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sexta-feira, 12 de abril de 2013

De “Glee” a “Pé na Cova”, o melão também prefere séries



Elenco de "Pé na Cova" reunido

Não é novidade que, em se tratando de teledramaturgia, as telenovelas estão no topo de minha preferência. Mas também adoro séries e acompanho a sua evolução desde os tempos em que as tramas tinham início, meio e fim em cada episódio, até as mais atuais, que ganham cada vez mais ares de telenovela, com seus ganchos e tramas folhetinescas que se estendem por toda a temporada. Enquanto as séries, com seus episódios semanais e por seu formato compacto, permitem um trabalho de escrita mais cuidadoso e um tempo maior em sua elaboração, as novelas, geralmente, têm um processo diário, mais industrial, com prazos mais rígidos e envolvendo um número bem maior de ideias, tramas e profissionais. Por outro lado, as novelas, mesmo as com audiência insatisfatória nunca ficam sem desfecho. Novelas podem ser encurtadas pelo fracasso ou esticadas pelo sucesso, mas a legenda “fim” jamais aparece enquanto todas as tramas não estiverem concluídas ao passo que as séries, caso não correspondam ao sucesso esperado, são canceladas sem dó nem piedade deixando as tramas em aberto e espectadores órfãos, como foi o caso de “Pan Am”, cuja primeira temporada terminou sem desfecho algum, deixando todas as tramas no meio do caminho e o espectador a ver navios, digo, aviões. Por essas e outras razões, as telenovelas ainda são meu porto seguro, o que não me impede de ter minhas séries favoritas e vibrar com cada uma delas.

 Minha favorita de todos os tempos para sempre será “Sex and the City”, pela capacidade de, no decorrer da série, escapar dos quatro arquétipos femininos propostos e criar personagens tão ricos e multifacetados em episódios tão engraçados quanto envolventes. Sim, as quatro meninas de Manhattan habitarão para sempre em meu coração. Mas minhas preferências também passam por “Downton Abbey”, um verdadeiro novelão, e por “Mad Men”, pela perfeita reconstituição de uma época que adoro, pelo subtexto sempre presente e pela total quebra de expectativa a cada episódio. Mas no momento, tenho apreciado as séries mais transgressoras, que rompem com paradigmas ou ousam de alguma forma como “Girls”, “Pé na Cova” e (acredite!), “Glee”.

Lena Dunham em cena de "Girls"
Confesso que gostei mais da primeira temporada de “Girls”, que já ganhou um post aqui no blog. Nessa segunda, a decadence das meninas ficou um pouco mais deselegante. O texto continua genial e as atuações idem. Admiro a coragem e a ousadia de Lena Dunham (criadora, autora, produtora, diretora e atriz da série) ao expor seu corpo fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade em cenas fortes, mas nem por isso apelativas. Mas não consigo mais torcer pela sua personagem, Hannah (uma escritora que não escreve nunca), cujas atitudes beiram à infantilidade. O que seria uma série sobre a difícil inserção dos jovens na vida adulta foi se transformando aos poucos na saga de personagens neuróticos com complexo de Peter Pan que se recusam a crescer. Amor mesmo só por Adam, espécie de “Mr. Big” de Hannah, bem mais amoroso do que o eterno objeto de desejo de Carrie Bradshaw em “Sex and the City”. Ainda sim, considero “Girls” uma boa série com fôlego suficiente para muitas temporadas.

Elenco da terceira temporada de "Glee"
Enquanto isso, “Glee” continua no topo de minhas preferências. Como não amar essa série? E antes que os mais “cults” me apedrejem, considero sim uma série pra lá de transgressora sem parecer ser. Mais transgressora que “Modern Family”, por exemplo, que até acho simpática, mas esconde todos os estereótipos por trás de uma embalagem moderna: a típica família americana, o pai trapalhão, a filha periguete, a filha nerd, o filho lesado e a mãe tentando controlar tudo, o coroa que se casa com a latina sexy e o casal gay assexuado. “Glee”, ao contrário, tem uma embalagem careta: jovens estudantes cantando um punhado de hits de todos os tempos da música pop americana. Mas é justamente essa embalagem, digamos, comercial que fisga o grande público, que embarca pra valer na saga do coral estudantil com todos os seus dilemas típicos da idade. O mais bacana em “Glee” é que as lindinhas são meras coadjuvantes, enquanto as consideradas minorias são o centro das atenções, a começar pela obstinada Rachel Berry, uma força da natureza defendida com brilho e garra por Lea Michele, uma mocinha completamente fora dos padrões convencionais, tanto na aparência quanto nas atitudes, nem sempre éticas. Além dela, há o gay, o cadeirante, a negra obesa, a latina gostosa, a portadora de Síndrome de Down, todos extremamente cativantes e nunca na posição de coitadinhos. “Glee” explora o lado bom do politicamente correto e dá voz a personagens que nunca tiveram vez em outras produções. E verdade seja dita: que outro programa da tevê aberta e voltado para jovens tem a ousadia de, não só mostrar o tão cobrado beijo gay, mas tratar as relações homoafetivas em pé de igualdade com outros romances da série? Os gays de “Modern Family” não chegam nem perto em matéria de ousadia se comparados aos de “Glee”. Acreditem, “Glee” é mais transgressor do que parece ser.

Velório Drive Thru: uma das loucas cenas de "Pé na Cova"
Por fim, outra série que não perco por nada é a nossa, muito nossa “Pé na Cova”. A série de Miguel Falabella é simplesmente deliciosa. Não tem o humor hilariante e escancarado de “Toma lá, dá cá”, nem a crítica tão abertamente corrosiva de “A vida alheia”, criações anteriores do autor. “Pé na Cova” possui esses dois elementos, só que de maneira mais sutil. O humor não é gratuito, todas as piadas têm um objetivo. O programa faz rir, mas também possui uma melancolia que nos leva à reflexão sobre a vida daquelas pessoas carentes de tudo, como diria Milton Nascimento, “uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta”. Os personagens são deliciosos, a começar pelos nomes: Adenoide, Soninja, Luz Divina, Alessanderson, Odete Roitman, Tamanco... O elenco afiadíssimo brilha intensamente, comandados pelos veteranos Marilia Pêra e Miguel Falabella, em atuação comovente, diferente de tudo o que ele já fez como ator. E aquela estética “kitsch”, colorida, mesclada com muitas doses de bizarrice nos remete aos impagáveis e geniais filmes oitentistas de Almodóvar. “Pé na Cova” é um verdadeiro tapa na cara da sociedade, um grito contra a caretice estabelecida em nosso país. Consegue divertir e comover ao mesmo tempo. Sem dúvida, uma das melhores produções de nossa teledramaturgia dos últimos tempos. Absolutamente necessária nos dias de hoje. Que venham outras temporadas.

E enquanto as novas temporadas de “Downton Abbey” e “Mad Men” não chegam, no momento estou conferindo “Smash”, espécie de “Glee” para adultos e achando interessante. Enfim, mesmo que ocupando o segundo lugar no pódio (as novelas, pra mim, são imbatíveis), melão também adora e prefere séries.

Mad Men: genial após seis temporadas
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E vocês? Quais seriados estão assistindo no momento? Melão quer saber. Deixe seu comentário!

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sábado, 15 de setembro de 2012

O sexo, a cidade e nenhum glamour



As quatro protagonistas de "Girls", série sensação do momento.

Nem só de teledramaturgia nacional vive este melão que vos fala. Não posso dizer que sou tão seriemaníaco quanto noveleiro, mas também adoro uma boa série. As atuais estão utilizando cada vez mais os ingredientes das telenovelas como o bom melodrama (“Revenge” e “Brothers and Sisters”), bons ganchos (“Desperate Housewives”) e uma trama que não se encerra com o fim do episódio, indo até o final da temporada ou até mesmo ao final da série. Pelo fato de elas, geralmente, ficarem mais tempo no ar do que as novelas (“A Grande Família” e “Friends” que o digam), a gente acaba se apegando demais aos personagens e, de tempos em tempos, vamos substituindo nossas paixões e dando lugar a novos universos, novas tramas e novos “amigos”. Minha paixão maior continua sendo “Sex and the city”, mas desde o fim das aventuras de Carrie Bradshaw e suas amigas, tenho acompanhado um bocado de séries, dentre as quais cito minhas favoritas “Damages” e “Mad Men”, absolutamente sensacionais. Minha mais nova descoberta (não por acaso citei “Sex and the city”) é a já badaladíssima “Girls”, exibida atualmente na HBO que também narra a saga de quatro mulheres e suas aventuras em Nova Iorque, só que bem mais jovens, também com muito sexo, mas com muito menos glamour.

Hannah e Adam: é tudo somente sexo e amizade
A série é escrita, dirigida e interpretada por Lena Dunham, a mais nova queridinha do showbizz americano. Ela é a protagonista Hannah, jovem que vive o conflito da transição para a vida adulta. Recém-formada, ela agora precisa sobreviver na Big Apple sem a mesada dos pais e ainda lidar com os dilemas de um relacionamento complicado. Apesar de contornos bem mais dramáticos e realistas do que “Sex and the city”, a série explora os mesmos arquétipos femininos de sua antecessora, ainda que de modo menos óbvio. Mesmo assim, é possível fazer a correlação entre as personagens das duas séries. Assim como Carrie (Sarah Jessica Parker), Hannah também é escritora (pelo menos uma aspirante) e também tem o seu Mr. Big, o homem sentimentalmente inatingível do qual ela é dependente afetivamente. Nesse caso é o bizarro Adam (Adam Driver), que mantém com Hannah um relacionamento sem compromissos e com muito sexo. Isso é um diferencial na série: as cenas de sexo são pra lá de cruas, pouco românticas, muito mais realistas e (por que não dizer?) bem mais chocantes do que as da lendária série estrelada por Sarah Jessica Parker.

As lendárias e inesquecíveis protagonistas de "Sex and the city"

As outras garotas também guardam semelhanças com as novaiorquinas anteriores: a bela Marnie (Allison Williams), a exemplo de Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) é prática, controladora e busca um relacionamento sem maiores sobressaltos; Jessa (Jemima Kirke) a sensual garota europeia, liberada sexualmente poderia perfeitamente ser uma sobrinha do furacão Samantha Jones (Kim Catrall); e completando o quarteto, a inocente e virgem Shooshanna (Zosia Mamet), tão romântica quanto a doce Charlotte York (Kristin Davis) e, na história, é justamente Shooshanna a fã inveretada de “Sex and the City”. Ainda que a referência soe como uma alfinetada, é inegável que o universo de “Sex and the city” serviu como inspiração para Lena, só que com bem menos açúcar, menos afeto e doses cavalares de realismo nu e cru.



Apesar de carregar altas doses de humor irônico e sarcástico, “Girls” é, essencialmente, uma série dramática que, em alguns momentos, chega a nos angustiar com situações, muitas vezes humilhantes, pelas quais passam as garotas, sobretudo a protagonista Hannah. Mesmo não sendo tão palatável e divertida como “Sex and the city”, vale muito a pena dar uma conferida no texto inteligente e nas interpretações corajosas de “Girls”, um retrato bastante realista e desglamourizado dos dilemas sofridos pela geração nascida na segunda metade dos anos 80. Garotas imperfeitas que já não sonham com o homem perfeito e que buscam afirmação afetiva e profissional em tempos de crise em ambos os aspectos.

Lena Dunham: autora, diretora e protagonista da série
“Girls” é exibida pelo canal HBO toda segunda às 22 horas com várias reprises durante a semana. Ainda dá tempo de conferir.
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