Nunca o termo “memória afetiva” fez tanto sentido no melão. Meu
querido Raphael Ramos, a quem chamo carinhosamente de Rapholho, é dos meus!
Noveleiro de mão cheia e memória “elefantesca”, temos em comum o fato de sempre
relacionarmos fatos e memórias de nossas vidas à lembranças televisivas.
Rapholho nos brinda com um belo texto, cheio de emoção e pleno das mais doces
lembranças ao lado de sua querida mãe, com quem assistia a “Livre para voar”,
novela que bate fundo em sua memória afetiva. Confesso que me emocionei com as
imagens e lembranças evocadas pelo texto e tenho certeza de que vocês também
vão gostar. Muito obrigado, amigo, pelo belo texto e parabéns pela
sensibilidade!
Memória Afetiva – Livre para Voar (1984/1985)
Por
Raphael Ramos
Acordar para vida é quando uma criança se dá
conta que ela existe no mundo e precisa falar, comer, andar, pensar... . O meu
despertar foi em frente à TV e, mais especificamente, numa teledramaturgia. Eu
amo as novelas porque eu amava minha mãe e uma coisa sempre foi ligada a outra.
Os poucos dez anos que eu tive ao lado da dona Aparecida foram tão intensos e
marcantes que eu resgatei da minha “elefantesca” memória a novela “Livre para Voar”
(1984/1985) de Walther Negrão e
colaboração de Alcides Nogueira. A
obra foi a primeira de muitas ao lado da matriarca da família. Ela me
acompanhou até “Felicidade” (1991/1992) e de lá pra cá, eu tive que continuar
mantendo esse meu vício sozinho. “Felicidade” de Manoel Carlos é outra
felicidade à parte, que cabe em outra passagem afetiva.
Eu tentei me enganar por não conseguir
acreditar na minha memória, mas me recordo que o horário era vespertino, hora
de lanchar com a mamãe. Apesar de ter apenas quatro anos, não pude esquecer
isso:
- Mãe, que horas são?
- São 18h00min, hora
de lanchar com a mamãe e ver o Pardal (personagem protagonista de Tony Ramos).
Pardal era da minha família, foi meu primeiro
herói e me iludiu com meu primeiro final feliz. Ele me mostrou que pode ser bom
morar num vagão de trem. Eu queria ser o Gibi (Fernando Almeida) para estar ali
naquela situação. Eu quis ser feliz pra sempre pela primeira vez e fiz a minha
mãe me levar em Poços de Caldas (Minas Gerais) a fim de me sentir dentro da
história.
Walther Negrão e Alcides Nogueira foram os
responsáveis pelo meu primeiro sonho que me faz admirá-los até os dias de hoje,
eles me fizeram torcer até o final pela Vitória de Bebel/Cristina (Carla
Camuratti) e Pardal contra as maldades ardilosas de Helena (Dora Pelegrino) e
Danilo (Carlos Augusto Strazzer).
A trama era despretensiosa e deu certo sem
ter a ousadia de ser um sucesso retumbante, foi apenas um sucesso que me deixa
lindas recordações e me faz ouvir até hoje a faixa “Chico” de Renato Teixeira
na trilha nacional e “Drive” da banda The Cars na trilha internacional. É só ouvi-las
que todo saudosismo volta ao coração.
Discordo com alguns críticos que analisam a
trama como boa, porém inconsistente. Construiu na minha vida e na vida de todos
que viram e reviram a novela. Eu sempre digo que tenho várias novelas na minha
vida, mas “Livre para Voar” foi o primeiro passo, foi “a mais bela flor que
alguém já viu nascer e não esqueceu de trazer força e magia, o sonho, a
fantasia e a alegria de viver...”
Obrigado, Rapha! Textos como o seu me fazem acreditar no poder e na importância da telenovela em nossas vidas!
_________
_________
LEIA TAMBÉM: