Mostrando postagens com marcador Malu Mader. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Malu Mader. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 18 de setembro de 2012

“Top Model”: valeu a pena ver de novo



Os filhos de Gaspar: Olívia (Gabriela Duarte), Elvis (Marcelo Faria), Ringo (Henrique Farias), Jane (Carol Machado) e Lennon (Igor Lage)

Hoje vai ao ar, pelo Canal Viva, o último capítulo da reprise de “Top Model”, novela de Walther Negrão e Antonio Calmon que marcou toda uma geração. E, concidentemente, há exatos 23 anos atrás, dia 18 de setembro de 1989, a Globo exibia o primeiro capítulo da novela, que na época de seu encerramento, deixou muitas saudades e uma legião de fãs, principalmente crianças e adolescentes, todos desejando ser um dos filhos de Gaspar (Nuno Leal Maia), ter nome de astros do rock e do cinema e viver naquela casa super animada à beira da praia.

Pra quem, como eu, era adolescente na época, foi um verdadeiro deleite e um retorno no tempo acompanhar a novela. Mas as gerações seguintes também gostaram de conhecer a trama que sempre ouviram falar bem. Claro que, muitos anos e dezenas de novelas depois, nosso olhar é outro e hoje, bem mais crítico, consigo reconhecer que não se trata de uma novela perfeita. Pelo contrário, a trama muitas vezes, foi conduzida em banho-maria, sustentando-se apenas pelo carisma dos personagens, interpretados por um ótimo time de veteranos e por um surpreendente elenco jovem, talvez o melhor elenco adolescente já reunido em uma novela. Todos os garotos e garotas foram muito bem construídos e pareciam de carne e osso, não ficavam o tempo todo proferindo um amontoado de gírias e tendo atitudes “modernas” que sempre soam forçadas em tramas adolescentes. O mais bacana é que eles não eram apenas filhos de alguém. Todos tinham o mesmo peso dos personagens adultos. A trama das irmãs Olívia e Jane (Gabriela Duarte e Carol Machado), por exemplo, apaixonadas pelo mesmo garoto, Artur (Jonas Torres), foi conduzida com extrema sensibilidade, sem vilanizar nenhuma das duas, mostrando, sobretudo, que o amor que uma sentia pela outra sempre foi maior do que qualquer rivalidade.



Maria Zilda: destaque positivo
 Outro aspecto positivo da trama foi a ausência de maniqueísmo e estereótipos. A mocinha não era tão mocinha, o vilão, muitas vezes, foi humanizado, o herói tinha um pé na marginalidade e o grande paizão da trama, em vários momentos, não passou de um garotão irresponsável. Um bom exemplo disso foi a personagem Marisa (ótima atuação de Maria Zilda Bethlem), que começou a trama parecendo ser mais uma vilã corriqueira, mulher interesseira que abandona o irmão pobre, a quem ama, pra ficar com o irmão rico. Mas Marisa foi muito além e teve uma trajetória bastante interessante, chegando, em um determinado momento, a assumir o controle dos negócios da família, para depois se tornar riponga, desmemoriada, chegando ao cúmulo de aconselhar a rival Naná (Zezé Polessa) a conquistar seu próprio marido. E em todos esses momentos, Maria Zilda se saiu muito bem, sempre imprimindo leveza e bom humor. Zezé Polessa e Drica Moraes foram as grandes revelações adultas da novela. Zezé, como uma adorável faz-tudo eternamente apaixonada por Gaspar. Quem não gostaria de ter uma Naná em casa? Já Drica, na pele da “empreguete” Cida, provocou muitas gargalhadas como a doméstica apaixonada por bandido que virou cantora (quem disse que a Cida de “Cheias de Charme” foi a pioneira?).

Eva Todor e Zezé Polessa: diversão garantida na trama

Outro grande destaque do time dos veteranos foi Eva Todor, que brilhou na pele da atrapalha avó Morgana e fez uma dupla adorável com o saudoso Luiz Carlos Arutin. Nos momentos em que a trama não andava, era Morgana quem garantia a diversão, sempre com um texto inspirado. E para fazer justiça, é impossível não citar Cecil Thiré, que simplesmente arrasou como o doentio vilão Alex Kundera, outro personagem muitíssimo bem construído. Alex não era um monstro 100% do tempo. Claro, era um psicopata que não conseguia conviver com a inveja que sentia pelo irmão, mas também tinha dimensão humana: sofria por amor e demonstrava afeto pelo filho Alex Júnior (Rodrigo Penna). Um papel que só podia mesmo ter sido vivido por um grande ator como Cecil Thiré.

Cecil Thiré na pele de Alex Kundera com Rodrigo Penna: ator brilhou na pele de vilão
Já o par romântico central da trama não funcionou como deveria. A heroína Duda (Malu Mader) começou forte e decidida, mas foi enfraquecendo no decorrer da novela e desistiu com muita facilidade de seu amor por Lucas (Taumaturgo Ferreira), mostrando-se, muitas vezes, mimada e egoísta. Além disso, os autores mantiveram o casal separado na novela por muito tempo. Nesse meio tempo surge Giulia (Alexandra Marzo em seu melhor momento na tevê), para arrebatar o coração de Lucas e promover o antagonismo com Duda. Nesse caso, a ausência de maniqueísmo contou a favor de Giulia, já que ela estava bem distante das características de uma vilã. Ao contrário, Giulia era amiga, simpática, companheira, generosa, determinada, enfim, adorável, tudo o que Duda não foi. Resultado: houve uma imensa torcida para que Lucas ficasse com Giulia e não com Duda, que chegou a ficar ausente da trama justamente nos capítulos finais. Até mesmo a reconciliação de Lucas e Duda foi promovida por Giulia que, se não foi a heroína da trama, teve mais atitude de heroína do que a mocinha original, que nada fez para lutar por seu amor.

Luiz Carlos Arutin e Alexandra Marzo: fotografados de minha tevê

A trilha sonora também foi um caso à parte. Poucas vezes, canções e trama combinaram tão bem em uma novela e muitas delas se tornaram memoráveis. Impossível não ouvir “Stairway to Heaven” e “Hey Jude” e não se lembrar de Gaspar e sua família. Ou “Oceano” e “Right here waiting”, que nos remetem imediatamente ao romance de Duda e Lucas, da mesma forma que “Wish you were here”, com os Bee Gees, vai sempre nos lembrar de Giulia. “Stay”, com Oingo Boingo e “À francesa”, com Marina Lima, também são exemplos de canções que sempre irão nos remeter à novela. A lista é grande...

Lucas e Duda: casal ficou distante demais durante a trama
Enfim, mesmo não tendo o ritmo de uma novela que se espera que tenha nos dias de hoje, em que os espectadores querem uma novidade por minuto, “Top Model” manteve seu charme, seu frescor da época com sua trama ensolarada e alto astral. Valeu a pena ver de novo e pra sempre valerá. 

_____________________

LEIA TAMBÉM: 


10 motivos para assistir a “Top Model “no “Canal Viva”




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

10 motivos para assistir a “Top Model “no “Canal Viva”



E o Canal Viva, esse lindo, continua nos brindando com re-reprises até então impensáveis. A queridinha da vez é “Top Model”, célebre novela de Walther Negrão e Antonio Calmon e um dos maiores sucessos do horário das sete. A exemplo do que fiz com “Vale Tudo” listei abaixo 10 motivos que fazem dessa reprise um programa imperdível. Vamos a eles:


1)   MALU MADER



Malu Mader já era uma das estrelas mais promissoras da casa, afinal já tinha se destacado em “Ti Ti Ti” e protagonizado “Anos Dourados” e “Fera Radical”, mas foi aqui que entrou, definitivamente, para o primeiro time da televisão.  Na pele de Duda, a top model do título, Malu estava no auge da beleza e juventude e com um carisma gigante. Sem dúvida, uma das atrizes de maior empatia com o público até hoje.

2)   MEMÓRIA AFETIVA

Quem viveu aquela época confunde suas próprias lembranças com as lembranças da novela. Que adolescente nunca desejou ser um dos filhos de Gaspar (Nuno Leal Maia)? Impossível não rever a novela e não recordar o que estávamos fazendo na época.

3)   MELODRAMA ENSOLARADO

Há quem tenta decifrar até hoje o que tem de Negrão e o que tem de Calmon na novela. Posso estar enganado, mas a mim me parece muito claro que o estilo jovem e ensolarado que Calmon já tinha mostrado em “Armação Ilimitada” se uniu ao típico estilo novelão de Walter Negrão. “Top Model”, além de sol, praia e diversão, tinha elementos autênticos de melodrama (o que faltou em “Vamp”) como o fato do mocinho Lucas (Taumaturgo Ferreira) ser filho bastardo do vilão Alex (Cecil Thiré) e os inúmeros dramas familiares, como a disputa entre irmãos, triângulos amorosos, doenças incuráveis e outros elementos indispensáveis a um bom folhetim. Um casamento perfeito do estilo dos dois autores.

4)   TRILHA SONORA

Uma das trilhas sonoras mais lembradas de todos os tempos. Como não amar “Oceano”, megassucesso de Djavan e tema do casal principal Duda e Lucas, tocando 36363 vezes por capítulo? E ainda há outras canções que viraram superhits na época e tocaram incessantemente na novela como “À Francesa”, na voz de Marina; “Vida”, de Fábio Júnior; “Hey Jude”, versão de Kiko Zambianchi para o clássico dos Beatles; “Fica comigo”, hit chiclete da banda Placa Luminosa, espécie de Roupa Nova que sumiu tão rápido como surgiu; e “Essa Noite, não” (minha favorita), de Lobão. Também merecem destaque “Independência e vida”, canção pouco conhecida de Rita Lee; “Babilônia Maravilhosa”, com Evandro Mesquita; “Bobagem”, de Léo Jaime e “Nega Bom Bom”, que tinha o verso mais sacana “punhetinha de verão” que todo mundo repetia no LP. E a trilha internacional também trouxe um punhado de sucessos, de Bee Gees a Tina Turner. O chiclete “Oceano” foi substituído por “Right here waiting”, na voz de Richard Marx, tema principal de onze entre dez festinhas adolescentes da época. Do tempo em que os jovens ainda dançavam de rosto colado.

5)   JOVENS TALENTOS

Flávia Alessandra, Adriana Esteves e Gabriela Duarte: estreantes

“Top Model”, sem dúvida, tem o elenco jovem mais talentoso das novelas, de fazer inveja a qualquer temporada de “Malhação”. As beldades Gabriela Duarte, Adriana Esteves e Flávia Alessandra estreavam diretamente do concurso do Faustão vencido por Flávia que, estranhamente, ficou com o menor papel das três. Jonas Torres, o eterno “Bacana”, aqui já adolescente confirmando seu talento; Carol Machado, Henrique Farias, Rodrigo Penna, Igor Lage, todos ótimos! E Marcelo Faria também estreando em novelas. 



6)   ELENCO DE PESO

Além do ótimo time de atores jovens, “Top Model” também tinha ótimos atores no time de coadjuvantes, como Eva Todor, sempre engraçada na pele de Morgana, a mãe maluquinha de Gaspar e Alex; os saudosos Felipe Carone, Luiz Carlos Arutin e Chiquinho Brandão; Jonas Bloch, Denise del Vecchio, Cissa Guimarães, Suzana Faíni e Jacqueline Laurence, todos em ótimas atuações; e Maria Zilda, sempre muito bem em tipos bandidos sensuais, aqui como Marisa, o pomo da discórdia dos irmãos Kundera.

7)   PAINEL DE UMA ÉPOCA

Para aqueles que gostam de comparar as diferenças entre duas décadas, a novela também é um prato cheio, a começar pelos figurinos cafonas oitentistas considerados chiquérrimos para a época; a beleza natural pré-siliconada e marombada de belas modelos e garotas da praia; e o próprio termo “top model” até então desconhecido do grande público.

8)   PARTICIPAÇÕES ESPECIALÍSSIMAS

Regina Duarte, entre Evandro e Nuno, como uma surfista
Outros momentos deliciosos de “Top Model” foram as participações mais que especiais das mães dos filhos de Gaspar (Nuno Leal Maia): Susana Vieira como a mãe de Elvis (Marcelo Faria); Regina Duarte fazendo a mãe de sua filha na vida real, Gabriela Duarte, que fazia a Olívia; e Rita Lee, como a mãe de Jane e Ringo (Carol Machado e Henrique Farias), que era uma extraterrestre e partiu em um disco voador. Como não amar?

9)   TRIO VERSÁTIL

Não deixa de ser divertido também ver Nuno Leal Maia como Nuno Leal Maia, Taumaturgo Ferreira como Taumaturgo Ferreira e Evandro Mesquita como Evandro Mesquita (risos).

10)DRICA E ZEZÉ

“Top Model” também marcou a ascensão de duas atrizes pouco conhecidas na época e que hoje são grandes estrelas: Drica Moraes e Zezé Polessa. A primeira arrancou gargalhadas na pele da sonhadora empregada Cida, apaixonada por cantores bregas. Já Zezé marcou como a atrapalhada Naná, espécie de Zelda Scott balzaquiana, principal pretendente ao coração de Gaspar. O bordão de Naná, “meleca” fez o maior sucesso na época.

Zezé Polessa, impagável como Naná
_________________

E vocês? Estão acompanhando a reprise? Quais são suas melhores lembranças de “Top Model”?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

20 anos de “O dono do mundo”: um legítimo “Gilberto Braga”.




No dia 20 de maio de 1991, ia ao ar o primeiro capítulo de “O dono do mundo”, talvez a novela mais polêmica e controversa de Gilberto Braga. Segunda obra da trilogia sobre a corrupção, que começou com a antológica “Vale Tudo” (1988), “O dono do mundo”, no entanto, não é lembrada pelo êxito da primeira, mas por uma polêmica que prejudicou a audiência na época e até hoje é mais comentada do que as suas inúmeras qualidades.


A trama contava a saga de vingança da jovem Márcia (Malu Mader), professora virgem do subúrbio, que é seduzida em sua lua de mel pelo sedutor cirurgião plástico Felipe Barreto (Antonio Fagundes), que aposta uma caixa de champanhe com o amigo Julio (Daniel Dantas), que levaria a moça para a cama antes do próprio noivo, Walter (Tadeu Aguiar). Felipe arma todo um esquema para que isso aconteça e acaba seduzindo Márcia, que acaba se apaixonando pelo crápula. Ao descobrir toda a verdade, Walter perde o controle e acaba sofrendo um acidente de carro e morre. Tomada de amores, Márcia tem esperanças de que Felipe vai se separar da devotada e rica esposa Stela (Gloria Pires) para ficar com ela. Ao descobrir que fora enganada e que teve sua vida destruída, Marcia parte para uma implacável vingança contra Felipe.

Porém, o que o autor não esperava era que o público, ainda conservador, fosse se voltar contra Márcia, atribuindo a ela a culpa pela morte do noivo. Na verdade, o que não perdoaram foi o fato de Márcia ir bater na porta do quarto de Felipe, e não o contrário. A solução foi dar bastante destaque a outro par romântico da novela, Taís e Beija-Flor, vividos pelos estreantes em novelas globais Letícia Sabatella e Ângelo Antônio. Mesmo se prostituindo no início da novela, o público não se voltou contra Taís e torceu até o fim para que o amor deles prevalecesse. Impossível não ouvir “Codinome beija-Flor” na voz de Luiz Melodia e não se lembrar do casal, cujo maior empecilho era a ambição da moça e a falta de ambição do rapaz.

Um fator que talvez tenha afastado parte do público da novela, que migrou para o SBT, que exibia a açucarada “Carrossel”, era a acidez de sua narrativa. Ao contrário de “Vale Tudo”, que através de sua trabalhadora heroína Raquel, lançava um olhar otimista para a realidade, mesmo com um time de vilões de primeira categoria e com toda a crise por qual passava o país, “O dono do mundo” era mais sombria, mais cínica, mais pessimista, mostrava que o poder tudo podia e que os pobres não passavam de marionetes nas mãos dos mais poderosos. A abertura, com Chaplin vivendo “O grande ditador”, brincando com um mundo povoado por belas mulheres, já ditava o tom da narrativa e dava a dica do que vinha por aí.  Frases como “nunca mais pego mulher de além-túnel” eram proferidas pelo protagonista o tempo todo sem o menor resquício de culpa. Apesar de Gilberto Braga afirmar o tempo todo que o verdadeiro mocinho da novela era Rodolfo (Kadu Moliterno), que se envolveu com Stela após esta se separar de Felipe, o público, a exemplo de Márcia, também se deixou seduzir pelo cafajeste charmoso construído por Fagundes.

Entre os destaques do elenco, cito Nathalia Thimberg e Glória Pires pelo mesmo motivo. As duas viveram tipos bem marcantes em “Vale Tudo” e suas personagens na novela em nada lembram as antecessoras. Impressionante como Nathália não deixou nem rastro da doce e amável Celina ao interpretar a amarga e desagradável Constância Eugênia, assim como a digna e elegante Stela não lembra em nada a ambiciosa Maria de Fátima. Dá gosto de ver duas atrizes em cena com capacidade tão altamente transformadora. Vale ressaltar também a transformação da própria Malu no decorrer da novela, de uma Márcia ingênua e simplória para uma Márcia vingativa e charmosa. Justiça seja feita: a atuação de Malu foi louvável. Felipe Barreto está entre meus personagens favoritos de Fagundes, sempre dotado de carisma, mas aqui também com um charme arrasador. Maria Padilha, como a patética e interesseira Karen, também foi um grande destaque. Entre os destaques jovens do elenco, impossível não lembrar da saudosa Daniella Perez, que além de linda e carismática, já dava mostras de seu talento promissor. E o time de veteranos deu um show à parte: Beatriz Lyra (adorável), Claudio Correa e Castro, Ana Rosa, Hugo Carvana, Odete Lara em rara aparição televisiva, Jacqueline Laurence, Stenio Garcia, Paulo Goulart... com um timaço desses e um texto inspirado, o resultado não poderia ser menos do que alta dramaturgia.

Constância e Olga, inimigas na trama, renderam ótimos momentos.

Mas o grande destaque mesmo fica por conta de Fernanda Montenegro e sua impagável Olga Portela. Na pele da cafetina não declarada, Fernanda deu um show, deitou e rolou com um texto inspiradíssimo, mas que só renderia na boca de uma atriz de altíssima competência. Olga tinha falas maravilhosas e Fernanda soube dosar perfeitamente o cinismo e a hipocrisia da personagem que, afinal de contas, era do bem e guardava um dos maiores segredos da trama.

Quanto à polêmica com Felipe Barreto, o autor chegou a criar uma redenção para o personagem, fazendo com que o público pensasse que ele havia se regenerado. Mas ao final, Marcia consegue cumprir seu objetivo de desmascará-lo.  A cena que fecha a novela é a de Felipe se casando com uma jovem herdeira de um fazendeiro em Goiás e paquerando outra jovem durante a cerimônia. O olhar cúmplice de Felipe para o público e o comentário: “é virgem” foi a resposta perfeita do autor para o público, que também se deixou seduzir por Felipe, confirmando o tom cínico e crítico que permeou toda a trama.

Enfim, quando assisti à novela pela primeira vez, era muito jovem e nem tomei conhecimento dos comentários negativos a respeito dela. Agora, ao rever a novela, estou constatando a ótima impressão que tive na época. Um autêntico Gilberto Braga, com tudo aquilo que o universo do autor tem de delicioso: a elegante decadência do high society, alpinismo social, armações e viradas espetaculares, texto irônico, mas sem deixar de lado o bom e velho folhetim e, claro, grandes cenas para grandes atores.
Fica a torcida por uma reprise no Canal Viva no mesmo horário de “ValeTudo”  e a lembrança de duas décadas de mais essa pérola gilbertiana.



sábado, 19 de março de 2011

Blogueiro convidado: Raphael Scire e o "gran finale" de "Ti Ti Ti"


Como vocês sabem, esta semana fui convidado pelo blog "Zappiando" para escrever sobre "Ti Ti Ti". Mas o melão não poderia ficar desguarnecido. Por isso, Raphael Scire foi novamente convocado para fazer um balanço final da novela. Abaixo, links para outros textos sobre "Ti Ti Ti". 



A novela das Marias

Por Raphael Scire



Cá estou eu de novo a falar de “Ti ti ti”, versão 2010/2011, que certamente já entrou para o meu rol das melhores novelas. Parece que foi ontem quando, em junho de 2009, entrevistei a autora e ela me disse que faria o remake de duas tramas de Cassiano Gabus Mendes.

A novela acabou e deixou um sentimento de orfandade em quem gosta de uma boa trama. A história de Maria Adelaide Amaral permitiu-se. Permitiu-se a ousadia e a vanguarda, ao mostrar tão abertamente não uma, mas duas relações homossexuais em pleno horário das sete. Permitiu-se a diversão, sem tornar exagerado o tom da comédia. Permitiu-se a nostalgia e o saudosismo, ao fazer inúmeras referências a outras tramas, fossem elas de Cassiano Gabus Mendes ou não.

Um elenco cuja maior característica foi a afinidade, uma direção que primou pela alegria e um texto, bem, o texto é de um primor único. Tudo casou bem, do figurino à cenografia. Marília Carneiro, que trabalho! Fazer moda numa novela que fala sobre moda não é coisa pouca e só mesmo quem entende do riscado poderia fazer um trabalho como este. Marília tirou de letra, como já era esperado. Eu me lembro da empolgação da figurinista quando a entrevistei, na festa de lançamento de “Dalva e Herivelto, uma canção de amor”, produção para a qual também assinou o figurino.

Não posso deixar de destacar o trabalho de Regina Braga. As cenas que tinham o texto mais sofisticado da trama eram com ela, justamente nos momentos em que a lucidez faltava à sua personagem. Impossível não se emocionar. Quando Cecília encontra sua irmã, Julia, o público ganhou de presente um show de atuação. Junto a Nicette Bruno, comoveu e deu credibilidade ao drama de Cecília.

Falar que Murilo Benício teve o melhor papel de sua carreira seria chover no molhado, a crítica e o público já se encarregaram de o fazer. Mas ele merece todo o reconhecimento por seu Ari/Victor Valentim. Alexandre Borges não fez feio, mas Benício levou a melhor. Ah, seu Tatá, conhecido também por Luiz Gustavo, que outrora dera vida a Ari/Victor voltou com tudo. E pediu para ficar.
  
Por último, permito-me aqui dizer que essa foi a novela das Marias. Primeiro a autora, Maria Adelaide Amaral, para cujo talento a gente tem mais é que fazer referência e agradecer ajoelhado e de pés juntos por esse brinde à teledramaturgia. Se antes eu já era fã dela, agora fiquei mais ainda. Depois por outras três Marias que arrasaram na interpretação. Malu Mader, que é Maria de Lourdes, fez uma Suzana que não conseguia esconder o riso nas cenas cômicas e por isso me conquistou – na verdade, Malu poderia fazer qualquer papel que me conquistaria da mesma maneira.  Claudia Raia, que vem a ser Maria Claudia, fez a diversão de todos e de tudo com sua tresloucada, politicamente incorreta e por isso apaixonante Jaqueline Maldonado. Minha vontade era colocar a Jaqueline num potinho e guardar para sempre. Embora Mayana Neiva tenha se destacado, para mim, a grande revelação da novela foi Maria Helena Chira, que fez de sua Camila uma patricinha no tom exato. E tem também a Maria de Médicis, diretora da equipe de Jorge Fernando, que não é Maria, mas é cheio de graça e foi essencial para esse sucesso.

Esse “Ti ti ti”, certamente, merece um remake do remake (ok, isso é hipérbole minha). Já deixa saudades. O último bloco foi a cereja do bolo no último capítulo. Claudia Raia, definitivamente, viveu um de seus melhores momentos na televisão. O discurso final de Jaqueline foi emocionante. Uma novela como essa só poderia acabar desse jeito: em clima 
de festa. Parabéns, Maria Adelaide, e obrigado por oito meses de alegria.
_____________________________________________________________

Leia também:

Meu texto para o Zappiando: "Ti Ti Ti ontem e hoje" -> http://zappiando.wordpress.com/2011/03/18/ti-ti-ti-ontem-e-hoje/


_________________________________________________________

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Blogueiro convidado: Raphael Scire e a metalinguagem em “Ti Ti Ti”.

                                                                                                                                                                                                           
                                                                                                                                                                                
Inaugurando o novo banner, o melão recebe mais um blogueiro convidado.



 Jornalista de São Paulo, de 22 anos, Raphael Scire é mais um noveleiro a colaborar com o melão. Fã de Sílvio de Abreu, Gilberto Braga e Maria Adelaide Amaral, Raphael elegeu a atual novela da autora citada como assunto de seu texto: a metalinguagem em “Ti Ti Ti”, que vem divertindo o público, sobretudo, os apaixonados por telenovelas como nós. Além de escrever muito bem, Raphael também é um ótimo papo pelo Twitter (@Raphael_Scire ). Quem seguir o rapaz não vai se arrepender. O melão agradece mais uma excelente colaboração. Como é bom ter amigos inteligentes...



A metalinguagem de Ti ti ti

Por Raphael Scire


A aposta da Rede Globo para recuperar a audiência na faixa das 19h não poderia ter sido mais certeira. O remake de Tititi e Plumas e Paetês, dois clássicos de Cassiano Gabus Mendes dos anos 1980, trouxe uma trama leve, romântica e bem humorada, tudo muito bem dosado por Maria Adelaide Amaral e equipe, que sabem a hora certa de carregar a tinta tanto na comédia como no drama.

É uma delícia ver Malu Mader (Suzana) segurar o riso nas cenas em que Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Ari – o melhor papel de Murilo Benício na televisão até agora – disputam sua atenção. A Jacqueline de Claudia Raia é outro ponto de destaque. Surtada e adorável, é dona de frases cortantes, divertidas e alucinadas. Rodrigo Lopez (Chico) começou a novela algo que caricato, com forte sotaque paulistano, a acentuar sua profissão de motoboy. Aos poucos, foi ganhando a simpatia do público e suas cenas com Nicole (Elizângela) são hilárias.

Mas o que torna o remake de “Tititi” ainda mais emblemático do que o próprio original é a liberdade que a autora vem tendo para divertir o público, em especial os aficionados por telenovelas. Há, pelo menos, uma citação a outras novelas de sucesso por dia. Metalinguagem televisiva nunca vista antes.

Logo nos primeiros capítulos, quando Jorge Fernando fez uma participação como ele mesmo, Ari explicou a Chico quem era o diretor: “Jorge Fernando, Chico, aquele que dirigiu A próxima vítima”. A novela em questão, escrita por Silvio de Abreu, contou com a colaboração da própria Maria Adelaide.

Malu Mader em "Fera Radical": uma das mais frequentes citações da novela.

Jacqueline, por exemplo, é uma das que mais solta tais pérolas. Ela alfineta a “rival” Suzana chamando-a de Fera Radical, referência explícita à trama protagonizada por Malu Mader nos anos 1980. Em uma cena, ao comemorar o sucesso de Jacques Leclair, Jacqueline propõe um brinde entre ela e o amado. A empregada Rosário (Rosanna Viegas), animada, pede para participar e ouve da patroa: “Ih, olha a empregada querendo ter fala. Isso aqui não é novela do Manoel Carlos, não!”


Ari, ao explicar a Mabi (Clara Tiezzi) sua relação com Victor Valentim, comparou-a com a de Murilo Benício na novela “O Clone” (foto), em que o ator tinha dois papéis. Isso tudo, é claro, com enorme esforço de Benício para segurar o riso.


E não é só a novelas que são feitas referências. Thaysa (Fernanda Souza), na tentativa de conquistar Adriano (Rafael Zulu), disse ao rapaz que dançaria para ele, a fim de fazer com que ele deixasse de ser gay. Prontamente, ele respondeu que ela só dançaria na “Dança dos Famosos” do programa do Faustão. Explica-se: a atriz Fernanda Souza foi a campeã da última etapa do quadro. A dupla rendeu ainda mais risada aos nostálgicos telemaníacos. Adriano, ao ver que Thaysa chegava ao mesmo local onde ele estava soltou essa: “lá vem essa Chiquitita taradita”. Uma amostra de que a metalinguagem  de Ti ti ti não fica apenas nas produções da emissora.

Fernanda Souza nos tempos de "Chiquitita", novela do SBT.

Ti ti ti é um claro exemplo de que um verdadeiro clássico se faz com base em verdadeiros clássicos. A continuar assim, a trama de Maria Adelaide Amaral reserva inúmeras boas surpresas para nós, loucos por telenovelas.
_____________________________________________________________________________


Leia também: "Ti Ti Ti: uma novela sem vergonha de ser novela
http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/08/ti-ti-ti-uma-novela-sem-vergonha-de-ser.html
                                                                                                                                                                                                                                      

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Série Memória Afetiva: 10 divas televisivas.

                                                                                                               

MEUS AMORES DA TELEVISÃO – Cresci com elas...

Chegou a hora do melão revirar seu baú e revelar mais lembranças televisivas que se confundem com a própria vida. Claro que a lista a seguir não pretende representar o senso comum, embora muito se tenha dele, afinal, todo mundo da minha geração cresceu assistindo e convivendo com essas e outras maravilhosas mulheres. Impossível alguém que não admire pelo menos uma delas. Por isso, o melão estende seu tapete vermelho e apresenta as atrizes que povoaram o imaginário deste que vos fala desde à mais tenra infância. São mais do que atrizes (afinal atriz boa é o que não falta em nosso país e a lista seria enorme): são divas, deusas, mitos que povoam nosso imaginário.

Ver um bom ator em cena é sempre gratificante, mas atrizes pra mim serão sempre imbatíveis.

Eis as minhas:

1) Betty Faria



Não é segredo pra ninguém que é minha favorita desde sempre. É muito difícil transpor em palavras o amor e a admiração que sentimos por alguém, por isso não sei dizer com exatidão por que gosto tanto dela. Talvez porque lembre minha mãe? Talvez por ser mais que atriz, na verdade, uma estrela de primeira grandeza? Talvez por ser superlativa, linda, rebelde, talentosa, sensual? Talvez por interpretar seus papéis com tanta força e entrega? Talvez por ter o biótipo que represente a síntese da mulher brasileira? Talvez por representar um certo protótipo de feminilidade? Sim, gosto de Betty faria por todos esses motivos e por mais alguns que não consigo expressar. O fato é que, a partir dos anos 70, marcou a teledramaturgia interpretando mulheres fortes, marcantes, como Lucinha, a cinderela de subúrbio de “Pecado capital” (1975) ou a estonteante e intensa protagonista de “Tieta” (1989). Na contramão dos tipos sensuais, também é capaz de encarnar tipos submissos como Antônia de “De corpo e alma” (1992) ou rainhas do lar com Amélia de “Uma rosa com amor”(2010). Enfim, Betty é minha favorita e não é a primeira vez que digo isso aqui. Mas não custa repetir sempre...


2) Glória Menezes



Um verdadeiro patrimônio de nosso país. Junto com Tarcísio Meira, forma o casal mais famoso da história da teledramaturgia. Seu rosto é tão conhecido e sua presença nas novelas tão constante que é quase impossível que algum brasileiro não a conheça. Glória é uma atriz talentosa, claro, como tantas em nosso país. Mas tem um tipo de carisma único, que faz com que se torne especial, única. Minha primeira lembrança dela é da novela “Guerra dos sexos” (1983), onde não deixava dúvidas por quem deveríamos torcer. Sempre nos dá a impressão de que interpretar é tão simples como respirar. Sua galeria de heroínas é extensa e marcante, mas quem achava que Glória se limitava a elas, teve suas duvidas totalmente dizimadas com a célebre vilã Laurinha Figueiroa, de “Rainha da Sucata” (1990) considerada por muitos como o seu melhor trabalho. Ainda hoje em uma idade em que muitas atrizes ganham papéis secundários, Glória ainda rouba a atenção do público e muitas vezes centraliza as ações como no caso de Dona Irene, de “A favorita”. Uma estrela de verdade como ela sempre estará no olho do furacão.


3) Yoná Magalhães



Dividiu com Glória Menezes nos anos 60 o posto de atriz mais popular do país e revezava com ela no papel das heroínas televisivas, fazendo par com o saudoso Carlos Alberto. De lá pra cá, manteve sua beleza. Sempre foi sinônimo de mulherão e, de certa forma, ficou aprisionada nesse estereótipo. Lembro bem dela em “Amor com amor se paga” (1984), mas foi com “Roque Santeiro” (1985), vivendo Matilde, a dona da pousada e da boate “Sexus” que tive a real noção de que se tratava de uma grande estrela. Hoje em dia vive muitos papéis de mãe, avó, vários deles aquém de sua capacidade. Mas sempre que tem chance mostra que pode centralizar as atenções como a Carmela de “A próxima vítima” (1995), a Valentina de “Meu bem, meu mal” (1990) ou como a submissa Tonha de “Tieta” (1989), papel que foi um divisor de águas em sua carreira, já que teve a chance de fugir do estereótipo de mulherão (pelo menos no início da novela), como uma mulher maltratada e sofrida, que dá volta por cima e retorna linda e poderosa ao Agreste. Ali, Yoná provou que além de estrela, é também uma grande atriz, capaz de tipos únicos e antológicos.


4) Regina Duarte

 


 O que dizer? Ela é o rosto mais conhecido da TV. A mais representativa e emblemática das atrizes. Seu título de namoradinha do Brasil passa de mão em mão por jovens atrizes de tempos em tempos, mas nenhuma com tanto brilho e expressão. O Brasil namorou carinhosa e apaixonadamente Regina durante todos esses anos e namora até hoje. Das românticas mocinhas dos anos 70, La Duarte deu uma guinada no início dos 80 com a divorciada e independente personagem título de “Malu Mulher”. Outra guinada veio com “Roque Santeiro” (1985), quando mostrou que podia fugir dos tipos sofridos e interpretar a fogosa, engraçadíssima e incorretíssima Viúva Porcina, que marcou época e até hoje povoa o imaginário de muita gente. Regina tem o poder de polarizar atenções e mobilizar o país em torno dos dilema das mulheres que interpreta. O Brasil sempre chorou, sofreu e torceu por ela. Quando Raquel rasgou o vestido de noiva da filha ingrata em “Vale Tudo” (1988), o Brasil rasgou e vibrou junto. Há quem não goste de seu estilo de representar, mas com uma coisa todos concordam: nenhuma atriz alcançou tamanha popularidade na TV como ela. Regina rainha da sucata, Regina Simone, Regina Luana, Regina Helena. São muitas em uma só.



5) Dina Sfat



Fazia um interessante contraponto com Regina Duarte em diversas novelas. Enquanto Regina representava a delicadeza e a fragilidade, ela era a força, a intensidade. Uma das batalhas mais memoráveis da TV foi em “Selva de Pedra” (1972) em que sua personagem Fernanda infernizava a vida da Simone de Regina Duarte. Pena eu não ser nascido pra presenciar tal momento. Falecida precocemente em 1989,  dois meses depois do fim de "Bebê a Bordo", em que vivia a personagem Laura. Minha primeira referência sobre a atriz veio com a Paloma de “Os gigantes” (1979). Não cheguei a assistir à novela, era pequeno demais, mas sempre ouvi minha família comentando o quão ela esteve bem na novela. Conheci Dina pra valer na minissérie “Rabo de saia” (1984) como uma das mulheres de Quequé (Ney Latorraca). De uma beleza madura, intensa, ao mesmo tempo comum e única. Seus olhos são, sem dúvida, os mais expressivos da TV. A impressão que ela passava era a que seria capaz de fazer qualquer papel. E de fato em sua carreira ela interpretou de tudo. Os mais de vinte anos em que não aparece mais na Tv não lhe tirou o título der estrela marcante e inesquecível. Todos queríamos que ela tivesse ficado um pouco mais com a gente. Mas diva é diva e permanece.


6) Lucélia Santos



Uma das mais versáteis atrizes que conheço. Suas carreiras em cinema e teatro são um caso à parte. Arrebatou o país com “A escrava Isaura” em 1976, novela responsável por apresentar ao mundo nossa teledramaturgia. Até hoje o verso “lerê lerê” da canção de Dorival Caymmi nos remete à escrava branca que sofria nas mãos de seu senhor. Mas a interpretação de Lucélia não se resume a apenas isso. Uma das qualidades que mais admiro nela é sua imensa e supreendente versatilidade: ela vai das mocinhas mais puras e ingênuas às mais lascivas e despudoradas mulheres, com muitas camadas de gradação entre estes extremos. Minha lembrança mais antiga dela em TV foi em “Guerra dos Sexos” (1983), em que interpretava a dissimulada Carolina. Ali já tive a prova de seu talento, pois não é nada fácil fazer uma diabinha que se faz de santa de maneira crível. Lucélia protagonizou durante muito tempo diversos personagens na Tv diferentes entre si. Logo após a ingênua “Sinhá Moça” (1986) deu vida á exuberante e sensual Carmem em 87. Inexplicável sua ausência da TV nesses anos todos. Em uma entrevista recente, fiquei impressionado, não só com sua seriedade e seu profissionalismo, mas também com sua capacidade de realização e a assertividade de suas opiniões. Sem dúvida, uma mulher forte e admirável e uma das mais camaleônicas de nossas atrizes. Que seu retorno à Tv (em grande estilo) seja breve.


7) Glória Pires


Seu nome é sinônimo de qualidade desde sempre. A mais sucedida de todas as atrizes mirins. Cresceu diante dos olhos do público e se agigantou a cada trabalho até se tornar a melhor atriz de sua geração. Disputada por todos os autores, Glória Pires nunca teve a delicadeza de uma Regina Duarte, a sensualidade de uma Sonia Braga, nem a expressividade de uma Dina Sfat. Ao contrário, fisicamente é um tipo bem comum. Por isso mesmo consegue transitar por todos os tipos e personalidades com uma facilidade única. Meu “apaixonamento” por ela foi com a sofrida Ana Terra em “O tempo e o vento” (1984). Mesmo aos sete anos, ficava vidrado diante da tela porque sabia que ali estava uma atriz especial. Ana Terra quase não tinha texto. Falava pouco. A atriz se garantia muitas vezes no olhar, no gestual, na expressão. E o que dizer de Maria de Fátima de “Vale Tudo” (1988)? Hoje em dia em que vilãs estereotipadas e maniqueístas caem nas graças do público, Gloria soube, na época, interpretar com maestria essa vilã controversa e humana e, por isso, mesmo, muito mais difícil. Aliás, não há desafio que Glória não vença. Em “Mulheres de areia” conseguia interpretar quatro tipos diferentes: Ruth, Raquel, Ruth fingindo ser Raquel e Raquel fingindo ser Ruth. Sabe ser vulgar como Sarita em “Mico Preto” (1990), retraída como Julia em “Belíssima” (2006), guerreira e rude como Maria Moura (1994)... Dona de imensas potencialidades, nunca apresenta um trabalho menos do que magistral.


8) Maitê Proença


Essa não poderia faltar em minha lista porque foi minha primeira referência de beleza. Quando a vi em “Guerra dos sexos” imaginava que não existia mulher mais linda no mundo inteiro. Até hoje, essa dúvida paira sobre mim. Sua presença na tela é sempre luminosa. Atualmente é destaque em “Passione” como Stela, espécie de belle de jour devoradora de ninfetos que, ao mesmo tempo é devotada à família e aos filhos. Muitos torcem o nariz para suas qualidades interpretativas. Nunca foi o meu caso. Sempre acho que atrizes muito bonitas sofrem um pouco de preconceito, até mesmo porque seu tipo físico já limita muito a variedade de personagens. Por isso destaco dois momentos: a sofrida e apagada Clara de “Torre de Babel” (1998), em que a beleza da atriz esteve em segundo plano e ela teve a oportunidade de protagonizar cenas fortes e intensas com Tony Ramos com extrema competência; outro momento foi os episódios de “A vida como ela é” (1996), em que Maitê pôde interpretar todo tipo de papel, incluindo feias e putas. Atualmente, tem arrancado elogios sua produção literária e autoral em teatro. Seja da maneira que for, Maitê sempre será, pra mim, um ótimo motivo pra ficar diante da telinha.



9) Claudia Raia



Estrelíssima! Principal herdeira das vedetes do teatro rebolado, é a mais hollywoodiana de nossas estrelas. Dona de pernas que fizeram (e fazem) o Brasil parar, La Raia é o que chamamos de “mulher-gay”: esfuziante, expansiva, um furacão por onde passa. A primeira novela da qual participou, “Roque Santeiro” (1985), explorou ao máximo sua sensualidade. Mais tarde, em “Sassaricando” (1987), mostrou inegável talento cômico como a analfabeta Tancinha e seu bordões “eu me tô tão divididinha” e (que orgulho!) “me olha os melão” (adoooro...rs!). Esse dom pra fazer rir decolou de vez com a TV Pirata (1988), em que interpretou a presidiária Tonhão, que nem de longe lembrava as mulheres sensuais que viveu. Fera na comédia, no musical, no drama, no romance, é talento pra mais de metro.


10) Malu Mader


Malu Mader talvez seja o rosto mais popular entre os jovens nos anos 80. Seus traços não-convencionais constroem uma mulher linda, que sabe ser sexy e sabe ser doce. Malu tem aquela qualidade de grandes estrelas, o chamado carisma, que faz com que todo mundo torça por ela e compre suas brigas, por isso, é quase impossível vê-la como vilã. Conheci a atriz melhor como a patricinha Wal de “Ti-Ti-Ti” (1985) e mais tarde como a ingênua Lurdinha, de “Anos dourados” (1986), minha minissérie favorita até hoje. Quase uma pivete em “O outro” (1987) como Glorinha da Abolição, sensual e vingativa como Claudia em “Fera Radical” (1988), linda mocinha clássica como a modelo Duda em “Top Model”, só tem graça em ver Malu se ela for a estrela. Gilberto Braga que o diga: nenhuma atriz ganhou tantas protagonistas em suas obras quanto ela, sempre bela e luminosa. Charmosíssima, talvez o que a faça ter empatia com o público é uma certa naturalidade com a qual interpreta, que nos faz pensar que ela poderia ser nossa vizinha, nossa amiga. Como diz meu amigo Ivan, Malooosho. E ponto final!
________________________________________

E vocês? Quais os seus amores da televisão?
___________________________


Leia também:

Série Memória Afetiva: grandes damas da televisão

Prefira também: