AUTORA UNE O MELHOR DO PASSADO E DO PRESENTE EM TRAMA DIVERTIDÍSSIMA
A apreensão em torno da estreia do remake do megasucesso de Cassiano Gabus Mendes era quase tão grande quanto a expectativa, afinal, por mais talentosa que seja a autora Maria Adelaide Amaral e, mesmo sendo discípula do autor da novela original, sempre é perigoso mexer com grandes sucessos, ainda mais se tratando de personagens como Jacques L’eclair e Victor Valentim, que se tornaram quase míticos no imaginário popular. Quando foi anunciado então que a autora iria mesclar tramas de outro sucesso do autor, “Plumas e Paetês”, o receio aumentou. As comparações seriam inevitáveis e Maria Adelaide tinha um grande desafio pela frente. Como escrever uma novela que reverenciasse o passado sem cheirar a naftalina? Como agradar a nova geração sem desagradar os noveleiros mais antigos? Como criar uma história nova, com frescor que, ao mesmo tempo, preservasse a aura e o estilo das tramas do velho Cassiano? E não é que Maria Adelaide conseguiu?
A novela é uma delícia de se assistir. A autora está sabendo, com maestria, criar uma história nova, envolvente, cheia de referências ao melhor do passado e do presente, que diverte, emociona, faz rir, e entretém no melhor sentido da palavra. A opção por incluir o mote central de “Plumas e Paetês” foi um grande acerto e, por que não dizer, um gol de placa. A saga de Marcela (Ísis Valverde) trouxe os elementos do folhetim e do melodrama que justamente faltavam a “Ti-Ti-Ti”. E a trama foi apresentada primeiro,o que causou um estranhamento no início, mas que agora entendemos que foi pra mostrar que, além da comédia rasgada dos costureiros rivais, um novelão dos bons também estava por vir. E Marcela está longe de ser ume heroína chata ou previsível. Sua trama convence e emociona e seu núcleo, através do romance de Osmar e Julinho (Gustavo Leão e André Arteche), trouxe ousadia para o horário das sete e o casal gay, apresentado com muita sensibilidade e bom gosto, caiu nas graças do público. Mesmo com a morte de Osmar, a homossexualidade ainda está sendo abordada, através das conversas de Julinho com a religiosa mãe de Osmar, Bruna, vivida por Giulia Gam. Ela e André Arteche estão ótimos em cena. Diálogos inspiradíssimos, realistas e no tom certo.
Pra terminar, uma das cenas mais hilárias da novela!
Julinho e Osmar: empatia com o público
A parte de “Ti Ti Ti” também começa a pegar fogo com Victor Valentim entrando em cena. Benicio e Borges estão muito bem. Ali a comédia rasgada é totalmente permitida e, diferente da primeira versão, os rivais agora estão com um tom mais infantil, mais cartoon, marca registrada da direção de Jorge Fernando. Caricatural, mas excelente, está Claudia Raia. Diferentemente da classuda Jacqueline de Sandra Bréa da primeira versão, La Raia está usando e abusando da comédia física com seu jeitão pateta e atrapalhado. A sequência dela dançando Ilariê foi uma das mais engraçada dos últimos tempos. E como se não bastasse, o texto de Jacqueline é ótimo, cheio de referências pop e tiradas inspiradíssimas e Claudia Raia está sabendo deitar e rolar. Malu Mader, mesmo parecendo fazer papel de Malu Mader, é sempre um motivo para ficarmos diante da TV. E através dela a gente percebe o ótimo clima dos bastidores. Por várias vezes, ela não consegue conter o riso quando contracena com Borges e Benício. E todos os grandes nomes do elenco estão muito bem, como Christiane Torloni, Elisângela, Dira Paes, Marco Ricca. Entre os jovens, Humberto Carrão faz um Luti diferente da primeira versão, mais calmo, mas igualmente simpático. E novela de Cassiano e Adelaide sem Mila Moreira certamente faltaria algo. Há muito tempo a atriz não tinha um papel tão bom. Esbanja o charme de sempre e merecia vir melhor creditada na abertura. A trilha sonora também é um caso à parte. Regravações deliciosas de sucessos dos anos 80, de grandes clássicos como “Let’s face the music and dance” juntamente com músicas atuais como a bela “O que eu não conheço” na voz de Maria Bethânia. As canções casam perfeitamente com a trama, que casa com a cenografia e os figurinos, que casam com a direção de arte, enfim... tudo muito inspirado. O universo da moda mudou muito desde 1980 e 1985, anos em que Plumas e Ti Ti Ti foram ao ar. E a novela acompanhou muito bem essa mudança e tudo exala e remete ao mundo fashion atual.
Enfim, com tanta coisa boa, “Ti Ti Ti” é uma grande festa e uma feliz junção do texto inspirado de Adelaide com o humor divertido e clown de Jorge Fernando. Diverte o espectador afeito a humor pastelão e não subestima os mais exigentes que prezam, sobretudo, um bom texto. A autora está sabendo como ninguém captar a essência de Cassiano e mesclar com elementos atuais, criando algo novo e absolutamente original. As referências a outras novelas do autor como a cena em que reproduziu a abertura de “Locomotivas” são emocionantes para os saudosistas. Era disso que o gênero precisava: de uma novela que não tem vergonha de ser novela e de homenagear a própria telenovela, que quase sempre pega carona em referências cinematográficas. “Ti Ti Ti”, ao contrário, é uma homenagem não só á obra de Cassiano, mas à teledramaturgia como um todo. Aplausos efusivos para Maria Adelaide Amaral e equipe, que driblaram todas as armadilhas que poderiam fazer a empreitada naufragar e já fazem de “Ti Ti Ti” já disparada melhor novela dos últimos tempos.
Pra terminar, uma das cenas mais hilárias da novela!