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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Blogueiro convidado: Aladim Miguel e a trilha sonora de “Cambalacho”



Desde semana passada, o “Novelão”, quadro do “Video Show” que vem fazendo muito sucesso entre os noveleiros de carteirinha, está exibindo a célebre “Cambalacho”, megassucesso de Sílvio de Abreu nos anos 80. A novela permanece como uma de minhas favoritas e o melão já publicou um texto sobre ela, que inclusive também faz parte da seleção  de textos para o livro, lançado em março desse ano.
Uma curiosidade é que a trilha sonora foi composta especialmente para a novela. Com isso, ajudou a contar a história a a revelar o perfil de alguns dos principais personagens da trama. Para comentar as canções, uma a uma, melão convocou novamente Aladim Miguel, o fã nº 0 de Lucélia Santos, noveleiro inveterado e especialista em tudo o que diz respeito aos anos 80. Portanto, preparem suas vitrolas e vamos relembrar todas as canções da trilha nacional de “Cambalacho”.


SEGUINDO A TRILHA: CAMBALACHO NACIONAL


 Palavra muito popular em 1986, quando a novela “Cambalacho” - um dos maiores sucessos audiência do grande Sílvio de Abreu para o horário das 7 – foi ao ar. Cambalacho significa: armação ou trambique, mas quase ninguém sabia da existência deste termo na época, porém depois de uma semana da novela no ar não saiu mais da boca do povão.
Vamos analisar a trilha sonora nacional – produção musical de Zé Rodrix - mais que original dessa novela que marcou demais a minha adolescência, quase furei o vinil, é isso ai mesmo, só existia em discos ou fita cassete Som Livre he he he... de tanto escutar, sabia todas as canções do inicio ao fim, essa semana com a volta de “Cambalacho” no novelão do “Vídeo Show”, editado pelo nosso amigo Raphael Machado, achei essa maravilhosa trilha sonora disponível para baixar na internet e pude me reencontrar com essas músicas inspiradíssimas. Agora siga a trilha de “Cambalacho” comigo e com o “Eu Prefiro Melão” – do querido amigo Vitor de Oliveira, que gentilmente cedeu esse espaço para esse post sobre uma de suas novelas preferidas.

PERIGOSA (Syndicatto) – O tema da perigosíssima Andréa Souza e Silva (um inesquecível desempenho de Natália do Valle), a música foi feita sob medida para as armações e vilanias dessa linda mulher, que como um trecho da música falava era a própria “elegância e ação, secreta ambição”. Matou o marido, seduziu cunhado, traiu a irmã e por ai foi...

Natália do Vale: diabólica como a vilã Andréa

Armando Eu Vou (Cida Moreira)  – Era o tema de ambientação para São Paulo, onde se desenvolvia toda a trama.  Os outdoors que mostravam as passagens do tempo eram o máximo, com um toque de placar de jogos de futebol diziam: “enquanto isso...” ou “amanheceu...” entre as cenas com essa música ao fundo. Foi também a trilha sonora do musical que encerrou a novela, com vários bailarinos vestidos com os figurinos de personagens da novela nas ruas de São Paulo. Ainda por cima música citava o nome da novela em sua letra: “Tô com ciúme de você. Cambalacho“. Um show!

Jerônimo (Germano Mathias) – A letra dessa malandra música é a própria narração da vida do armador Jerônimo Machado (o saudoso Gianfrancesco Guarnieri), o Gegê, o grande parceiro de Leonarda Furtado, a Naná - uma criação estupenda de Fernanda Montenegro - nos cambalachos.

Ótima dobradinha de Fernanda Montenegro e Giafrancesco Guarnieri
  
Parece Mais Não É (Carbono 14) – Essa música serviu de fundo para uma das maiores criações da telenovela brasileira, a inacreditável Albertina Pimenta ou Tina Pepper, como ela gostava de ser chamada (Regina Casé, que deitou e rolou com o grande personagem à altura de sua pegada de humor), uma espécie de clone paulista da cantora Tina Turner. A personagem odiava pobreza e detestava a vila em que morava, e os vizinhos, sabendo disso, viviam perturbando sua vida. Muito engraçada, a popular Tina roubou a cena geral e se tornou uma figura emblemática da trama, tanto que foi parar até no “Cassino do Chacrinha”!

Regina Casé e sua inesquecível Tina Pepper.
Estrela de Bastidor (Ângela Maria) – Responsável por momentos antológicos de humor na trama, a aspirante a cantora Lili Bolero (a saudosa Consuelo Leandro), matinha uma inveja eterna da “sapoti” Ângela Maria (responsável por seu tema na novela, aí está a grande sacada!), a quem acusava ser a culpada por sua carreira nunca ter “decolado”. Uma das cenas mais bacanas foi a reconciliação das duas cantando juntas essa música. Um show! Lili Bolero precisava brilhar, nem que seja para ela, como dizia a canção.

Consuelo Leandro: impagável como Lili Bolero

Vila Curiosa (Passoca) - Um dos núcleos mais populares foi o da Vila, onde os personagens pobres e mais divertidos da novela moravam. Toda semana tinha baixarias clássicas como vizinhos se pegando aos tapas na rua, discussões nas sacadas das janelas e outras situações inusitadas que o subúrbio produz.

Cambalacho (Walter Queiroz) – O que dizer dessa música? Simplesmente demais! Tinha uma sincronia perfeita com a abertura, que mostrava Fernanda Montenegro se passando por uma vidente com uma grande bola de cristal, afinal toda a concepção da abertura era produzida através de objetos redondos. O trecho da música “é tudo banana, olha eu acho que é tudo do mesmo cacho, é tudo farinha, olha eu acho que é tudo mesmo saco”, é sensacional e super atual!

Flavio Galvão era o ambicioso Athos
Filho da Cidade (Sergio Dias) – Athos (Flávio Galvão), o sobrinho mais canalha do Tio Biju (Emiliano Queiroz), foi o grande parceiro de Andréa Souza e Silva em suas trapaças. A canção falava que o personagem tinha esse comportamento por causa da sociedade injusta, o filho da cidade, era o que a cidade tinha feito dele, uma pessoa sem caráter e oportunista, um boneco nas mãos da vilã.

Só Eu Sei (Gillard) – Essa linda canção romântica serviu de pano de fundo para as incertezas da personagem Ana Machadão (Débora Bloch, uma gracinha de macacão sujo de graxa), uma menina que sofria preconceito pela sua profissão de mecânica, dai seu apelido. Era a grande inversão de profissões discutida pela novela, uma vez que ela se apaixona justamente por Tiago (Edson Celulari), que fazia balé e também sofria com esse tipo de preconceito.

A mecânica Ana Machadão e o baiularino Tiago (Edson Celulari): improvável romance
O Ganso Que Dança (Zona Sul) – Acompanhava as cenas de balé de Tiago (o excelente Edson Celulari). Nossa, como esse personagem aguentava barras duras, como ser rejeitado e deserdado pelo próprio pai, o milionário Antero Souza Filho (Mário Lago), por ser bailarino e não ser empresário como era o sonho do pai. A música também seguia o tom do preconceito “vai jogar bola amigo!” rs. rs. rs...

Jardins (A Voz do Brasil) – Outro cenário importantíssimo da novela era a academia e clinica de estética “Physical”, de propriedade da empresária e advogada Amanda (Susana Vieira, em um dos seus personagens mais simpáticos de sua carreira). Muito movimentado e frequentado por boa parte dos personagens da novela. Ganhou esse tema com um arranjo de solo de sax e um coral belíssimo. Super chique e estiloso como a academia, que tinha todas as cores vibrantes dos anos 80, só para se ter uma noção dos exageros, o uniforme dos funcionários era coral, uma cor super em alta nessa década.

Deus Nos Acuda (Fundo de Quintal) – Interpretado pelo Fundo de Quintal, um dos grupos mais tradicionais do samba carioca, o pagode de Naná e Gegê era uma delícia, e a sua letra mostrava a complicada relação entre um casal que brigava muito e mesmo assim não deixavam de ser parceiros, como em um grande jogo de futebol, assim também era a relação de companheirismo dos protagonistas da novela.

Rogério (Claudio Marzo) e Amanda (Susana Vieira): par romântico
Alguém Que Olhe Por Mim (Emílio Santiago) – Essa belíssima canção (uma versão de “Someone to watch over me”, clássico de George e Ira Gershwin) que teve a interpretação perfeita do grande Emílio, foi muito tocada na novela quando o advogado Rogério (Claudio Marzo), deu uma grande mancada em sua vida e se deixou envolver emocionalmente pela ardilosa cunhada Andréa e com isso jogou fora seu casamento estável de anos com Amanda. Arrependido e tentando a todo custo reconquistar a ex-mulher, depois de conhecer a verdadeira face de Andréa, ele sofreu muito ao som dessa canção, assim como Amanda. No final eles conseguiram se perdoar e reconstruir a relação de amor. Claudio, Susana e Natália formaram um triângulo amoroso familiar muito complicado, mas sensacional, graças ao talento do trio em cenas de tirar o fôlego.


“Cambalacho” esteve no ar de 10 de Março a 04 de Outubro de 1986, com 174 capítulos, na TV Globo. A direção ficou a cargo de Jorge Fernando.

Aladim Miguel
Setembro/ 2012.

Melão, eu e Aladim em dia de festa! 
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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cheias de Charme transcende ao sucesso e vira fenômeno.



As "empreguetes" Cida (Isabelle Drummond), Rosário (Leandra Leal) e Penha (Taís Araújo) conquistaram  o público

Dia desses entrei em uma dessas lanchonetes fast food aqui perto de casa. Estava na hora da exibição de “Cheias de Charme” bem no momento de um show das Empreguetes. Fiquei surpreso com o que aconteceu ali: as máquinas simplesmente pararam! Hamburgeres deixaram de serem grelhados por um momento, atendentes paralisaram seus serviços no caixa e clientes simplesmente ignoraram o cardápio. Todos, inclusive eu, ficaram parados diante da tevê até o número musical chegar ao fim. E isso, claro, acompanhado de comentários de todos, que procuravam eleger sua empreguete favorita. Não tive dúvidas: estava diante de um fenômeno, não só de audiência, mas de popularidade e repercussão (embora pareça a mesma coisa, nem sempre esses três elementos caminham juntos). Mas a que se deve esse fenômeno?

A verdade é que ninguém sabe ao certo o que faz de uma novela um sucesso. Se tivesse uma fórmula pronta, tudo seria mais fácil (e também mais monótono). Embora não haja uma resposta exata para essa questão, podemos enumerar alguns fatores que contribuem pra isso. O primeiro deles é que “Cheias de Charme” não é uma novela acomodada, no sentido de utilizar clichês e soluções fáceis. É uma novela que parece ter sido pensada há muito tempo pelos autores, por isso todas as tramas caminham bem, dialogam entre si e progridem juntas. Podemos citar também o texto inspiradíssimo, cheio de referências pop e linguagem afiada e antenada com as gírias e jargões da atualidade. Os autores não economizam trama e já promoveram vários momentos catárticos para delírio do espectador, como o primeiro show das Empreguetes, a saída de Cida (Isabelle Drummond) da casa dos Sarmentos e, essa semana, o triunfo de Elano (Humberto Carrão) sobre Conrado (Jonatas Faro). Há também uma identidade visual que a torna única, uma direção ágil e um elenco afiadíssimo, que parece se divertir tanto quanto os espectadores.
Na primeira semana da novela, publiquei um texto que dizia que “Cheias de Charme” trazia o frescor da novidade e não estava errado. Claro que as três empreguetes e Chayene (Claudia Abreu) são os grandes destaques. Mas a novela tem dado a oportunidade de muita gente brilhar, como a estreante Titina Medeiros, que tem feito o Brasil gargalhar com a hilária e sem noção Socorro; e Lygia (Malu Galli), a “patroete” do bem, que enfrenta uma crise familiar, profissional e de saúde. Assim como uma orquestra afinada, a novela dá a oportunidade de todos os instrumentos musicais, no caso os personagens, se sobressaírem e terem seu momento durante o concerto. Isso faz com que a peteca não caia nunca e faça o espectador ficar sempre empolgado com alguma trama em evidência, enquanto outras tramas “descansam”.

Apesar desse “frescor”, é inegável que a novela também nos remete às grandes e memoráveis comédias dos anos oitenta, sobretudo as de Sílvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes. Há tempos venho refletindo sobre isso e é sempre temeroso fazer comparações, mas depois do capítulo de ontem, no qual Elano desmascarou o esquema dos Sarmentos, arrisco a dizer que “Cheias de Charme” é minha novela das sete favorita desde “Cambalacho” (1986), de Sílvio de Abreu. E mais ainda: as duas novelas são da mesma família.

 Tina Pepper (Regina Casé) e Chayene (Claudia Abreu): fenômenos de popularidade

“Cambalacho” também teve uma personagem popularíssima ligada ao meio musical, cujo hit transcendeu aos capítulos da novela. Quem viveu os anos 80 não esquece os versos de “Você me incendeia”, megahit da espalhafatosa Tina Pepper (Regina Casé) que, a exemplo de Chayene, não valia nada, mas caiu nas graças do público e chegou a participar do “Cassino do Chacrinha”, o programa de auditório mais popular daquela época. E a exemplo de “Cambalacho”, cuja temática central era, através do humor, discutir honestidade, ética e o tal “jeitinho brasileiro” para vencer na vida, “Cheias de Charme” também se aproximou dessa temática e marcou mais um golaço. Num tempo em que as vilãs são cheias de frases de efeito, se tornando mais populares que as mocinhas, a discussão do capítulo de hoje em torno do assunto foi sensacional, sem ser chata, didática ou careta. No melhor estilo a la "Vale Tudo",  fomos brindados com atuações irrepreensíveis de Humberto Carrão, Leopoldo Pacheco, Taís Araújo, Tato Gabus e Alexandra Richter. 

Cena do sensacional embate entre Elano (Humberto Carrão) e Conrado (Jonatas Faro): ética e honestidade em jogo
A novela já era o máximo na comédia. Hoje, os autores mostraram que também são feras em dar aos personagens a dimensão humana necessária para arrasarem nas cenas dramáticas. E a sequência final do tão esperado beijo de Cida e Elano fechou o capítulo com chave de ouro, dando aquele gostinho de “quero mais”. Por essas e outras, essa novela é um pacote completo. Mais do que um sucesso que apenas garante bons índices de audiência e faturamento para a emissora, "Cheias de Charme" tem tudo para entrar pra galeria das grandes novelas e se tornar memorável! Vida longa para Filipe Miguez, Izabel de Oliveira e toda a equipe de roteiristas, que injetaram um fôlego invejável no horário das sete, sabendo reunir o melhor do passado, com inspiradas referências do presente e vislumbrando um promissor futuro para nossa teledramaturgia.

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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Blogueiro convidado: Lufe Steffen celebra 29 anos de "Guerra dos Sexos"


GUERRA DOS SEXOS: UM MOMENTO INESQUECÍVEL

Por Lufe Stefen

Fernanda Montenegro e Paulo Autran em cena histórica
 Há 29 anos, em 6 de junho de 1983, estreava às 19h na Globo a novela “Guerra dos Sexos”. Para quem acompanhava as produções da época, parecia apenas mais uma atração leve para o horário. Apesar do elenco totalmente estelar e de certo luxo na produção, não dava para adivinhar o que estava por vir.

Mas rapidamente o público percebeu que não se tratava de mais uma novela comum. O primeiro capítulo já terminava com Glória Menezes acertando uma torta na cara de Tarcísio Meira. Era apenas o começo.

Eu tinha oito anos de idade e fiquei viciado nessa novela. Largava tudo para vê-la. Me lembro de uma festa junina na praça em frente à casa da minha avó paterna. Todo mundo na festa comendo pé de moleque, e eu afundado na poltrona da sala, vendo “Guerra dos Sexos”.

Adorava ler a revista “Amiga”, que sempre vinha com alguma matéria de capa sobre a novela. Eu recortava as fotos e fazia minhas próprias revistas, arremedos de “Amiga”. Talvez isso pronunciasse minha futura profissão de jornalista...

Enfim, ao lado de “Dancin’ Days” (1978/79) e “Vale Tudo” (1988/89), “Guerra...” forma a tríade que me marcou. Depois revi “Guerra dos Sexos” na reprise da Sessão Aventura em 1989, e mais recentemente, nos famosos DVDs que pululam por aí.

Nem vou falar da trama da novela, porque já é mais do que conhecida. Vale mais lembrar o pique da novela, que foi conduzido de forma vertiginosa, em uma narrativa pitoresca que empolgava o público, sem cair no tédio e na falta de interesse em nenhum momento. O ritmo era ágil e frenético, prendendo a atenção e cativando até o eleitorado masculino, naquela época um tanto avesso às novelas das 19h.

Me lembro do meu pai chegando em casa mais cedo do trabalho, para acompanhar a trama, numa época pré celular, pré internet, e até mesmo quando pouca gente tinha vídeo cassete. Lembro que ele riu muito com a cena em que Charlô vai à casa da Tia Semíramis (a maravilhosa Leina Krespi, já falecida), e a Frô (Cristina Pereira) desce a escada da casa, enrolada em uma toalha, avisando que a privada explodiu.

O sucesso foi total. O autor Sílvio de Abreu conseguia, enfim, implantar o tipo de comédia que vinha tentando desde sua primeira novela na emissora, “Pecado Rasgado” (1978/79). Se a tentativa foi frustrada nessa primeira experiência, em “Jogo da Vida” (1981/82) ele já conseguia esboçar seu objetivo: o auge do pastelão novelístico.

“Jogo da Vida”, também exibida às 19h, partia de uma sinopse de Janete Clair, o que poderia soar conservador. Mas na direção, como assistentes de Roberto Talma, surgiam Jorge Fernando e Guel Arraes. Os dois jovens diretores compraram a briga proposta por Sílvio e ajudaram a fazer de “Jogo da Vida” uma comédia maluca, com farta inspiração nos maiores clássicos de Hollywood.

O sucesso dessa novela surpreendeu a Globo, que assim decidiu dar mais liberdade ao autor. Na novela seguinte, Sílvio pôde então ousar mais, e refinar seu estilo. E até exigir alguns quesitos para que a proposta funcionasse, como o elenco de peso e a direção de arte inspirada nas décadas de 30 e 40. Sílvio conta mais sobre isso no livro “Autores”, da Globo.

Também dessas décadas, de 30 e 40, principalmente, vinha material para o autor: cinéfilo incurável e ex-cineasta, Sílvio acionou seu conhecimento enciclopédico sobre Hollywood e lançou mão das citações intermináveis. Como um Brian De Palma das novelas, recheou “Guerra dos Sexos” com dezenas de referências aos grandes clássicos.

“Os Homens Preferem as Loiras” (1953), “Levada da Breca” (1938), “Deu a Louca no Mundo” (1964), “A Mulher do Ano” (1941), “Golpe Sujo” (1978), entre muitos outros, foram citados e homenageados na novela. E o clima cinematográfico estava por toda parte: o tema incidental de mistério que permeava as cenas vinha do filme “Alta Ansiedade” (1977, de Mel Brooks); as trilhas instrumentais de “Star Wars” (1977) e “Yellow Submarine” (1968) também apareciam. O tom geral se inspirava nas chamadas “screwball comedies” dos anos 30. Na direção, a novela contava novamente com Jorge e Guel – mas desta vez como titulares.

Uma ideia genial era o fato de os personagens olharem para a câmera, dividindo pensamentos com o público, numa espécie de aparte na linha das comédias de Molière. Como a governanta Olívia (Marilu Bueno), que ao levar um beijo de Zenon (Edson Celulari), olhou para a câmera e disparou: “Francamente... eu não merecia isso!”

Outro grande trunfo era o elenco. Paulo Autran e Fernanda Montenegro – “pela primeira vez juntos”, como dizia o letreiro de abertura –, monstros sagrados do teatro brasileiro, arriscavam-se, entregando-se às maluquices propostas pelo autor. O clímax, como todo mundo sabe, é a famosa cena da guerra no café da manhã.

Tarcísio Meira também se destacou, criando um tipo cômico que parecia uma mistura de Jerry Lewis com Clark Kent. Maria Zilda foi um grande charme, com sua voz rouca, encarnando Vânia, dona das “belas pernas”. Mário Gomes como o motorista bobalhão Nando (com sua tatuagem que mexia com a libido de Roberta; aliás, eu queria ter uma tatuagem igual quando eu crescesse), Maitê Proença como a romântica Juliana e Lucélia Santos vivendo a odiosa, mas engraçada Carolina também foram incríveis. E o que dizer de Yara Amaral como Nieta e Hélio Souto como Nenê Gomalina?

José Mayer e Lucelia Santos: destaques de um elenco estelar
Fica quase impossível listar todos os destaques da novela, já que não havia nenhum ator ruim ou inadequado no elenco. Aliás, acho que naquela época não existiam atores ruins na TV.

Fico pensando em como será o remake de “Guerra dos Sexos”, que estreia neste ano. Naturalmente será uma novela diferente, até porque a vida, o mundo – e o Brasil – mudaram muito nesses 30 anos. As relações afetivas, sexuais, o jogo entre machismo e feminino, tudo isso tem outro contexto hoje.

Mudou também o estilo das interpretações televisivas, assim como dos atores que hoje são os mais populares. Nem sempre é possível ter, hoje, a elegância e a sutileza dos atores do passado.

Também o estilo de comédia rasgada que a versão original consagrou, foi bastante reproduzido e copiado ao longo dos anos, desgastando-se. Talvez esse remake não venha causar uma revolução na dramaturgia e nem mobilizar multidões, como ocorreu em 1983. Mas vale a pena esperar os ingredientes que Sílvio de Abreu vai colocar em suas tortas desta vez. Ele que está sempre pronto para atirá-las na nossa cara. “Touché!”, como diria Charlô.

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LUFE STEFFEN nasceu em 1975, é ator, cantor, cineasta e jornalista. Escreveu o livro "Tragam os Cavalos Dançantes" (lançado em 2008), sobre a casa noturna paulistana A Lôca, e atualmente é repórter de TV & Novelas do portal iG. 
Apaixonou-se por novelas em 1978, ao assistir "Dancin' Days". Seu Top Five é: "Vale Tudo" / "Guerra dos Sexos" / "Dancin' Days" / "Cambalacho" / "A Gata Comeu". 

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(25 anos de "Cambalacho)



quinta-feira, 10 de março de 2011

ARMANDO EU VOU, ARMANDO COM VOCÊ...


25 ANOS DE CAMBALACHO



O termo “parece que foi ontem” já está mais lugar comum do que o próprio termo “lugar comum”. Mas o que dizer quando não há nada melhor do que “parece que foi ontem” para traduzir o que sentimos a respeito de uma novela que foi tão emblemática na sua vida e permaneceu em seu imaginário por tanto tempo que realmente 25 anos parecem ter passado como um flash? Esse jubileu de prata de “Cambalacho” só vem provar que, quando uma telenovela é realmente boa, ela entra para o panteão e também se torna memorável como qualquer outra manifestação artística.
Eu tinha apenas 9 anos quando foi exibido o primeiro capítulo da novela no dia 10 de março de 1986. E o mais incrível é que tenho lembranças nítidas de grande parte desse folhetim de Sílvio de Abreu. “Cambalacho” já foi até cotada para ser novela das oito, mas foi no horário das sete que ela ajudou a consolidar o estilo do autor, responsável pelas mais hilariantes comédias de nossa teledramaturgia.


VOCÊ SABE O QUE É CAMBALACHO?

 Essa era a pergunta já lançada no teaser da novela, que ajudou a popularizar o termo, usado até hoje para designar trambique, mutreta, armação, maracutaia. Com um pé na chanchada, outro nos clássicos de Hollywood, influências constantes de Sílvio de Abreu, “Cambalacho” era uma novela movimentada, divertida e visualmente diferenciada, sobretudo pelos letreiros luminosos que apareciam para mostrar passagens de tempo, onomatopeias e até mesmo comentários sobre a trama. O alto astral permanente da novela é marca registrada da feliz parceria de Sílvio com a direção de Jorge Fernando.

A trama girava em torno de Naná, em mais uma interpretação antológica de Fernanda Montenegro, uma trambiqueira de bom coração que sobrevivia de pequenos golpes, ao lado do fiel escudeiro Jejê (Gianfrancesco Guarnieri em tão boa parceria com Fernandona quanto Paulo Autran). Para aliviar sua culpa, Naná adotava crianças que recolhia na rua, enquanto sua única filha verdadeira Daniela estudava no exterior.

Mal sabia Naná que ela seria apontada como suposta herdeira do milionário Antero (Mario Lago), que descobrira recentemente que ela era sua filha desaparecida. No entanto, para tomar posse do que tem direito, Naná precisa enfrentar Andréa (Natália do Vale), viúva de Antero que planejou  morte do marido durante um passeio de lancha para ficar com toda a sua fortuna.



Antero tinha outro filho, o bailarino Tiago (Edson Celulari), que acaba se envolvendo com a mecânica Ana Machadão (Debora Bloch em excelente momento), que vinha a ser filha de Jejê! Ah, as coincidências do folhetim... O inusitado romance do bailarino com a mecânica rendeu ótimos momentos, principalmente a partir da chegada de Daniela (Louise Cardoso), suposta filha de Naná, que veio completar o triângulo amoroso e também tentar se apropriar da fortuna de Antero. Mais tarde, descobrimos que se tratava de uma impostora. A verdadeira Daniela, vivida por Cristina Pereira, acabou aparecendo no último capítulo da novela.


VOCÊ ME INCENDEIA...


“Cambalacho” também é lembrada pela galeria de personagens inesquecíveis. Além dos já citados, a novela também contava a história de Albertina Pimenta, ou Tina Pepper, inesquecível personagem de Regina Casé.  Sempre com o bordão “odeio pobreza” na ponta da língua, Tina vivia inconformada com sua condição social e fazia de tudo para subir na vida. Fã inveterada de Tina Turner, viu a oportunidade de se lançar como cantora. O problema é que a moça era pra lá de desafinada. Com isso, entra em ação sua mãe, Lili Bolero, verdadeiro show da excelente e saudosa Consuelo Leandro. Cantora fracassada, Lili vivia frustrada e culpava Angela Maria, que a vencera em um concurso de calouros, por sua carreira não ter decolado. Com isso, Tina só dublava enquanto Lili era quem cantava de verdade (anos mais tarde, Sílvio utilizou desse mesmo expediente em “Torre de Babel”, em que Johnny Percebe, interpretado por Oscar Magrini, fingia que cantava e era dublado por seu irmão, Boneca, vivido por Ernani Moraes).


Lili era apaixonada por Jejê e grande rival de Naná, mas também flertava com Tio Biju (Emiliano Queiroz), pacato costureiro que criou, com dificuldade, três sobrinhos: Atos (Flávio Galvão), Portos (Mauricio Mattar) e Aramis (Paulo Cesar Grande), por quem Tina era apaixonada. Uma das sequências mais engraçadas que me recordo da novela foi quando Tina roubou o livro “Os segredos da salamandra”, e fez um feitiço para que Aramis se apaixonasse por ela. Para isso, ela tinha que ferver uma cueca dele e beber o líquido depois. Tudo certo, se ela não tivesse pegado a cueca errada. Portos acabou encantado pela moça. No final, Tina alcança o estrelado usando sua própria voz. Quem não se lembra dos versos de seu megahit “você me incendeia / seu corpo serpenteia / e me deixa louca / com água na boca”, cantado por ela incessantemente durante a novela? Lili acabou desfazendo o mal entendido com Angela Maria, que fez uma participação da novela, e terminou como cantora de uma churrascaria chamada “Traseiro de Boi”.


PERIGOSA...



Voltando à trama principal, Naná precisava enfrentar a terrível Andréa. Linda e diabólica, a vilã foi um dos melhores papeis de Natalia do Vale. Apaixononada pelo cunhado Rogério (Claudio Marzo), Andréa fazia de tudo para tirá-lo de sua irmã, Amanda (Susana Vieira). É impossível ouvir a canção “Perigosa”, da banda Syndicatto, sem se lembrar de Andréa e suas armações. Falando em trilha sonora, a internacional era aquela coletânea de sucessos do momento, mas a nacional era personalíssima. As músicas foram criadas especialmente para os personagens. Por isso, apesar do tema de abertura ter sido muito marcante, talvez a que tenha ficado mais presente em meu imaginário é “Armando eu vou”, na voz de Cida Moreira, que era tocada sempre quando Naná aprontava mais um de seus cambalachos.

Além dos atores já citados, Rosamaria Murtinho, Roberto Bonfim, Joana Fomm, Marcos Frota, Andréa Avancini, Duse Nacaratti, Maria Helena Pader, Fabio Sabag, Cristine Nazareth, Leina Krespi, Osvaldo Loureiro e Luiz Fernando Guimarães (impagável como um nobre farsante) completavam o ótimo elenco.



Ao escrever esse texto e relembrar toda essa estória deliciosa, começo a perceber o porquê da novela fazer 25 anos e eu ter a impressão de que não faz tanto tempo assim. É que “Cambalacho” foi tão marcante, me divertiu tanto como espectador e me inspirou tanto como roteirista que, na verdade, ela nunca saiu do meu imaginário. Naná, Jejê, Ana Machadão, Tio Biju, Andréa, Lili e Tina Pepper permanecem no meu rol de personagens inesquecíveis. Essa é emblemática de verdade!
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terça-feira, 13 de julho de 2010

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas – Ed. 9

                                                                                                                                                            
IRENE RAVACHE: DESTAQUE EM "PASSIONE"

Irene Ravache genial como a perua Clô

Sílvio de Abreu provou na semana passada que ainda é imbatível no quesito humor. A sequência de cenas do jantar que Bete (Fernanda Montenegro) ofereceu a Clô (Irene Ravache) em “Passione” foi de longe a melhor cena da novela até agora, relembrando as inesquecíveis novelas das 7 que o autor escrevia nos anos 80. Além da situação maravilhosa e do contexto perfeito criado pelo autor, os atores, sobretudo Irene Ravache e Cleyde Yáconis deram um show em cena. Ficou perfeito o contraste entre a aristocracia e a cafonice. Aqui em casa e também pelo twitter gargalhadas gerais. Um momento delicioso e de grande inspiração. Está claro que “Passione” está sendo escrita para os veteranos brilharem. Merecia ser vista com mais atenção e ter uma audiência melhor.


> Ainda no quesito “gargalhadas” elas são abundantes ao assistir às reprises dos episódios de “Sai de Baixo” pelo Viva. A melhor parte do seriado quando Claudia Jimenez ainda fazia parte do elenco já foi exibida, mas o programa continua engraçadíssimo, sobretudo pelos cacos, pelos improvisos e pelas brincadeiras que Miguel Falabella fazia com Aracy Balabanian. O programa não envelheceu e continua hilariante.

>  Falando em “Viva” de quem foi a genial ideia de interromper bruscamente a programação para fechar a tela e exibir o aviso “Você está no Viva”? Por acaso, alguém assiste ao canal pensando assistir ao “Sex Hot” ou “Canal do Boi”? Cada uma...

> Da série “coisas que preferia não saber”: tem uma tal “mulher-arroto” que se intitula humorista do Penico, digo, Pânico na TV (só podia) que se passa por jornalista e surpreende os entrevistados com arrotos e flatulências (sim, chegamos nesse nível!). Ela deu a maior bola fora nessa segunda ao tentar fazer isso com a grande e respeitadíssima Laura Cardoso, mas felizmente foi impedida por pessoas de bom senso e convidada a se retirar do evento em questão, o lançamento em São Paulo da biografia de Glória Pires. Não há como ficar chocado com tremenda deselegância, falta de educação e falta de respeito. Ninguém merece passar por isso, muito menos Laura Cardoso. Que a imbecilidade é marca registrada do programa isso não é segredo pra ninguém. O que mais me surpreende é a quantidade de pessoas que acham esse tipo de coisa engraçadíssima. Gosto não se discute, se lamenta muitas vezes, mas o fato é que as pessoas não são obrigadas a serem usadas por um tipo de humor do qual elas não compartilham. Respeito é bom e todo mundo gosta.

> Há quem compare o Pânico com o CQC. Preferências à parte, acho que há um abismo qualitativo separando as duas atrações, seja pelo texto, pelo nível dos apresentadores e por toda a questão técnica mesmo. Mas li uma reclamação no Twitter de que o pessoal do CQC não passava de mauricinhos engravatados que recebem patrocínio de multinacionais. Pode até ser. Diante disso, cabe aqui duas indagações: 1) Nunca vi nenhum integrante do CQC tentar arrotar ou peidar na cara de alguém; 2) Pra ser bom tem que ser patrocinado pelo guaraná Dolly? Juro que não entendi...


> Evento imperdível pra quem é do Rio. O CCBB vai promover a partir do dia 27 “A história da telenovela”, que serão encontros com profissionais que fizeram e fazem a história das nossas novelas. E a primeira convidada é ninguém mais, ninguém menos que Regina Duarte. Maiores informações pelo link: http://www.bb.com.br/portalbb/page511,128,10156,1,0,1,1.bb?codigoEvento=3457  

> Curtiram a entrevista abaixo de Duca e Thelma? Foi só abre-alas para as comemorações do primeiro aniversário do melão. Vem mais coisa boa por aí! Não percam as cenas do próximo capítulo... até lá!
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sábado, 29 de maio de 2010

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas! – Edição 7


Antes tarde do que nunca

Como esqueci de avisar antes, informo depois. Nessa segunda, participei do X Seminário Salínguas, do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Faculdade de Letras da UFRJ, do qual faço parte e apresentei o trabalho "NOVELAS E ORKUT: NOVAS PERSPECTIVAS DE LETRAMENTO E HIBRIDIZAÇÃO".

Ainda é um reconhecimento de terreno, uma apresentação do cenário e dos personagens de minha futura dissertação de Mestrado. Apesar de nervoso, acho que a apresentação foi satisfatória e me deu a boa sensação de finalmente unir minha carreira acadêmica à minha grande paixão, a telenovela. Vamos ver no que dá. Desde já agradeço aos compenheiros da comunidade "Teledramaturgia" pela colaboração e peço que continuem me ajudando.

Prometo divulgar as cenas dos próximos capítulos dessa minha árdua jornada. Até mais!
Mais informações sobre o X Seminário Salínguas em: http://salinguasufrj2010.blogspot.com/
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- VIVA O VIVA!

 Tudo bem que não é aquele canal só com reprises de novelas, sonho de 11 entre 10 telemaníacos. Mas há duas boas novelas sendo reprisadas. Tudo bem também que essas novelas não são lá tão antigas assim: são da década de 90, aliás, década da maioria da programação do canal. Mas mesmo assim, é mais que bem vindo esse novo canal da Globosat. Confesso que não estava sentindo a menor saudade de rever as intermináveis idas e vindas de Raí e Babalú em “Quatro por quatro”. Mas a novela de Carlos Lombardi foi sucesso indiscutível e tem seu retorno merecido. Além disso, o novo canal proporciona outras sessões nostalgia como os ótimos seriados “Mulher”, “Sexo Frágil”, “Comédia da Vida Privada” e “Sai de baixo”. Mas meu grande deleite mesmo é poder rever a excelente “Por amor”, dos bons tempos de Manoel Carlos. Só na primeira semana de exibição a novela teve mais acontecimentos do que “Viver a Vida” inteira. Estou amando odiar Eduarda (Gabriela Duarte) novamente. Bem que o “Viva” podia abrir mais horários de exibição para as novelas, afinal de contas, à tarde é só pra quem não trabalha fora ou pra quem possui gravador. De qualquer forma, estamos em festa e torcendo para que o “Viva” nos traga muitas outras velhas novidades.


“PASSIONE”: A VOLTA DO NOVELÃO.


Em sua segunda semana de exibição e com índices de audiência nada animadores (será o trauma pela novela anterior?), “Passione”, de Sílvio de Abreu tem o grande desafio de recuperar índices de audiência cada vez mais distantes de outros tempos e de outras novelas do horário nobre. Ainda que não traga grandes novidades com relação à trama e aos personagens, Sílvio tem seus trunfos: excelente elenco  e um novelão típico, com direito a ganchos, filhos desconhecidos, triângulos amorosos e conflitos familiares.  Dizem que o sotaque italiano não está agradando. A mim, não incomoda em nada. Confesso que elegi minha própria heroína: Stela, a bela da tarde (e da noite também) da cada vez mais linda Maitê Proença (foto). Torço para que a trama da personagem possa ser desenvolvida a contento, uma vez que foge do lugar comum. A novela ainda não está imperdível, mas altamente assistível. E trouxe de volta um ingrediente indispensável ao gênero: ganchos. Só no capítulo de hoje foram três. Já é um bom começo.


RIBEIRÃO DO TEMPO: NOVOS TEMPOS NA RECORD.

Ainda falando de estreias, uma nova novela de Marcílio Moraes é sempre aguardada com ansiedade e otimismo. E sempre podemos esperar ótimo texto e personagens nada óbvios. Valorizado na Record por suas tramas que abordam violência urbana, Marcílio estreou na emissora com a primorosa “Essas Mulheres” e agora sabiamente promove uma nova guinada com uma trama política, irônica e bem humorada, que mescla bem mistério e romance, mas parecendo brincar com os gêneros. Tais características podem trazer para a emissora parte dos públicos A e B que ainda transitam pouco por lá. “Ribeirão do Tempo”, em seu início, já apresenta uma identidade própria e se mostra diferente de tudo que a Record produziu até então. Como ex-aluno de Mestre Marcílio e privilegiado por comprovar seu talento de perto, torço para que colha bons frutos com sua nova empreitada.


- "MOTHERN" ESTÁ NO AR.

Como já disse, sempre que posso acompanho a reprise de “Por amor” às 16:30 no Viva. Mas assim que a novela termina, corro pra GNT pra conferir a reprise dos episódios de “Mothern”, excelente série que, infelizmente, as pessoas pouco conhecem. A série é uma delícia: leve, inteligente, engraçada, bem escrita, bem dirigida, enfim, tudo de bom. Vale também pelo elenco: as quatro mães do título são ótimas, com destaque para Fernanda D’umbra e Melissa Vettore (desperdiçadíssima como a acompanhante de Lolita Rodrigues em “Viver a Vida). Melissa é ótima e garante, não só momentos engraçados, como os mais intensos da série. Também podemos ver Klara Castanho, cujo talento e profissionalismo já saltava os olhos aos 6 anos, arrasando como e esperta Bel, e Rafinha Bastos do CQC como um dos maridos da série. Portanto, pra quem ainda não viu, eis uma excelente oportunidade.

- LIGANDO O NOME À PESSOA.

 Com certeza, você já viu esse rosto muitas vezes na TV, mas talvez nunca tenha ligado o nome à pessoa. Figura simpática e marcante em tudo o que faz, Nica Bomfim tem agora uma oportunidade melhor pra mostrar seu talento e seu carisma com um ótimo personagem em “Escrito nas estrelas” na pele da adorável mãezona Magali. A primeira vez que prestei atenção na atriz foi em “História de amor” (1995), como a prestimosa auxiliar da Helena da vez, vivida por Regina Duarte. Desde então foram muitas participações em produções como “Eterna Magia” e “Zorra Total”, mas é Magali quem está proporcionando a Nica vôos teledramatúrgicos maiores. Não há como não cair de amores pela personagem fãzoca de Fábio Júnior e dona da macarronada mais cobiçada da novela. Pelo andar da carruagem, promete muita emoção por aí. Magali ainda nos fará rir e chorar muito, aposto, pois é daquele tipo de personagem alto astral e do bem que todos nós gostaríamos de ter por perto. Parabéns pra Nica e que muitos outros personagens como esse possam surgir daqui pra frente.

Beijos, abraços e até a próxima!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Blogueiro convidado: Ivan Gomes fala de "Guerra dos Sexos"


 Mais um queridão no melão. E esse é especialíssimo. Dono de um conhecimento raro sobre novelas que ele nem sempre faz questão de exibir, bem como sua capacidade crítica em falar delas com inteligência e estilo. Esse é Ivan Gomes, telemaníaco apaixonado que deixa transcender toda sua paixão naquilo que escreve. E o foco de sua escrita não poderia ser mais especial: a inesquecível “Guerra dos Sexos”, marco indiscutível da teledramaturgia brasileira, que conseguiu unir popularidade e ousadia. Uma das novelas mais cultuadas de todos os tempos e que, segundo seu autor, o genial Silvio de Abreu, promete voltar em 2012. Só nos resta ficar na torcida. Enquanto isso, vamos apreciar e telembrar, através do ótimo texto de Ivan, esse grande sucesso de 1983, coincidentemente publicado no dia do aniversário de uma das estrelas da novela, Lucélia Santos! Então, fica também como singelo presente do melão para a atriz. Vamos ao texto:

Série Memória Afetiva: Guerra dos Sexos

Por Ivan Gomes


Acabei de rever essa novela, uma versão editada de Portugal, que meu irmãozinho Vitor emprestou para mim.
Foram meses deliciosos , relembrando essa comédia que tive o privilégio de acompanhar na exibição original em 83 e na reprise de 89. Gostaria de dividir minhas impressões com vocês: Acredito que hoje a comédia de Guerra dos Sexos foi tão reutilizada, tanto pro bem qto pro mal, que para o pessoal mais novo a novela não teria nada demais. Mas em 83 foi um choque! Substituiu a convencional, mas deliciosa Final Feliz, da craque Ivani Ribeiro, e de repente a tela era invadida por um bando de malucos deliciosos.

Criança, eu não tinha noção da importância de uma Fernanda Montenegro e de um Paulo Autran, mas achava bacana na abertura o “e pela primeira vez juntos’’ que antecedia os nomes deles, me despertando a atenção para o trabalho desses maravilhosos artistas. Esses dois estavam muito bem acompanhados por um elencaço e é deles que eu queria comentar: Glória Menezes era minha heroína, talvez uma das personagens que mais gosto até hoje. Torcia muito pela sua Roberta Leone, sofria e ria junto com ela. Roberta tinha um amor, uma generosidade, uma alegria de viver que me encantavam, seu amor verdadeiro, honesto e sincero pelo Nando (Mario Gomes) me comovia e talvez o meu lado romantico tenha surgido da identificação com os sentimentos da Roberta, minha personagem favorita da trama. Tarcisão também esteve muito bem num tipo infantilóide que todos aqui na minha casa adoravam! Amava quando o chamavam de “pipinho”. Foi o primeiro trabalho desse ícone que acompanhei de fato!

 Lucélia Santos interpretava Carolina, uma vilã em que ela pode mostrar todo seu potencial, principalmente quando ela vai deixando a vilania por seu amor por Felipe (Tarcisio Meira). Muitas cenas dela me impressionaram muito. Não era uma vilã gratuita, mas que, de certa forma, debochava um pouco desse tipo de personagem, hoje tão idolatrado. Lucélia tem uma força, uma entrega ao personagem indiscutível, e mostrou muito mais de seu talento ainda na mudança de comportamento da personagem. Quando Carolina muda de atitude e se arrepende dos seus atos, ficou crível, não ficou forçado.

Fernanda e Paulo sem comentários, eu torcia mais pra Charlô, achava-a genial, amiga, inteligente e muito, muito engraçada! Na época acabei vendo o Otavio do Paulo, como uma espécie de vilão. Nas cenas finais quando Otavio revela toda sua solidão entendi o porquê de tantas malandragens contra a Charlô: era um amor encubado que ele não acreditava que fosse se realizar, ao ver a amada casando-se tantas vezes com outros homens.

O casal Tarcísio e Glória entre Maitê Proença

Cristina Pereira e sua Frô eram demais, talvez a personagem que mais me fez rir na novela, com sua auto-estima lá em cima e sua cara de pau! Maitê Proença e Maria Zilda lindas e divertidas também, destacando a Zilda com uma personagem ousada pra época, mais liberal, livre. Acredito que muitas mulheres tenham se sentido ‘’defendidas’’ por essa personagem (Vânia), tirando a mulher da condição de capacho sexual , presa a convenções matrimoniais e podendo viver a vida (eheheheheh) como bem entendessem. A Juliana de Maitê era o grande toque romântico da novela, única personagem que carregou consigo um tema musical marcante: "ANJO", do grupo Roupa Nova. Doce, medrosa num amor proibido no inicio, acabou revelando-se uma mulher que evita se envolver com seu amor por puro preconceito, sem conseguir aceitá-lo como é (daí meu favoritismo pro casal Nando e Roberta) tornando-se mais tarde uma mulher insegura e ciumenta, o q acaba custando seu grande amor.Um outro grande destaque pra mim e um ator bastante discutido foi Mario Gomes, com um Nando perfeito, acredito até que um ator bom, com mais recursos, não teria feito tão bem. Nando tinha uma humanidade que eu achei genial, integridade, valores, e uma característica que me chamou a atenção agora que revi a trama: ele não olhava no interlocutor quando precisava ‘’se abrir’’, falar dos seus sentimentos, apenas algumas vezes. Isso mostra uma interpretação pensada para o personagem, criando um tipo, estudando o papel. Parabéns para ele!



Não dá pra falar de todos porque senão esse texto não termina nunca! Mas deixei pro final a maravilhosa Yara Amaral, uma das maiores perdas das nossas artes. Que atriz é essa, meu Deus! Faz comédia e drama como ninguém, que dona Nieta real, humana, divertida, contraditória! Fez um casal maravilhoso com o grande Ari Fontoura (o tímido Dinorah). Saudades eternas!

Pra encerrar, falo um pouco do texto de Silvio de Abreu que escreveu uma historia onde assumiu a comédia rasgada sem deixar  de lado uma certa sofisticação, em meio a tortas voando, perseguições de diamante e calores sexuais muitas referências sutis a filmes e músicas. Silvio uniu o pastelão a um humor mais fino, principalmente em alguns momentos de Charlô e Otávio, agradando ao povão e a quem tem uma certa cultura geral! Valeu mesmo! Também é importante destacar que todos os personagens, mesmo estando em uma comédia, tinham alma, nada era gratuito. É só vê-los com mais atenção que a gente se reconhecia, percebia atitudes e sentimentos parecidos com os nossos, entendia as razões os motivos de seus atos e, ainda por cima, se divertia muito!!! Uma pena que os textos estão se empobrecendo e humor hoje em telenovela anda beirando a debilidade mental e, de certa forma, contribuindo pra manter o gosto popular (que deveria ser mais estimulado) no mesmo patamar pouco exigente!


Valeu, Silvio de Abreu, Jorge Fernando, Guel Arraes, TV Globo e toda turma que criou esse clássico da TV!



Mansão de Otávio e Charlô. A trama se passava em Sampa, mas a casa fica em Petrópolis - RJ

FIM

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