domingo, 28 de outubro de 2012

TEMAS E TRILHAS - ZÉLIA DUNCAN




A nova edição de “Temas e Trilhas” é dedicada a aniversariante do dia, Zélia Duncan, que já foi responsável por inúmeros sucessos que figuraram em nossa teledramaturgia. Para a difícil tarefa de elencar apenas 10 canções, melão recrutou um dos maiores fãs da cantora: o queridíssimo Thiago Henrick que, além de noveleiro de primeira, é uma das pessoas que mais entende de música que conheço. Thiago é dono do já cultuado “EnTHulho Musical”, que mesmo em recesso, continua sendo um dos melhores blogs de MPB existentes. Zélia dispensa quaiquer apresentações, mas Thiago a descreveu de forma tão brilhante que já passo a bola pra ele ainda na introdução. Vamos às nossas favoritas:


- AS PREFERIDAS DO THIAGO:

“Hermética popular” – Marília Gabriela certa vez utilizou essa expressão para definir Zélia Duncan e o fez muitíssimo bem. “Às vezes, você canta coisas tão intimistas, que muitos podem sequer entender, entretanto estão lá, cantando em coro e vibrando com seu show”.
Isso é verdade. Por mais que involuntariamente ostente essa postura de “cult”, Zélia faz um enorme sucesso popular, sobretudo quando suas músicas tocam nas novelas. E a própria adora isso! Como já relatou em entrevistas, “A Próxima Vítima” foi vital para que esse sucesso aparecesse, pois “Catedral”, sua versão para o sucesso da cantora britânica Tanita Tikaram, foi tema de um dos casais importantes da novela, vividos por Viviane Pasmanter e Marcos Frota, e lhe projetou de vez. “Confidenciei isso à Viviane um dia, quando a encontrei num aeroporto: que torcia para que a Irene e o Diego ficassem logo juntos para que tocassem a minha música”.
Sou muito suspeito para elogiar a Zélia. Segura, charmosa, talentosa, inteligente, dedicada, sem abertura a estrelismos, uma voz contida e linda e já conta um repertório de trabalhos apresentados muito acima da média. Escolher cinco momentos seus nas novelas foi um trabalho duro, mas procurei eleger cinco bastante representativas de sua trajetória nas trilhas.
Espero que gostem!


5- JURA SECRETA – DA COR DO PECADO (2004)



A composição de Sueli Costa/Abel Silva já havia sido tema de abertura de novela da Globo na voz de Simone – no caso, “Memórias do Amor”, de Wilson Aguiar Filho (1979). Zélia regravou a canção e ela foi tema de Paco (Reynaldo Gianecchini) e Preta (Taís Araújo), casal principal da novela “Da Cor do Pecado”, estreia solo de João Emanuel Carneiro, na faixa das 19h (2004). Na minha humilde opinião, Zélia retirou os excessos de Simone e suavizou a forte letra, conseguindo uma melodia deliciosa e conquistando meu quinto lugar no ranking daqui do Melão.

4- DIZ NOS MEUS OLHOS (INCLEMÊNCIA) – ALMA GÊMEA (2005/2006)
“Diz nos Meus Olhos” é do álbum “Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005)”. Zélia musicou um poema de Guerra Peixe, compositor de Petrópolis (RJ) e o resultado final caiu como uma luva pro clima de época da novela “Alma Gêmea”, que sublinhava as maldades da vilã Cristina (Flávia Alessandra). Sabe quando a sonoplastia casa harmonicamente com a obra? É o caso...

3- BREVE CANÇÃO DE UM SONHO – CHEIAS DE CHARME (2012)



Exclusivamente para “Cheias de Charme”, novela de estreia dos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, Zélia pôs voz em “Breve Canção de Um Sonho”, belíssima música de Dimitri Rebello com letra da compositora. Não pertence a nenhum disco específico – o que lembra muito a prática antiga e atualmente pouco constante de se criar músicas exclusivamente para os folhetins televisivos – até Cheias de Charme - que quebrou esse tabu e teve uma das mais belas trilhas sonoras dos últimos tempos! Na trama, pontuou muito bem o romance entre a empreguete Rosário (Leandra Leal) e Inácio (Ricardo Tozzi).

2- CARNE E OSSO – SE7E PECADOS (2007)



Carne e Osso”, parceria de Zélia com Paulinho Moska, foi tema de abertura de “Se7e Pecados”. Em entrevista em 2011 ao “Sem Censura”, Zélia contou que a canção chegou à novela com uma ajudinha da própria. Jorge Fernando havia lhe encomendado uma música para integrar um dos núcleos-pecados capitais da trama, e ela respondeu. “Tá, mas por enquanto ouve essa aí”, Ele ouviu e achou que tinha tudo a ver com a proposta da trama, ganhando, assim, a abertura. Hoje vejo que foi praticamente a única coisa que funcionou na novela...

1- ENQUANTO DURMO – SALSA & MERENGUE (1996/1997)

 O primeiro lugar vai mais para a personagem do que para a trama em si. A excepcional Teodora (Débora Bloch), esposa possessiva de Eugênio (Marcello Anthony) era divertidíssima, tinha a língua afiada e roubou todas as cenas que apareceu. Aliada a um texto afiado, tinha “Enquanto Durmo” ao fundo de suas cenas, dando mais charme ainda à antagonista. A música consta no álbum “Intimidade” (1996), abrindo o disco com um barulho de trovão seguido do violãozinho bem dedilhado que é bem característico dessa fase “folk” de Zélia. “Se a chuva é boa, deixa cair”.


- AS PREFERIDAS DO VITOR:














5- VERBOS SUJEITOS – LABIRINTO (1998)
Oficialmente era o tema da hilária Yoyô (Isabela Garcia). Mas o tema tocava sempre que alguém começava a transar. De uma forma ou de outra, combinava perfeitamente com a atmosfera sensual e sexual da minissérie de Gilberto Braga, que tinha aquele ar “decadence avec elegance” irresistível de suas obras. Mesmo tendo conhecido a canção antes da minissérie, agora sempre que a ouço lembro de “Labirinto”.

4- NÃO VÁ AINDA – QUEM É VOCÊ (1996)
Uma das minhas canções favoritas da cantora, que abre o álbum de 1995 que a consagrou. Confesso que pouco assisti à novela, mas a ouvi algumas embalando os encontros e desencontros de Afonso e Maria Luiza (Alexandre Borges e Elizabeth Savalla). As lembranças que tenho são muito mais do final de minha adolescência em Petrópolis em que ouvia esse CD sem parar, mas sempre repetia essa música que, além de linda melodicamente, tem uma letra arrasadora. “Por favor não vá ainda, espera anoitecer. A noite é linda, me espera adormecer” (quem nunca? rs...)

3- DREAM A LITTLE DREAM OF ME – SENHORA DO DESTINO (2004)



Canção do maravilhoso álbum “Eu me transformo em outras”, que caiu como uma luva para o adorável casal, o barão Pedro e a baronesa Laura, vividos magistralmente por Raul Cortez e Gloria Menezes, casal de aristocratas falidos que não abrem mão do charme, da classe e da elegância. O casal era absolutamente adorável e a interpretação charmosa de Zélia só fez com que torcêssemos ainda mais por eles.  

2- NOS LENÇÓIS DESSE REGGAE – CONFISSÕES DE ADOLESCENTE (1994)



Uma das canções mais conhecidas de Zélia, mas pouquíssimo lembrada em uma trilha sonora. Foi tema do cultuado seriado “Confissões de Adolescente”, exibido na TV Cultura e depois na Band. Lembro especificamente de um episódio em que a canção tocou o tempo todo embalando o romance da ainda pré-adolescente Deborah Secco, que vivia Carol, a caçula das irmãs. Carol acaba de ganhar um novo colega de classe, vivido por Victor Hugo e acaba tendo seu primeiro beijo com ele. Uma verdadeira pérola, que também contou com as participações de Leandra Leal e Dudu Azevedo ainda bem novinhos. E a cena final do episódio é ótima com o casalzinho namorando na praia. Uma relíquia que vi e revi várias vezes.


1- CATEDRAL – A PRÓXIMA VÍTIMA (1995)
Mesmo já citada pelo Thiago na introdução, essa canção não poderia ficar de fora do ranking. Mais do que isso: merece o alto do pódio, pois foi a que projetou Zélia nacionalmente e, como o Thiago já disse, foi tema do romance de Irene (Viviane Pasmanter) e Diogo (Marcos Frota) em “A próxima vítima”, blockbuster de Sílvio de Abreu. Curiosamente também tocou em "Confissões de Adolescente". Lembro de um episódio em que Natalia (Daniele Valente) vai acampar e acaba ficando com o personagem de Rodrigo Penna ao som dessa canção. Mesmo tendo ouvido a música na novela e na série, confesso que minha memória afetiva em relação a ela vai bem além disso. Me lembra uma época de muitas descobertas em minha vida quando ainda morava em Petrópolis (impossível não lembrar sempre que passo pela catedral da cidade). Uma de minha canções favoritas, não só do repertório de Zélia, como de todas as canções que conheço. É daquelas que, mesmo tocando incessantemente, eu nunca enjoei e jamais deixei de ouvir.


BONUS TRACK: SUPER HOMEM: A CANÇÃO – DELEGACIA DE MULHERES (1990)
Não resisti e cito aqui essa pérola pouco conhecida, do tempo que a cantora ainda assinava sob a alcunha de Zélia Cristina, chegando a lançar um disco com esse nome. A canção fez parte da trilha da série “Delegacia de Mulheres” e embalava a complicada relação da policial Marineide (Lucia Veríssimo) com o detetive Zé Paulo (Marcos Paulo). Essa é do baú e só pra iniciados (risos).


Melão agradece a luxuosa contribuição de Thiago, deseja feliz aniversário à nossa querida Zélia e que suas canções continuem a embalar muitas trilhas de novela.

E vocês? Quais seus temas favoritos na voz da cantora?

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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Avenida Brasil: fábrica de catarses





Costumo dizer que todo brasileiro é um pouco técnico de futebol e autor de novela, duas paixões que, definitivamente, já fazem parte de nosso patrimônio cultural e por isso mesmo nos sentimos um pouco donos e queremos “zelar” pela qualidade de ambos, exaltando quando tudo vai bem e também reclamando com a mesma paixão quando não estamos satisfeitos com o desempenho de uma novela ou de um time de futebol. No caso das novelas, sobretudo as do horário nobre, os ânimos se exaltam, para o bem ou para o mal. Mas há muito tempo uma novela não causa tanta comoção e mobilização popular quanto “Avenida Brasil”, que poderia perfeitamente se equivaler à final de uma Copa do Mundo. E hoje, no dia de exibição do último capítulo, além do buxixo de telespectadores por toda a parte, chovem análises de especialistas tentando explicar o fenômeno causado pela novela.

O fato é que ninguém sabe ao certo o porquê de uma novela fazer sucesso. Se existisse uma fórmula, não haveria mais fracassos e tudo seria muito mais sem graça. Perderíamos a apreensão, o frio na barriga, a surpresa e tudo seria automático e chato. Podemos, sim, apontar aspectos que podem ter levado a esse sucesso. Os números de audiência não foram dos mais expressivos e se equivalem às suas antecessoras, o que nos faz crer que audiência não é repercussão. É algo mais efêmero e interessa mais do ponto de vista comercial, mas, necessariamente, não torna uma novela memorável.

Dizem que o sucesso se deve ao fato de a novela ser pioneira na abordagem do universo da classe média em detrimento da classe hegemônica, mas “Rainha da Sucata” já mostrava, há mais de 20 anos atrás e com muito sucesso, a ascensão da classe média frente à falência da aristocracia paulistana. Claro que em “Avenida Brasil” essa abordagem se ampliou e esteve presente na maioria absoluta dos núcleos da novela e gerou um forte sentimento de identificação junto ao público. Mas acredito que a composição dos personagens foi tão boa que ultrapassou essas barreiras sociais, gerando uma identificação geral, não só em relação aos moradores do Divino, como também no núcleo de Cadinho (Alexandre Borges) e suas mulheres. Aliás, os novos e diversos modelos de família mostrados pela novela também são apontados como fator de sucesso, mas isso não é novidade: é tendência.

E há os que dizem que a novela não tenha inovado em nada e foi apenas uma boa novela, mas como negar a estética cinematográfica, a câmera nervosa, a direção inspirada e a agilidade da trama? Se, na essência, “Avenida Brasil” foi um autêntico folhetim, com direito a trama de vingança já contada e recontada em tantos clássicos, por outro lado, subverteu e brincou com muitos símbolos da dicotomia bem X mal, como por exemplo, a mocinha ter características sombrias e usar roupas sempre escuras, enquanto a vilã era feliz, alto astral e usava roupas claras o tempo todo. Outra subversão de linguagem foi o fato dos atores falarem alto e ao mesmo tempo, algo que aprendemos que não se deve fazer em nossas primeiras lições de dramaturgia. Aqui, sob a batuta de Amora Mautner e José Luiz Villamarin, esse “ruído” soava como música aos nossos ouvidos, afinal que família reunida não fala alto e ao mesmo tempo? Elenco brilhante e texto inspirado, de olho nas tendências e neologismos, sobretudo os nascidos na internet, são outros aspectos que podem ser somados às inúmeras qualidades da novela.

Como nem tudo são flores, também houve quem apontasse muitas falhas na novela (afinal somos 190 milhões de autores), como, por exemplo, o já tão falado fato de Nina (Débora Falabella) não ter salvado em formato digital as fotos que serviriam pra desmascarar sua inimiga e todos os desdobramentos pouco críveis que sucederam a esse fato e fizeram com que Max e Carminha (Marcelo Novaes e Adriana Esteves) recuperassem todas as cópias das fotos. O fato de Nina não estar presente durante a desmoralização de Carminha perante Tufão (Murilo Benício) e sua família também gerou frustração em muita gente, uma vez que toda a trama de vingança fora planejada por ela e era o mote central da novela. Falando na vingança, também foi quase imperdoável toda a hesitação de Nina em mostrar as tais fotos para Tufão. Ora, se o desejo de vingança da moça foi maior até do que o amor que ela sentia por Jorginho (Cauã Reymond) não poderia ser menor do que a compaixão por Tufão. Mas o público (que não é bobo) entende que tudo isso faz parte do jogo e era essencial para o desenrolar da trama e continuou a percorrer essa avenida até o fim.

O fato é que “Avenida Brasil” foi uma verdadeira fábrica de catarses. Em praticamente todos os capítulos, havia uma discussão em tom maior, mantendo a tensão e prendendo o espectador durante toda a novela, fazendo com que todos os capítulos fossem imperdíveis, já que sempre tinha alguma coisa acontecendo. A novela não deu folga para o espectador, que ficou sem fôlego durante todos esses meses e não vê a hora de conferir o seu desfecho.

“Avenida Brasil” se junta a “Selva de Pedra”, “Roque Santeiro”, “Vale Tudo” e algumas outras na galeria das grandes telenovelas. Cada uma dessas novelas se destacou por um aspecto específico. A trama de João Emanuel Carneiro será lembrada principalmente pelo tom catártico que permeou toda a estória. Como já apontei na primeira semana da novela, a história nada mais é do que um conto de fadas, uma recriação da fábula da Branca de Neve que, no original, perdia tudo para a madrasta e se resignava. Mas a Branca de Neve pós-moderna não quer só justiça. Quer revanche. E tudo isso com muita tensão e agilidade. A catarse, que sempre foi guardada para os momentos-chave de uma novela, em “Avenida Brasil” foi permanente e não nos deixou respirar. Durante todos esses meses fez o Brasil parar. “Agora que 'O Astro' acabou vamos cuidar da vida, que o Brasil está lá fora esperando”. Essa frase de Drummond em relação à trama de Janete Clair em 1978 pode ser perfeitamente reproduzida em 2012 para “Avenida Brasil”.

Vitor de Oliveira

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A catarse





terça-feira, 9 de outubro de 2012

#OiOiOi Quer ganhar ingressos para “NOVELA BRASIL”? O melão te leva ao teatro!


RESULTADO DA PROMOÇÃO:

VENCEDORES:
- ALESSANDRO DE OLIVEIRA DA SILVEIRA (1 par de ingressos para terça 16/10 às 21 horas)
- CRISTIANE OLIVEIRA DE SOUZA (1 par de ingressos para quarta 17/10 às 22 horas)

Os ganhadores devem enviar um e-mail confirmando presença para conteudo@brainstorming.art.br informando nome completo e RG.

PARABÉNS AOS VENCEDORES E OBRIGADO A TODOS OS PARTICIPANTES!

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Quer assistir ao vivo a um capítulo de “Avenida Brasil”? Bom, isso nem o melão pode fazer por você (sorry...rs). Mas se você quiser conferir o sensacional espetáculo “NOVELA BRASIL”, em cartaz no Theatro Net Rio até o dia 31/10, terças e quartas, às 21 horas, basta responder à seguinte pergunta:

Por quem você torce em “Avenida Brasil”? Nina ou Carminha? Por quê?

Os autores das duas melhores respostas ganharão um par de ingressos para assistir ao espetáculo nos dias 16 e 17/10. Não esqueça de deixar seu nome completo ao responder.


NOVELA BRASIL é uma deliciosa paródia do sucesso de João Emanuel Carneiro idealizada pelos talentosos Rodrigo Fagundes e Wendell Bendelack, que dão vida à Calminha e MiNina, respectivamente. Além de vários personagens de “Avenida Brasil”, outros tipos inesquecíveis como Perpétua, Maria de Fátima, Nazaré Tedesco, Vlad e muitos outros também estão nesse espetáculo que homenageia de forma hilariante nossa teledramaturgia.

O que você está esperando? O final da novela? Nada disso? Deixe sua resposta agora mesmo e concorra. Te espero no teatro! 

Resultado da promoção: domingo, dia 14/10 a partir das 20 horas. 



Theatro Net Rio
Rua Siqueira campos, 143 2º piso
Copacabana - Rio de Janeiro - RJ

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

AS EMPREGADAS QUE CONQUISTARAM O BRASIL


Blogueiro convidado: André Luis Cia vai além das empreguetes e relembra outras empregadas.

Não é de hoje que as empregadas domésticas são destaque em nossa teledramaturgia. Há quase 50 anos atrás, Rosamaria Murtinho já protagonizou uma novela da TV Excelsior de 1964 chamada “A moça que veio de longe”, no papel de uma empregada. Também merece destaque as empregadas protagonistas de “Sem lenço sem documento”, novela que Mário Prata escreveu em 1977. No entanto, é inegável que elas nunca ganharam tanto destaque quanto estão ganhando agora. Esse assunto já foi tema do melão em um post em parceria com Eddy Fernandes. Mas para celebrar o sucesso das empreguetes de “Cheias de Charme” e também para relembrar outras célebres domésticas, o melão convocou o roteirista e noveleiro André Luis Cia, que recorre à sua memória afetiva, citando suas favoritas. Vamos a elas. 


AS EMPREGADAS QUE CONQUISTARAM O BRASIL

Por André Luís Cia



Coube à dupla Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, estreantes como autores titulares em novelas, a ousadia e o desafio de alçarem ao posto de protagonistas três empregadas domésticas no horário nobre. O tiro que podia ter saído pela culatra foi um grande acerto e a trama de “Cheias de Charme”, que entra em seus últimos dias de exibição foi um dos maiores sucessos da TV Globo na faixa das 19h. A audiência, muitas vezes, chegou a números surpreendentes, próximos ao do folhetim das 21h.

Muito desse sucesso deve-se ao carisma das três atrizes: Taís Araujo (Penha), Leandra Leal (Rosário) e Isabella Drummond (Cida). Todas as três com Maria no primeiro nome, mas conhecidas mesmo pelo segundo. Mulheres brasileiras acima de tudo: no nome e também na personalidade porque apesar das adversidades que passaram nunca perderam o desejo de lutar e de vencer. Talvez por isso tenham conquistado o Brasil e também a crítica televisiva. Na mesma novela, Titina Medeiros, que vive a empregada Socorro também convenceu e ganhou espaço, inclusive, muitas das cenas inesquecíveis de “Cheias de Charme” teve a participação direta ou indireta da atriz.

Depois de muitos anos, o horário das 19h recuperou o prestígio que tinha no passado. Ansioso para que o remake de “Guerra dos Sexos”, que está sendo reescrita também pelo seu titular Silvio de Abreu repita os mesmos números de Cheias de Charme. Não tenho dúvida que conseguirá tal proeza, pois a trama marcou toda uma geração nos anos 80, inclusive a minha.

Mas retornando à Cheias de Charme, tenho que parabenizar o brilhante texto dos autores. Lançar-se no mercado num trabalho solo ainda mais num horário tão competitivo e cobrado não é tarefa para qualquer um. Filipe e Izabel, apesar da experiência de colaboradores em outras novelas, podiam ter decretado suas próprias aposentadorias com esse texto. Ainda bem que o resultado superou qualquer perspectiva e já foi anunciado que a dupla poderá ocupar o posto deixado por Carlos Lombardi em 2013 (que foi para a TV Record), ou seja, garantia de um novo trabalho à vista.

Fico feliz em saber que a TV está abrindo espaço para novos talentos na dramaturgia. Essa abertura de mercado é fundamental para o fortalecimento e renovação do produto telenovela. Como tudo nessa vida, a dramaturgia também pede coisas novas e sangue diferente sempre faz muito bem. Palmas para quem valoriza o novo e se espelha no velho. Essa é a fórmula da vida: unir experiência com juventude porque são os ciclos que movem o mundo e a roda giratória humana.

Antes de Cheias de Charme, outras novelas também tiveram empregadas que se destacaram muito mais do que a sinopse previa. Vale ressaltar aqui que isso aconteceu por  mérito total de suas intérpretes aliado ao olho clínico do autor que percebeu o diamante bruto que tinha em mãos e que só precisava ser lapidado.

 Em “Fina Estampa”, por exemplo, de Aguinaldo Silva, uma dupla de empregados literalmente roubou a cena: o mordomo Crô Valério  e Marilda (Kátia Moraes), brilhantemente interpretado pelos dois conquistaram o público com seus bordões e bom humor. Os momentos mais divertidos da novela foram do núcleo deles. Fizeram tanto sucesso que  Crô e Marilda serão transportados também pelas mãos de Aguinaldo Silva para a telona dos cinemas. Garantia de muita diversão para todos os fãs que ficaram saudosos dessa dobradinha que deu certo.

Há de se destacar ainda que Kátia, ao contrário das protagonistas de Cheias de Charme, estreava na TV. Por esse motivo, todos os méritos devem ser atribuídos à atriz que estreou com os dois pés muito bem fincados na nossa telinha. Tiradas como “anã de jardim”, “pigméia”, “meia porção”, “chaveirinho” e o momento da desforra com Tereza Cristina (a vilã charmosa de Cristiane Torloni) marcaram definitivamente a personagem.


Atualmente, outra empregada rouba a cena em “Avenida Brasil”. Na novela de João Emanuel Carneiro que enfoca a guerra psicológica e a dubiedade entre as protagonistas Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella), toda história é centrada praticamente no núcleo do subúrbio, que acontece no fictício bairro do Divino. Até mesmo as personagens da zona sul estão mudando-se para o local. Mas é na mansão de Tufão (Murílio Benício), que uma empregada ganhou voz e vez: a Zezé (de Cacau Protásio). Apesar de ter feito outras novelas foi somente com sua hilária Zezé, que a atriz teve visibilidade, e assim como a Marilda de Fina Estampa, conquistou mais destaque.

Janaina (Claudia Missura) e Zezé (Cacau Protássio) sucesso ás 21 horas

Bem antes delas, não podemos nos esquecer de outras empregadas cativantes: a Mirna, da atriz Ilva Niño, em “Roque Santeiro”. Sua parceria com Regina Duarte era hilária e marcou época. As duas protagonizaram grandes cenas na fictícia Asa Branca.

Também não podemos deixar de lado as empregadas sensuais da nossa telinha que fizeram subir a temperatura e mexeram com os hormônios masculinos. No momento, Juliana Paes esbanja sensualidade com sua “Gabriela”- título homônimo da novela reescrita por Walcyr Carrasco, baseada na obra de Jorge Amado. Na versão original, Sonia Braga já tinha imortalizado a personagem. A mesma Juliana fez muito sucesso na sua estreia na TV, na novela “Laços de Família”, interpretando  Ritinha, a empregada que enlouquecia o patrão Danilo, vivido pelo galã Alexandre Borges.

Cris Viana também enlouqueceu o patrãozinho interpretado por Dudu Azevedo em “Duas Caras”. O seu Barretinho, papel de Dudu, passou grandes percalços até conquistá-la definitivamente e provar que não queria apenas uma noite de prazer. Abro aqui um parênteses para destacar a discussão do racismo muito bem inserida neste contexto. A química entre ambos funcionou muito bem e, em Fina Estampa, em personagens totalmente opostos, o casal também terminou junto.

Em “Mulheres Apaixonadas”, Roberta Rodrigues viveu a sensual Zilda, sonho de consumo do jovem Daniel Zettel, que interpretava o simpático Carlinhos, irmão da vilãzinha Dóris, de Regiane Alves. Ambos protagonizaram cenas muito quentes depois da explosão da relação, pois Zilda só provocava o garoto até render-se a ele.
Nesta homenagem às profissionais do lar, um tipo que não pode faltar neste texto são as empregadas com características tipicamente cômicas, ou seja, que foram escritas propositalmente com o intuito de provocar risos. A minha preferida neste grupo é a Solineuza, vivida por Dira Paes em “A Diarista”. Ao lado da amiga Marinete (Claudia Rodrigues), ambas viveram momentos inesquecíveis numa série que deixou  saudades. Outra memorável foi a Edileusa, de Claudia Jimenez, em “Sai de Baixo”. No mesmo humorístico, Sirene (também da Claudia Rodrigues) e Neide Aparecida (Marcia Cabrita) provocaram muitas gargalhadas. Tem também a hilária Araci, empregada de Perpétua, na novela “Tieta”. Sua choradeira em cena era motivo de alegria para mim em casa, pois me divertia horrores com a interpretação da atriz Andréa Paola.

Por fim, poderia enumerar aqui outras categorias de empregadas: as prestativas, as confidentes, as inimigas, as dissimuladas, as submissas, as tresloucadas, as vilãs,as escravas, as tímidas... São tantas que um artigo só ficaria pequeno para homenageá-las. Mas o que mais quero dizer é que as empregadas, seja na ficção ou fora delas, são muito importantes dentro da sociedade. Elas conquistaram com muita luta o espaço que sempre mereceram ter.

Em muitos casos, são consideradas como integrantes da própria família tamanha a importância que têm para aquelas pessoas. Só por isso merecem o nosso respeito e admiração. Particularmente, sempre gostei da inserção delas nas novelas e acho que as empregadas devem ser cada vez mais valorizadas pelos autores porque podem ter um papel decisivo numa trama e por quê não fora delas? Com a voz, nossas empreguetes do Brasil!!!     

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Série Memória Afetiva: AS EMPREGADAS FAVORITAS DA FICÇÃO.



Titina Medeiros: a “brabuleta-revelação” de Cheias de Charme






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