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sábado, 18 de agosto de 2012

A indomada Carminha e a consagração definitiva de uma grande atriz.




Há alguns dias atrás ao assistir a mais um eletrizante capítulo de “Avenida Brasil”, comentei no twitter que as caras e bocas de Carminha eram impagáveis, uma melhor que a outra e completei afirmando que sua intérprete, Adriana Esteves, tinha tomado aulas com Regina Duarte. Algumas horas depois, uma seguidora me perguntou se aquilo tinha sido um elogio, já que ela adorava as duas atrizes. Respondi apenas mandando a ela o link de meu texto “O dia em que conheci Clô Hayalla”, respondendo de forma indireta à sua pergunta.

Mas o que, a princípio, parecia apenas mais uma frase imediatista de efeito, a exemplo de 99% do que é publicado na referida rede social, tinha mais fundamento do que eu imaginara. De fato, a trajetória das duas atrizes é bastante semelhante, bem como seus estilos de interpretação. Regina Duarte, no início da carreira, exalava ternura e reinou absoluta durante muito tempo como a “Namoradinha do Brasil”, até provar que era muito mais do que isso em “Malu Mulher” (1979) e logo depois deu um giro de 180 graus em sua carreira como a mítica e espalhafatosa Viúva Porcina, de “Roque Santeiro” (1985), tornando-se a atriz mais importante e representativa da televisão brasileira.

Adriana Esteves também começou fazendo um papel fofo como a gata de praia Tininha em “Top Model” (1989) e confirmou essa vocação de namoradinha nas novelas seguintes, “Meu bem, meu mal” (1990) e “Pedra sobre Pedra” (1991). A enxurrada de críticas (injustas, na minha opinião, já que o problema era mais com a personagem do que com a atriz) quase a fez desistir da carreira em “Renascer” (1993). Mas ela voltou em uma passagem rápida pelo SBT na lacrimogênea “Razão de Viver” (1996) e logo depois retornou à Globo em grande estilo como a protagonista de “A indomada” (1997), em que Eva Wilma deitou e rolou como a endiabrada vilã Altiva, mas Adriana não fez feio e defendeu com dignidade a personagem com os recursos que tinha. A grande virada em sua carreira veio com a “piriguete” (naquela época esse termo ainda nem era usado) Sandrinha em “Torre de Babel” (1998), na qual Adriana pôde mostrar sua faceta cômica e sensual. Como prêmio, acabou sendo a grande assassina da trama, responsável por explodir o Tropical Tower Shopping, que acabou com a vida de vários personagens da novela. Mais tarde, em “O cravo e a rosa” (2000), mostrou que também é ótima no humor escrachado. Sua folha de bons serviços prestados também inclui a Celinha de “Toma lá dá cá” (2007/09) e a visceral Dalva de Oliveira em “Dalva e Herivelto” (2010). A carreira de Adriana já estava mais que consolidada e ela não precisava mais provar pra ninguém a grande atriz que é. Até que veio o furacão Carminha de “Avenida Brasil” (2012), que a colocou definitivamente na galeria das grandes atrizes televisivas de todos os tempos.

Adriana Esteves em um momento catártico de Carminha

Na pele de Carminha, Adriana Esteves nos brinda não somente com uma brilhante interpretação, o que já seria louvável, mas não um fato único, já que muitos e muitos atores brilham com grandes interpretações em praticamente todas as novelas todos os anos (felizmente somos riquíssimos em talento). Adriana vai além: ela nos oferece a coragem, o risco de se aventurar na corda bamba, no limite do ridículo e do caricato. E é nesse ponto que me lembro de Regina Duarte e sua genial Clô Hayalla, que chegava às raias do exagero e ditava o tom adequado do delicioso melodrama de “O astro” (2011) se fazendo antológica. Adriana também é dessas “atrizes trapezistas”, que não estão nem aí para o risco e fazem piruetas interpretativas sem rede de proteção. O resultado pode ser uma tragédia ou a consagração. Felizmente, a segunda opção já está garantida, já que as caretas, os gritos, as expressões de euforia e fúria de Carminha já conquistaram definitivamente o público. Portanto, querida seguidora, quando comparei Adriana com Regina estava fazendo um grande elogio. E acredite. Ser comparada com Regina Duarte é um elogio para poucas.

Regina Duarte na pele de Clô Hayalla em "O astro"

Melão quer saber: qual seu personagem favorito de Adriana Esteves?
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LEIA TAMBÉM:

O dia em que conheci Clô Hayalla

quinta-feira, 29 de março de 2012

Avenida Brasil: um conto de fadas pós-moderno.



Foi-se o tempo em que a Branca de Neve precisava de um príncipe para salvá-la das maldades de sua madrasta má. A Branca de Neve do século XXI levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Vai à luta para recuperar o que perdeu e se vingar daqueles que fizeram mal a ela. Nesse início da nova novela das nove, “Avenida Brasil”, e a julgar pelas informações que temos do que virá pela frente, é impossível não fazer alusão ao famoso conto de fadas dos Irmãos Grimm. Só que, ao invés do Reino Encantado, o universo da trama é a movimentada e pulsante Avenida Brasil, que corta os principais bairros do subúrbio carioca.

Rita (Mel Maia) e Carminha (Adriana Esteves) em excelentes atuações

Assim como no conto de fadas, a menina Rita (Mel Maia, um escândalo de talento) é vítima da maldade de sua madrasta, a terrível Carminha (Adriana Esteves com o diabo no corpo), que dá o golpe no pai da menina (Tony Ramos, genial como sempre) e, após se apropriar do dinheiro dele, pede ao “fiel caçador”, digo, ao comparsa Max (Marcello Novaes), que abandone a menina em um lixão. Assim como a floresta do conto de fadas, o lixão da novela é um lugar cheio de perigos, com direito a velho do saco e tudo (outra lenda que aterrorizava as criancinhas). No lugar dos sete anões, Rita será amparada pela personagem de Vera Holtz. A menina cresce disposta a acertar as contas com sua rival. A partir daí, só mesmo o autor João Emanuel Carneiro e sua inspirada equipe poderão nos surpreender com situações pra lá de eletrizantes, assim como foram os primeiros capítulos da trama, que não deixaram ninguém desgrudar os olhos da telinha da tevê e da tela do computador, já que todos os Trending Topics do Twitter eram sobre a novela.

João Emanuel Carneiro não tem o estilo operístico de um Aguinaldo Silva, tampouco o naturalismo de um Manoel Carlos. Seus personagens também não possuem a dimensão humana dos personagens dos folhetins de Gilberto Braga, em que as vilãs, muitas vezes, ganham a simpatia do público, que enxerga nas atitudes delas muitas de suas próprias atitudes. No entanto, João Emanuel Carneiro tem se mostrado mestre em conduzir tramas emocionantes cheias de reviravoltas e vilões capazes de tudo para atingirem seus objetivos sem demonstrarem remorso algum, como foi o caso da psicopata Flora, célebre personagem de Patricia Pillar em “A Favorita”. Ao que tudo indica, a Carminha de Adriana Esteves vai pelo mesmo caminho, sempre com diálogos inspirados e um jeitão debochado e irônico que faz com que o público vá ao delírio. Já estamos com medo da maçã envenenada que esta madrasta má está a preparar para sua enteada, que na segunda fase vai ser vivida por Debora Falabella.

Debora Falabella, que viverá a heroína na segunda fase da trama

Enfim, as tramas de João Emanuel Carneiro nunca me remetem à realidade, mas sim a uma deliciosa fábula reinventada em que príncipes encantados dão lugar a tipos bem populares como jogadores de futebol, que são os heróis da atualidade, como são os personagens dos protagonistas masculinos vividos por Murilo Benício e Cauã Reymond. A doçura e a inocência dos contos de fadas tradicionais dão lugar a um clima sombrio, assustador, de permanente tensão, em que os heróis são capazes de atitudes tão condenáveis quanto às atitudes dos vilões. Por isso, prevejo muita emoção e tensão pelos próximos meses, principalmente quando a Branca de Neve em questão decidir tomar as rédeas de sua vida e partir para sua terrível vingança. A madrasta má que se cuide... 

sábado, 9 de janeiro de 2010

Uma canção de amor, um carinho para o público.





Em 2001, quando havia acabado de ingressar na Faculdade de Letras da UFRJ, tive o privilégio de assistir logo em minha primeira semana de aula, uma palestra com a autora Maria Adelaide Amaral, de quem já era admirador por conta do remake de Anjo Mau e da minissérie A muralha. Àquela altura, ela havia acabado de adaptar para TV o romance Os maias (talvez seu mais primoroso trabalho) e nos falava sobre a repercussão da minissérie. Lembro que fiquei tão impressionado com tamanha inteligência, cultura e classe que escrevi uma crônica sobre a palestra com o título de “Encontro com Minerva” para um concurso promovido pela faculdade. Minha crônica não venceu, mas a partir daquele encontro, meu fascínio pela escrita televisiva voltou a ser despertado e fiquei ainda mais fã de Maria Adelaide.

Por esse motivo, não tive nenhuma surpresa ao me deparar com a delicadeza, o primor e o deslumbre do trabalho da autora em “Dalva e Herivelto – uma canção de amor”. Biografias são sempre perigosas, ainda mais se tratando de duas figuras públicas, cuja historia deixou muitas marcas na família de ambos. De cara, notei que a autora fugiu de uma abordagem mais documental ao eleger os últimos momentos de Dalva e a expectativa pela visita de Herivelto como fio condutor. Com isso, criou-se ganchos, entrechos e deixou a história com cara de épico, de novelão, que fisgou o público desde o primeiro momento. Sem medo de ferir suscetibilidades, muitas vezes o texto deixava a reverência de lado e tornava-se ácido, mordaz, provocador. Enfim, Maria Adelaide conseguiu emprestar a uma história que já era interessante por si só muitas pitadas dos mais saborosos temperos ficcionais das grandes obras: paixão, lirismo, poesia, música, conflitos, tudo na dose certa. Parabéns a ela e a sua dupla de colaboradores, Letícia Mey e Geraldo Carneiro.

“Dalva e Herivelto” foi um acerto do começo ao fim. Texto, elenco, direção de Denis Carvalho, inclusive a musical da dupla Möeller-Botelho, maravilhosa, produção de arte, figurino, edição, enfim, uma aula de como se fazer televisão com audiência e qualidade. Adriana Esteves foi soberba, sobretudo quando “interpretava” Dalva no palco. Sem o recurso da imensa voz da cantora, a atriz foi fantástica nos gestos, nas expressões arrebatadas e na emoção. Fábio Assunção também pegou todos os trejeitos do compositor. Aliás, todos os atores que interpretaram os cantores do rádio estiveram perfeitos em suas composições. Nando Cunha trouxe Grande Otelo de volta e a saudade que sentimos dele. O que foi a Dercy de Fafy? Impagável. Um show à parte! Mas, sem dúvida, a cena mais emocionante, foi a final, com Pery (Thiago Fragoso, perfeito! Aplausos, aplausos e aplausos pra ele!) sussurrando uma canção para a mãe em seus momentos finais. Uma cena que, sem dúvida, emocionou muita gente e vai entrar pra galeria das grandes cenas de todos os tempos. Sensibilidade pura! E os cortes, a edição, a seleção de cada canção no momento certo fechando com a deslumbrante “Hino ao amor”. Tudo na medida certa, como uma composição perfeita.

Arrisco a dizer que essa minissérie entrará para a história. Que maravilha que os jovens conheçam um pouco da história da nossa música, sobretudo a de um período tão rico como a época do rádio. “Dalva e Herivelto” é um tipo de trabalho que, não só nos proporciona prazer, entretenimento e emoção, mas também nos enche de orgulho! Parabéns a nossa TV por produzir algo de tão alto nível. Ainda resta uma esperança... Que venham muitos outros encontros televisivos com “minha” Minerva!

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