a gente imagina, recebi muitas mensagens dizendo como era bacana ver uma trama com valores tão bonitos quando os da Serafina e sua família.


Sei que você sempre quis escrever pra Betty Faria. Como esta sendo? Pra que outros atores e atrizes gostaria de escrever? (Rodrigo Ferraz – SP)


RENATA DIAS GOMES - Escrever pra Betty Faria foi a realização de um sonho!!! Mas tem vários outros atores pra quem eu adoraria escrever. Betty Savalla, Francisco Cuoco, Tony Ramos, Regina Duarte, Tarcísio, Glória. Espero realizar pelo menos parte desses sonhos.

Betty Faria, sempre presente nas novelas dos avós de Renata.

Antes do ingresso de Miguel Paiva na equipe de Uma Rosa com Amor, você e Tiago Santiago dividiam os capítulos. É mais fácil trabalhar em uma equipe reduzida? (Duh Secco – Mogi Mirim / SP)


RENATA DIAS GOMES - Eu tive ótimas experiências com equipe grande e equipes pequenas. Mas como sou fominha, gosto de trabalhar mais e com equipe reduzida sobra mais pra mim rsrs


Você dirigiu um curta, “Pretérito Imperfeito”. Gostou da experiência na direção? O fato de estar por trás das câmeras, responsável pela produção, influencia quando você exerce o papel de autora? (Duh Secco – Mogi Mirim / SP)


Gostei de exercitar esse outro lado. E eu sou mandona de um jeito que parece até que nasci praquilo. Mas só parece porque como diretora eu sou ótima escritora. De qualquer forma, conhecer o outro lado dá base pra pensar com carinho no trabalho que o diretor vai ter na hora de escrever uma cena.

Renata no set de seu curta "Pretérito Imperfeito"

No processo da escrita dos capítulos, qual é a dor e qual é a delícia de ser um colaborador? (Walter Azevedo - Santos / SP)


RENATA DIAS GOMES - Vida de colaborador, como diz minha amiga Paula Richard, é esperar escaleta. E eu acrescentaria que é também estar disponível pra tudo aquilo que o autor precisar.


O que torna um personagem interessante para o público? (Walter Azevedo - Santos / SP)


RENATA DIAS GOMES - Não sei o segredo. Mas acho que o público gosta quando de alguma forma se identifica com o que o personagem vive.


Já aconteceu de você ter de escrever um personagem ou núcleo e não gostar deles? O que fazer numa situação dessas? (Walter Azevedo – Santos / SP)


RENATA DIAS GOMES - Já sim. E só o que dá pra fazer é se esforçar pra fazer daquela cena o melhor possível como em todas outras.


Acha que a sensibilidade da maternidade se reflete nos seus textos? (Silvestre Mendes – RJ)


RENATA DIAS GOMES - Eu não sou lá uma pessoa muito sensível. Mas a maternidade me tornou uma pessoa mais paciente, mais amorosa, me fez me descobrir mais mulher e mais feminina e, claro, isso acaba se refletindo no meu texto.


Sidney Eduardo não daria um ótimo nome de personagem de novela? (Silvestre Mendes – RJ)

RENATA DIAS GOMES - Sidney Eduardo é nome de galã de novela mexicana e também de um grande amigo.

Quais os maiores desafios que você, assim como outros jovens e promissores autores de sua geração deverão enfrentar para renovar a teledramaturgia? (Wesley Vieira – Conselheiro Lafaiete / MG)

RENATA DIAS GOMES - Escrever novela é um desafio muito grande sempre. Novela é um Boeing. Os autores que estão aí tem muito tempo de estrada, já tem uma maleta de ferramentas enorme pra lidar com as dificuldades que aparecem. Hoje a gente ainda tem que lidar com a diminuição no número de televisores ligados e a perda de público pra outras mídias. Acho que estamos todos tentando descobrir como manter a novela atraente. Nossa sorte é que o brasileiro continua amando novela. E com uma boa história no ar o público que talvez tenha fugido pra TV a cabo ou computador volta a acompanhar.


Acima, Patricia Mess, Rodrigo ferraz, eu, Renata e a filhota Mayara.
Abaixo, Lembranças de uma tarde chuvosa, mas animada. À direita, Lipe Borges.

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Série Memória Afetiva: 10 divas televisivas.

                                                                                                               

MEUS AMORES DA TELEVISÃO – Cresci com elas...

Chegou a hora do melão revirar seu baú e revelar mais lembranças televisivas que se confundem com a própria vida. Claro que a lista a seguir não pretende representar o senso comum, embora muito se tenha dele, afinal, todo mundo da minha geração cresceu assistindo e convivendo com essas e outras maravilhosas mulheres. Impossível alguém que não admire pelo menos uma delas. Por isso, o melão estende seu tapete vermelho e apresenta as atrizes que povoaram o imaginário deste que vos fala desde à mais tenra infância. São mais do que atrizes (afinal atriz boa é o que não falta em nosso país e a lista seria enorme): são divas, deusas, mitos que povoam nosso imaginário.

Ver um bom ator em cena é sempre gratificante, mas atrizes pra mim serão sempre imbatíveis.

Eis as minhas:

1) Betty Faria



Não é segredo pra ninguém que é minha favorita desde sempre. É muito difícil transpor em palavras o amor e a admiração que sentimos por alguém, por isso não sei dizer com exatidão por que gosto tanto dela. Talvez porque lembre minha mãe? Talvez por ser mais que atriz, na verdade, uma estrela de primeira grandeza? Talvez por ser superlativa, linda, rebelde, talentosa, sensual? Talvez por interpretar seus papéis com tanta força e entrega? Talvez por ter o biótipo que represente a síntese da mulher brasileira? Talvez por representar um certo protótipo de feminilidade? Sim, gosto de Betty faria por todos esses motivos e por mais alguns que não consigo expressar. O fato é que, a partir dos anos 70, marcou a teledramaturgia interpretando mulheres fortes, marcantes, como Lucinha, a cinderela de subúrbio de “Pecado capital” (1975) ou a estonteante e intensa protagonista de “Tieta” (1989). Na contramão dos tipos sensuais, também é capaz de encarnar tipos submissos como Antônia de “De corpo e alma” (1992) ou rainhas do lar com Amélia de “Uma rosa com amor”(2010). Enfim, Betty é minha favorita e não é a primeira vez que digo isso aqui. Mas não custa repetir sempre...


2) Glória Menezes



Um verdadeiro patrimônio de nosso país. Junto com Tarcísio Meira, forma o casal mais famoso da história da teledramaturgia. Seu rosto é tão conhecido e sua presença nas novelas tão constante que é quase impossível que algum brasileiro não a conheça. Glória é uma atriz talentosa, claro, como tantas em nosso país. Mas tem um tipo de carisma único, que faz com que se torne especial, única. Minha primeira lembrança dela é da novela “Guerra dos sexos” (1983), onde não deixava dúvidas por quem deveríamos torcer. Sempre nos dá a impressão de que interpretar é tão simples como respirar. Sua galeria de heroínas é extensa e marcante, mas quem achava que Glória se limitava a elas, teve suas duvidas totalmente dizimadas com a célebre vilã Laurinha Figueiroa, de “Rainha da Sucata” (1990) considerada por muitos como o seu melhor trabalho. Ainda hoje em uma idade em que muitas atrizes ganham papéis secundários, Glória ainda rouba a atenção do público e muitas vezes centraliza as ações como no caso de Dona Irene, de “A favorita”. Uma estrela de verdade como ela sempre estará no olho do furacão.


3) Yoná Magalhães



Dividiu com Glória Menezes nos anos 60 o posto de atriz mais popular do país e revezava com ela no papel das heroínas televisivas, fazendo par com o saudoso Carlos Alberto. De lá pra cá, manteve sua beleza. Sempre foi sinônimo de mulherão e, de certa forma, ficou aprisionada nesse estereótipo. Lembro bem dela em “Amor com amor se paga” (1984), mas foi com “Roque Santeiro” (1985), vivendo Matilde, a dona da pousada e da boate “Sexus” que tive a real noção de que se tratava de uma grande estrela. Hoje em dia vive muitos papéis de mãe, avó, vários deles aquém de sua capacidade. Mas sempre que tem chance mostra que pode centralizar as atenções como a Carmela de “A próxima vítima” (1995), a Valentina de “Meu bem, meu mal” (1990) ou como a submissa Tonha de “Tieta” (1989), papel que foi um divisor de águas em sua carreira, já que teve a chance de fugir do estereótipo de mulherão (pelo menos no início da novela), como uma mulher maltratada e sofrida, que dá volta por cima e retorna linda e poderosa ao Agreste. Ali, Yoná provou que além de estrela, é também uma grande atriz, capaz de tipos únicos e antológicos.


4) Regina Duarte

 


 O que dizer? Ela é o rosto mais conhecido da TV. A mais representativa e emblemática das atrizes. Seu título de namoradinha do Brasil passa de mão em mão por jovens atrizes de tempos em tempos, mas nenhuma com tanto brilho e expressão. O Brasil namorou carinhosa e apaixonadamente Regina durante todos esses anos e namora até hoje. Das românticas mocinhas dos anos 70, La Duarte deu uma guinada no início dos 80 com a divorciada e independente personagem título de “Malu Mulher”. Outra guinada veio com “Roque Santeiro” (1985), quando mostrou que podia fugir dos tipos sofridos e interpretar a fogosa, engraçadíssima e incorretíssima Viúva Porcina, que marcou época e até hoje povoa o imaginário de muita gente. Regina tem o poder de polarizar atenções e mobilizar o país em torno dos dilema das mulheres que interpreta. O Brasil sempre chorou, sofreu e torceu por ela. Quando Raquel rasgou o vestido de noiva da filha ingrata em “Vale Tudo” (1988), o Brasil rasgou e vibrou junto. Há quem não goste de seu estilo de representar, mas com uma coisa todos concordam: nenhuma atriz alcançou tamanha popularidade na TV como ela. Regina rainha da sucata, Regina Simone, Regina Luana, Regina Helena. São muitas em uma só.



5) Dina Sfat



Fazia um interessante contraponto com Regina Duarte em diversas novelas. Enquanto Regina representava a delicadeza e a fragilidade, ela era a força, a intensidade. Uma das batalhas mais memoráveis da TV foi em “Selva de Pedra” (1972) em que sua personagem Fernanda infernizava a vida da Simone de Regina Duarte. Pena eu não ser nascido pra presenciar tal momento. Falecida precocemente em 1989,  dois meses depois do fim de "Bebê a Bordo", em que vivia a personagem Laura. Minha primeira referência sobre a atriz veio com a Paloma de “Os gigantes” (1979). Não cheguei a assistir à novela, era pequeno demais, mas sempre ouvi minha família comentando o quão ela esteve bem na novela. Conheci Dina pra valer na minissérie “Rabo de saia” (1984) como uma das mulheres de Quequé (Ney Latorraca). De uma beleza madura, intensa, ao mesmo tempo comum e única. Seus olhos são, sem dúvida, os mais expressivos da TV. A impressão que ela passava era a que seria capaz de fazer qualquer papel. E de fato em sua carreira ela interpretou de tudo. Os mais de vinte anos em que não aparece mais na Tv não lhe tirou o título der estrela marcante e inesquecível. Todos queríamos que ela tivesse ficado um pouco mais com a gente. Mas diva é diva e permanece.


6) Lucélia Santos



Uma das mais versáteis atrizes que conheço. Suas carreiras em cinema e teatro são um caso à parte. Arrebatou o país com “A escrava Isaura” em 1976, novela responsável por apresentar ao mundo nossa teledramaturgia. Até hoje o verso “lerê lerê” da canção de Dorival Caymmi nos remete à escrava branca que sofria nas mãos de seu senhor. Mas a interpretação de Lucélia não se resume a apenas isso. Uma das qualidades que mais admiro nela é sua imensa e supreendente versatilidade: ela vai das mocinhas mais puras e ingênuas às mais lascivas e despudoradas mulheres, com muitas camadas de gradação entre estes extremos. Minha lembrança mais antiga dela em TV foi em “Guerra dos Sexos” (1983), em que interpretava a dissimulada Carolina. Ali já tive a prova de seu talento, pois não é nada fácil fazer uma diabinha que se faz de santa de maneira crível. Lucélia protagonizou durante muito tempo diversos personagens na Tv diferentes entre si. Logo após a ingênua “Sinhá Moça” (1986) deu vida á exuberante e sensual Carmem em 87. Inexplicável sua ausência da TV nesses anos todos. Em uma entrevista recente, fiquei impressionado, não só com sua seriedade e seu profissionalismo, mas também com sua capacidade de realização e a assertividade de suas opiniões. Sem dúvida, uma mulher forte e admirável e uma das mais camaleônicas de nossas atrizes. Que seu retorno à Tv (em grande estilo) seja breve.


7) Glória Pires


Seu nome é sinônimo de qualidade desde sempre. A mais sucedida de todas as atrizes mirins. Cresceu diante dos olhos do público e se agigantou a cada trabalho até se tornar a melhor atriz de sua geração. Disputada por todos os autores, Glória Pires nunca teve a delicadeza de uma Regina Duarte, a sensualidade de uma Sonia Braga, nem a expressividade de uma Dina Sfat. Ao contrário, fisicamente é um tipo bem comum. Por isso mesmo consegue transitar por todos os tipos e personalidades com uma facilidade única. Meu “apaixonamento” por ela foi com a sofrida Ana Terra em “O tempo e o vento” (1984). Mesmo aos sete anos, ficava vidrado diante da tela porque sabia que ali estava uma atriz especial. Ana Terra quase não tinha texto. Falava pouco. A atriz se garantia muitas vezes no olhar, no gestual, na expressão. E o que dizer de Maria de Fátima de “Vale Tudo” (1988)? Hoje em dia em que vilãs estereotipadas e maniqueístas caem nas graças do público, Gloria soube, na época, interpretar com maestria essa vilã controversa e humana e, por isso, mesmo, muito mais difícil. Aliás, não há desafio que Glória não vença. Em “Mulheres de areia” conseguia interpretar quatro tipos diferentes: Ruth, Raquel, Ruth fingindo ser Raquel e Raquel fingindo ser Ruth. Sabe ser vulgar como Sarita em “Mico Preto” (1990), retraída como Julia em “Belíssima” (2006), guerreira e rude como Maria Moura (1994)... Dona de imensas potencialidades, nunca apresenta um trabalho menos do que magistral.


8) Maitê Proença


Essa não poderia faltar em minha lista porque foi minha primeira referência de beleza. Quando a vi em “Guerra dos sexos” imaginava que não existia mulher mais linda no mundo inteiro. Até hoje, essa dúvida paira sobre mim. Sua presença na tela é sempre luminosa. Atualmente é destaque em “Passione” como Stela, espécie de belle de jour devoradora de ninfetos que, ao mesmo tempo é devotada à família e aos filhos. Muitos torcem o nariz para suas qualidades interpretativas. Nunca foi o meu caso. Sempre acho que atrizes muito bonitas sofrem um pouco de preconceito, até mesmo porque seu tipo físico já limita muito a variedade de personagens. Por isso destaco dois momentos: a sofrida e apagada Clara de “Torre de Babel” (1998), em que a beleza da atriz esteve em segundo plano e ela teve a oportunidade de protagonizar cenas fortes e intensas com Tony Ramos com extrema competência; outro momento foi os episódios de “A vida como ela é” (1996), em que Maitê pôde interpretar todo tipo de papel, incluindo feias e putas. Atualmente, tem arrancado elogios sua produção literária e autoral em teatro. Seja da maneira que for, Maitê sempre será, pra mim, um ótimo motivo pra ficar diante da telinha.



9) Claudia Raia



Estrelíssima! Principal herdeira das vedetes do teatro rebolado, é a mais hollywoodiana de nossas estrelas. Dona de pernas que fizeram (e fazem) o Brasil parar, La Raia é o que chamamos de “mulher-gay”: esfuziante, expansiva, um furacão por onde passa. A primeira novela da qual participou, “Roque Santeiro” (1985), explorou ao máximo sua sensualidade. Mais tarde, em “Sassaricando” (1987), mostrou inegável talento cômico como a analfabeta Tancinha e seu bordões “eu me tô tão divididinha” e (que orgulho!) “me olha os melão” (adoooro...rs!). Esse dom pra fazer rir decolou de vez com a TV Pirata (1988), em que interpretou a presidiária Tonhão, que nem de longe lembrava as mulheres sensuais que viveu. Fera na comédia, no musical, no drama, no romance, é talento pra mais de metro.


10) Malu Mader


Malu Mader talvez seja o rosto mais popular entre os jovens nos anos 80. Seus traços não-convencionais constroem uma mulher linda, que sabe ser sexy e sabe ser doce. Malu tem aquela qualidade de grandes estrelas, o chamado carisma, que faz com que todo mundo torça por ela e compre suas brigas, por isso, é quase impossível vê-la como vilã. Conheci a atriz melhor como a patricinha Wal de “Ti-Ti-Ti” (1985) e mais tarde como a ingênua Lurdinha, de “Anos dourados” (1986), minha minissérie favorita até hoje. Quase uma pivete em “O outro” (1987) como Glorinha da Abolição, sensual e vingativa como Claudia em “Fera Radical” (1988), linda mocinha clássica como a modelo Duda em “Top Model”, só tem graça em ver Malu se ela for a estrela. Gilberto Braga que o diga: nenhuma atriz ganhou tantas protagonistas em suas obras quanto ela, sempre bela e luminosa. Charmosíssima, talvez o que a faça ter empatia com o público é uma certa naturalidade com a qual interpreta, que nos faz pensar que ela poderia ser nossa vizinha, nossa amiga. Como diz meu amigo Ivan, Malooosho. E ponto final!
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E vocês? Quais os seus amores da televisão?
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Série Memória Afetiva: grandes damas da televisão

domingo, 13 de junho de 2010

Série Memória Afetiva: minhas cidades fictícias favoritas



Cidade cenográfica de "Ribeirão do Tempo"

Sempre gostei de novelas com cidades fictícias. Elas são sempre motivo pra se mostrar algo diferente, especial. Ultimamente, elas não têm aparecido nas novelas com muita freqüência, mas uma atual novela, “Ribeirão do tempo”, de Marcílio Moraes, está reeditando esse costume. A novela ainda está muito no comecinho, mas sua cidade já nos desperta uma certa nostalgia. Ribeirão do tempo é cheia de tipos pitorescos, situações inusitadas e um quê de ironia e deboche. Mesmo não sabendo ainda quais surpresas a novela nos reserva, mas já entrando no clima, vou falar um pouco de MINHAS cidades fictícias favoritas:


10) Já deixo esse espaço reservado para as lembranças de vocês das cidades que, porventura, esqueci de mencionar. Com quem fui terrivelmente injusto? Aqui vão algumas sugestões: Resplendor (PEDRA SOBRE PEDRA), Remanso (DESPEDIDA DE SOLTEIRO), Porto dos Milagres (PORTO DOS MILAGRES), Guará (CIDADÃO BRASILEIRO), TABACÓPOLIS (O fim do mundo), VENTURA (Chocolate com Pimenta), TANGARÁ (O salvador da pátria), ROSEIRAL (Alma gêmea), RIO NOVO (Fera Radical), DEUS ME LIVRE (Pé na Jaca), PONTAL D'AREIA (Mulheres de Areia), ESPLENDOR (Esplendor), SANTANA DE BOCAIÚVAS (Agora é que são elas), SÃO TOMÁS DE TRÁS (Meu bem querer).

9) Passaperto (DESEJO PROIBIDO - 2007)

Confesso que a trama central dessa novela de Walther Negrão não me interessava muito. Mas acompanhar as paripécias dos coadjuvantes moradores da deliciosa cidadezinha do interior de Minas era tão saboroso e singelo quanto um pãozinho de queijo saído do forno: a fofoqueira Guará (Jandira Martini), a sonhadora Florinha (Grazy Massafera), o verborrágco Viriato (Lima Duarte) e sua impaciente esposa Magnólia (Nívea Maria), que sempre “ataiava” seus discursos, o irreverente soldado Brasil (Nando Cunha) são apenas alguns dos tipos que faziam de Passaperto um lugar curioso e diferente.

8) Greenvile (A INDOMADA- 1997)


Uma cidade nordestina colonizada por ingleses em que todos os moradores misturavam os idiomas português e inglês só podia mesmo ter saído de uma mente inventiva como a de Aguinaldo Silva. Dessa mistura surgiram bordões impagáveis como “Oxente my god”. Não há como esquecer a diabólica Altiva (Eva Wilma), a sensual Scarlett (Luíza Thomé), os românticos Emanuel e Grampola (Selton Mello e Karla Muga), as “camélias” de Zenilda (Renata Sorrah ou os rigores da lei da Juíza Mirandinha (Betty Faria). O realismo fantástico também bateu ponto por lá quando o Delegado Motinha (José de Abreu) caiu no buraco feito na praça pelo prefeito Ipiranga Patiguari (Paulo Betti) e foi parar no Japão. Enfim, humor, ironia, deboche e crítica política, marcas registradas de Aguinaldo com sabor de um bom Five o’clock tea.

7) Saramandaia (SARAMANDAIA- 1976)

Essa não faz parte propriamente de minha memória afetiva, já que nem era nascido na época da novela, mas não há como não deixar de citar essa fantástica cidade criada por Dias Gomes em que uma mulher explode de tanto comer, um homem ganha asas e voa e outros acontecimentos inusitados. Só me resta dizer que gostaria muito de ter nascido alguns aninhos antes para ter acompanhado essa novela, que ainda povoa o imaginário de muita gente.

6) Sucupira (O BEM AMADO- 1973)


Confesso que minhas remotas lembranças são mais do seriado dos anos 80 do que da primeira novela em cores da TV brasileira. Mas seria quase impossível encontrar um brasileiro com mais de 25 anos que nunca tenha ouvido falar do prefeito Odorico Paraguaçu, vivido pelo inesquecível Paulo Gracindo; do matador Zeca Diabo, genial criação de Lima Duarte; do atrapalhado Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz) e das maravilhosas Irmãs Cajazeira (Ida Gomes, Dirce Migliaccio e Dorinha Duval). Personagens carismáticos e uma deliciosa sátira política: combinação de sucesso.

5) Albuquerque (Estúpido Cupido - 1976)


Ainda que exista de fato uma cidade com esse nome, a que ambientava a trama de Mário Prata deu o que falar. O irresistível clima do início dos anos 60 com todas aquelas canções inesquecíveis, aquele clima de namorinho no portão, amassos e picardias em geral com gostinho de coisa proibida, já que a sociedade daquela época era ainda mais conservadora. Mocinhas sapecas, velhinhas fofoqueiras e rebeldes sem causa fizeram Albuquerque cair nas graças do público.

4) Armação dos Anjos (VAMP - 1991)

Armação dos Anjos seria mais uma pacata e bucólica cidade litorânea se não fosse o fato de ter sido enfestada de vampiros que fizeram a alegria de muita gente e transformou a trama de Antonio Calmon em mania nacional. Tipos inesquecíveis como a sensual vampira Natasha (Claudia Ohana), o terrível e debochado Vlad (Ney Latorraca), a engraçadíssima família Matoso, liderada por Mary e Matoso (Patricia Travassos e Otávio Augusto), sem contar que tinha um falso padre garotão, um circo e dois adoráveis protagonistas, vividos por Reginaldo Faria e Joana Fomm, que juntaram suas já extensas famílias, aludindo a clássicos como “A noviça rebelde” e “Família Do-ré-mi”. O resultado desse “terrir” com comédia e romance foi uma das novelas mais bem sucedidas do horário das sete.


3) Tubiacanga (FERA FERIDA - 1993)

É uma de minhas cidades fictícias favoritas, pois desta vez Aguinaldo Silva acrescentou o lirismo e poesia da obra de Lima Barreto à sátira política e humor sempre presente nas cidades de suas novelas. Só em Tubiacanga, por exemplo, as lágrimas de uma sofrida mulher como Margarida Weber (Arlete Salles) inundavam a casa ou uma jovem como Camila (Claudia Ohana) dormia por meses a fio. E mais: transformação de ossos humanos em ouro em pó, casal (Demóstenes de José Wilker e Rubra Rosa de Susana Vieira), cuja transa era tão quente que pegava fogo no quarto, enfim... maravilhosas loucuras pra uma só novela.

2) Santana do Agreste (TIETA – 1989)


Além das belíssima paisagens de Mangue Seco, o público também se deleitava com os moradores pra lá de carismáticos de uma cidade nordestina parada no tempo, mas às portas do progresso trazido por uma de suas cabritas desgarradas. Impossível se esquecer das adoráveis beatas Cinira a Amorzinho (Rosane Goffman e Lília Cabral) fiéis escudeiras da terrível e engraçadíssima Perpétua (Joana Fomm), da sonhadora Carmosina (Arlete Salles) e sua esperta mãe Dona Milú (Miriam Pires), da hipocondríaca Dona Juraci (Ana Lúcia Torre), do lascivo Modesto Pires (Armando Bógus) e sua teúda e manteúda Carol (Luíza Thomé), só pra citar alguns. A galeria de tipos é extensa e marcante. Poucas cidades fictícias divertiram tanto quanto esta.


1) Asa Branca (ROQUE SANTEIRO – 1985)


Essa ganha de lavada. A trama de Dias Gomes escrita por Aguinaldo Silva, com colaboração de Marcílio Moraes e Joaquim Assis fez com que o Brasil voltasse suas atenções diariamente para a divertida e polêmica Asa Branca, que funcionava como uma espécie de metáfora e metonímia de nosso país. O Brasil parou por alguns meses para assistir a si mesmo através dessa antológica novela. Todas as nossas características estavam retratadas em Asa Branca: gaiatice, deboche, corrupção, sensualidade, hipocrisia, fanatismo, ambição.... mais humana e mais brasileira, impossível. Como esquecer da beata Pombinha (Eloísa Mafalda) às turras com as meninas da Boate Sexus? Da viúva que foi sem nunca ter sido, Porcina (Regina Duarte), a mais politicamente incorreta heroína de nossas novelas? Do poderoso Sinhozinho Malta (Lima Duarte), que mandava e desmandava, mas se transformava num dócil cãozinho diante de sua amada? Enfim, nunca uma cidade representou tão bem nosso povo como Asa Branca.
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E vocês? Concordam com minha lista? Quais as suas cidades fictícias inesquecíveis?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

“A vida alheia”: humor inteligente e ousado na TV.


O autor Miguel Falabella (abaixo à esquerda), com o elenco principal da série.


"É mais fácil elogiar a mediocridade. Essa não ameaça.", dispara Alberta Peçanha (Claudia Jimenez) se justificando por não elogiar com freqüência os feitos de Manoela (Danielle Winits) em “A vida alheia”. Frases inquietantes como essa são ditas por personagens nada óbvios o tempo todo na série de Miguel Falabella.

O slogan da fictícia revista “A vida alheia – mais interessante que a sua” já é uma provocação ao público e já mostra que seu criador não está disposto a fazer concessões para agradar. Ao contrário: em tempos em que o nível do humor na TV busca cada vez mais atingir o fundo do poço qualitativo com piadas físicas, fáceis, gratuitas e apelativas, a série vai na contramão disso tudo e brinda o público com o que há de melhor no gênero: comédia dramática inteligente, de humor ácido, reflexivo, aparentemente fútil, mas muito denso e irônico.

O mote de uma revista especializada em celebridades disposta a tudo para conseguir o furo jornalístico e, por conseguinte, o sucesso de vendas, acaba funcionando como ponto de partida para discutir uma série de outras questões como ética, hipocrisia e o valor do afeto e do respeito nas cada vez mais confusas relações amorosas, profissionais e familiares dos dias atuais, cada vez mais marcadas pelo vazio e pelo efêmero. Já no primeiro episódio, mostrou que veio mesmo pra incomodar, já que uma famosa colunista de fofocas se sentiu ofendida com a abordagem da série. Mas talvez a trama contínua que faz o arco da temporada seja ainda mais interessante que as tramas que são apresentadas a cada episódio. E a tensão construída em torno dos personagens fixos é cada vez mais crescente e interessante.

Mas o texto (genial e cheio de subtextos o tempo todo) tão instigante de Falabella e equipe não seria nada se não fosse acompanhada por uma direção competente e ágil e, principalmente, por ótimas atuações, a começar pelo trio de atrizes que comanda a atração: Marília Pêra, emprestando cinismo e classe na dose certa à Catarina, a dona da revista; Cláudia Jimenez, deliciosamente cruel e debochada como a editora-chefe Alberta Peçanha (aliás, o trocadilho com peçonha também é genial); e Danielle Winits, como Manoela, a ambiciosa repórter, que nos remete ao melhor estilo das alpinistas sociais gilbertianas. Porém, justiça seja feita: todo o elenco está afiadíssimo e ligadíssimo na proposta da série. E as implacáveis Alberta e Catarina são humanizadas a cada episódio, o que mostra que as personagens foram construídas com profundidade.

Enfim, “A vida alheia” é um sopro de criatividade, ousadia e competência nas noites de quinta-feira da Rede Globo, que merece ser assistida e comentada. Humor que não leva às gargalhadas, mas que oferece algo mais duradouro e rico: a reflexão sobre o chamado “mundo cão”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Banner do mês: Selva de Pedra

Você votou, você escolheu.  Eis o resultado:

Que novela você quer que seja a próxima homenageada no banner do melão?

Selva de Pedra 53%
Anjo Mau 47%

Entonces, eis o banner com as duas versões de Selva de Pedra, grande sucesso de Janete Clair. . Obrigado a todos que votaram!

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