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sábado, 15 de outubro de 2011

Série Memória Afetiva: as melhores amigas da ficção




Dedico “prazamiga”

Estava eu um dia em casa com meus grandes amigos Ivan Gomes, Walter de Azevedo e Wesley Vieira, quando surgiu a ideia. Nem lembro quem comentou primeiro, mas começamos a fazer um brainstorm procurando lembrar daquelas personagens que estão sempre ali pro que der e vier: as melhores amigas das telenovelas. Elas são geralmente chamadas de "personagens-orelha" no jargão técnico. Mas algumas delas são muito mais que isso. A lista é infindável, pois elas estão praticamente em todas as novelas e séries. Por isso, mais uma vez, meu critério vai ser subjetivo. Elas não representam as melhores ou mais inesquecíveis, mas sim aquelas que falam mais alto em minha memória afetiva.



Claro que, quando pensei nesse post, não consegui tirar de minha cabeça duas autênticas representantes desse tipo de personagem, ambas de “O astro”: a funkeira Tânia (vivida brilhantemente por Carolina Chalita), a batalhadora e esfuziante melhor amiga de Lili (Alinne Moraes); e a sensual executiva Beatriz (a linda Guilhermina Guinle), a melhor amiga de Amanda (Carolina Ferraz). Claro que ambas possuem trama própria na novela: Tânia acabou se enrabichando pelo tímido Olavo (Rafael Losso) formando um dos casais mais fofos da novela, enquanto Beatriz, depois de se envolver com Samir (Marco Ricca) e arrastar a asinha pra cima de Herculano (Rodrigo Lombardi), acabou engatando um romance pra lá de caliente com seu “namorado bandido”, Neco. A partir das duas, pra quem também dedico meu post, comecei a me lembrar de outras melhores amigas favoritas. São elas:


10) Jandira (Cristina Galvão em “Insensato Coração - 2011)


Cristina Galvão já tinha vivido uma grande amiga em “Tieta” (1989), quando ajudava Imaculada (Luciana Braga) a se livrar das garras do Coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura). Anos depois em “Paraíso Tropical”, viveu uma enfermeira camarada que ajudou Paula (Alessandra Negrini) a se livrar das armações de Taís. Mas foi com a companheira de cela de Norma (Gloria Pires) que ela conquistou definitivamente o Brasil e entrou para o rol das amigas mais queridas da ficção, afinal ela esteve com Norma até o fim em suas armações, se mostrando não só uma amiga fiel, mas como a mais confiável das cúmplices. Ótima dobradinha das atrizes e mérito da atriz, sempre doce e carismática. Quando cometer um crime, quero uma Jandira só pra mim.

9) Lenir (Guida Vianna em “Duas Caras” – 2008)


Guida Vianna é outra atriz que está cada vez mais se especializando em ser a melhor amiga, como Isolina, sua atual personagem em “Fina Estampa”, em que é uma das melhores amigas de Griselda (Lilia Cabral) e Wilma (Arlette Salles). Junto com Celeste (Dira Paes), parecem uma versão, digamos, diferenciada de “Sex and the City”. Minha primeira lembrança de Guida Vianna vem do cinema e já nesse papel de melhor amiga: era uma das empregadas amigas de Fausta (Betty Faria) em “Romance da Empregada”, de Bruno Barreto. Tanto que Aguinaldo batizou sua personagem com o mesmo nome da personagem de Betty no filme em “Senhora do Destino”, em que fazia a empregada de Nazaré (Renata Sorrah). Mas a “melhor amiga” mais divertida de sua carreira é a Lenir de “Duas Caras”, que não saía da casa da perua Gioconda (Marília Pêra). De nada adiantava colocar vassoura atrás da porta. Lenir tomava café da manhã, almoçava e jantava na casa da amiga, para o desespero do dono da casa Barreto (Stenio Garcia). Apesar de usar e abusar da hospitalidade da amiga e de não ter o menor semancol, Lenir era uma companhia divertidíssima, sempre com ótimas tiradas e dona dos comentários mais inconvenientes nas piores horas, o que garantiu uns dos melhores momentos da novela. 


8) Eliete (Isabela Garcia em “Celebridade” – 2003)


Era o tipo da amiga que dizia sempre o que pensava, doa a quem doer. Inspirada na camareira ranzinza de Margo Channing (Bette Davis em “A malvada”), Eliete era o anjo da guarda de Maria Clara Diniz (Malu Mader). Mesmo de classes sociais diferentes, as duas tinham muita cumplicidade. Eliete era sacoleira e fazia questão de não aproveitar as vantagens financeiras que poderia ter em ser amiga de Maria Clara. A exemplo do filme, foi a única a perceber que o jeito doce de Laura (Claudia Abreu) escondia uma terrível vilã capaz de tudo para prejudicar Maria Clara. Mas Laura era tão sonsa e dissimulada que conseguiu fazer com que todos pensassem que Eliete estava com ciúmes da amiga. A grande (e impagável) vingança da sacoleira foi quando foi visitar Laura no hospital após esta levar uma surra de Maria Clara. Eliete debochou do fato de Laura ter perdido um dente após a surra e tripudiou o quanto pôde na vilá. Claro que a plateia vibrou e se sentiu vingada também. Curiosidade: Malu Mader e Isabela Garcia também são grandes amigas na vida real.


7) Leopoldina (Beth Goulart em “O primo Basílio” – 1988)

Essa é uma melhor amiga clássica, não só na teledramaturgia, como também na literatura. A “pão e queijo”, como era conhecida por toda a Lisboa, Leopoldina era uma mulher de péssima reputação por trair o marido constantemente com todo tipo de homem. Por isso, a amizade dela com Luisa (Giulia Gam) não era vista com bons olhos pelo marido desta Jorge (Tony Ramos). Mesmo assim, Leopoldina era a mais fiel das amigas e foi cúmplice da traição de Luisa com Basilio (Marcos Paulo) e fez de tudo para tentar livrar a amiga da chantagem de Juliana (Marilia Pera). Mesmo quando Luísa jogou em sua cara a má fama que ela tinha e mesmo rejeitada pela amiga no final de sua vida, Leopoldina foi companheira até o fim. Uma grande personagem de Eça, transposta brilhantemente para a telinha por Gilberto Braga e muitíssimo bem interpretada por Beth Goulart. Uma de minhas personagens favoritas do livro / minissérie.


6) Rosinha (Betty Faria em “Incidente em Antares” – 1994)


Foi uma pequena participação de minha diva, mas um dos melhores momentos da minissérie. Betty brilhou na pele da singela e sofrida prostituta Rosinha, melhor amiga da também prostituta e recém-falecida Erotildes (Marília Pêra) e única a não sentir medo da amiga após sua morte. Betty fez pouquíssimas cenas na minissérie, mas uma bastante tocante foi quando ela maquiou a amiga depois de morta para que ela se juntasse aos outros defuntos que não foram enterrados devido a greve dos coveiros. Em uma cena quase felliniana, Rosinha, após lamentar por todo o seu sofrimento de uma noite em que foi violentada por vários rapazes, faz um pedido final à amiga ao se despedir: “Pede a Deus que me dê uma boa morte, já que ele não me deu uma boa vida”. Um momento breve, mas extremamente sensível e emocionante que contou com uma interpretação visceral de Betty Faria, que soube empregar singeleza, melancolia e intensidade na dose certa. Confesso: uma de minhas cenas favoritas de toda a carreira da atriz.

5) Guiomar (Louise Cardoso em “Força de um desejo” – 1999)


Cortesãs costumam ter amigas fiéis. E no caso da esplendorosa Ester Delamare (Malu Mader), ela tinha mais que uma amiga: um verdadeiro cão de guarda. Com seu jeito irreverente e despachado, Guiomar comprava todas as brigas da amiga, não só na capital, mas também quando se mudaram para o interior. Esperta, gaiata e descolada, Guiomar sempre tinha uma carta na manga para salvar Ester dos apuros e sem papas na língua, sempre dizia os desaforos que o espectador queria ouvir. Vivia às turras com Bartolomeu, mas no fundo era amor recolhido. Protagonizou momentos hilariantes da luxuosa trama de Gilberto Braga e Alcides Nogueira ao dar aulas de boas maneiras para a aspirante a baronesa Bárbara Ventura, brilhantemente interpretada por Denise del Vecchio. Além do grande alívio cômico da trama, Guiomar cumpriu com louvor sua missão de melhor amiga até o fim.

4) Marta (Bia Nunnes em “História de amor” – 1995)

Todas as Helenas de Maneco sempre puderam contar com grandes amigas, mas Marta é minha favorita de todas. Mais que amiga: comadre, cúmplice e grande ombro de Helena (Regina Duarte). Marta gostava tanto da amiga que acabou revelando à mimada Joyce (Carla Marins) que Helena não era sua mãe biológica, pois não suportava mais os maus tratos da filha ingrata. Marta perdeu a amizade de Helena, mas pelo mais nobre dos motivos. Fora isso, também foi um dos grandes destaques da novela ao superar um câncer de mama. A trama foi contada com muita delicadeza e Bia Nunnes conseguiu uma interpretação sensível e marcante. Confira a cena em que Marta, após revelar a Joyce que Helena é, na verdade sua tia, a esbofeteia e lhe diz muitas verdades para defender a amiga Helena. Catarse total!



3) Solineuza (Dira Paes em “A diarista”- 2003/2009)


A “poia”, como era “carinhosamente” chamada pela amiga diarista Marinete (Claudia Rodrigues) foi, aos poucos, crescendo até se tornar o destaque absoluto da série. Burra de dar dó, mas com um grande coração, Solineuza sempre tinha a melhor das intenções e, ao tentar ajudar a amiga, sempre a colocava em grandes enrascadas. Dira Paes deitou e rolou no papel e suas tiradas proporcionavam as maiores risadas da história. Com um jeito atrapalhado e ingênuo, Solineuza nos despertava compaixão, graças à interpretação genial de Dira Paes, que conseguiu um precioso equilíbrio entre o humano e o caricatural. Mesmo aprontando as mais inacreditáveis loucuras, Dira nos fazia acreditar que a personagem estava levando sempre tudo muito a sério. Sem sombra de dúvidas, a singela Soli era o grande motivo de se assistir “A diarista”.


2) Carmosina (Arlette Salles em “Tieta” – 1989)


A sonhadora funcionária dos correios foi um dos melhores papéis da Arlete Salles e entrou para a galeria dos personagens inesquecíveis da novela. Carmosina abria as cartas no bico da chaleira (costume herdado de sua mãe Dona Milu, vivida pela inesquecível Miriam Pires) e, desta forma, conhecia todos os segredos dos moradores da cidade, algo impensável de se colocar em uma novela nos dias de hoje por conta da onda politicamente correta que assola nossa tevê. Solteirona, ou “no caritó”, como se dizia na novela, Carmosina foi a única a oferecer ajuda para Tieta (Claudia Ohana / Betty Faria) quando esta foi expulsa de Santana do Agreste. Quando a cabrita volta à terra natal, as duas retomam a amizade e Carmô se torna sua grande confidente, inclusive sabia dos planos de vingança da amiga e do romance dela com seu sobrinho Ricardo (Cassio Gabus Mendes) e também seu grande segredo: Tieta não era viúva de um comendador, mas sim dona de um famoso bordel. A amizade das duas chegou a ficar abalada quando ela descobriu que Tieta pagou Gladstone para “inaugurá-la”. Mas o amor  e amizade prevaleceram e a ex-invicta terminou feliz ao lado de seu amor e fez as pazes com a grande amiga. Carmosina é uma das personagens que mais me comove. Me fez rir e me fez chorar com cenas magníficas. Essa bate fundo na memória afetiva.

1) Ronalda Cristina (Catarina Abdalla em “Armação Ilimitada” – 1985/88)

Essa é uma das mais autênticas representantes do gênero. Com um apetite voraz, tanto para sanduíches, quanto para homens, Ronalda Cristina era a grande amiga e confidente de Zelda Scott (Andréa Beltrão) e segurava todas as barras e dores de cotovelo da amiga, sempre as voltas com seus amores Juba e Lula (Kadu Moliterno e André di Biase). Ronalda era tão amiga que até batizou com o nome da amiga a filha que teve com um extraterrestre (!): Zeldinha Cristina, um bebê com poderes sobrenaturais. Dentro da proposta deliciosa e revolucionária que era a série, Ronalda funcionava como a cereja do bolo, sempre irreverente e sempre levantando o astral da amiga. Uma gostosura inesquecível. Confesso: formou meu caráter.


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Menção honrosa: ZÉ MARIA (Guilherme Piva em "Xica Da Silva" - 1996)
Tá, não foi propriamente uma "melhor amiga", mas teve essa função na deliciosa trama de Adamo Angel, pseudônimo de Walcyr Carrasco na extinta TV Manchete. Zé Maria aguentava todos os desaforos de sua amiga sinhá e foi responsável pelos momentos mais engraçados da novela. 
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Agora é a sua vez! O melão quer saber: quais suas amigas favoritas da ficção?


sábado, 7 de maio de 2011

Betty Faria: 70 anos de uma grande estrela



As várias facetas da atriz, homenageda pela comunidade do orkut "Queridões". Montagem de Duh Secco

Betty, querida! Que os próximos capítulos de sua vida sejam tão belos, ricos e plenos quanto os capítulos de sua vitoriosa carreira. O melão estende o tapete e lhe dá os parabéns pelos muitíssimos bem vividos anos de vida com um banner comemorativo que permanecerá por todo o mês de maio no blog e ilustra dois momentos ao lado dos grandes galãs de nossa teledramaturgia: “Cavalo de Aço”, com Tarcísio Meira; e “Pecado Capital”, com Francisco Cuoco.


Este domingo, dia 08 de maio de 2011, promete ser muito especial: além dos seus 70 anos e da comemoração do Dia das Mães, é o encerramento de sua vitoriosa temporada carioca do espetáculo "Shirley Valentine". A emoção não vai faltar no palco do CCBB. 


Sem mais palavras, segue agora um desfile de imagens e videos de sua carreira, relembrando grandes personagens como Lazinha, Lucinha, Joana, Marina, Tieta, Walkíria com votos de muito sucesso e Boa Sorte Sempre!



Banner comemorativo criado por Felipe Ribeiro


Em

Em "A próxima atração" (1970) e com Milton Moraes em "O espigão" (1974)
Lucinha, personagem clássica de "Pecado Capital" (1975)


                       





Momentos da atriz em "Água Viva" (1980) , "Baila Comigo" (1981), "O salvador da pátria" (1989), "Tieta"(1989/90)  e "A idade da loba"(1995)  


Duas Caras: duelo de Bárbara (Betty Faria) e Sílvia (Alinne Moraes):





Tieta se despede das dunas:




Betty Faria canta no Video Show:




Momentos da carreira (por Montenegro&Raman)




Betty Faria canta "Esses Moços" para seus fãs. Video de Anna Paulla Ferreira:






Amália de "Uma rosa com amor" (2010): seu trabalho em tv mais recente


Agradecimentos especiais a Felipe Ribeiro, por mais um belíssimo banner e Naira Freitas, pelo envio de algumas das fotos.





quinta-feira, 14 de abril de 2011

Série Memória Afetiva – 10 vilãs memoráveis - PARTE III – ANOS 2000


Depois das maravilhosas malévolas das décadas de 80 e 90, encerro essa “série memória afetiva” com as minhas vilãs favoritas da última década, que foi pródiga no assunto. Por isso mesmo, já prevejo polêmicas, já que é inevitável que as favoritas de muitos fiquem de fora. Outro item que vai dar o que falar é a posição no ranking, já que há praticamente um empate técnico entre as quatro primeiras. Qualquer uma dessas quatro poderia ser a primeira, já que fizeram um sucesso retumbante. Antes de mais nada, um agradecimento especial ao querido amigo Duh Secco, do blog “Agora é que são eles”, pela luxuosa colaboração. Vamos a elas:


10) NORMA (Carolina Ferraz em “Beleza Pura)


 Na época da exibição de “Beleza Pura”, só se falava em Rakelly (Isis Valverde). A maluquete roubou a cena da novela, deixando em segundo plano a trama central, na qual Norma era encarregada das mais terríveis vilanias. Mas bem depois da novela, Norma virou febre com o surgimento do vídeo “Eu sou rica”, no qual nossa belíssima vilã deixa bem claro para o mocinho Guilherme (Edson Celulari) o motivo pelo qual não iria presa. “Eu sou rica” ganhou as pistas de dança, virou hit na internet e colocou Norma na galeria das grandes vilãs.



9) VILMA (Lucinha Lins em “Chamas da Vida”)


Uma mãe dominadora, uma empresária ambiciosa e uma incendiária insana. Assim era Vilma Oliveira Santos, que não hesitava em botar fogo, literalmente, na vida de seus inimigos. Brilhante desempenho de Lucinha Lins, Vilma dominou a ação em Chamas da Vida, desde o início, quando todos sabiam que ela era a responsável por inúmeros incêndios envolvendo seus inimigos, até o fim, quando passou a ser perseguida por um segundo incendiário e se viu completamente louca com a hipótese de ser eliminada da mesma forma que eliminava seus rivais. (Por Duh Secco)


8) SÍLVIA (Alinne Moraes em “Duas Caras”)

 Ela foi chegando de mansinho na novela, mostrando-se dócil e amável no início, para logo depois revelar uma personalidade obsessiva e crimonosa. Sílvia usava de seu charme para conseguir o que queria com Ferraço (Dalton Vigh) e não hesitava em querer eliminar seus inimigos. Dois momentos da vilã são muito marcantes pra mim: o primeiro, no qual ela deixa seu enteado Renato se afogando em um lago com a desculpa de que não pode molhar o cabelo (como amo ironia!!!); e o segundo, seu embate com a governanta Bárbara (Betty Faria), braço-direito de Ferraço, que detectou de cara a boa bisca que ela era. Vibro com aquela cena em que Sílvia tenta dar um tapa em Bárbara e leva uma chave de braço da governanta, que arremata com a melhor definição possível para a vilã: “diabinha”.
  

7) MAÍSA (Daniela Escobar em “O clone”)

 Maísa não é daquelas vilãs clássicas que trama coisas mirabolantes em meio a gargalhadas malévolas. É uma vilã, a la Gloria Perez, que foge desses estereótipos: amargurada, rancorosa, ressentida e humana. Mãe dominadora, faz de tudo para impedir o namoro da filha com seu segurança. Sem o amor do marido Lucas (Murilo Benício) e humilhada pela paixão deste por Jade (Giovana Antonelli), Maísa compensa sua frustração torrando o patrimônio do maridos com joias e vestidos caros e age silenciosamente, seduzindo Said (Dalton Vigh), marido de Jade, para se vingar da Odalisca. Uma cobra, que espera pacientemente pelo bote e um trabalho intenso e bem realizado de Daniela Escobar.


6) MARTA (Lília Cabral em “Páginas da Vida”)


 Outra vilã que foge do modelo clássico. Aliás, há quem nem a considere uma vilã, tamanha a humanidade que a genial Lilia Cabral emprestou à personagem. Frustrada pelas expectativas que depositou no marido e nos filhos, Marta era uma mulher comum e foi até compreendida por grande parte da audiência, que a via como uma batalhadora que carregava a família nas costas. Mas o fato dela rejeitar a neta portadora de Síndrome de Down, revelando todo o seu preconceito foi inaceitável. E com isso, nossa “querida” Marta foi contemplada com um passaporte para ingressar no rol das grandes vilãs da década.


5) ADMA (Cássia Kiss em “Porto dos Milagres”)



Mais uma vilã “aguinaldeana”. Adma era fria, calculista, minimalista. Transpirava crueldade pelos poros e era capaz de tudo para proteger seu amado Félix (Antonio Fagundes) dos inimigos. A arma? Uma boa dose de veneno que carregava em seu anel. O público vibrou com mais essa atuação espetacular de Cássia Kiss e esperava apreensivo para saber quem seria a nova vítima da terrível Adma.


4) BIA FALCÃO (Fernanda Montenegro em “Belíssima”)

“Pobreza pega”. Sim, queridos, agora começa o desfile das maiores vilãs. O quarto lugar pode até soar injusto para Bia, mas acreditem, até o primeiro lugar foi quase um empate técnico. Espécie de Odete Roitman do terceiro milênio, Bia tinha todas as características da histórica vilã “valetudista” (desprezo pelo Brasil, corrupção, instintos assassinos e sede por garotões). E com um agravante: o total desprezo pela filha legítima Vitória (Claudia Abreu). Bia fez e aconteceu: simulou a própria morte, prejudicou a neta Júlia (Gloria Pires) o quanto pôde e ainda protagonizou uma cena digna de tragédia grega ao rejeitar solenemente a filha pela segunda vez. Terminou feliz em Paris nos braços de um garotão aos brados de “bando de idiotas”. Mais um excelente trabalho para a já extensa galeria de personagens inesquecíveis de Fernanda Montenegro.


3) LAURA (Claudia Abreu em “Celebridade”)


Essa adorável “cachorra” causou frisson na época da novela e até hoje é lembrada como um dos melhores desempenhos de Claudia Abreu. Sonsa, dissimulada, com uma ironia e sarcasmo únicos, Laura movimentou a novela até ser assassinada no último capítulo. Totalmente inspirada em Eve Harrington, clássica personagem que infernizava Bette Davis em “A malvada”, Laura tinha objetivo destruir a vida de Maria Clara Diniz (Malu Mader) e, para isso, contava com a ajuda de um bom michê, Marcos (Marcio Garcia), como toda vilã gilbertiana que se preza. A surra que Laura levou de Maria Clara (inspirada em uma antiga cena de “Água Viva”) foi memorável, mas a melhor lembrança que tenho de Laura é dela arrasando, linda, na pista de dança, comemorando seu triunfo sobre a inimiga.


2) FLORA (Patricia Pillar em “A Favorita”)



Essa é cult! Flora deu a sua intérprete Patrícia Pillar inúmeras possibilidades de interpretação. E a atriz não desperdiçou: deu um banho como psicopata vingativa da genial trama de João Emanuel Carneiro, obstinada em destruir a vida de Donatela (Claudia Raia), por quem tinha um misto de ódio e admiração. Flora não poupava ninguém, nem a própria filha Lara (Mariana Ximenez), por quem tinha um profundo desprezo, e não teve escrúpulos em usá-la para colocá-la contra Donatela. Flora foi um show: irônica, sempre com ótimas tiradas, divertiu o público pra valer e também foi responsável por cenas eletrizantes em que o limiar entre a vida e a morte estava sempre em jogo. A intérprete de “Beijinho Doce” arrebanhou uma legião de fãs e até hoje deixa saudade.

1)           NAZARÉ TEDESCO (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”)


O que dizer dessa linda raposa felpuda? Dona de uma invejável autoestima, Nazaré Tedesco foi a responsável pelo sofrimento de décadas da “anta nordestina”, como gostava de chamar Maria do Carmo (Susana Vieira), pelo sequestro de sua filha Lindalva (Carolina Dieckmann), a quem criou cercada de amor, como se fosse sua própria filha. E para proteger esse segredo, Nazaré foi capaz de tudo, inclusive matar o próprio marido José Carlos (Tarcisio Meira) e sua antiga colega dos tempos de prostituta, Djnenane (Elisângela), ambos rolando escada abaixo. Além disso, infernizava a vida de enteada Claudia (Leandra Leal). Nazaré era deliciosamente lasciva, debochada, insana, engraçada, divertida, enfim, um show à parte de Renata Sorrah, que soube aproveitar o genial texto de Aguinaldo Silva como ninguém. Pra o melão, é a campeã pelo seguinte motivo: apesar de extremamente caricata, Nazaré era, antes de tudo, humana, e movida pelo amor incondicional que tinha pela filha, a ponto de abrir mão de sua própria vida por causa dela. Portanto, se você cruzar em uma esquina com uma bela loira com uma tesoura na mão, fuja! Mesmo depois de morta, Nazaré pode ser capaz de tudo! Palmas para Nazaré, a incontestável campeã da década.




MENÇÕES HONROSAS:

Ø  FRAU HERTA (Ana Beatriz Nogueira) em “Ciranda de Pedra"
Ø  CRISTINA (Flávia Alessandra) e DEBORA (Ana Lucia Torre) em “Alma Gêmea”
Ø  JEZEBEL (Elizabeth Savalla) em “Chocolate com Pimenta”
Ø  LAILA (Christiane Torloni) em “Um anjo caiu do céu”
Ø  YVONNE (Leticia Sabatella) em “Caminho das Índias”
Ø  DJANIRA PIMENTA (Betty Faria) em “América”
Ø  LEONA (Carolina Dieckmann) e  MILU (Marília Pera) em “Cobras e Lagartos”
Ø  SOFIA (Zezé Polessa) e BEATRIZ (Debora Falabella) em “Escrito nas estrelas”
Ø  MARCELA (Drica Moraes) em “O cravo e a rosa”
Ø  BÁRBARA (Giovana Antonelli) em “Da cor do pecado”
Ø  ESTER (Zezé Polessa) em “A lua me disse”
Ø  AUGUSTA EUGÊNIA (Arlette  Salles) em “Porto dos Milagres”
Ø  ZILDA (Cassia Kiss) em “Eterna Magia”
Ø  TAÍS (Alessandra Negrini) em “Paraíso Tropical”
Ø  JUDITH (Debora Evelyn) em “Caras e Bocas”
Ø  CLARA (Mariana Ximenes) em “Passione”


Leia Também:

Série Memória Afetiva – 10 (ou mais) vilãs memoráveis - anos 80



quinta-feira, 6 de maio de 2010

Entrevista especial - Do blogão para o melão, Aguinaldo Silva!



Aguinaldo Silva: "o mais amplo e abrangente retrato da vida brasileira nos últimos quarenta anos está nas telenovelas".


Mais um presente para os leitores do melão!
Aguinaldo Silva, um dos mais bem sucedidos autores de nossa teledramaturgia, em exclusivíssima entrevista, fala sobre vários assuntos de maneira direta, mas sempre muito simpática, dentre os quais sobre o papel da telenovela da vida do brasileiro, dos frutos obtidos com sua Master Class, da enorme repercussão de seu blogão, e, claro, das lembranças de grandes novelas como “Tieta” e “Vale Tudo”, entre muitos outros. E revela ter mudado de ideia sobre o fim do realismo fantástico nas novelas após ter feito uma viagem à Carpina, sua cidade natal, revelando surpreendentemente: “não se espante se muito em breve eu voltar ao gênero”.
E como em toda entrevista de Aguinaldo, não pode faltar uma boa dose de polêmica, o autor fala do desdém da Academia, da imprensa e da crítica especializada à telenovela. Sobre a polêmica em "Duas Caras" envolvendo a pole dance, sem a menor cerimônia, diz na lata:"Não há perseguição à novela, há perseguição à Rede Globo. E a questão não é moral, e sim política". Também revela que sempre quando falam que a telenovela está em decadência, responde sem pestanejar:"o que está em decadência é o gosto do público".


Agradeço demais ao autor por dispor de um pouco de seu tempo para nós. Com vocês, o mestre, o realista, o fantástico, o sempre necessário, Aguinaldo Silva!


Eu prefiro melão - Em Senhora do Destino, você homenageou sua mãe batizando a protagonista com o nome dela. O que o motivou a isso? Sua mãe, de certa forma, também foi uma senhora do destino?

Aguinaldo Silva – Minha mãe não foi uma senhora do destino, mas era uma personalidade forte, e que exerceu grande influência em minha vida. Batizar com seu nome uma personagem tão positiva foi o modo que encontrei para homenageá-la. Ela foi muito bem casada a vida inteira, e nunca se viu numa situação tão extrema quanto a Maria do Carmo da novela. Mas se isso acontecesse, tenho certeza de que ela estaria apta a mostrar sua fortaleza.


Eu prefiro melão - Mesmo se atendo em fatos totalmente ficcionais, você diria que toda obra é autobiográfica? Se sim, até que ponto?


Aguinaldo Silva - Toda obra de ficção é também autobiográfica, porque tem muito da vivência (ou da falta de) do autor. Quanto mais ele viveu, mais tem histórias para escrever. Do contrário, se ele é um ficcionista, está apto a inventá-las, mas na minha opinião o produto final nunca é tão autêntico quanto aquele que é fruto de experiências pessoais. Eu vi e vivi muito, e acho que isso influi decisivamente em tudo o que escrevo.


Eu prefiro melão - Em recente bate-papo na FNAC do Barra Shopping, você declarou que “Tieta” foi sua grande alegria como autor. Confesso que é a minha novela favorita de todos os tempos. Uma feliz junção de história, texto, elenco, direção, parte técnica, etc. Que lembranças você tem da novela e da época em que a escreveu?


Aguinaldo Silva - Eu tinha saído de “Roque Santeiro” com um certo trauma, por conta de ocorrências que já não vale mais a pena relembrar. E achava que precisava provar o fato de que havia escrito aquela novela e influído decisivamente nos seus rumos. Isso foi possível quando me chamaram para escrever “Tieta”, e eu dei a ela o mesmo tom de “Roque Santeiro”. Mas importante mesmo é que “Tieta” foi a primeira novela das oito escrita após o fim da censura e eu a transformei numa metáfora: a volta da filha pródiga à cidade que a expulsou e a humilhou é também a volta da liberdade de expressão após anos de censura na tevê. “Tieta” é tudo isso, mas principalmente, é uma grande novela.


Eu prefiro melão - Você também escreveu “Vale Tudo” em co-autoria com Gilberto Braga, um verdadeiro marco da televisão brasileira, novela mítica para os mais jovens e emblemática para quem assistiu. Mesmo sendo uma novela concebida por Gilberto Braga e você afirmou ter respeitado o estilo dele, o que você apontaria na novela como tendo sua marca pessoal? Como era a divisão de trabalho entre vocês dois e Leonor Basséres?


Aguinaldo Silva - “Vale Tudo” tinha um tom bem mais popular que as outras novelas do Gilberto. Tinha mais a cara do povo e o seu dia-a-dia, e acho que isso aconteceu por influência minha. Acho que foi uma reunião feliz de dois autores de estilos diferentes que se juntaram e resultaram num terceiro, entre os quais Leonor Basséres, com sua sabedoria, figurava como fiel da balança. A divisão de trabalho era simples: Gilberto fazia o resumo do bloco, eu fazia as escaletas e distribuía as cenas que nós três escrevíamos. Gilberto escrevia menos, mas quando o fazia era arrasador.


Eu prefiro melão - Ricardo Linhares e Ana Maria Moretsohn, dois de seus co-autores mais famosos, sempre reafirmam sua generosidade no trabalho em equipe e na liberdade de criação que você sempre deu a eles em suas novelas. O que mudou do tempo deles para os dias de hoje com equipes mais numerosas? Como é a divisão do trabalho entre os seus colaboradores atuais?


Aguinaldo Silva - Nada mudou. Trabalhar com Ricardo e Ana, claro, foi um luxo em minha vida, e foi por isso que eu, mesmo enfrentando algumas resistências, dei aos dois status de co-autores. Mas hoje em dia tenho dois colaboradores tão competentes quanto eles a trabalhar comigo: Maria Elisa Berredo e Nelson Nadotti. Quando digo que nada mudou é porque escrever novela continua a ser a mesma estiva: mesmo que a equipe de colaboradores seja maior, todos nos esfalfamos. O que mudou foi trabalhar com computador e internet, que nos permite caprichar ainda mais no trabalho. Há quem diga, vendo as novelas que estão no ar, que não se nota isso, que as novelas estão em decadência, mas eu discordo. O que está em decadência é o gosto do público.


Eu prefiro melão - Você afirmou na entrevista para o livro “A seguir cenas do próximo capítulo” que o gênero realismo fantástico foi definitivamente suplantado e que não tem mais intenção de escrever nada nesse estilo. Será mesmo que o pragmatismo e o desejo pelo realismo exacerbado de nossos dias não deixaram nem uma brechinha para que o gênero possa voltar reformulado? Pergunto isso porque achei que o realismo fantástico de “Fera Ferida” já era muito diferente de tudo o que foi criado anteriormente, uma vez que era mais lírico, mais poético. Diante disso, não seria possível uma nova reinvenção desse tipo de narrativa?


Aguinaldo Silva - Depois de vinte anos sem ir a Carpina, Pernambuco, a cidade onde nasci e que serviu de fonte para todas as minhas novelas do gênero “realismo mágico”, estive lá no mês de fevereiro, e essa visita, ainda que rápida, fez com que eu mudasse de opinião sobre o gênero. Tudo bem, qualquer cidadezinha hoje em dia tem telefone celular e internet, mas a modernidade pára por aí, porque a mentalidade das pessoas continua a mesma. Ou seja: as pessoas andam de Pajero, mas pensam como se estivessem numa charrete. Ouvi, durante essa visita, histórias do arco da velha, suficientes para escrever a mais enlouquecida de todas as novelas: puro realismo mágico. Por isso, não se espante se muito em breve eu voltar ao gênero.


Eu prefiro melão - A Master Class, que está em sua segunda edição atualmente, foi uma grata surpresa e representa uma oportunidade única para quem quer ingressar no mercado. O que o motivou a empreender esse tipo de projeto? Além de ensinar, você também tem aprendido algo com a experiência?


Aguinaldo e o alunos da Master Class II

Aguinaldo Silva - Eu disse no meu blog recentemente que ensino para aprender. Isso não é nenhuma novidade, todo bom professor faz isso. Mas também ensino porque me preocupa a falta de novos autores de novela. Minha experiência no ramo é puramente prática, e é isso que eu procuro passar para os meus alunos: como se faz para escrever uma novela. A essa altura já tenho bastante experiência sobre o assunto, e é isso que eu ensino. O curso é grátis porque seria imoral que eu cobrasse o preço justo. E já me deu muitas alegrias, não apenas pela belíssima sinopse de “Marido de Aluguel”, que saiu da primeira “master class”, mas também pela evidência de que existem muitos autores prontos para deslanchar se tiverem a oportunidade.


Eu prefiro melão - O que podemos esperar de “Marido de aluguel”, fruto da primeira Master Class? Já escolheu os alunos que vão escrever a novela com você? Que critérios utilizou para essa escolha?


Aguinaldo Silva - Ainda estou a meio do processo de escolha. O processo foi o da competência, o mesmo que me levou a selecionar, dentre 1134, os 30 que fizeram os dois cursos. Não houve nenhum tipo de apadrinhamento, e eu me orgulho disso. Claro que, além desses 30, muitos outros estavam perfeitamente aptos a fazer o curso, e eu sofri muito quando tive que eliminar a maioria deles. Mas é como eu disse na resposta anterior: há muita gente boa pronta para escrever novelas por aí, é tudo uma questão de chance.


Eu prefiro melão - Você alcançou uma popularidade e comunicabilidade maior com o público através de seu blog. Como freqüentador assíduo, percebo que muitas vezes você fala dos mais variados assuntos com genial sarcasmo e bom humor, mas é frequentemente mal interpretado, característica da linguagem escrita que, em tom coloquial, às vezes é prejudicada por não revelar de forma clara aspectos da linguagem oral como entonação, por exemplo. Enfim, percebo que em muitas ocasiões você brinca, ironiza, mas é levado a sério demais e acaba despertando polêmica com isso. Até que ponto você gosta de alimentar tais polêmicas e manter, de certa forma, sua “fama de mau”? Isso acaba contribuindo para que o blog obtenha um maior alcance?



Aguinaldo Silva - Tudo o que eu queria, quando me chamaram pra fazer um blog, era evitar o tom pessoal, do tipo “acordei, tomei café e fui no banheiro”, e ser mais opinativo e jornalístico. Claro, o blog me dá liberdade total, porque nele eu sou o que escreve e sou também o dono. Posso dizer coisas que não diria nas minhas novelas ou nos artigos que de vez em quando me são encomendados. Com o tempo eu descobri e aprimorei um tom muito pessoal de escrever que se tornou a cara do blog. Sou sempre sincero e direto, mesmo quando parece que estou apenas brincando. E sou polêmico. Isso, além do fato de que o blog fez muito sucesso, provoca uma certa ira em outros comunicadores, que fazem tudo pra me derrubar, mas imagina se eles conseguem...


Eu prefiro melão - Você é um dos autores que mais escrevem para mulheres. Suas personagens femininas são inesquecíveis e proporcionaram grandes momentos para grandes atrizes como Betty Faria, Renata Sorrah e Suzana Vieira, só pra citar três de suas “musas” mais presentes em suas novelas. O universo feminino é mais interessante? Que fascínio o feminino exerce em você?

Tieta (Betty Faria), Pilar Batista (Renata Sorrah) e Maria do Carmo (Suzana Vieira): grandes heroínas.

Aguinaldo Silva - Eu sempre digo, talvez simplificando demais o assunto, que “homem é muito chato”. O que eu quero dizer é que os homens continuam presos na camisa de força do machismo, sem conseguir entender o fato consumado de que as mulheres estão mudando. Esse processo de mutação das mulheres é que as torna mais interessantes. O universo feminino não para de se expandir, as mulheres ainda estão se descobrindo, é isso o que as torna, para um ficcionista como eu, mais fascinantes.


Eu prefiro melão - Como fã de seriados americanos, você já declarou inclusive que estudou a fundo alguns deles para escrever “Cinquentinha”. Quais são os seus favoritos e que elementos deles conseguiu transpor para a minissérie que, a princípio, seria um seriado?


Aguinaldo Silva - O número 1, e creio que ele não vai perder nunca esse posto, é “Os Sopranos”. Mas há outros seriados inesquecíveis. A primeira parte de “Deadwood”, “The Closer”, “Donas de Casas Desesperadas”, a primeira temporada de “The Riches”. “House” é um personagem e mais nada, “Anatomia de Grey” e “Brothers and Sisters” dois novelões mais caprichados, mas todos eles, juntos, são o que de melhor se faz atualmente, em matéria de audiovisual, no mundo, incluindo o cinema hollywoodiano. Vejo todos, nem seja pra dizer: “não gosto”. São verdadeiras aulas de roteiro. Pena que no Brasil ainda não se produza nada parecido.



Eu prefiro melão - Em “Duas Caras”, novela das nove destinada ao público adulto, a personagem Alzira, vivida por Flávia Alessandra, gerou polêmica por ser dançarina de pole dance, chegando inclusive a ter cenas cortadas em função disso. No entanto, basta assistirmos a alguns programas dominicais vespertinos, cuja classificação é livre e são assistidos por toda a família, para vermos que dançarinas de pole dance executam suas performances sem maiores problemas. Diante disso, você acredita que há uma perseguição à telenovela? Se sim, por que?



Aguinaldo Silva - Não há perseguição à novela, há perseguição à Rede Globo. E a questão não é moral, e sim política. A enorme audiência da Globo lhe dá um “poder” que não é visto com bons olhos. É preciso, como alguns dizem abertamente lá no Planalto Central, “destruí-la”. Isso já teria acontecido, por exemplo, se vivêssemos, como a Venezuela, numa “revolução bolivariana” (seja lá o que isso significa). O autor prejudicado, como eu fui, tem que ter uma visão mais ampla da história e perceber que seu trabalho é só um dado e ele é apenas um joguete no meio disso tudo.


Eu prefiro melão - Você é noveleiro? Quem são suas maiores referências no gênero? Quais novelas (não valem as suas) você julga serem memoráveis?


Aguinaldo Silva -. Vou lhe contar um segredo: vi pouquíssimas novelas. Antes de ir para a televisão, e isso aconteceu por puro acaso, eu era jornalista e trabalhava de quatro da tarde às onze da noite. Por isso as novelas estavam fora do meu universo. Escrever novelas nunca foi pra mim nem mesmo um objetivo remoto. Por isso só posso falar de novelas que vi, ou entrevi, a partir do instante em que, levado pelas mãos de Boni, aderi ao gênero. Sem contar as minhas não tenho referências no gênero.


Eu prefiro melão - Até que ponto o público interfere na criação do autor? Teria algum exemplo de novela sua que foi modificada pela interferência do público?


Aguinaldo Silva - O público, e não o produtor ou o autor, é o verdadeiro senhor da novela. É para ele que escrevemos e produzimos. Ele interfere na criação o tempo todo. Não tive nenhuma novela cujos rumos fossem totalmente mudados por causa da interfência do público, mas tive que mudar muitas situações por causa dele.


Eu prefiro melão - Inegavelmente, a novela é o grande fórum de discussão de nossa sociedade. Muitos assuntos polêmicos considerados tabus já foram apresentados em diversas tramas. E você, sem dúvida, é um dos autores mais ousados e transgressores, sempre contestando valores, desestabilizando noções cristalizadas e retrógradas do que seja moral, o que sempre incomoda os mais conservadores. Quais as maiores contribuições que você acredita ter dado através de suas novelas para o avanço da discussão de temas socialmente relevantes?


Aguinaldo Silva - Quando escrevo uma novela não penso em temas, mas sim nas minhas histórias. Sou um ficcionista desvairado. O problema é que sou também um cidadão, tenho gostos, preferências e posição política, e isso se reflete constantemente no meu trabalho. Se eu fosse falar de alguma contribuição que eu tenha dado em minhas novelas para o avanço da discussão de temas socialmente relevantes, eu citaria a minha obsessão em denunciar todas as formas de preconceito. O preconceito, como a inveja, é uma merda que nos tolhe a todos, vítimas e algozes. Gosto de pensar que em minhas novelas ajudei, de forma sempre cáustica e bem humorada, a denunciá-lo e a combatê-lo.


Eu prefiro melão - Você acha que o gênero telenovela é tratado com o devido respeito que merece por parte das instituições, tendo em vista que as primeiras iniciativas para se preservar a memória do gênero partiram de verdadeiros abnegados sem apoio institucional algum como o Nilson Xavier, criador do site Teledramaturgia, que contém informações de simplesmente TODAS as novelas produzidas no Brasil até hoje, José Marques Neto, criador do canal Mofo Tv, que divulga vídeos de novela e programas antigos, ou Guilherme Stauch, dono do famoso blog “Memória da TV”? O que acha de iniciativas como essas? Acredita que elas estão aumentando? Esse tipo de trabalho não deveria ser feito também pelo Ministério da Cultura?


Aguinaldo Silva - A telenovela é desdenhada pela universidade, que a ignora totalmente em seus cursos de roteiro. É desdenhada pela crítica que se diz especializada em televisão, que a considera o pior dos gêneros. É desdenhada até pelos jornalistas que cobrem o assunto, e o fazem de nariz torcido. Até os atores, quando querem brincar de ser sérios, dizem que vão dar um tempo nas novelas e que o cinema é o sonho de consumo deles... Pobre cinema brasileiro. As novelas são a preferência nacional, mas a importância do gênero nunca é reconhecida. Por isso iniciativas do gênero das que você citou são bem vindas. Não se iludam: o mais amplo e abrangente retrato da vida brasileira nos últimos quarenta anos não está no cinema, nem mesmo na literatura ou no teatro, está nas telenovelas.


Eu prefiro melão - Que conselho daria a um jovem roteirista que aspira a trabalhar na TV?


Aguinaldo Silva - Estude, viva, veja tudo que puder – filmes, seriados, novelas -, cole em alguém que já chegou lá e, quando sua hora vir, porque, se você for bom ela virá, esteja no lugar certo.


Eu prefiro melão - Por fim, gostaria de te agradecer muitíssimo pela generosidade em ceder a entrevista. Como autor, nem tenho o que comentar, afinal minha novela-xodó foi escrita por você. Mas nunca vou me cansar de elogiar sua coragem e sua postura admirável com a criação da Master Class e, principalmente, com o cumprimento das propostas e com os frutos que ela rendeu e ainda está rendendo. Como já disse em texto publicado aqui mesmo no melão, você provou ser “sujeito-homi”. Que bom que estou tendo a oportunidade de te dizer isso. Mesmo não fazendo parte diretamente do projeto, gostaria de te agradecer em nome de todos que buscam uma oportunidade em um mercado tão restrito e desejo mais sucesso ainda em tudo o que você realizar.

Aguinaldo Silva - Obrigado por ser tão generoso comigo. E não esqueça que outras “master classes” virão, e que, nelas como nas duas que já fiz, o que sempre valerá na escolha de alunos será o critério que mais prezo: o da competência.


Já responderam ao quiz sobre Aguinaldo Silva? Teste seus conhecimentos sobre as novelas do autor em:
http://www.quizyourfriends.com/take-quiz.php?id=1002200109044641&a=1  
Por Vitor Santos de Oliveira.
Agradecimento especial: Jackeline Barroso Pires
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