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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Dossiê “Dancin’Days”: a novela que fez o Brasil dançar!




Confesso que estava um pouco receoso quando comecei a assistir ao box da novela “Dancin’Days”. Embora soubesse que a novela tinha sido um estrondoso sucesso, um dos maiores até hoje, temia que ela não resistisse a uma exibição nos “frenéticos”, cibernéticos e imediatistas dias de hoje, já que vivemos em outro ritmo de vida e praticamente tudo mudou desde os longínquos anos 1978, que já eram pra lá de “frenéticos” (com trocadilho - risos). Mas já no primeiro DVD, esse receio já foi se desfazendo e me deparei com uma história deliciosa, um texto moderno, inclusive para os dias de hoje. Claro que o ritmo das telenovelas atuais é outro, mas um bom texto e boas atuações resistem ao tempo e foi uma delícia embarcar na rotina daqueles personagens moradores de uma Copacabana que não existe mais, dividida entre a tradição e a modernidade. Me diverti muito com as diferenças linguísticas e do modo de vida comparados com a época atual. Imaginem que, naquela época, era um problema uma mulher ir ao cinema sozinha ou na companhia de outras amigas. Assim como a maioria do elenco, também deu vontade de cair na dança nas cenas de discoteca. Falando em elenco, atuações irrepreensíveis de todos. Lidia Brondi novinha, mas já com um talento descomunal, com uma naturalidade que poucos conseguem emprestar ao personagens. Lauro Corona, uma imensa e eterna saudade sempre! Gloria Pires, também um talento ascendente, que viveu uma das personagens mais mala-sem-alça da história das telenovelas (junte todas as chatinhas “manequianas” que elas não serão páreo para a chatice de Marisa), já dando provas da grande estrela que se tornaria futuramente. E um elenco de veteranos dando um show à parte (destaco uma cena emocionante entre Mario Lago e Lourdes Mayer, cujas lágrimas falavam mais que qualquer palavra). 


Mas tudo isso será dito com mais detalhes pelos nossos dois blogueiros convidados, que aceitaram gentilmente o convite do melão para falarem sobre a novela. Quis que fossem de gerações diferentes para mostrar que uma boa trama conquista qualquer tipo de público: o jovem Diogo Cavalcante e o queridão Ivan Gomes, cujos textos vocês lerão em seguida.

Enfim, terminei de assistir ao DVD de "Dancin' Days" e cheguei à conclusão de que ele é a prova cabal de que uma novela, ao contrário do que dita o senso comum, nem sempre é imediatista e descartável e pode sim ser uma obra memorável. Arte pura! Gilberto Braga, aqui estreando no horário nobre pelas mãos do diretor geral Daniel Filho e com base em uma sinopse da mestre Janete Clair, sempre foi mestre em dar para os personagens a dimensão humana que faz com que nos identifiquemos com eles. A mocinha Julia não era tão santa e a vilã Yolanda nem tão megera. Confesso que tenho saudades de personagens tão bem construídos como esses. Dá até vontade de ter vivido aquela época. Já entra para a série "novelas que gostaria de ter escrito". Pra ver e rever sempre!




Passo agora a palavra para o queridíssimo Ivan Gomes, meu amigo-irmão, que já colaborou (formal e informalmente) inúmeras vezes para o melão, entendedor e apreciador de teledramaturgia como poucos. Ivan, de forma muito pessoal e afetiva, nos dá suas impressões sobre a novela após ter assistido ao DVD. Confiram:


Dançando com as feras

Por Ivan Gomes


 Não tinha idade em 78 para acompanhar a novela Dancin’ Days, de Gilberto Braga, e graças a maravilhosa ideia da Globo Marcas de lançar em DVD novelas antigas, pude acompanhar de fato essa obra e agora que terminei de assisti-la, posso concordar com tudo o que falavam sobre ela! É uma novela maravilhosa, com um texto absolutamente primoroso e com personagens críveis e coerentes. A atmosfera disco da trama é absolutamente arrebatadora. Em DVD foi impossível parar de assistir às cenas de inauguração do Club 17 e principalmente do Dancin’ Days na volta de Júlia, deu vontade de estar la! Assim como se lê sobre a época que as pessoas iam na verdadeira Dancin’ Days, no morro da Urca, em 78, na esperança de encontrar os personagens da novela e viver um pouco desse universo tão charmoso. Uma coisa interessante é que uma novela com um tema tão aparentemente jovem tenha em seu elenco tantos atores maduros, como Mario Lago, Lourdes Mayer, Ary Fontoura, Gracinda Freire, Cleyde Blotta, José Lewgoy (todos ótimos), mas que na verdade tinha muito a ver com a temática moderna da época, principalmente no personagem de Mário (Alberico) um grande saudosista ante as novidades que surgiam.

Joana Fomm: irrepreensível como a vilã Yolanda Pratini

Muitos personagens são deliciosos: a cara de pau de Yolanda (Joana Fomm, maravilhosa) a super amiga de Júlia, Solange (Jaqueline Lawrence) que tem momentos ótimos, com sua metralhadora verbal da verdade, a complicada Áurea (Yara Amaral) e a cabeça-boa jovem e ‘’transada’’ Verinha (Lídia Brondi), desde iniciante, arrasadora! Alias as gírias da época são um divertimento à parte. Eu particularmente adoro, justamente porque perderam o sentido que tinham, como, por exemplo, ‘’transar’’ que na época significava tudo que se fazia: transar uma conversa, transar um carro, transar uma roupa...

Lídia Brondi e Gloria Pires: talentos em ebulição

E Sonia Braga , a protagonista, estava soberba. A fase em que a personagem volta da Europa, super estrela, bancada pelo personagem Ubirajara (Ary Fontoura) para mim foi deliciosa, tanto que acabei nem torcendo pelo casal Julia / Cacá (Antonio Fagundes) por mim ela continuaria daquele jeito!

Foi bom ver uma dramaturgia correta, coerente em que o sucesso só a fez melhorar, cenas longas de introspecção de personagens, hoje impossíveis de serem feitas novamente, devida a impaciência de parte do publico de hoje, mas que ajudam a o telespectador a entender melhor a ação dos personagens, coisas de um autor que sabia o que estava fazendo. Dancin’ Days é sem dúvida uma novela que mostra que a nossa dramaturgia é a melhor do mundo e que já teve dias melhores.
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 Muitíssimo jovem, Diogo Cavalcante, de apenas 17 anos, foi outro que foi fisgado pelo irresistível folhetim de Gilberto Braga. Sempre com observações inteligentes e espirituosas através do seu twitter (@diogo_cc), este jovem estudante de Recife e noveleiro inveterado, além de nos brindar com ótimas montagens que estão ilustrando esse post, também compartilha conosco suas impressões sobre a novela. Obrigado, querido Diogo, e volte sempre. Melão está às ordens!  


Novelão Macabro! - Essa expressão define Dancin’ Days

Por Diogo Cavalcante


 Por muito tempo a novela, com exceção de quem acompanhou na época, foi injustamente lembrada pelo grande púbico apenas pela discoteca.  Recentemente terminei de assistir ao Box lançado pela Globo todinho. Sinceramente? Apaixonei-me pela obra.

Gilberto Braga – mesmo que diga que não entende como pode ter feito sucesso- estreou com o pé direito no horário das 20h naquele ano de 1978.



O que falar de Júlia Matos? A heroína que luta por sua reintegração na sociedade e pelo amor da filha Marisa. Sofre ao procurar emprego, sofre com a raiva da irmã Yolanda, sofre com o preconceito enfrentado em razão de seu passado... Uma mocinha clássica... Porém, depois de sofrer tanto, viaja para o exterior com o auxílio de Ubirajara (Ary Fontoura), seu admirador e Solange (Jaqueline Laurence). Quando retorna... UAU! Agora segura de si e remodelada, volta com tudo, dando um show na inauguração da boate “Dancin’ Days”, deixando Yolanda e Marisa com a “cara na poeira” (perdoem-me a frase rs). Ótima atuação da Sônia Braga.

Sonia Braga: a protagonista Julia Mattos em dois momentos da novela.

E o Cacá (Antônio Fagundes)? Mocinho que de herói não tem nada. Frágil, inconstante, inseguro, se apaixona por Júlia no primeiro encontro dos dois - o atropelamento de um cachorro. Uma cena nada romântica rs - romance esse que teve várias idas e vindas, mas, no final dá tudo certo.

Antonio Fagundes deu vida ao mocinho Cacá

Yolanda Pratini (Joana Fomm), uma interesseira. Começa rica e casada, porém se separa do marido e dia após dia amarga a decadência, chegando a fazer empréstimo para organizar um jantarcom o objetivo de “manter as aparências” perante a sociedade. Com o tempo, a ficha vai caindo pra Yolanda, e ela vira “pessoa de bem”, se é que me entendem.

Marisa (Gloria Pires): egoísta e mimada 

Marisa (Glória Pires) nos dias de hoje seria uma nova Eduarda de Por Amor. Há momentos que ela conseguia me deixar com uma raiva tão grande... Marisa chega até a sentir recalque da amiga Verinha, quando esta vira modelo fotográfica. Após “quebrar a cara” ao procurar o pai biológico, cai em si e faz as pazes com Júlia. Cena bem emocionante!
Bem, esses quatro personagens sempre têm destaque quando se fala da novela... Mas tem vários outros que merecem ser lembrados. Vou citar alguns deles.

Seu Alberico, interpretado pelo grande Mário Lago, um senhor que já teve muito prestígio no passado, mas que hoje não tem a mesma condição financeira. Vive sonhando alto, fazendo a família sofrer, principalmente a filha Carminha (vivida pela lindíssima Pepita Rodrigues) que vive tendo que se desdobrar pra pagar as dívidas que o pai faz. Finalmente, na conclusão da novela, ele abre uma casa de shows do jeito que ele gosta – com muito glamour e requinte.

Áurea (Yara Amaral) é outra personagem que merece ser destacada. Dizem que ela foi inspirada na mãe do Gilberto Braga. Uma mulher fútil, insegura, preconceituosa... Ao perder o marido, entra em estado depressivo, e quando descobre que o homem com quem ela estava saindo é casado, tem um surto. Ao final da trama ela recupera a saúde mental e muda seus conceitos.

Trio de peso: os soberbos e saudosos Mario Lago, Yara Amaral e Claudio Correa e Castro

E o Franklin (Cláudio Correa e Castro). Casado coma ciumenta Celina (Beatriz, ou melhor, Beatrix Segall como foi creditada na abertura), ele vai apaixonando-se com o tempo por Carminha. Num acidente de carro, Celina morre e, assim, fica livre para namorar a moça. Porém, uma carta - denúncia deixada por Celina cai nas mãos de Neide, empregada obcecada pela patroa, vivida por Regina Vianna. Tempos depois, a carta para nas mãos de Carminha, que, horrorizada com o que leu, rompe em definitivo com Franklin.

Quanto à trilha sonora, pode-se dividir em músicas “normais” e músicas da discoteca. Das “normais” cito “João e Maria” de Chico Buarque, música que mais me chamou a atenção e da qual gostei muito. Caiu como uma luva para o romance jovem entre Marisa e Beto.

Algumas coisas me chamaram a atenção... Como a “modernidade” de Julia em plena época de censura – ainda que tenha sido no período da concessão da Anistia - e o consumo excessivo de cigarros... Cheguei a contar uns 10 na mesma cena...

Desculpem se o texto ficou falho, trash, didático, chato... Mas é apenas a humilde opinião de um jovem apaixonado por novelas... E que faz coro com quem aplaude essa magnífica obra. Dancin’ Days é um novelão macabro. Obrigado ao queridíssimo Vitor pela oportunidade \o/

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Obrigado, queridos! Sei que depois desses textos maravilhosos, todo mundo ficou com vontade de assistir a "Dancin' Days", não ficaram? 

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Blogueiro convidado: Ivan Gomes reverencia Ivani Ribeiro





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