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sexta-feira, 1 de março de 2013

“TRANSAS E CARETAS”, UMA NOVELA TRANSADA



Por Wesley Vieira

Natalia do Vale vivia Marilia, personagem dividida entre o amor dos irmãos vividos por Reginaldo Faria e José Wilker

Minhas curiosidades em relação à nossa teledramaturgia sempre permearam por obras que, por algum motivo, foram esquecidas. Falar sobre clássicos como “Selva de Pedra” ou “Vale Tudo” nunca é demais, mas gosto de ir atrás de produtos pouco explorados no ciberespaço. Por isso meu interesse é maior em discorrer sobre novelas esquecidas e dessa forma, tentar cultivar a curiosidade dos leitores. “Transas e Caretas”, novela de Lauro César Muniz, exibida entre 09 de janeiro à 21 de julho de 1984, às 19h, é um bom exemplo. Não assisti à novela porque na época tinha apenas dois anos, mas pelas pesquisas que fiz, acho a história muito interessante e merece ser lembrada.




De acordo com o autor, “Transas e Caretas” foi uma novela leve e divertida, tendo grande aceitação no exterior (no Chile, a trama ganhou um remake, “Trampas y Caretas”, de grande sucesso em 1992). A história contrapunha dois filhos de uma mulher muito poderosa: um conservador e outro revolucionário. “Gosto muito da novela, que foi muito bem e é uma das maiores audiências do horário das 19h. Reginaldo fazia o filho bem comportado, conservador, que vivia com os padrões do passado, o careta, e o Wilker fazia o outro, transado (como se dizia na época), arrojado que vivia no futuro”, revela Lauro.
Robô Alcides: um dos grandes baratos da novela
A novela teve a difícil missão de substituir o mega-sucesso “Guerra dos Sexos”, e se não teve a mesma repercussão, não fez feio no ibope. Dados fornecidos pelo autor, mostram que “Transas e Caretas” marcou 56 pontos de média, enquanto a antecessora obteve 58. Números a parte, a novela marcou época por conta das excentricidades futuristas e cibernéticas em sua trama, sobretudo pelo Atari da abertura (novidade), o robô Alcides e pela excelente trilha internacional. Vamos relembrar a história dessa novela que é a cara dos transados anos 80?


Eva Wilma: a matriarca da família

Francisca Moura Imperial (Eva Wilma), conhecida como FMI, é uma milionária controladora e excêntrica que possui dois filhos bastante diferentes: o sisudo Jordão (Reginaldo Faria), fruto de seu casamento com Jacinto Cintra (Henrique Martins), e Tiago (José Wilker), descendente do seu relacionamento com Roberto Leme (Paulo Goulart). Enquanto o primeiro é adepto às tradições seculares e totalmente fechado em relação às mulheres, o outro é ligado às novas tecnologias e vive rodeado de fêmeas charmosas.


Logo no primeiro capítulo, Tiago resolve promover uma brincadeira com a mãe, ao descobrir que ela anda questionando sobre os rumos da família: “Preciso de um herdeiro!”. Ele marca o casamento com uma noiva misteriosa. Porém, para surpresa e perplexidade de Francisca, surge uma macaca de véu e grinalda. Tiago foi longe demais. Para se vingar da brincadeira de mau gosto do filho, ela rasga todos os documentos da doação de seus bens que faria aos herdeiros.

Imediatamente, a matriarca quer mais e decide mudar radicalmente de vida. Ela se interna numa clínica e faz uma cirurgia-plástica ficando 20 anos mais jovem e também muito mais bonita e sexy. Claro, Tiago e Jordão estranham o novo comportamento de Francisca, principalmente com a sua nova mania: fumar charutos.
Empresária de sucesso, Francisca inaugura o Centro das Artes e com a ajuda de Dusa (Tetê Medina) promove um concurso para escolher a Musa do local. Na verdade essa Musa será a mulher escolhida para se casar com um de seus filhos e o principal: lhe dar um neto.

O ANTIGO CARETA E O MODERNO TRANSADO

Jordão vive num apartamento antiquado e tem aulas de violino e cravo com a tímida e apaixonada Sofia (Renata Sorrah). Para deixar o clima ainda mais imperial, Dorinha (Zezé Motta) uma excelente amiga e serviçal, faz às vezes de mucama. Ao contrário deste, Tiago mora em um flat moderno e repleto de tecnologia. Seu mordomo é o up da modernidade: um robô chamado Alcides. Usando o novo funcionário como pretexto, Tiago atrai muitas namoradas para seu flat.

Do outro lado da história está Marília (Natália do Valle), linda e suave. Seus pais Joaquim (Joffre Soares), com sérios problemas de saúde, e Dalva (Yolanda Cardoso) passam por uma difícil situação financeira. Para completar a família, Ana (Aracy Balabanian) sofre com o machismo exacerbado do marido, Marcos (Jece Valadão).
Marília namora Dirceu Valente (Paulo Betti), um artista plástico que tenta se colocar no mercado das artes. Os núcleos se unem quando Dirceu procura Francisca para mostrar o seu trabalho. É assim que ele fica sabendo pela procura da musa e convence a namorada a se inscrever. Durante um coquetel, jurados escolhem a espevitada Catarina (Cristiane Torloni), mas Francisca não vai com a cara da moça e já de posse das suas artimanhas, elege Marília como a verdadeira vencedora.

José Wilker e Natalia do Vale em cena da novela. 
Pronto! As confusões se iniciam. Francisca faz a proposta e Marília, diante do problema de saúde do pai, aceita seduzir Jordão em troca de uma boa mesada. Ela deixa Dirceu de lado e começa um jogo de mentiras com o propósito de atrair o tímido filho de Francisca e tendo a própria empresária como mentora de todas as situações.

Francisca prepara uma festa com o intuito de formar um encontro entre Jordão e Marília, mas ocorre um inesperado: Tiago e ela se conhecem e se beijam. A bela some misteriosamente e Tiago passa a procurá-la desesperadamente. Durante um tempo, Marília namora os dois irmãos ao mesmo tempo e se mostra extremamente dividida.
Tiago, que até então se mostrava um ótimo conquistador e irredutível apaixonado, descobre que ama Marília, mas se os mocinhos não se separarem não é novela: através das armações da dupla Luciana (Lidia Brondi) e Claudia Cowboy (Monica Torres), ele descobre que Marília é a namorada de seu irmão. Magoado, ele rompe o namoro.

Não demora muito para Francisca marcar o casamento de Jordão com a musa. É nesse momento que Marília descobre estar apaixonada por Tiago e tomada por um impulso, abandona o noivo na porta da igreja. Ela e Tiago se escondem e vivem momentos de felicidade.

“Ninguém é exatamente tão careta e também nem tão moderno assim”

Na segunda parte da novela, Jordão, arrasado pelo abandono na igreja, vai curar as mágoas numa boate. No meio do caminho ele dá carona à Liana (Lady Francisco), uma dançarina vulgar e acaba dormindo em sua casa. Percebendo o interesse da mulher, Jordão decide assumi-la como namorada e diz a Francisca que vai se casar com ela. FMI é contra o casamento e investigando o passado de Liana, descobre que ela tem passagem na polícia. Com provas que a incriminam, Francisca tenta tirá-la do caminho, mas ela não se amedronta diante da poderosa sogra. Para piorar a situação, Liana decide dar um filho ao amado.

Natália do Vale, Lady Francisco e Reginaldo Faria em uma cena da novela
Após algum tempo escondidos, Tiago e Marília reaparecem e assumem o romance para todos. Luciana, ferida de amor, arma para que Tiago ache que Marília é mais uma mulher interesseira. Uma fita de vídeo, onde Marília assume que foi comprada é a prova para acabar com a sua imagem de boa moça. Então, se achando muito esperto, ele convoca um ator para se passar por juiz no intuito de promover um falso casamento com a namorada. O que ele não sabia era que Francisca pagou um juiz de verdade e o casamento foi realizado por um verdadeiro falso juíz. Esse casamento não foi o bastante para segurar os dois, que, mesmo casados, rompem o relacionamento. Essa separação veio no momento exato em que Francisca criou mais uma brincadeira: a corrida ao bebê milionário. O primeiro neto que nascer vai ganhar um bilhão.

Nesse tempo, Marília, grávida de Tiago, inicia atividades na empresa de Régis (Claudio Correa e Castro), que assim como Francisca também deseja que o seu único filho, Douglas (Claudio Cavalcanti), lhe dê um herdeiro, urgentemente. Ele percebe que Marília pode resolver o seu problema e aposta todas as suas fichas no casal.
Enquanto isso, Tiago se vê envolvido em estranhos acontecimentos com o intrépido robô Alcides: ele recebe o convite para uma viagem sem volta para o mundo cósmico. Inconformado pela perda de Marília, ele pensa em partir com o mordomo. No dia da viagem, diante da nave espacial que o levará para outro mundo, Tiago decide ficar na terra e se despede do amigo robô.

Na reta final, Marília faz uma viagem para os Estados Unidos e retorna seis meses depois com um barrigão. Ela e Liana entram em trabalho de parto na mesma época e todos apostam suas fichas: quem será a dona do bebê de ouro? Liana dá à luz a um menino, mas seu parto sofre complicações e ela vai para o CTI. Inesperadamente, ela pede para que a sua rival, Sofia, cuide do filho, caso lhe aconteça algo.
Marília ganha uma menina a quem chama de Natália. Ela e Tiago se reconciliam para o alívio de Francisca. “Agora o nome da família vai prevalecer por todos os séculos”. A matriarca, que passou a história toda sendo disputada pelos dois ex-maridos, se acerta com Roberto.

Um big casamento reúne sete casais, inclusive Liana (que conseguiu sobreviver) e Jordão. Sofia que conheceu um sósia do ex-aluno, também se casa. Para fechar a novela, uma surpresa: quem pega o buquê é a mesma noiva macaca do primeiro capítulo. Final feliz.

Final feliz para os personagens de Natália do Vale e José Wilker
Lendo esse resumão, podemos observar como “Transas e Caretas”, uma comédia romântica e despretensiosa, fugiu da temática freqüente nos trabalhos de Lauro - autor de novelas densas como “Roda de Fogo”, “Escalada”, “O Salvador da Pátria” e “Máscaras” (seu último trabalho na Record). O autor voltaria a trabalhar com esse clima em “Um Sonho a Mais” (co-autoria com Daniel Más) e “Zazá” de 1997. “Transas e Caretas” é uma novela que me desperta muita curiosidade e gostaria muito de assisti-la. Como um sonho a mais não faz mal, quem sabe o Canal Viva não se interessa em exibi-la?

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WESLEY VIEIRA é jornalista, escritor, roteirista e noveleiro dos mais apaixonados, cultos e inteligentes. Está lançando em Conselheiro Lafaiete, sua cidade natal, a revista “Olhaí”. Pelo talento do rapaz, tenho certeza de que vem coisa boa por aí. Por ser o blogueiro convidado mais constante do melão, é mais que merecedor do cargo de “Editor-Chefe da Sucursal Minas” deste blog. Conheça outros textos do autor publicados aqui no melão:



CORAÇÃO DE ESTUDANTE – Minas para o Brasil






sábado, 7 de novembro de 2009

Tieta: atualíssima!!! (20 anos depois)



Leonora (Lídia Brondi), moça liberada da capital, decide passear pela quermesse da pacata Santana do Agreste e, devido ao calor abrasador do local, não vê problemas em passear pelas ruas da cidade com sua sainha curta. Não imaginara, porém, que fosse causar tanto furor e fuxico por onde passasse. Os homens da cidade ficaram enlouquecidos e as beatas, escandalizadas. Foi preciso que Ascânio (Reginaldo Faria) a protegesse de um taradão que tentou atacá-la. A atitude de Leonora não ficou impune: além de falada pela cidade, ela teve seu romance com Ascânio interrompido, já que o moçoilo não conseguiu compreender a “modernidade” da amada (cena da novela “Tieta”, de Aguinaldo Silva, exibida em 1989).

Vinte anos depois, a universitária Geisy Arruda, do curso de turismo da Uniban de São Bernardo do Campo, cidade avançada da Grande São Paulo, foi hostilizada e humilhada pelos colegas (até repreendida moralmente pelos seguranças que só deveriam protegê-la) e precisou de reforço policial para deixar a faculdade sob risco de ser linchada. Tudo por causa de um curtíssimo vestidinho vermelho indefectível que a moça trajava.



Pois é. Mas há uma diferença fundamental entre o caso da ficção e o da vida real. Por mais que a população de Santana do Agreste estranhasse a vestimenta de Leonora, ninguém foi hostil, tampouco tentou expulsá-la do evento em praça pública. Tudo se resumiu a fofocas e falatórios ao pé do ouvido.

Geisy, porém, não teve a mesma sorte: além de ser humilhada, xingada, hostilizada, não pôde voltar à universidade, mesmo com todas as mensalidades pagas até o final do ano. Uma pena que a comunidade universitária em questão não demonstre o mesmo vigor na luta por questões mais relevantes em nossa sociedade. E Sarney, firme e forte no Senado!!!


Moral da história? Mesmo a tacanha população da fictícia Santana do Agreste não conseguiu ser tão preconceituosa, bárbara e desumana como o grupo de universitários (e até professores!) desta instituição de ensino de uma das maiores cidades do país. E ainda achamos que o oriente é que é atrasado moralmente.


Por mais que achemos algumas situações de novela inverossímeis, a realidade, às vezes, consegue nos surpreender muito mais.

UM ADENDO: Desejo de coração que Geisy ganhe rios de dinheiro em cima do processo que vai mover em cima dessa pseudo-universidade, pose pra Playboy, vire BBB e seja feliz!

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