
Não poderia dizer que o dia em que vi Regina Duarte pessoalmente foi o dia em que a conheci, já que não há brasileiro que não a conheça, afinal estamos mais do que acostumados a conviver com sua adorável figura em nossos lares. E foram tantas emoções compartilhadas, tantos risos, lágrimas e amores arrebatados... Da Regina Duarte atriz, o que mais dizer? Ela é o rosto mais conhecido da TV. A mais representativa e emblemática das atrizes. Seu título de namoradinha do Brasil passa de mão em mão por jovens atrizes de tempos em tempos, mas nenhuma com tanto brilho e expressão. O Brasil namorou carinhosa e apaixonadamente Regina durante todos esses anos e namora até hoje. Das românticas mocinhas dos anos 70, La Duarte deu uma guinada no início dos 80 com a divorciada e independente personagem título de “Malu Mulher”. Outra guinada veio com “Roque Santeiro” (1985), quando mostrou que podia fugir dos tipos sofridos e interpretar a fogosa, engraçadíssima e incorretíssima Viúva Porcina, que marcou época e até hoje povoa o imaginário de muita gente. Regina tem o poder de polarizar atenções e mobilizar o país em torno dos dilemas das mulheres que interpreta. O Brasil sempre chorou, sofreu e torceu por ela. Quando Raquel rasgou o vestido de noiva da filha ingrata em “Vale Tudo” (1988), o Brasil rasgou e vibrou junto. Há quem não se identifique totalmente com seu estilo intenso e arrebatador de representar, mas uma coisa todos concordam: nenhuma atriz alcançou tamanha popularidade na TV como ela. Regina rainha da sucata, Regina Simone, Regina Luana, Regina Helena. São muitas em uma só.
Por isso prefiro dizer que o dia em que conheci Regina Duarte pessoalmente, foi, na verdade, o dia em que ela me conheceu, porque eu já a conhecia desde que conheço a mim mesmo, quando ficava com medo e fascínio de Luana Camará e Priscila Caprice em “Sétimo Sentido”, quando tinha apenas 5 anos de idade e não dissociava realidade de ficção. Ficaria adequado também nomear o dia de meu encontro com Regina como o dia em que conheci Clô Hayalla, intrigante personagem, nascida do imaginário de Janete Clair e repaginada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro. Clô já habitava em meu computador, já havia conhecido suas primeiras palavras e até criado outras para ela... mas pra mim, o dia em que Clô Hayalla nasceu mesmo foi o dia em que a vi se materializar bem diante de mim. Em um átimo de segundo, a adorável Regina se transformou, diante de meus olhos, na poderosa Clô Hayalla, com todos os seus trejeitos e gestos. Ali naquele momento vi a genialidade da criação, quando Regina descreveu Clô como uma rainha, cuja coroa não estava presa na cabeça, daí sua maneira de andar, agir, gesticular, sempre no limite da altivez, prestes a perder o equilíbrio, mas fazendo das tripas coração para manter a pose e a coroa. Era o código que faltava para que Alcides Nogueira, também encantado com a metamorfose, desse a pincelada final na apaixonante Clô, que Regina vem interpretando com uma visceralidade impressionante. Sem medo do exagero, Clô é uma força da natureza, que se entrega às paixões com o coração, mas também com as vísceras. Já fica difícil imaginar uma Clô diferente da que Regina criou.
Nesse dia, constatei que ninguém é Regina Duarte à toa e que, dentre tantas diferenças entre Clô Hayalla e ela, há uma fundamental: sua coroa nunca cairá da cabeça. Regina, já batizada de rainha pelo nome, e predestinada a reinar no coração dos brasileiros, jamais perderá a majestade. Independente de todo o sucesso de “O astro” e de toda a felicidade que está sendo ajudar a escrever essa fascinante história, eu já seria privilegiado pelo simples fato de, já em minha primeira jornada televisiva, escrever para Regina Duarte. Responsabilidade que cumpro com muita honra e muito prazer.
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Texto encomendado e publicado simultaneamente no blog "Eternamente Regina", espaço obrigatório para quem deseja conhecer tudo sobre a carreira da atriz. _________________
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