sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Roteirista convidado: Wesley Vieira apresenta “Pega Rapaz”



Com muita honra, o melão apresenta mais uma novidade: a seção ROTEIRISTA CONVIDADO, afinal a teledramaturgia que tanto amamos nasce no texto. Por isso, a seção vai apresentar sempre um trecho de um texto de algum talentoso aspirante a autor televisivo. E não poderia começar da melhor maneira, com o amigo-irmão, e sócio-editor da sucursal Minas do Melão, Wesley Vieira, conhecido por alguns como “mocinho da Janete”. O rapaz é extremamente talentoso. Participamos juntos das etapas seletivas da oficina de autores da Globo no ano passado e acho que sua hora está prestes a chegar. Por isso, o melão se antecipa e apresenta o talento do para para que um dia possa encher a boca e dizer: eu já sabia. Sobre o texto, o próprio Wesley nos apresenta. Por essa pequena amostra, já se conclui que o rapaz nasceu pra isso. É só uma questão de tempo para que se torne mais um campeão de audiência. A televisão precisa de roteiristas como Wesley que, além do talento e da capacidade criativa, possuem conhecimento e paixão pelo gênero. Autor de novela tem que gostar de novela. Comentem, participem, interajam. O melão é nosso.


Meu parceiro e mais que amigo, Vitor, o Melão (ou seria Melão, o Vitor?) fez o convite para colaborar mais uma vez com o blog e como chefe da sucursal de Minas, não me fiz de rogado e aceitei.
Quem me conhece, sabe que brinco de roteirista e no ano passado quase cheguei lá: tive a sorte de entrar numa grande Fábrica de Sonhos participando de uma seleção das brabas. Vitor e eu passamos juntos por essas emoções e angústias. Resultados diferentes, mas sensação de vitória. O certo é que ele conhece as minhas histórias e pediu para compartilhá-las aqui no Melão.
Uma das minhas sinopses para novela se chama “Pega Rapaz” - uma fábula sobre ego e cobiça. A história, uma comédia, vem sendo desenvolvida desde 2004, quando parti da seguinte premissa: “Mulher não precisa ter bunda e nem precisa ser bonita, mas, sim, um cabelo bonito.” Centralizei a história em um rapaz de caráter duvidoso num estilo janetiano e, claro, tudo isso tendo BH, a capital do meu estado, como cenário. Pesquei três cenas do primeiro capítulo onde Alexia Zambianck, ou melhor, “O Cabelo”, é humilhada pela grande Chica Joaquina Leão. É a partir dessa humilhação que Alexia tem a idéia de usar, Gil Cantuária, o tal rapaz, que chegou a BH e se meteu numa encrenca...
Espero que curtam esse aperitivo: cenas de um primeiro capítulo cheio de acontecimentos, porque aqui, trabalhamos com ganchos e muita emoção.


CENA 21. studio leoa - salão principal. Interior. dia.

CAM passeia pelo moderno e luxuoso ambiente mostrando a movimentação. Vários cabeleireiros, maquiadores, manicures, clientes passeando, clientes tratadas como deusas, muita perua, a loja com os produtos da marca “Leoa”, etc. Em vários pontos, homens trocam banners e pôsteres de propaganda que estão com o rosto de Alexia. Num outro ponto estão Orlanda e Pepita, arrumando cabelo e unha com Renatão, a anã, e outra manicure.

PEPITA      — Ai... Cuidado mocinha. Se me arrancar mais um bife, eu mando a minha filha te demitir.
ORLANDA     — Pepita, dificilmente essa moça come carne em casa. É claro que ela vai arrancar todos os bifes que estiverem disponíveis nessa sua mão, ressecadíssima por sinal. Carne de quinta, mas pra ela deve dar pro gasto. (T) Tadinha, tão pequenininha.
PEPITA      — Pequenininha não, Orlanda. Quer tomar um processo nessa cara? A moça é verticalmente prejudicada. Aprenda.
Renatão olha com nojo para a cara de Orlanda e Pepita que começam a rir de deboche.
Corta para Alcemirando que analisa o cabelo de uma cliente que reclama: queria algo moderno. Chica chega perto, pega a tesoura, analisa e dá um corte com maestria.
CHICA       — Assim é bem melhor. Veja!
CLIENTE     — Uau. Adorei. Ficou sensacional.
Corta para Pepita e Orlanda que secam Chica com inveja.
PEPITA        — Olha que terninho maravilhoso...
ORLANDA     — Combinava mais comigo.
Romilda, muito nervosa, chega interrompendo as duas.
ROMILDA     — Bomba. As senhoras viram o que estão fazendo com as propagandas da Alexia?
Corta rápido para a porta lateral onde Alexia adentra o Studio com todo o glamour e antipatia que lhe é peculiar.
SULA        — Ixi. Chegou a jacaroa.
ALCEMIRANDO — Bem feito. Quem mandou falar mal da patroa na televisão e nas revistas. Se fu..., perua.
Alexia observa os banners e pôsteres com o rosto de Marol. Ela fica apavorada e aborda rapazes que levam seu outdoor para fora do Studio.
ALEXIA      — O que está acontecendo aqui? Por que estão tirando meus banners e meus pôsteres? É ordem de quem?
RAPAZ       — Ordem da chefia. É pra tirar tudo, inclusive da cidade.
ALEXIA      — Que ousadia é essa?
RAPAZ       — A senhora ainda bate um bolão, mas tá velha pra ser garota propaganda né dona?
Alexia fica desesperada.
ALEXIA      — (Grita) Parem já com isso.
Todos se calam enquanto Alexia empurra o rapaz e se coloca na frente de outro que ia levando um enorme pôster com o seu rosto. Ela faz um espetáculo.
ALEXIA      — (Enlouquecida) Ninguém pode fazer isso.
Todos começam a rir de Alexia. Pepita vem acalmá-la.
Letreiro com o nome da personagem: ALEXIA.
ALEXIA      — (Grita) Vocês só estão aqui por causa desse meu cabelo lindo e maravilhoso.
Chica surge por entre as pessoas que estão na parte superior. Ela e Alexia se encaram.
CHICA       — Então a Leoa é isso tudo por sua causa? É isso mesmo? Você se acha no direito de falar que a Leoa só faz sucesso por conta desse seu cabelinho?
ALEXIA      — Cabelinho, não. Alto lá. A Leoa tem um contrato com a minha imagem e eu não posso ser descartada assim como uma lixa de unha. São 25 anos/
CHICA       — 25 anos? Meu Deus! Eu achei que fosse 40. Eu fiquei velha e você também. Acorda Alexia.
ALEXIA      — Eu sempre fui referência e ainda faço sucesso. Eu sou a garota propaganda dessa joça. Sou o símbolo da Leoa.
CHICA       — (Rindo) Garota propaganda? Só se for de tintura pra cabelo branco. E mais: a Marol é a nossa nova garota e garanto que ela vai triplicar as vendas dos shampoos Leoa.
ALEXIA      — (OFF) Mas a Marol não é modelo. Ela não é bonita e muito menos tem um cabelo lindo como o meu.
CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 22. SOBREVOO DE HELICOP./ heliporto. EXTERIOr. dia.
Já cortou antes. Sobre as falas em OFF, um helicóptero sobrevoa a cidade ao entardecer. Aos poucos a CAM revela que Marol é o piloto. O helicóptero vai cortando os prédios da cidade até descer num heliporto. Corte descontínuo. Marol sai do heliporto a bordo de seu carro.

CHICA       — (OFF) Despeitada, não fala bobagem. Marol é linda, simples, sofisticada, tem brilho próprio, é forte e tem o perfil da mulher que é a cara da Leoa. Você está com raiva porque ela é filha de seu ex-marido e principalmente porque ela é jovem, coisa que você não é desde... em que ano a Marol nasceu? 
CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 23. studio leoa - salão principal. Interior. dia.

Todos riem do comentário. Chica desce as escadas rolantes e para perto de Alexia.

CHICA       — Eu passo um mês vivendo como índio na Amazônia e descubro que você torrou a verba da publicidade com a sua bela imagem em revistas de quinta categoria. E você teve a coragem de ir num desses programas de mulherzinha e bradar aos sete ventos que a Leoa só faz sucesso porque você existe. Eu cansei desse seu ar de superior e dessa futilidade. Além disso, você já está bem passadinha. A Leoa precisa renovar.
ALEXIA      — Mas e o meu cabelo?
CHICA       — Pinte de azul ou raspe essa cabeleira e faça um leilão. Certamente esse embuzeiro deve valer algum dinheiro.
Chica vai andando, deixando Alexia furiosa. Os homens que carregam os banners passam perto e ela tenta segura-los. Ela sobe em cima e eles a carregam para fora. Ela cai.
     CHICA         - Você está no lugar que merece: no chão!
Todos começam a rir debochadamente. Efeito das risadas ecoando na cabeça de Alexia. Corta para parte superior onde Pepita faz menção em ajudar a filha. Orlanda também ri e Pepita a empurra em cima dos aparelhos.
PEPITA      — Sua leitoa, você também ri?
ALEXIA      — (Com ódio) Bando de idiotas. Eu vou detonar essa Leoa.

CORTA PARA:

No mês que vem, mais um roteirista convidado. Não percam!
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“TELL ME MORE, TELL ME MORE...” – Pombinhos se reencontram



sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Série Memória Afetiva: grandes damas da televisão


Nunca escondi minha predileção por atrizes. Claro que aprecio o trabalho de um grande ator e muitos deles já habitam no panteão de minha memória afetiva. Mas o fascínio que elas exercem em meu imaginário é inexplicável. Nada é mais poderoso e impactante do que uma atuação feminina. Para dar continuidade a essa homenagem a elas, já que eu já criei um post especial sobre as grandes estrelas da tevê (leia aqui), agora resolvi reverenciar as grandes damas, as essenciais, que carregam toda a bagagem teatral e, embora nem sempre ganhem o posto de protagonistas, são imprescindíveis em qualquer novela. Claro que toda lista é subjetiva, sobretudo as deste blog, assumidamente afetivo. Sei que devo estar cometendo alguma terrível injustiça ao ser traído por minha própria memória, mas mesmo as grandes atrizes que não constam nessa lista, toda minha reverência, respeito e admiração.
Mas as favoritas do melão são elas:

ROSAMARIA MURTINHO



Na verdade, é a grande inspiração desse texto. Tudo o que disser será pouco diante do encantamento que tive com sua arrebatadora atuação como Tia Magda em “O astro” (2011). Em contraponto perfeito com o furacão Clô Hayalla (magistralmente vivida por Regina Duarte), a Tia Magda de Rosamaria Murtinho teve sua personalidade introvertida construída nos detalhes, nas sutilezas, de maneira artesanal, que só mesmo uma atriz com grandes recursos seria capaz. Rosamaria conseguia transmitir toda a amargura e a melancolia de Magda apenas pelo olhar. Ela brilhou intensamente durante toda a novela, mas foi no último capítulo que conseguiu arrancar lágrimas do público ao explodir e deixar transparecer todo o seu rancor, seu ressentimento e sua inveja pela sobrinha Clô. E a cena em que Magda se suicida entrou simplesmente para a antologia das grandes cenas. De cara limpa, com uma coragem absurda, Rosamaria mostrou porque é realmente uma das maiores atrizes desse país. Até então, sua esfuziante Romana Ferreto de “A próxima vítima” era minha personagem favorita da atriz. Mas Magda me arrebatou completamente e recolocou Rosamaria no centro das atenções. Minhas primeiras lembranças da atriz datam das comédias oitentistas de Sílvio de Abreu como “Cambalacho” (1986) e “Jogo da Vida” (1981), mas essa moça veio de longe. Desde os tempos da Excelsior, já brilhava na constelação televisiva de nosso país e forma com Mauro Mendonça um dos casais mais simpáticos e admirados de nossa tevê. Foi uma honra trabalhar com você e já estou ansioso pelo próximo encontro.

FERNANDA MONTENEGRO



Talvez seja a grande unanimidade de nosso país. Sua indicação ao Oscar foi um grande reconhecimento mundial, mas o que Hollywood só descobriu há alguns anos atrás, nós, brasileiros já conhecíamos e desfrutávamos de longa data: seu avassalador talento. São muitas Fernandas em uma só: a adorável cambalacheira Naná, de Cambalacho (1986); a terrível Bia Falcão de “Belíssima”(2005); a tresloucada Charlô, de “Guerra dos Sexos” (1993); a mística Vó Manuela de “Riacho Doce” (1990); a aventureira Zazá (1997); a cosmopolita Lulu de Luxemburgo de “As Filhas da Mãe” (2001); a dominadora Chica Newman, de “Brilhante” (1981); a deliciosa Olga Portela de “O dono do mundo” (1991), só pra citar algumas de suas grandes personagens. A cafetina Jacutinga de “Renascer” (1993) é absolutamente inesquecível. Fica até difícil destacar um personagem dentre tantas interpretações perfeitas. Mais difícil ainda é dizer algo de Fernanda que ainda não tenha sido dito. Dona de todos os recursos, referência total de qualidade e competência. Vida longa para La Montenegro.


NICETE BRUNO

 A primeira imagem que temos de Nicete é de seus personagens doces e simpáticos, mas quem a assistiu como a perversa Úrsula de “O amor está no ar” (1997) ou como a amargurada Isolda de “Louco Amor”, conhece o imenso potencial da atriz que atualmente vem dando show como a amorosa Iná, avó das personagens de Fernanda Vasconcelos e Marjorie Estiano em “A vida da gente” (2011). Também podemos comprovar atualmente outra faceta de Nicete como a divertida perua Juju, que não suporta ser chamada de Julieta pelo marido em “Mulheres de Areia” (1993). Provocou risadas na plateia muitas outras vezes, como em “Alma Gêmea”, em que infernizava a vida do genro vivido por Fúlvio Stefanini. Não tem quem admire essa atriz de sorriso cativante. Casada com Paulo Goulart, também forma um dos casais mais queridos do meio artístico.



EVA TODOR

Estamos acostumados a vê-la sempre no papel de senhorinha irreverente e atrapalhada, mas sua Santinha Rivoredo de “Sétimo Sentido” (1982) revelava uma faceta extremamente dramática da atriz e grande capacidade de criar megeras. Verdadeiro ícone do teatro, teve estreia tardia da Rede Globo em Locomotivas (1977) como a matriarca Kiki Blanche, dona do salão onde se passava a maioria dos conflitos da novela. Outro momento de destaque foi na minissérie “Hilda Furacão” (1998) em que deu vida a Loló, uma conservadora senhora da tradicional família mineira dos anos 50, que fazia de tudo para destruir Hilda e toda a zona do baixo meretrício de Belo Horizonte. Mas os papéis irreverentes são realmente sua especialidade, que sempre dão um sabor especial às produções das quais faz parte.



CLEYDE YÁCONIS


Irmã da lendária Cacilda Becker, Cleyde também é daquelas atrizes superlativas, que defendem com dignidade qualquer papel. Ela convence tanto quanto a perua falida Isabelle em “Rainha da Sucata”, quanto as avós amorosas que viveu em “Vamp” (1991) e “Eterna Magia” (2007). A matriarca Guilhermina Taques Penteado, de “Ninho da Serpente” (1982) é um de seus grandes papéis na tevê. Mas a doce Melica, de “Os ossos do Barão”, remake do SBT, também tem um grande número de admiradores. Recentemente, pudemos rever Cleyde como um dos grandes destaques de “Passione” (2010), como Dona Brígida, a assanhada velhinha que mantinha um caso com o motorista Diógenes, vivido por Elias Gleiser. Ela é a razão de ser de produções pouco memoráveis como “Sex Appeal” (1993), mas também pode ter apenas um delicioso momento como em grandes produções como a minissérie “Um só coração” (2005), em que viveu ela mesma. O fato é que Cleyde Yáconis é indispensável e marcante em qualquer produção.


RUTH DE SOUZA



Essa foi uma grande desbravadora. Não chegou a ser a primeira negra a protagonizar uma novela (Yolanda Braga protagonizou “A cor da sua pele”, na Excelsior em 1964), mas certamente foi a mais marcante ao protagonizar “A cabana do Pai Tomás”, em 1969. Ganhou notoriedade no cinema com o filme “Sinhá Moça”, de 1953, inspirado no romance que mais tarde também viraria novela em 1986, na qual fez sucesso como Balbina, ao lado de Grande Otelo, formando um dos mais adoráveis casais da novela. É sempre uma presença agradável em cena, como em “O clone” (2001) em que vivia Dona Mocinha, a avó do clone Léo (Murilo Benício). Também teve um papel marcante em “O bem amado” (1973) ao lado de Milton Gonçalves. Atualmente, tem uma presença bissexta nas telas, mas sempre com muito brilho e interpretando todo tipo de papel, desde juízas a mães de santo. Se hoje temos Taís Araújo, Camila Pitanga e Sheron Menezes em papéis de destaque nas novelas, é porque no passado tivemos Ruth de Souza abrindo caminho para o artista negro no Brasil.


BEATRIZ SEGALL


Talvez as grandes vilãs, sobretudo Odete Roitman, a tenham marcado de maneira indelével em nossa teledramaturgia, mas Beatriz Segall já provou que é capaz de dar vida a diferentes tipos de personagens. Recentemente, a vi no teatro ao lado de Herson Capri no espetáculo “Conversando com mamãe”, em uma atuação comovente e convincente como uma simplória dona de casa. Na tevê, foi desde a alpinista social Lourdes Mesquita em “Água Viva” (1980) à idealista cientista Miss Brown em “Barriga de Aluguel” (1990), passando pela fogosa Stela, frequentadora do Clube das Mulheres em “De Corpo e Alma” (1992). Apesar das grã-finas serem sua especialidade, já foi uma mulher pobre moradora de vila em “Champagne” (1984). Uma personagem que gostava bastante era a quatrocentona falida Clô, da segunda versão de “Anjo Mau” (1997), em ótima dobradinha com a saudosa Ariclê Perez e fazendo um par comovente com José Lewgoy. Embora as madames sejam sua especialidade, La Segall é bem mais do que isso.


NATHALIA TIMBERG



Mais uma representante do que temos de mais nobre em nossa teledramaturgia. Recentemente, voltou a cativar o público na reprise de “ValeTudo” com a doce e submissa Tia Celina, em excelente contraponto com a diabólica Odete Roitman de Beatriz Segall. Mas diabólica é algo que Nathalia também sabe ser, como provou em “Força de um desejo” (1999) como a maquiavélica Idalina. Outra vilã gilbertiana vivida muito marcante foi a mesquinha Constância Eugênia, de “O dono do mundo”. Na primeira versão de “Ti Ti Ti” (1985), pôde flertar com o nonsense ao interpretar a desmemoriada Cecília. A atriz já emociona o país há muito tempo, como no megassucesso “O direito de Nascer” (1965). Em “A Rainha Louca” interpretou tanto a mocinha, quanto a vilã. Como queria ter assistido... O fato é que, mesmo com papéis sem grandes possibilidades como a recente Vitória Drummond em “Insensato Coração” (2011), é sempre uma presença digna e brilhante em cena.


LAURA CARDOSO



Uma das atrizes mais constantes em nossa tevê, que também transita por diferentes tipos desde os tempos da Tupi. Minha primeira lembrança dela foi na novela “Pão pão beijo beijo”, na pele da nordestina Donana. A partir daí, uma infinidade de tipos me vem à mente, como a autoritária matriarca indiana Laksmi de “Caminho das Índias” (2009) ou a simpática Glória, da atual temporada de “A grande Família”. Meus personagens favoritos são a Isaura, mãe das gêmeas Ruth e Raquel, que tinha uma clara preferência pela última em “Mulheres de Areia” (1993) e Dona Guiomar, a amável sogra de Raul (Miguel Falabella), que passa a repudiá-lo após ser possuída pelo espírito de Alexandre em “A viagem” (1994). Uma verdadeira operária da tevê que já viveu praticamente todo tipo de personagem.


ARACY BALABANIAN



Dá pra acreditar que a tresloucada Dona Armênia de “Rainha da Sucata” (1990) e a austera matriarca Filomena Ferreto de “A próxima vítima” (1995) foram vividas pela mesma pessoa? Versatilidade é pouco pra definir essa atriz, que brilha desde os tempos da Tupi. Suas atuações são tão marcantes que até hoje minha tia Marilza comenta sobre uma ou outra cena das mocinhas que interpretadas por Aracy em “Antonio Maria” e “Nino, o italianinho” nos longínquos anos sessenta. Minhas primeiras lembranças são oitentistas, claro, como a amarga Marta de “Ti Ti Ti” (1985) ou a dominadora Helena de “Elas por elas” (1982). Capaz de ir ao mais intenso dos dramas às comédias mais histriônicas como a Cassandra do humorístico “Sai de Baixo”, é uma das atrizes mais completas que temos.


EVA WILMA


Talvez a primeira grande estrela da tevê. Já fazia sucesso nos anos 50 ao lado de John Herbert em “Alô Doçura”, uma das primeiras sitcons brasileiras. Foi estrelíssima na Tupi, principalmente nas novelas de Ivani Ribeiro como “A barba Azul”, “A viagem” e “Mulheres de Areia”. A partir dos anos 80, viveu papéis de destaque na Rede Globo em novelas como “Ciranda de Pedra” (1981), “Elas por elas” (1982) e “Roda de Fogo” (1986). A endiabrada Altiva de “A indomada” (1996) é um de seus papéis mais marcantes, diametralmente oposto à equilibrada médica Marta no seriado “Mulher” (1998). Um de meus personagens favoritos é a submissa Hilda de “Pedra sobre Pedra” (1992). A cena em que ela toca piano para “acalmar” a lua para tentar impedir que Sérgio Cabeleira (Osmar Prado) seja levado por ela é das mais bonitas, emocionantes e delicadas que já vi. Mais uma atriz de múltiplos recursos, que vai dos tipos mais introvertidos às mulheres mais loucas e exageradas. Uma grande estrela que se transformou em grande dama.

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Quais são suas favoritas?

Leia também: 

Série Memória Afetiva: 10 divas televisivas.


terça-feira, 1 de novembro de 2011

Blogueiro convidado: Evana Ribeiro avalia "O astro"


 Diretamente do time de blogueiros do “Histórias de Tatu”, Evinha, para os íntimos, é a convidada de honra dessa semana. Amiga querida, inteligente, culta e perspicaz, foi eleita a editora-Chefe da Sucursal Recife do melão. Evinha foi uma das telespectadoras mais assíduas de “O astro” e registrou semana a semana suas impressões sobre a novela em seu ótimo blog “Roteirizando”. Por isso, para fechar com chave de ouro o sucesso da releitura do clássico de Janete Clair, ninguém melhor do que ela para produzir um texto especialmente para o melão. Evana, querida, o melão é nosso. Obrigadíssimo pela luxuosa participação e volte sempre!


A magia d’O Astro




Quando recebi o convite do Vítor para falar um pouquinho sobre minhas impressões enquanto espectadora de O Astro, fiquei um pouco surpresa, mas aceitei o “desafio” sem pestanejar. Apesar de ter falado um bocado enquanto a novela estava no ar, acho que sempre fica algo mais a ser dito.


Quando eu era criança, sabia de apenas duas coisas sobre O Astro de Janete Clair: o tema de abertura, que minha mãe volta e meia cantava; e que havia um personagem chamado Salomão Hayalla, que havia sido assassinado. Quando fui crescendo, descobri mais coisas sobre a novela e fui criando mais e mais interesse a respeito da história. Até que surgiu essa (feliz) releitura em 2011, pelas mãos de Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro!

Quem me conhece bem sabe o quanto eu me emociono vendo televisão. As novelas das quais me recordo melhor foram aquelas que me fizeram chorar ou gritar na frente da TV; ou aquelas que me fizeram suspirar por pelo menos um personagem. Enfim, que mexam com a minha emoção de alguma forma.

E se tem algo que O Astro fez, e fez muito bem, foi mexer com as minhas emoções das mais variadas formas. Torci e sofri apaixonadamente por cada um dos personagens que tinham a minha preferência; xinguei (e como!) os vilões... Chorei, ri, me diverti.  Mesmo sendo uma pessoa diurna, não me importei de ficar acordada muitas vezes até a meia-noite para acompanhar, apenas porque sabia que aquele tempinho diante da TV valeria a pena. Quando ficar mais tempo acordada não era possível, a novela das 11 virava minha novela das 6 da manhã, ou da hora do almoço...

Enquanto a novela esteve no ar, fiz alguns posts citando as minhas cenas preferidas durante a semana. Aqui resolvi fazer algo de diferente e, em vez de falar das minhas cenas favoritas, resolvi falar dos personagens que mais gostei, e que mais vão me deixar saudades.

1) Herculano e Amanda: acho que até as pedras se apaixonariam por um bruxo desses, hein? O romance deles foi algo que me deixou nas nuvens. Ver cenas de Amanda e Herculano era garantia de ir dormir feliz.



2) Amin, Jamile e Sílvia: quem acompanhou o meu the best of sabe que esse era meu trio em conflito preferido. Torci muito, mas muito mesmo pela felicidade da Jamile, fosse como fosse. Quanto a Amin, ora eu achava que ele devia terminar sozinho; ora com Sílvia, que muitas vezes demonstrou se tão apaixonada que esbarrava na loucura (lembram da tentativa de suicídio?). Sou muito, mas muito fã mesmo de Bel Kutner, Carolina Kasting e Tato Gabus.

3) Clô Hayalla: Clô sozinha, Clô brigando com Salomão, Clô implicando com Lili, Clô gritando MONSTROOOOOOOO. Enfim, a Clô Hayalla de Regina Duarte foi tão espetáculo que não adianta explicar, tem que assistir mesmo.



4) Jôse, Márcio e Lili: torci muito para Jôse não morrer; cheguei até a torcer um pouco nos primeiros capítulos para que ela ficasse com Márcio no fim! Mas depois dessa cena aqui acabei me rendendo. Mesmo assim, torci por um final bem feliz pra Jôse até o último suspiro.

5) Laura: ela começou a despertar minha atenção de fato quando começou a se envolver com Natal. Virei fã da personagem (e, naturalmente, da intérprete Simone Soares). O auge, pra mim, foi quando ela virou a toda-poderosa da Kosmos e ainda comandou o momento malhação do Judas Neco.

O Astro pode ter saído do ar, mas não há de sair da memória de quem acompanhou e, como eu, se encantou capítulo a capítulo. Ficam meus parabéns e meu agradecimento a cada um que fez essa novela mágica, que sempre valerá a pena rever.

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Evana R.

Obrigado, Evinha! Até a próxima.
Leia também:

O Astro: the best of [semana 16, a.k.a. c'est fini]


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