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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Dossiê “Felicidade”: 3 textos sobre a novela de Manoel Carlos



Helena (Maitê Proença) entre dois amores: Mario (Herson Capri) e Álvaro (Tony Ramos)

Se tem uma novela que eu tenho assistido com assiduidade no momento, essa novela é “Felicidade” (1991), de Manoel Carlos, atualmente em reprise no Canal Viva de segunda à sexta, às 15:30 e à 01:00 da madrugada. O folhetim, livremente inspirado em contos de Aníbal Machado, ficou marcado pelo romantismo, pela simplicidade e por altas doses de lirismo e poesia em suas tramas cheias de personagens cativantes. A novela também marcou o retorno de uma personagem chamada Helena em uma trama do autor. A primeira tinha sido Lilian Lemmertz, dez anos antes em “Baila Comigo”. Para me ajudar a construir um verdadeiro Raio X da novela, convidei dois amigos que também gostam muito dela: o querido Wesley Vieira, pra falar um pouco da trilha sonora; e Raphael Ramos, que nos apresenta uma visão bem completa da novela sob vários aspectos, inclusive um relato bem emocionante de sua memória afetiva em relação a ela.
Melão apresenta três textos diferentes que falam do mesmo tema: felicidade!



Uma nova chance para “Felicidade”
Por Vitor de Oliveira


“Felicidade se acha em horinhas de descuido”, já dizia Guimarães Rosa. E foi justamente por um descuido que me vi acompanhando a reprise da novela no Canal Viva, de maneira muito descompromissada e, quando me dei conta, não conseguia perder um capítulo sequer. Confesso que a novela não me chamou a atenção em sua primeira exibição. Talvez por ser um adolescente na época e ter me ligado muito mais em “Vamp”, que passava no horário seguinte. Já era crescido demais para a trama infantil e ainda muito jovem para os complicados enlaces amorosos de Helena e cia.

Mas agora nessa nova reprise, decidi assistir a alguns capítulos para comprovar o desinteresse que tinha pela novela. Fui assistindo aos capítulos um a um e quando me dei conta já estava completamente envolvido pela história simples, poética e comovente, pelas incríveis atuações e pelo texto sempre realista do autor. “Felicidade” tem uma aura de novela mexicana: herói certinho, heroína sofredora e vilã louca. Há algumas frases ditas pela vilã Débora (Viviane Pasmanter) como “eu sou a mais infeliz das mulheres” que comprovam essa impressão. Mas a novela está longe de ser maniqueísta ou de conter personagens estereotipados. Os personagens bem que podiam ser nossos vizinhos. Os problemas e dilemas deles se parecem com os nossos. A trama não tem aquele ritmo ágil, tampouco cenas grandiloquentes, mas o texto é tão envolvente, os personagens são tão cativantes, os cenários e figurinos tão realistas que não há como não se identificar e criar um vínculo afetivo com a novela. E, assim, suavemente, sem alarde, “Felicidade” nos captura e nos conquista.

Ariclê Perez: magnífica como Ametista
São inúmeros os destaques do elenco, desde a exuberância de Sandra Bréa à maravilhosa contenção de Ariclê Perez, duas saudosas atrizes que fazem muita falta na tevê, mas gostaria de destacar o trabalho da protagonista, vivida magistralmente por Maitê Proença e defendida com garra pela atriz. O mais fascinante nessa Helena é que, ao contrário das outras, que mentiam e guardavam segredos sempre para proteger outra pessoa, essa Helena mente em benefício próprio, como quando forjou uma gravidez falsa para fazer com que o marido se mudasse com ela para o Rio. Ao ver que o plano não deu certo, Helena não hesitou em simular a perda da gravidez e realizar o funeral do bebê enterrando um tijolo no lugar dele. Mesmo assim, continuamos a torcer por Helena, uma das mais imperfeitas e humanas das Helenas do autor. E Maitê Proença não desperdiçou a oportunidade nos brindando com um brilhante trabalho. Já coloquei essa Helena no rol de minhas favoritas. Há que se destacar também o primoroso trabalho de Edney Giovenazzi e seu Chico Treva, um personagem complexo, construído sem palavras, apenas com delicadeza e minimalismo que só poderia mesmo ser interpretado por um ator de alto nível.

Edney Giovenazzi: memorável como Chico Treva
Enfim, “Felicidade” é uma autêntica novela de Manoel Carlos, o autor que mais consegue dar dimensão humana aos personagens, mas também tem um toque de Ivani Ribeiro, ao conter uma simplicidade comovente que está longe de ser simplória, que se aproveita de nosso “descuido” para nos conquistar. 22 anos depois, me rendo e coloco “Felicidade” no rol de minhas favoritas.
  
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As trilhas de FELICIDADE

Por Wesley Vieira

FELICIDADE. Aí está uma novela que me surpreendeu positivamente. Quando foi exibida, em 91, eu era criança. Assistia, claro, mas a imagem que ficou cristalizada em minha memória não foi a melhor. Quando anunciaram a reprise no Canal Viva, torci o nariz: “Mas que novela cafona, chata, blargh”. Hoje, um pouquinho (só um pouquinho) mais velho, assistindo a saga de Helena (Maitê Proença em seu melhor momento), constato que eu estava redondamente enganado. A novela é linda em todos os aspectos. Manoel Carlos, o nosso Maneco, estava inspirado.

No entanto, independente da novela, as trilhas sonoras sempre permearam as minhas lembranças, em especial o disco internacional, que, evidentemente, me marcou mais. Não deixo de citar o disco nacional, embora essa trilha não esteja entre as minhas favoritas, justamente por causa da inclusão de músicas como “Seja mais você”, do Grupo Raça, tema de Tuquinha, e “Você ainda vai voltar”, da dupla Leandro & Leonardo, tema de Helena e Mário. Estas casavam perfeitamente com os personagens em questão, mas como, particularmente, não gosto desses estilos musicais, definitivamente, FELICIDADE Nacional não me causa boa impressão. A pior, em minha opinião, é “O amigo do rei” do Pery Ribeiro - uma música enjoada para um personagem extremamente chato, neste caso, o Ataxerxes. “Casou” bem. O pior é que se trata de uma das músicas mais tocadas durante a novela. Claro, há músicas interessantes, como “Começo, meio e fim” do Roupa Nova, canção que, por sinal, apesar de ser tema do casal protagonista, se tornou o símbolo de toda a novela. Elis Regina com “Velho Arvoredo” é de uma beleza encantadora, assim como Beto Guedes com “Meu ninho”.


Já, FELICIDADE internacional contém uma seleção de músicas agradáveis. Praticamente todas as canções são boas e fizeram (e ainda fazem) muito sucesso. Algumas ficaram marcadas como temas dos personagens. Há quem diga que o jamaicano Jimmy Cliff tenha feito “Peace” especialmente para a novela. Procurei informações a respeito, mas nada foi comprovado. O certo é que a música é linda e de alguma forma, deixou a vilã Débora ainda mais interessante. "Set Adrift On Memory Bliss" do P.M. Dawn abre o disco trazendo um sample da clássica “True” do Spandau Ballet e ilustrava as paisagens cariocas. Alváro se encontrava com Helena ao som contundente de Michael Bolton com "When a Man Loves a Woman". E "Set The Night To Music" com Roberta Flack & Maxi Priest pontuava as cenas do bom moço, Mário, eternamente apaixonado por Helena. Curiosamente, a baladinha gospel da cantora Martika, “Love… Thy Will Be Done", serviu como tema do esquentado Zé Diogo.

Você, que está lendo esse texto, pode até não gostar, mas a música principal desse disco e da novela, é, sem dúvidas, "Theme From "Dying Young", do Kenny G., tema do filme homônimo lançado no mesmo ano, e aqui, na novela, tema de Helena. Há quem odeie, mas de alguma forma, o lamento saxofônico embala com exatidão os dramas da personagem.

Ainda há músicas interessantes que ainda não foram executadas na novela (até então), como a poderosa "Miles Away" da banda Winger e "Caminando Por La Calle" do Gipsy Kings, ainda que, essa última, em ritmo cigano, esteja descontextualizada da novela.

Enfim, as trilhas de FELICIDADE, como sempre, embalando os personagens e suas histórias na telinha e, também, a nossa vida e memória afetiva. 
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“ ENCONTRAMOS A FELICIDADE QUANDO TEMOS CORAGEM PARA RECOMEÇAR”
Por Raphael Ramos

Maitê Proença dando vida a uma das mais interessantes Helenas
Poucas tramas conseguem ser fiéis ao nome que elas carregam ao longo de mais de 100 ou 200 capítulos. ”Felicidade” conseguiu, não apenas ser fiel nisso como também conseguiu prender o telespectador pela qualidade de sua trama, pelos personagens bens construídos e pelo capricho do autor e colaboradores em ter a percepção que todos os personagens mereciam ter uma história do início ao fim, sem falar no desafio que é manter um ibope no horário das 18 horas sendo uma novela exibida numa época onde a internet não era uma febre.

Eu tenho tantos e inúmeros motivos para agigantar essa obra porque a vejo como excelente em vários ângulos. A cada ângulo chamarei por FELICIDADE não só pelo motivo do título da obra, mas pelos êxitos atingidos sob vários aspectos. São eles: FELICIDADE AUTORAL, FELICIDADE ARTÍSTICA, FELICIDADE CULTURAL E FELICIDADE PESSOAL (o momento crítico e pessoal que eu vivia na época com apenas 10 anos de idade).

Na minha modesta opinião, a década de 90 foi a mais inspiradora para Manoel Carlos. As melhores tramas do autor se concentram nestes anos e FELICIDADE foi a melhor no meu ponto de vista. O meu gosto geralmente não acompanha o gosto popular, quando se fala em Manoel Carlos muitos citam “Laços de Família”, “Mulheres Apaixonadas”, etc. A trama em questão não se passa no Leblon e possui uma agilidade bem peculiar de cada capítulo. Ela se divide em duas fases bem definidas, personagens que começam, se desenvolvem e terminam sua história, locações diversificadas como o bairro Peixoto em Copacabana, a fictícia Vila Duília no Engenho Novo e a primeira fase que se passava na fictícia Vila Feliz no interior de Minas Gerais. Manoel Carlos, ao lado de Elizabeth Jhin, Marcus Toledo e Eliane Garcia, prendiam a atenção de adultos e crianças cada vez que a tela congelava na última cena e o arco-íris finalizava o capítulo. As cenas na praça Peixoto, a escola das crianças, a igreja de Chico Treva, a vila do subúrbio davam ar de realidade e de cotidiano ao telespectador. Isso é uma FELICIDADE AUTORAL. Poucos autores como Maneco sabem fazer.

FELICIDADE ARTÍSTICA era ver tantos atores maravilhosos defendendo bem seus personagens. Apesar da trama estar sempre em volta dos desencontros de Álvaro (Tony Ramos) e Helena (Maitê Proença) muitas vezes provocados pelos próprios e milhares de vezes bloqueados pela mimada Débora (Vivianne Pasmanter), as tramas paralelas nunca foram sufocadas pelos protagonistas. Eu destaco alguns aspectos que me fazem admirar a trama:

- A segunda Helena de Maneco após dez anos de jejum é construída de muitos defeitos que a fazem querida e forte para o público. Sustenta mentiras, egoísmos, egocentrismos, forte no que quer e na criação da filha, mas fraca ao enfrentar os obstáculos do amor. Helena ama Álvaro, mas se ama infinitamente primeiro e isso é louvável para a mocinha de uma teledramaturgia.

- O personagem da antagonista Debora que foi brilhantemente defendido pela novata Vivianne Pasmanter que se superou em talento. Debora é uma mulher insegura, vingativa, mimada, fraca e que despertava tanta raiva que chegava a dar pena das insanidades cometidas.

Laura Cardoso em cena com Ester Goes
 - Quero destacar o carisma de Cândida (Laura Cardoso), uma avó que dava vontade de encher de beijos, suas cenas são lindas e cheias de carinho. Cândida era uma mulher rica e simples como o ser humano deveria ser, comedida em fofocas, mas sabia dizer a verdade diretamente doa a quem doer.

- Destaque para Ametista (Ariclê Perez), o melhor personagem da atriz em novelas. Uma mulher seca, amarga e que nunca é emoção, pois tem motivos pra ser só razão, religião e tradição. As cenas são ricas e densas quando nos colocamos no lugar de uma mulher que lutou com simplicidade para ter seu canto junto a terra e teve que abrir mão de tudo, segurar as loucuras do marido, teve que ver todo seu sonho em dançar e tudo que construiu se desmoronar ao ponto de dividir um cômodo de favor com amigos.

Bia (Tatiane Goulart) e Alvinho (Eduardo Caldas): sucesso na época
 - Destaque para o núcleo infantil em cenas tão singelas, leves e contagiantes. Esse foi o sucesso para a trama também conquistar o público infantil. O amor incondicional de Bia (Tatyane Goulart) e Alvinho (Eduardo Caldas) estava acima de qualquer desavença de seus pais, sem falar da música-tema e da amizade da amiga Bel (Aline Menezes) que deu um toque ainda melhor para o núcleo. 

A exuberante Sandra Brea em cena com Viviane Pasmanter, Ary Coslov e Tony Ramos
- Vale ressaltar o meu amor pela impagável Rosita (último personagem de Sandra Bréa numa novela inteira). Apesar do personagem ser escada para vilã e não ter muita trama, as cenas de Rosita são marcantes e marcadas pelo exagero da fala, da gesticulação, do alto astral. Parece que você vê a novela toda pelo mesmo tom, mas quando Rosita aparece o som aumenta, a alegria contagia o capítulo.

  A novela tem um toque muito importante chamado ANÍBAL MACHADO. O escritor é usado como fonte de inspiração pelo autor pra construir tramas e personagens. É onde entra a FELICIDADE CULTURAL. É importante dizer que os contos foram livremente baseados e adaptados. A fonte de inspiração e o autor possuem algo em comum: falar de temas densos em diálogos leves e personagens conflitantes. Confesso que o primeiro chamariz a me fazer ver a novela lá em 1991 foi ter lido para escola o conto “O piano”. Pontuarei esse conto e alguns que norteiam a novela:

- O conflito de João do Piano (Sebastião Vasconcelos) em não conseguir vender seu piano por já ser peça em péssimo estado de conservação, mas estimado por ser relíquia de família. O instrumento se torna um fardo quando a filha Selma (Ana Beatriz Nogueira) resolve se casar com Luiz (Bruno Garcia) e não tem onde deixar o piano. O dilema perdura por muitos capítulos até que João se sente um estorvo ao lado do piano e resolve dar fim a sua vida se afogando com o piano no meio da praia de Copacabana. Essa é uma das cenas fortes da novela que eu jamais esquecerei.

- O próprio protagonista Álvaro é atormentado pela acusação de matar por engano em Vila Feliz um menino chamado Zeca Ventania que ele vê em seus pesadelos ou em momentos de perigo. (No conto original chamado “O iniciado ao vento” o menino se chamava Zeca da Curva e a novela livremente promoveu algumas alterações).

Tuquinha Batista (Maria Ceiça): personagem inspirada em conto de Aníbal

- Dois contos norteiam a trama de Tuquinha Batista, personagem defendido com muito êxito pela novata atriz na época Maria Ceiça. Dona de um caráter forte e muito prestativa, Maneco reservou para a personagem o conto de Aníbal, “Monólogo de Tuquinha Batista”, quando a moça fala do amor que tinha pela zona norte e a resistência em não ir para a zona sul, mas principalmente no conto “A morte da porta estandarte” é que a personagem é traçada. Sua irmã Bel anuncia a sua morte através de um sonho. Na novela, Tuquinha era porta bandeira da G.R.E.S Estácio de Sá e é morta a facadas pelo ex namorado ciumento Tide (Maurício Gonçalves).Ótimas as cenas gravadas na quadra da escola.

- Vários outros contos são fontes de inspiração que criaram personagens: “Acontecimentos em Vila Feliz” serviu de inspiração para os personagens Mario (Herson Capri), Zé Diogo (Marcos Winter) e Chico Treva (Edney Giovenazzi), o horripilante e mudo ogro que não fazia mal a uma formiga. O conto “Tati, a garota” foi a base para o relacionamento entre mãe e filha de Helena e Bia e o conto “O telegrama de Ataxerxes” foi pano de fundo para o sonhador, falido e inconsequente Ataxerxes (Umberto Magnani).

  Gostaria de terminar essa longa avaliação pessoal declarando que além de todos esses motivos que tenho para aplaudir de pé a novela, ainda existe um motivo mais forte: a FELICIDADE PESSOAL. Minha mãe foi a responsável por me fazer gostar de TV e junto com ela eu comecei a ver novela em “Livre para Voar” – 1984. “Felicidade” foi a última novela que nós vimos juntos antes da sua partida precoce. Se em 1984 ela me convenceu a ver a primeira, eu a convenci a ver essa última comigo.

  Em meio a preparativos da festa de 15 anos da minha irmã, eu puxava a senhora Maria Aparecida para sentar-se comigo na sala e ganhar seu tempo de seis às sete. Muitas vezes eu ouvia ela dizer que a festa da minha irmã era a última coisa que ela gostaria de fazer em vida pois já sabia que andava bastante doente, muitas vezes ela relutava em ver comigo para agitar os preparativos, mas eu percebia que ela pensava duas vezes e vinha ficar ao meu lado, vejo hoje que ela agia como se tivesse me fazendo companhia pela última vez!

  Nos últimos capítulos da novela ela já se encontrava debilitada, mas fomos juntos até o fim da trama. Lembro que não conseguia ver quando sua reprise foi ao ar por lembrar dela doente ao meu lado, mas sem perder a força, a alegria e seu amor. Ela me deu a base para eu entender hoje o que é ter Felicidade. Felicidade não é um estado de espírito que conseguimos manter o tempo todo, mas é a certeza de que problemas, decepções e tristezas virão e eu serei atingido, mas não me deixarei abalar. A gente levanta e não se faz de coitado! Sorrio pra curar a dor! Termino com o trecho da música da trilha da novela “Estrela Amiga” (grupo Ping Pong), trecho esse que ela cantava pra mim: “Eu tenho tanto que sonhar, cada vez eu sonho mais, quem tem a sua estrela amiga, sonha (dorme) em paz...”
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Wesley e o melão. Rapha e eu curtindo o carnaval: será o desfile de Tuquinha Batista?



E você, o que mais curte em "Felicidade"? Deixe seu comentário! 
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Série Memória Afetiva: 12 trilhas internacionais – por Wesley Vieira






domingo, 16 de dezembro de 2012

Melão entrevista Manoel Carlos: “Lilian Lemmertz foi, sem nenhuma dúvida, a criadora da Helena”






Mais um grandioso presente de final de ano para o melão e seus leitores. Particularmente, fiquei muito feliz e honrado com essa entrevista, já que se trata de um de meus autores favoritos, afinal Manoel Carlos povoa meu imaginário desde sempre. Mais precisamente, desde as remotas lembranças que tenho de “Sol de verão”, novela que foi ao ar quando eu tinha 5 anos de idade, mas já me impressionava com a atuação de Tony Ramos, passando pelo LP internacional da novela “Baila Comigo” que pertencia às minhas primas e que eu passei praticamente toda a infância ouvindo, observando a capa e tentando imaginar do que se tratava a trama (naquela época a internet não era nem projeto), até assistir de fato a uma primeira trama de sua autoria, “Felicidade”, em reprise atualmente no “Canal Viva”. A partir daí minha admiração por ele só aumentou com as novelas “História de amor” (1995), “Por amor” (clássico de 1997) e “Laços de Família” (2000). Nenhum autor consegue dar tanta dimensão humana a seus personagens como Maneco, que também é dono dos diálogos mais naturalistas de nossa teledramaturgia. Suas novelas são deliciosas crônicas do cotidiano, mas que nunca abrem mão dos melhores ingredientes do folhetim. Claro que, se como espectador já era fã de carteirinha, como autor ele é uma verdadeira inspiração.

Mesmo atribulado com os preparativos para sua próxima novela, o autor cedeu gentilmente um pouco de seu tempo para responder a algumas perguntas sobre sua vasta carreira. Ele relembra a primeira Helena, vivida pela saudosa e maravilhosa Lilian Lemmertz em “Baila Comigo” e comemora o fato da filha dela, Julia, ser a próxima. Maneco também fala de trabalhos anteriores, de processo de trabalho, das campanhas sociais em suas novelas, de suas preferências como telespectador, revela alguns nomes confirmados para a próxima novela e confessa o desejo de trabalhar com uma grande atriz com quem nunca trabalhou, além de muitos outros assuntos. Enfim, um prato cheio para todos os fãs do autor e pra todo mundo que ama e admira teledramaturgia. Mais uma vez, o melão estende o tapete vermelho para um grande nome de nossa tevê. Com vocês, Manoel Carlos!



Desde que você anunciou que Julia Lemmertz seria sua última Helena, suscitou uma enorme curiosidade por parte do público a respeito de sua próxima novela.  O que você já pode adiantar a respeito dela?

Manoel Carlos - A minha novela está prevista para estrear na segunda quinzena de janeiro de 2014. Daqui a um ano, portanto. A sinopse, já aprovada, tem dois nomes provisórios: FÊNIX e EM FAMÍLIA.  Ainda estou fazendo mudanças, corrigindo algumas trajetórias da trama, etc., etc. Portanto, qualquer coisa que eu adiante corre o risco de ser mudada. Só mesmo quando uma novela entra na linha de produção é que se pode garantir determinados fatos que ocorrerão no seu desenrolar.

A inesquecível Lilian Lemmertz, a primeira de todas as Helenas do autor; e Julia Lemmertz, filha dela, a próxima Helena.

Falando em Julia Lemmertz, inevitável não lembrar que a mãe dela, Lilian, foi a primeira Helena de suas novelas. Assistindo a “Baila Comigo” (1981) recentemente, pude comprovar a maestria do trabalho da atriz e a naturalidade assustadora que ela imprimia em todas as cenas, por mais simples que fossem. Você diria que a Helena de “Baila Comigo” é a gênese de todas as outras Helenas? Qual a contribuição da atriz na construção da identidade da personagem?  

Manoel Carlos - Lilian Lemmertz foi, sem nenhuma dúvida, a criadora da Helena e, por extensão, de todas as Helenas que vieram depois. Foi ela quem deu alma ao personagem, ao mesmo tempo em que esculpiu nele o seu próprio gestual, sua inflexão maternal, seu desvelo. Foi ela que deu à Helena esse comportamento dúbio, que mescla generosidade com egoísmo, e mais tudo que a grande atriz que foi Lilian sabia emprestar a todos os personagens que criava. Eu a “namorei” de longe, desde que a vi sobre o palco pela primeira vez, nos anos 60, ao lado de Cacilda Becker e Walmor Chagas, em “Quem tem medo de Virginia Woolf”, de Albee. Era uma jovem de menos de 30 anos, que já iluminava o caminho que viria a percorrer como estrela de primeira grandeza. Vinte anos depois desse encontro, pude dar a ela o personagem de “Baila Comigo”. A filha Julia foi pelo mesmo caminho. Humana e sensível como poucas, só agora terei a oportunidade de escrever para ela o papel criado por sua mãe. Essa oportunidade me deixa muito feliz.


Ainda sobre as Helenas, todas têm em comum o fato de carregarem um grande segredo e serem bastante abnegadas, mas ao assistir à reprise de “Felicidade” (1991), atualmente em exibição no Canal Viva, constatei que a Helena de Maitê Proença, a exemplo das outras, também escondeu um grande segredo, que foi uma falsa gravidez, promovendo, inclusive, o enterro de um tijolo, fingindo ser o bebê morto e enganando toda a cidade. Mas o que essa Helena tem de diferente é o fato de mentir em benefício próprio, ao contrário das outras, que mentiam pra beneficiar alguém. Isso foi de caso pensado? O que mais você pode destacar a respeito dessa novela?

Manoel Carlos - Muitas Helenas se parecem em algumas qualidades e defeitos, mas não em todas, já que ninguém é exatamente igual a outro alguém. Nem entre filhos da mesma mãe e do mesmo pai. As Helenas são uma imitação de pessoas humanas e verdadeiras, pois essa é minha maneira de ver as novelas.  Nem realista ou naturalista, como querem alguns. E nem delirantes. Apenas verossímeis. Possíveis.  No caso de “Felicidade” há que se notar que foi uma novela apresentada às 18 horas, numa época (1991-1992) em que não se podia avançar muito. Além disso, todas as seis ou sete histórias que se entrecruzavam eram inspiradas livremente em contos de Aníbal Machado. Portanto, muita coisa desses contos ficou agregada ao meu trabalho. O elenco era afinadíssimo, com Maitê e Tony formando um par que sempre tive vontade de repetir.

Maitê Proença e Tony Ramos em cena de "Felicidade"

Você também tem planos de escrever uma minissérie.  Ela virá antes ou depois da novela? Prefere esse formato por serem mais curtas?

Manoel Carlos - É verdade e não vou desistir. A minissérie MADAME, inspirada em “Madame Bovary”. Acertei com a direção da TV Globo a produção dessa minissérie para depois da novela. Quem sabe em 2015?
        
O que acha desse novo formato de novelas com menos capítulos às 23 horas? Aceitaria continuar a escrever novelas nesse horário, que proporciona uma liberdade maior para cenas mais ousadas como vimos em “O astro” e “Gabriela”? Que novela sua escolheria para um remake?

Manoel Carlos - Acho excelente. O “Astro” foi muito bem realizado e acredito totalmente no sucesso de “Saramandaia”, que vai ser reescrita pelo Ricardo Linhares, um autor de grande sensibilidade e talento, tanto na comédia como no drama. Eu escreveria com prazer uma novela para esse horário, mas jamais adaptaria uma obra minha. Isso não dá certo. O próprio autor não sabe fazer esse trabalho, é preciso que seja entregue a outra pessoa, que enxergue a tarefa como uma empreitada totalmente nova.

Você talvez seja o autor que retrata melhor o universo feminino.  De onde vem essa inspiração e, com exceção das Helenas, que personagens femininas destacaria em suas obras?

Manoel Carlos - Acho a mulher mais rica do que o homem, como fonte de inspiração. Isso certamente tem raízes na minha trajetória pessoal, pois fui criado mais pela minha mãe do que pelo meu pai, tendo nascido depois que eles tiveram duas meninas, que também participaram da minha criação. Não conheci nenhum dos meus dois avôs, mas minhas duas avós tiveram papéis fundamentais na minha vida, assim como três tias e algumas primas, sendo que foram essas, as primas, que despertaram minhas primeiras paixões de adolescente. Vai nisso também meu amor pelas atrizes, seres incomparáveis, donas de uma personalidade mutante, capazes de rir e chorar com a mesma “falsa verdade”. Para mim não existe nenhuma profissão no mundo melhor do que a de atriz. Sempre divinas e cruéis. Reconheço que todos os meus personagens femininos têm um acabamento melhor do que os masculinos.

Reunião de Helenas.
Pergunta do leitor Rodrigo Ferraz: apesar de paulista, você nunca criou uma Helena nascida aqui. Já pensou em ambientar uma novela em São Paulo, talvez com uma Helena paulistana, quem sabe de descendência judia ou italiana?

Manoel Carlos - Já pensei e ainda penso. Sempre quis, desde que escrevi a minha primeira novela, mas nunca consegui. E acho ótima a sugestão de que fosse descendente de italianos ou judeus. Quem sabe ainda faço?


Você sempre faz questão de incluir em suas tramas o que a emissora costuma chamar de merchandising social, como o caso da violência contra a mulher e o desrespeito contra os idosos em “Mulheres apaixonadas” (2003), a leucemia em “Laços de Família” (2000), a questão da tetraplegia em “Viver a Vida” (2009), Síndrome de Down em “Páginas da Vida” (2006) e o alcoolismo em quase todas as novelas. Ainda assim, você acredita que o objetivo principal de uma novela é o entretenimento ou a função social é algo imprescindível?

Manoel Carlos - Para mim, as duas finalidades se completam. Uma não impede a outra. O que sempre achei é que escrever uma novela, seja para que horário for, é uma grande oportunidade que o autor tem de oferecer alguma ajuda, sem esquecer o entretenimento. E essa disposição foi sempre muito gratificante. 

Trama dos maus tratos aos idosos na novela "Mulheres apaixonadas"

Que cuidados um autor deve ter ao retratar a vida de pessoas reais como a cantora Maysa, retratada em uma minissérie de sua autoria? Qual o limite entre o real e o ficcional?

Manoel Carlos - Escrevi “Maysa” com ampla liberdade. Sem esquecer o que era importante em sua biografia e sem deixar de salpicar a história com cenas e fatos criados por mim. Não sou um biógrafo, mas um ficcionista. O resultado foi muito feliz e teve a concordância do filho da Maysa, o Jayme Monjardim, que assinou a direção do projeto.  

Larissa Maciel dando vida à cantora Maysa

Como é a divisão de trabalho entre você e seus colaboradores? Você costuma dar a liberdade a eles para criar dentro da escaleta ou sugerir novos rumos para as tramas?

Manoel Carlos - Não tenho um regulamento para isso. Muitas vezes divido o trabalho, outras vezes entrego o capítulo para que eles o escrevam integralmente, Não sigo uma regra, como em quase tudo na minha vida. Minhas escaletas, quando existem, são precárias, incompletas, com mais sugestões do que determinações. Trabalho há muito tempo com as mesmas pessoas. Se possível serão sempre elas, ainda que eu queira que alcem vôos solos, assinando seus próprios projetos, já que são capazes de realizar esse trabalho.

Você, talvez, seja o autor que mais consegue dar dimensão humana aos personagens, mas ao mesmo tempo suas histórias são repletas dos elementos mais tradicionais do melodrama, como segredos de família, trocas de bebês e outras coincidências do destino. Como consegue driblar os clichês e as armadilhas do gênero para compor um painel de personagens sempre tão rico e diverso?

Manoel Carlos - Mas eu não acho que drible os clichês. Uso todos que me pareçam necessários. Afinal, a vida é feita de lugares-comuns. Não fazemos mais do que repeti-los. O Millôr Fernandes escreveu uma vez que a originalidade é a coisa mais velha do mundo. Conheço uma outra reflexão muito interessante de um autor que não me lembro agora: “O lugar comum é obra de gênio”.  O que distingue um autor do outro é a maneira de repetir e encarar esses estereótipos. Uma vez, numa conferência que eu assisti do genial Agripino Grieco, ele disse que muitas pessoas o criticavam por contar, nas palestras, sempre as mesmas histórias, repetir as mesmas piadas, etc. E ele então perguntava: “Não temos diariamente o mesmo pôr do sol e a mesma aurora?” E concluía: “E Deus, afinal de contas, tem mais recursos do que eu!”.

Qual sua posição pessoal a respeito da classificação indicativa? Até que ponto ela limita o trabalho do autor?

Manoel Carlos - Perto do que já existiu de limitação ao trabalho de um autor, a classificação é uma benção. Nem obrigatória ela é, mas apenas indicativa, como o nome diz.  E vale lembrar que em outros países, como nos Estados Unidos, é bem pior.

Na entrevista para o livro “Autores”, você conta que a reação do público acabou mudando os rumos da trama em “Sol de Verão” (1983) em que o personagem do Tony Ramos se envolveria com a personagem de Carla Camuratti e isso acabou não acontecendo. Até que ponto deve-se fazer concessões para que a autoria não se perca de vista? Citaria algum exemplo inverso, em que você não cedeu ao clamor popular?

Manoel Carlos - A novela de televisão sempre precisará da aprovação da audiência. E essa aprovação, muitas vezes, exige mudanças pontuais exigidas pelo público.


Você é noveleiro? Quais são as novelas preferidas do Manoel Carlos espectador?

Manoel Carlos - São muitas, mas cito apenas três: “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro, “Que Rei sou eu?”, de Cassiano Gabus Mendes e “Nina”, de Jorge Andrade.


Já pensou no elenco da nova novela?

Manoel Carlos - Reservei alguns nomes, além da Julia Lemmertz. Não me lembro de todos neste momento, mas entre eles estão: Tony Ramos, Vivianne Pasmanter, Natália do Vale e Helena Ranaldi. Gostaria de ter a Mel Lisboa, uma atriz que a Globo, a meu ver, não poderia ter perdido, mas quem sabe... não é?  


Há alguma atriz para quem você gostaria de escrever, mas que nunca escreveu?

Manoel Carlos - Glória Pires, sem nenhuma dúvida. E não perdi a esperança.

Para terminar, qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

Manoel Carlos - Muito presente no dia-a-dia e de ampla aceitação em todas as classes sociais, econômicas e culturais. Nada se compara a ela, pela diversão que proporciona e – muitas vezes – pela reflexão que provoca sobre temas comuns na esfera humana. Falar para milhões é – afinal de contas – o sonho dourado de qualquer escritor. E o novelista de televisão realiza esse sonho diariamente.

Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores" 
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Melão entrevista Ricardo Linhares: "o escritor recria a realidade a partir do seu olhar"



Lilian Lemmertz: a “mãe” de todas as Helenas e favorita do blog!





sexta-feira, 18 de junho de 2010

Série Memória Afetiva: 10 divas televisivas.

                                                                                                               

MEUS AMORES DA TELEVISÃO – Cresci com elas...

Chegou a hora do melão revirar seu baú e revelar mais lembranças televisivas que se confundem com a própria vida. Claro que a lista a seguir não pretende representar o senso comum, embora muito se tenha dele, afinal, todo mundo da minha geração cresceu assistindo e convivendo com essas e outras maravilhosas mulheres. Impossível alguém que não admire pelo menos uma delas. Por isso, o melão estende seu tapete vermelho e apresenta as atrizes que povoaram o imaginário deste que vos fala desde à mais tenra infância. São mais do que atrizes (afinal atriz boa é o que não falta em nosso país e a lista seria enorme): são divas, deusas, mitos que povoam nosso imaginário.

Ver um bom ator em cena é sempre gratificante, mas atrizes pra mim serão sempre imbatíveis.

Eis as minhas:

1) Betty Faria



Não é segredo pra ninguém que é minha favorita desde sempre. É muito difícil transpor em palavras o amor e a admiração que sentimos por alguém, por isso não sei dizer com exatidão por que gosto tanto dela. Talvez porque lembre minha mãe? Talvez por ser mais que atriz, na verdade, uma estrela de primeira grandeza? Talvez por ser superlativa, linda, rebelde, talentosa, sensual? Talvez por interpretar seus papéis com tanta força e entrega? Talvez por ter o biótipo que represente a síntese da mulher brasileira? Talvez por representar um certo protótipo de feminilidade? Sim, gosto de Betty faria por todos esses motivos e por mais alguns que não consigo expressar. O fato é que, a partir dos anos 70, marcou a teledramaturgia interpretando mulheres fortes, marcantes, como Lucinha, a cinderela de subúrbio de “Pecado capital” (1975) ou a estonteante e intensa protagonista de “Tieta” (1989). Na contramão dos tipos sensuais, também é capaz de encarnar tipos submissos como Antônia de “De corpo e alma” (1992) ou rainhas do lar com Amélia de “Uma rosa com amor”(2010). Enfim, Betty é minha favorita e não é a primeira vez que digo isso aqui. Mas não custa repetir sempre...


2) Glória Menezes



Um verdadeiro patrimônio de nosso país. Junto com Tarcísio Meira, forma o casal mais famoso da história da teledramaturgia. Seu rosto é tão conhecido e sua presença nas novelas tão constante que é quase impossível que algum brasileiro não a conheça. Glória é uma atriz talentosa, claro, como tantas em nosso país. Mas tem um tipo de carisma único, que faz com que se torne especial, única. Minha primeira lembrança dela é da novela “Guerra dos sexos” (1983), onde não deixava dúvidas por quem deveríamos torcer. Sempre nos dá a impressão de que interpretar é tão simples como respirar. Sua galeria de heroínas é extensa e marcante, mas quem achava que Glória se limitava a elas, teve suas duvidas totalmente dizimadas com a célebre vilã Laurinha Figueiroa, de “Rainha da Sucata” (1990) considerada por muitos como o seu melhor trabalho. Ainda hoje em uma idade em que muitas atrizes ganham papéis secundários, Glória ainda rouba a atenção do público e muitas vezes centraliza as ações como no caso de Dona Irene, de “A favorita”. Uma estrela de verdade como ela sempre estará no olho do furacão.


3) Yoná Magalhães



Dividiu com Glória Menezes nos anos 60 o posto de atriz mais popular do país e revezava com ela no papel das heroínas televisivas, fazendo par com o saudoso Carlos Alberto. De lá pra cá, manteve sua beleza. Sempre foi sinônimo de mulherão e, de certa forma, ficou aprisionada nesse estereótipo. Lembro bem dela em “Amor com amor se paga” (1984), mas foi com “Roque Santeiro” (1985), vivendo Matilde, a dona da pousada e da boate “Sexus” que tive a real noção de que se tratava de uma grande estrela. Hoje em dia vive muitos papéis de mãe, avó, vários deles aquém de sua capacidade. Mas sempre que tem chance mostra que pode centralizar as atenções como a Carmela de “A próxima vítima” (1995), a Valentina de “Meu bem, meu mal” (1990) ou como a submissa Tonha de “Tieta” (1989), papel que foi um divisor de águas em sua carreira, já que teve a chance de fugir do estereótipo de mulherão (pelo menos no início da novela), como uma mulher maltratada e sofrida, que dá volta por cima e retorna linda e poderosa ao Agreste. Ali, Yoná provou que além de estrela, é também uma grande atriz, capaz de tipos únicos e antológicos.


4) Regina Duarte

 


 O que dizer? Ela é o rosto mais conhecido da TV. A mais representativa e emblemática das atrizes. Seu título de namoradinha do Brasil passa de mão em mão por jovens atrizes de tempos em tempos, mas nenhuma com tanto brilho e expressão. O Brasil namorou carinhosa e apaixonadamente Regina durante todos esses anos e namora até hoje. Das românticas mocinhas dos anos 70, La Duarte deu uma guinada no início dos 80 com a divorciada e independente personagem título de “Malu Mulher”. Outra guinada veio com “Roque Santeiro” (1985), quando mostrou que podia fugir dos tipos sofridos e interpretar a fogosa, engraçadíssima e incorretíssima Viúva Porcina, que marcou época e até hoje povoa o imaginário de muita gente. Regina tem o poder de polarizar atenções e mobilizar o país em torno dos dilema das mulheres que interpreta. O Brasil sempre chorou, sofreu e torceu por ela. Quando Raquel rasgou o vestido de noiva da filha ingrata em “Vale Tudo” (1988), o Brasil rasgou e vibrou junto. Há quem não goste de seu estilo de representar, mas com uma coisa todos concordam: nenhuma atriz alcançou tamanha popularidade na TV como ela. Regina rainha da sucata, Regina Simone, Regina Luana, Regina Helena. São muitas em uma só.



5) Dina Sfat



Fazia um interessante contraponto com Regina Duarte em diversas novelas. Enquanto Regina representava a delicadeza e a fragilidade, ela era a força, a intensidade. Uma das batalhas mais memoráveis da TV foi em “Selva de Pedra” (1972) em que sua personagem Fernanda infernizava a vida da Simone de Regina Duarte. Pena eu não ser nascido pra presenciar tal momento. Falecida precocemente em 1989,  dois meses depois do fim de "Bebê a Bordo", em que vivia a personagem Laura. Minha primeira referência sobre a atriz veio com a Paloma de “Os gigantes” (1979). Não cheguei a assistir à novela, era pequeno demais, mas sempre ouvi minha família comentando o quão ela esteve bem na novela. Conheci Dina pra valer na minissérie “Rabo de saia” (1984) como uma das mulheres de Quequé (Ney Latorraca). De uma beleza madura, intensa, ao mesmo tempo comum e única. Seus olhos são, sem dúvida, os mais expressivos da TV. A impressão que ela passava era a que seria capaz de fazer qualquer papel. E de fato em sua carreira ela interpretou de tudo. Os mais de vinte anos em que não aparece mais na Tv não lhe tirou o título der estrela marcante e inesquecível. Todos queríamos que ela tivesse ficado um pouco mais com a gente. Mas diva é diva e permanece.


6) Lucélia Santos



Uma das mais versáteis atrizes que conheço. Suas carreiras em cinema e teatro são um caso à parte. Arrebatou o país com “A escrava Isaura” em 1976, novela responsável por apresentar ao mundo nossa teledramaturgia. Até hoje o verso “lerê lerê” da canção de Dorival Caymmi nos remete à escrava branca que sofria nas mãos de seu senhor. Mas a interpretação de Lucélia não se resume a apenas isso. Uma das qualidades que mais admiro nela é sua imensa e supreendente versatilidade: ela vai das mocinhas mais puras e ingênuas às mais lascivas e despudoradas mulheres, com muitas camadas de gradação entre estes extremos. Minha lembrança mais antiga dela em TV foi em “Guerra dos Sexos” (1983), em que interpretava a dissimulada Carolina. Ali já tive a prova de seu talento, pois não é nada fácil fazer uma diabinha que se faz de santa de maneira crível. Lucélia protagonizou durante muito tempo diversos personagens na Tv diferentes entre si. Logo após a ingênua “Sinhá Moça” (1986) deu vida á exuberante e sensual Carmem em 87. Inexplicável sua ausência da TV nesses anos todos. Em uma entrevista recente, fiquei impressionado, não só com sua seriedade e seu profissionalismo, mas também com sua capacidade de realização e a assertividade de suas opiniões. Sem dúvida, uma mulher forte e admirável e uma das mais camaleônicas de nossas atrizes. Que seu retorno à Tv (em grande estilo) seja breve.


7) Glória Pires


Seu nome é sinônimo de qualidade desde sempre. A mais sucedida de todas as atrizes mirins. Cresceu diante dos olhos do público e se agigantou a cada trabalho até se tornar a melhor atriz de sua geração. Disputada por todos os autores, Glória Pires nunca teve a delicadeza de uma Regina Duarte, a sensualidade de uma Sonia Braga, nem a expressividade de uma Dina Sfat. Ao contrário, fisicamente é um tipo bem comum. Por isso mesmo consegue transitar por todos os tipos e personalidades com uma facilidade única. Meu “apaixonamento” por ela foi com a sofrida Ana Terra em “O tempo e o vento” (1984). Mesmo aos sete anos, ficava vidrado diante da tela porque sabia que ali estava uma atriz especial. Ana Terra quase não tinha texto. Falava pouco. A atriz se garantia muitas vezes no olhar, no gestual, na expressão. E o que dizer de Maria de Fátima de “Vale Tudo” (1988)? Hoje em dia em que vilãs estereotipadas e maniqueístas caem nas graças do público, Gloria soube, na época, interpretar com maestria essa vilã controversa e humana e, por isso, mesmo, muito mais difícil. Aliás, não há desafio que Glória não vença. Em “Mulheres de areia” conseguia interpretar quatro tipos diferentes: Ruth, Raquel, Ruth fingindo ser Raquel e Raquel fingindo ser Ruth. Sabe ser vulgar como Sarita em “Mico Preto” (1990), retraída como Julia em “Belíssima” (2006), guerreira e rude como Maria Moura (1994)... Dona de imensas potencialidades, nunca apresenta um trabalho menos do que magistral.


8) Maitê Proença


Essa não poderia faltar em minha lista porque foi minha primeira referência de beleza. Quando a vi em “Guerra dos sexos” imaginava que não existia mulher mais linda no mundo inteiro. Até hoje, essa dúvida paira sobre mim. Sua presença na tela é sempre luminosa. Atualmente é destaque em “Passione” como Stela, espécie de belle de jour devoradora de ninfetos que, ao mesmo tempo é devotada à família e aos filhos. Muitos torcem o nariz para suas qualidades interpretativas. Nunca foi o meu caso. Sempre acho que atrizes muito bonitas sofrem um pouco de preconceito, até mesmo porque seu tipo físico já limita muito a variedade de personagens. Por isso destaco dois momentos: a sofrida e apagada Clara de “Torre de Babel” (1998), em que a beleza da atriz esteve em segundo plano e ela teve a oportunidade de protagonizar cenas fortes e intensas com Tony Ramos com extrema competência; outro momento foi os episódios de “A vida como ela é” (1996), em que Maitê pôde interpretar todo tipo de papel, incluindo feias e putas. Atualmente, tem arrancado elogios sua produção literária e autoral em teatro. Seja da maneira que for, Maitê sempre será, pra mim, um ótimo motivo pra ficar diante da telinha.



9) Claudia Raia



Estrelíssima! Principal herdeira das vedetes do teatro rebolado, é a mais hollywoodiana de nossas estrelas. Dona de pernas que fizeram (e fazem) o Brasil parar, La Raia é o que chamamos de “mulher-gay”: esfuziante, expansiva, um furacão por onde passa. A primeira novela da qual participou, “Roque Santeiro” (1985), explorou ao máximo sua sensualidade. Mais tarde, em “Sassaricando” (1987), mostrou inegável talento cômico como a analfabeta Tancinha e seu bordões “eu me tô tão divididinha” e (que orgulho!) “me olha os melão” (adoooro...rs!). Esse dom pra fazer rir decolou de vez com a TV Pirata (1988), em que interpretou a presidiária Tonhão, que nem de longe lembrava as mulheres sensuais que viveu. Fera na comédia, no musical, no drama, no romance, é talento pra mais de metro.


10) Malu Mader


Malu Mader talvez seja o rosto mais popular entre os jovens nos anos 80. Seus traços não-convencionais constroem uma mulher linda, que sabe ser sexy e sabe ser doce. Malu tem aquela qualidade de grandes estrelas, o chamado carisma, que faz com que todo mundo torça por ela e compre suas brigas, por isso, é quase impossível vê-la como vilã. Conheci a atriz melhor como a patricinha Wal de “Ti-Ti-Ti” (1985) e mais tarde como a ingênua Lurdinha, de “Anos dourados” (1986), minha minissérie favorita até hoje. Quase uma pivete em “O outro” (1987) como Glorinha da Abolição, sensual e vingativa como Claudia em “Fera Radical” (1988), linda mocinha clássica como a modelo Duda em “Top Model”, só tem graça em ver Malu se ela for a estrela. Gilberto Braga que o diga: nenhuma atriz ganhou tantas protagonistas em suas obras quanto ela, sempre bela e luminosa. Charmosíssima, talvez o que a faça ter empatia com o público é uma certa naturalidade com a qual interpreta, que nos faz pensar que ela poderia ser nossa vizinha, nossa amiga. Como diz meu amigo Ivan, Malooosho. E ponto final!
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E vocês? Quais os seus amores da televisão?
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