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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Blogueiro convidado: Marcelo Rissato relembra “Locomotivas”, marco da independência feminina nas telenovelas.



 Mais um convidado pra lá de especial, que nos brinda com um texto INCRÍVEL sobre uma novela, que representa um marco da emancipação feminina: “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes. Marcelo Rissato, jornalista, roteirista, fã nº 1 de Norma Blum e enciclopédia viva da teledramaturgia brasileira, não se limita a falar apenas da novela e nos brinda com todo um panorama da história das conquistas da mulher até culminar no ano de 1977, ano em que a novela estreou e não por coincidência, mesmo ano em que a Lei do Divórcio no Brasil foi aprovada. Vale lembrar que, no ano anterior, Janete Clair já tinha escrito uma novela chamada “Duas Vidas”, na qual a protagonista Leda (Betty Faria), já era separada e criava o filho sozinha. Mas a partir da trama de Cassiano Gabus Mendes é que a mulher deixou definitivamente a posição de mocinha que precisava ser salva e foi, definitivamente, à luta através da empreendedora Kiki Blanche, estreia de Eva Todor na tevê em grande estilo como a dona de um salão de beleza que era o principal cenário da novela. Marcelo, querido, obrigadíssimo pelo seu incrível texto, que não é apenas uma deliciosa viagem pelo universo da novela. É, praticamente, um tratado sobre o panorama da mulher em nossas telenovelas. Parabéns! Sem mais delongas, vamos ao texto:


MULHER, A LOCOMOTIVA MODERNA
Por Marcelo Rissato



Quando ainda estava no ar a novela “Estupido Cupido”, uma linda e divertida trama de Mário Prata em preto e branco, que teve apenas o penúltimo e último capitulo em cores, “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes, era anunciada como a nova novela das sete, “totalmente em cores”.

Assim era o primeiro anuncio da novela no dia 11 de fevereiro de 1977: Estúpido Cupido, últimos capítulos e vem ai: Loco-Motivas. Com: Aracy Balabanian, Walmor Chagas e a participação especial de Lucélia Santos. Loco-Motivas, a nova novela das sete da noite. A CORES.


 Uma trama envolvente e deliciosa que conquistava os telespectadores da época. A história girava em torno dos salões de beleza e os núcleos se encontravam nesse universo. Não era uma novela com grandes acontecimentos, porém colocava as mulheres, não só como as protagonistas da história, mas também na posição de independência e empreendedorismo, através do salão de beleza de Kiki Blanche (Eva Todor). Além disso, a novela apresentava um novo visual e uma nova forma de se expressar. Uma nova era estava começando para a televisão e para o país.

Talvez esse contexto envolvendo a mulher não tenha sido adotado em vão pelo autor Cassiano Gabus Mendes. Era uma época de mudança e a mulher estava em evidencia. Se destacava em vários segmentos da sociedade e o ano de 1977 era o protagonista para elas.

Mulher – A História

Sabe-se que o mundo sempre pertenceu aos homens e que a mulher de acordo com a história ficou limitada aos afazeres do lar, ficando habitualmente excluída de papéis relevantes para a sociedade. Também é conhecido o fato de homens estarem acostumados a justificar seu predomínio não somente ressaltando que a sua posição dominadora é a natural, como também que a sua dominação resulta da inferioridade da mulher. Contudo, sabe-se hoje que o rótulo de inferioridade teve como causa o contexto histórico, a falta de acesso à cultura e, como consequência, o confinamento no lar.
Acredita-se que desde os primórdios dos tempos, a discriminação feminina acabou exercendo sobre a sociedade uma conscientização e, a partir daí, surgiram reflexões sobre o que o assunto pode ajudar na luta em prol da igualdade social, política e liberdade de expressão das mulheres. No entanto, foi a partir do inicio do século passado que a situação começou a mudar.

Dia Internacional da Mulher

Talvez o episódio na Fábrica de Tecidos Cotton nos Estados Unidos em 8 de Março de 1857, tenha sido o ponto de partida para que em 8 de março de 1910, na Dinamarca, fosse finalmente instituída essa data como o “Dia Internacional da Mulher”, devido às mortes que ocorreram em virtude da greve que resultou no desaparecimento de aproximadamente 130 tecelãs que foram carbonizadas propositalmente pelo proprietário da fábrica e pela policia.


Com a eclosão do movimento feminista e os estudos de gênero, se constituíram nos fatos que forçosamente provocaram na sociedade uma mudança de atitude, diante das reivindicações que se fazia. A luta dos grupos de mulheres contra o preconceito parecia, assim, tomar forma. Apesar de importantes conquistas, a condição da mulher, ainda na sua maioria, era de submissão e explorada pelo próprio sistema. Há que se considerar, também, que na espécie feminina e dentro de cada mulher, ainda restam as sobras da teimosa crença de que todas as mulheres são inferiores a qualquer homem; e em cada homem, seja ele liberal ou libertino, uma antiga voz interior ainda concorda com essa inferioridade.

O Divórcio e a Locomotiva

Constatou-se que a época decisiva para que a mulher pudesse conquistar um lugar merecido na sociedade, se desse nos primórdios do século XX. Muitas foram as batalhas enfrentadas, contudo a conquista se deu com o que pode-se chamar de “Lei Áurea Feminina”, ou seja, uma metáfora de sua libertação que ocorreu em 1977. A mulher casava para se livrar do cativeiro do pai e se tornava cativa do marido. Com a Lei 6515 de 26 de dezembro de 1977, a Lei do Divórcio, ela adquiria finalmente sua independência, iniciando assim uma nova fase no seu comportamento, no qual transformou a figura feminina na “locomotiva moderna”, desempenhando o papel de comandante.  Apesar de tantas dificuldades, as mulheres conquistaram um espaço de respeito dentro da sociedade, mesmo que as relações entre o gênero feminino e o masculino ainda não sejam de total igualdade e harmonia. 

Entretanto, evoluindo o homem através dos múltiplos fatores que impulsionaram o gigantesco progresso da ciência, da arte, da filosofia e da moral, a subordinação feminina foi-se tornando quase inexistente. Assim, vê-se hoje a mulher, senão ao lado do homem no desempenho de todas as atividades que a este diz respeito, pelo menos desfrutando de uma liberdade maior, quer como companheira no lar ou no mercado de trabalho, com direitos e garantias que lhe foram negados no passado.

Assim, na luta pela legitimação dos seus direitos, muitas barreiras ainda precisam ser quebradas, muitos direitos precisam ser conquistados e muitas medidas preventivas e punitivas precisam ser levadas a cabo, mas enquanto ainda não acontece, a admiração e o respeito pelas mulheres devem prevalecer.
  
Anos “70” - A Mulher Locomotiva


 Para a mulher, os anos 70 representaram um marco na sua independência perante a posição masculina no âmbito social. Isso se refletiu na literatura e automaticamente na televisão. Em 1977 o saudoso Cassiano Gabus Mendes trazia para a TV uma novela que retratava exatamente esse universo feminino. Era o tempo das Locomotivas. Ao som da música “Maria Fumaça”, interpretada pelo grupo “Black Rio” na abertura, embalada ainda na trilha pela música de mesmo nome da novela, Locomotivas, por Rita Lee, a novela encantava homens e mulheres com a saga da ex-vedete Kiki Blanche (Eva Todor), que tinha apenas uma filha legitima e um filho e as outras eram adotadas. Com muito charme, uma novela deliciosa e sofisticada que trazia as cores para o horário das sete. Era o inicio de uma nova era para a televisão e para as mulheres.

A ex-vedete Kiki Blanche / Maria Josefina Cabral (Eva Todor) possuía no Rio de Janeiro um salão de beleza onde muitas das personagens se encontravam. Sua filha legitima Milena (Aracy Balabanian) e os adotivos Paulo (João Carlos Barroso), Renata (Thais de Andrade), Fernanda (Lucélia Santos) e a caçula Regininha (Gisela Rocha) conduziam os encontros e desencontros dessa deliciosa história. O grande conflito ficou em torno de Fernanda, que se apaixonou por Fábio (Walmor Chagas), que amava Milena. Essa por sua vez, abria mão do amor em prol da irmã adotiva, uma vez que sabia que Fernanda, na verdade, era sua filha legitima. A revelação só veio no último capitulo, quando Fernanda desistiu de vez de Fábio ao descobrir que sua irmã era a sua verdadeira mãe.

Triângulo amoroso central da novela

 Em outro núcleo, Netinho (Denis Carvalho) vivia cercado pelo amor possessivo de sua mãe (Miriam Pires), ao som da música “Filho Único”, interpretada por Erasmo Carlos, o jovem se apaixonou por Patrícia (Elisângela) e não teve seu amor abençoado pela mãe, sem perceber que o seu grande amor morava ao lado: era a sua vizinha Celeste (Ilka Soares). Quando Dona Margarida descobriu, o casal sofreu, lutou por esse amor e ficou junto no final.

Ainda tinha o português Machadinho (Tony Corrêa) que namorava com Gracinha (Maria Cristina Nunes) e sofria com as intrigas de sua falsa amiga Lurdinha (Teresa Sodré), porém o rapaz acabou se rendendo aos encantos da antagonista da trama, Fernanda (Lucélia Santos). 

Lucélia Santos e Tony Correa em cena
Cassiano Gabus Mendes foi um mestre na teledramaturgia brasileira e responsável por grandes sucessos da televisão com obras memoráveis, como “Anjo Mau, Elas por Elas, Tititi, Brega & Chique, Que Rei Sou Eu?” e muitas outras. “Locomotivas” não foi uma novela em vão, muito menos teve um texto banalizado. Ela marcou sua época trazendo a mulher como comandante de um trem que podemos chamar de “Trem da vida”, esse que até então tinha como maquinista os homens e com a novela, Kiki mostrava que as mulheres eram capazes de assumir esse comando com maestria. Na época, talvez muitas pessoas não entendessem a razão da novela levar o nome ligado a um trem e o logotipo ser uma mulher com a parte inferior de um biquíni a mostra, que soava ousado para aqueles tempos. Mas, Cassiano já tinha os olhos voltados ao futuro, pois com a Lei do Divórcio (6515/77) do mesmo ano da novela, a mulher adquiria sua liberdade podendo tomar as rédeas de sua vida, casando-se, separando-se, tendo filhos com pai ou sem e ainda trabalhando livremente, saindo de um cativeiro em que vivia e sendo a cabeça desse trem, ou seja, sendo a Locomotiva. 

Elenco feminino da novela
As Mulheres na Televisão 

Não só em Locomotivas que a mulher estava sendo representada naquela época. A TV Globo trazia a mulher em muitas de suas obras. Às 18 horas Dona Xepa, que era escrita por Gilberto Braga e adaptada da obra de Pedro Bloch, mostrava a mulher feirante e sem o marido que trabalhava para manter a casa e sendo a comandante do seu lar. Várias outras novelas da época principalmente do horário das 18 horas trazia a mulher como a protagonista, muitas eram adaptações de obras literárias como Nina, Sinhazinha Flô, Maria-Maria, Gina, A Sucessora, Cabocla e várias outras. Era o inicio de uma mudança que não só na dramaturgia estava presente, mas numa sociedade que durante muito tempo deixou a mulher numa camada neutra e que naqueles tempos, marcava uma nova era.

Nas séries a mulher também estava presente. Ciranda Cirandinha mostrava uma juventude em busca de sonhos e liberdade e em 1979 era a vez de Malu Mulher que representou muito bem a mulher separada, uma vez que já no episódio piloto era abordado o processo de separação de Malu (Regina Duarte) e Pedro Henrique (Dennis Carvalho), intitulado “Acabou-se o que Era Doce”.

Após os anos 80, a mulher vinha sendo representada com mais ênfase, podendo trabalhar, casar, separar e ir em busca de seus sonhos como qualquer ser humano na televisão e na sociedade. Mas isso já é outra história...

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ALGUMAS CURIOSIDADES:


  • “LocoMotivas” foi a primeira novela das sete totalmente em cores;
  • Nos créditos, Eva Todor assinava ainda como Eva Tudor, porém seu nome verdadeiro é EVA FODOR, que foi alterado logo que chegou ao Brasil devido à conotação errônea que poderia acontecer.
  • Nos créditos todas as escritas vinham em letra maiúsculas.
  • Era a segunda novela de Lucélia Santos
  • Eva Todor estreava.
  • A televisão exibia as cenas dos próximos capítulos e não do próximo capitulo como nas novelas dos anos 80.
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MARCELO RISSATO é escritor, jornalista, fotógrafo e colunista da Revista “Super Novelas”.

Marcelo Rissato, o melão e eu.
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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Blogueiro convidado: Eduardo Vieira relembra “O pulo do gato”


Como alguns de vocês já sabem, sou nascido no final da década de 70, portanto só fui me tornar espectador de telenovelas a partir do início dos anos 80. Apesar de saber e conhecer muitas tramas anteriores a essa época por ter assistido a cenas de arquivo ou lido e discutido a respeito, não me atrevo muito a falar sobre elas, já que considero o valor da memória e de ser testemunha ocular dos acontecimentos, imprescindível. Por isso, recrutei novamente meu amigo Eduardo Vieira, que vivenciou bastante a década de 70 e propus a ele que falasse sobre a novela que bem quisesse, inclusive sobre as mais obscuras (até preferia). Sempre gentil, Edu atendeu novamente ao meu chamado e escreveu um texto bastante elucidativo sobre a novela “O pulo do gato”, de 1978, pouquíssimo lembrada e que vale a pena conhecermos um pouco. O melão, mais uma vez, agradece a luxuosa contribuição de Edu e apresenta “O pulo do gato”:


De volta aos setenta

por Eduardo Vieira

Como noveleiro que sou, sempre carrego comigo lembranças do tempo que assistia às novelas e as acompanhava mesmo, não perdia capítulo, fingia doença, via duas vezes o final pra me despedir, coisas que só os noveleiros entendem.

Crescemos e viramos bichos críticos. Ainda bem, mas pra ver novela eu pessoalmente acho que se deve aceitar algumas coisas no terreno da ficção: aquele encontro de todos no mesmo restaurante, pessoas que entram na casa de outras sem a chave... é inegável que as próprias novelas encarregaram –se de também quererem ser vida real, às vezes conseguindo chegar quase à perfeição desta, outras vezes beirando a superficialidade que o gênero ainda felizmente permite.

Nos anos 70 e início dos 80, havia um horário para que se pudesse falar sobre temas mais adultos no meio dos “eu te amo, eu te odeio” de todas as novelas. Esse horário, para uma criança da década de 70, era infinitamente tarde (pelo menos pra mim era). Mas ficava eu acordado, disfarçando, pra ver as novelas que não eram permitidas a mim.

Os autores dessa faixa de horário eram sempre escritores mais politizados que defendiam a renda escrevendo pra um gênero que, até há pouco, tinham enorme preconceito. Autores teatrais e jornalistas enveredaram pelos caminhos da telenovela, surgindo nomes como Bráulio Pedroso, Dias Gomes e Jorge Andrade, entre outros. Brincando outro dia com um amigo, disse a ele: “Essa fez novela das dez, merece meu respeito”. Quem era a atriz não me recordo, mas agora me veio essa lembrança da importância que essas novelas tiveram pra mim. Tanto pra entender algumas questões, quanto pra me confundir a respeito de outras.



Entre essas novelas, lembro de uma, a qual tinha a impressão que só eu assistia, tamanho fracasso, comparada a nomes como Gabriela, O Espigão, O Bem Amado. Refiro-me a “ O pulo do gato”, que já me encantava pela literal abertura da música com o seguinte verso: “companheiro dessa minha melancolia” somada a uma melodia maravilhosa da minha ovelha negra Rita Lee.

Havia nessa novela algo estranho que eu não conseguia entender. Não havia uma linha, um casal forte e principal de condução da história, mas um apartamento chique e um prédio decadente em que moravam estranhas pessoas. Havia sim um casal que era um tanto coadjuvante à história central, a de um escroque que vivia sem dinheiro, mas sempre nas altas rodas .

 Bráulio Pedroso escrevia um Beto Rockfeller já na meia idade, Bubby Mariano, vivido pelo ator Jorge Dória, que enganava seus amigos ricos, falsificando quadros junto ao personagem do também grande Milton Gonçalves. Porém algumas pessoas desejavam que ele tivesse uma vida mais real, mais condizente às pessoas normais, como sua namorada Noêmia, Sandra Bréa no auge do talento e histrionismo e sua filha, a tal “mocinha” da história vivida por uma atriz que não seguiu a carreira, Marly Aguiar, que também faria a novela Pecado Rasgado. Mal ela sabe que seu namorado vivido pelo ator João Carlos Barroso também não era flor que se cheirasse, pois ainda era casado, mas tinha vergonha da pobreza de sua esposa e do filho que eles tinham. Nos anos 70 discutir adultério e casais interraciais não era tão comum. A esposa do personagem Nando era feita pela atriz mulata Juciléia Teles.

No prédio, ainda moram o terapeuta de Noêmia, Procópio, um bon vivant, cuja renda nunca ficava muito explícita , pois ele não era muito chegado a trabalhos convencionais; Billy, um surfista que tinha vida dupla fazendo programas com senhoras de mais idade. Aliás, havia até uma “ Stella” da época, antes de Passione, uma mulher que saia às tardes para fazer compras, mas sempre ia se encontrar com jovens rapazes. Era a fogosa Regina, vivida por Lady Francisco, em grande forma física, que era casada com o personagem ciumento de Carlos Kroeber e que tinham um filho jovem e bem rebelde (a censura não permitiria falar a causa da rebeldia), vivido pelo, na época, magrinho Pedro Paulo Rangel.

Como já dito, as histórias nessa novela eram todas um tanto improvisadas, pelo menos era o que parecia ao telespectador. Tanto que sempre que se iniciava um capítulo havia um locutor que enumerava as ações do capítulo anterior ou anteriores. Um locutor a La Lombardi, sobre o qual nunca ficávamos sabendo da identidade. Lembro que as pessoas sempre se perguntavam quem do elenco estaria fazendo essa narração. No final descobre-se que não é ninguém da novela, mas o humorista Paulo Silvino, uma figura inusitada na época em uma novela.

Isso só veio jogar a pá de cal de esculhambação de que a novela já tinha fama. Havia também uma história moderna pra época: a da mãe que compete com as filhas, feita pela elegante modelo Márcia Rodrigues. Os homens gostavam das meninas, mas quando viam a mãe, caíam matando e, pior, ela gostava.

A história toma um ar de aparente normalidade quase pro final quando o casal da novela surge, Mário Gomes e Sandra Bréa, uma espécie de anti-casal. Era uma época em que as mulheres começavam a ter a terapia como prática e os problemas femininos eram levantados, como os complexos da personagem da irmã de Procópio, Sofia, feita visceralmente pela atriz Camila Amado. A atriz tinha cenas de monólogo intermináveis, algo que hoje seria impensável!

Uma das ironias pra mim foi descobrir o porquê do título bem depois: uma alusão aos golpes dos personagens que enganavam homens e mulheres ricas. O tal “pulo do gato” era irmão do jeitinho brasileiro que os autores dessa faixa de horário sempre desejaram criticar; da esperteza, das ações hipócritas de uma sociedade que estava mudando, mas que era retratada de uma forma ainda bem romântica nas ficções dos outros horários. A sorte é que pelo humor podia-se dizer algumas coisas e se tratar de temas mais específicos, algo que ainda hoje é um tanto difícil, pois por vezes alguns desses temas não passam pelo crivo da censura da própria sociedade.

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