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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Blogueiro convidado: Vinícius Sylvestre relembra "História de amor"



Maneco, o gênio e a vida
Por Vinícius Roberto Sylvestre


 As novelas dos anos 90 e seus enredos são o meu esteio cultural. A dramaturgia brasileira se construiu sobre uma dramaturgia maior, de origem dos grandes clássicos. O maior de todos os gênios, Manoel Carlos, criava seus textos sobre a sua observação do ser-humano, a psicologia-humana, tendo a capacidade de penetrar no subjetivo dos seus personagens que acabam se coincidindo com alguém que conhecemos, ou até mesmo nós e nossas histórias de vida.  

Se você quer ser culto e bem informado, veja novelas - dizia o subtexto de uma campanha publicitária da TV Globo. É o sinal verde para voltarmos a 17 anos atrás para relembrar o romântico e polêmico folhetim assinado por Manoel Carlos – “História de amor” (1995), que viria a tornar-se a minha novela favorita – posto que ainda não foi substituído por nenhuma outra obra na TV.


 
Minha mãe iniciou-me no universo das novelas, já que eu era péssimo no futebol e nunca acertei rodar um pião de ponteira. Ela sempre acompanhava as novelas globais, principalmente quando atores como Yoná Magalhães, Tony Ramos, Glória Pires, Antônio Fagundes, Regina Duarte e Edson Celulari estavam no elenco. Em “História de amor” não foi diferente, pois essa novela foi uma das primeiras de muitas outras que tive a oportunidade de acompanhar no seio de minha família. Na época a atriz Regina Duarte, que deu vida à batalhadora e romântica Helena Soares, fazia sua estréia em uma novela das 6, após 30 anos de carreira.
Recordo que o horário no qual a trama era exibida, minha irmã e eu já estávamos pontos para assistir, de banho tomado, barriguinha cheia, após o termino dos deveres escolares, no qual nunca fui muito fã. Apesar de ter 8 anos, o que mais me fascinava na novela era a abertura, na qual mostrava um casal feliz expressando o amor desfilando por vários pontos da Zona Sul carioca, ao som de Ivan Lins. Era uma abertura simples, boa de se ver, nada complicado. E até hoje esta gravada no meu imaginário.
 
 As personagens de Regina Duarte (Helena) e Carla Marins (Joyce), respectivamente mãe e filha. Enfrentavam juntas a gravidez prematura da rebelde Joyce, que mantinha um namoro conturbado com o inconsequente Caio, brilhantemente defendido por Ângelo Paes Leme. O maior problema era o pai da moça, Assunção, uma verdadeira fera. Ex-marido de Helena, o personagem de Nuno Leal Maia era um camarada boa praça, querido por todos, mas quando o assunto era sua filha Joyce, o esportista matinha rédeas curtas e uma forte vigilância.

Regina Duarte e Carla Marins em cena da novela: História de amor

 Lembro-me das cenas em que Assunção sempre tentava uma reaproximação amorosa com Helena, mesmo possuindo uma nova família. Helena, que não se deixava iludir, sempre recusava aprontando um tremendo escândalo, no qual rendiam muitas risadas lá em casa, principalmente do meu pai que até hoje é fã do personagem Assunção. Já minha mãe e as vizinhas xingavam o personagem até o pó!
Helena, a protagonista da novela, era um mulher única, batalhadora e romântica. Estava à espera de um novo amor, até conhecer o médico Carlos Moretti, interpretado por José Mayer, um homem refinado e bem sucedido que, apesar de já estar comprometido com a bela e mimada Paula (Carolina Ferraz), tinha uma vida solitária e não resistiu a essa nova paixão. Na época o personagem de José Mayer teve uma grande empatia com as mulheres, que se tornaram grandes aliadas do romance do casal Carlos e Helena.


O ator José Mayer em dois momentos da novela: com Regina Duarte e com Carolina Ferraz, no primeiro capítulo.  


Não posso me esquecer da magistral atuação de Lilia Cabral, com a sua inesquecível Sheila Bueno. A personagem era uma fisioterapeuta, ex-mulher de Carlos com quem viveu uma relação de 10 anos. Sheila mantinha uma paixão platônica pelo ex, sem ter superado a separação. No decorrer da novela, ela tenta de várias maneiras uma reaproximação com Carlos, que sempre a rejeita deixando-a frustrada e deprimida. Durante muitos momentos da novela, Sheila e Paula se alfinetavam até o ponto de partirem para memoráveis barracos, no quais podíamos ver a brilhante interpretação de Lilia em momentos que sua personagem se desiquilibrava e mostrava o seu lado maléfico. Sheila não era uma vilã, mais sim uma anti-heróina.

Lilia Cabral brilhou como a neurótica Sheila
Apesar de Paula ser uma personagem temperamental, seus pais Rômulo e Zuleika eram uma atração à parte. Os grãn-finos de araque interpretados por Cláudio Corrêa e Castro e Eva Wilma eram o alívio cômico da novela. Ele era o típico membro da aristocracia decadente carioca. Passava a vida jogando pôquer e fumando os seus falsos charutos cubanos, que provocavam divertidas brigas com sua esposa. Zuleika era uma mulher inteligente e requintada e considerada por muitos uma boa pessoa. Às vezes aparenta ser “louquinha”, mas se comporta dessa maneira apenas para se defender das maldades do mundo e da passagem do tempo. Rô e Zu eram os personagens que eu mais gostava, pois a relação de amor e ódio do casal veterano lembra muito a relação dos meus pais. Que brigam, brigam e brigam. Mas no fundo se amam.

Bia Nunnes: grande destaque como a sofrida Marta
Já os personagens Marta (Bia Nunnes) e Assunção deram um grande exemplo de superação. Ela lutava contra um câncer de mama. Seu drama teve um efeito de alerta. Registrou-se o aumento no número de exames preventivos feitos por mulheres durante a exibição da trama. Já o personagem de Nuno Leal Maia sofreu um terrível acidente de automóvel, ficando preso a uma cadeira de rodas. Ele conseguiu se reerguer praticando esportes. Para falar sobre este tema o autor contou com a participação especial de Pelé, na época ministro dos esportes.
Nuno Leal Maia e Ingrid Fridmann: destaques da novela

 As interpretações que deixaram saudades foram as de Yara Cortes na pela da matriarca vovó Olga Moretti. Ela era uma senhora alegre, extrovertida e cheia de amor pela família, grande conselheira e amiga do neto Carlos; a outra era a pequena Ritinha vivida pela atriz Ingrid Fridmann que, mesmo sendo uma menina, vivia à procura de um grande amor. A pequena ainda fazia uma divertida dobradinha com o ator Ricardo Petraglia que deu vida a seu papai Xavier.

A saudosa Yara Cortes
 O que emergirá do meio dessa torrente de diálogos e personagens criados para a televisão? Não esperemos um Shakespeare, nem um Goldoni, nem um Molière. Discordo com alguns críticos que analisam as novelas de Maneco como inconsistentes. “História de amor” construiu na minha vida e na vida de todos que viram a reflexão de nossas próprias vidas e suas surpresas. Podemos considerar Manoel Carlos como um mestre da criação de seres-humanos e os seus laços de vida.

"A realidade nunca faz sentido"  (Manoel Carlos)

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VINÍCIUS ROBERTO SYLVESTRE é formado em Comunicação Social, Roteirista e noveleiro apaixonado.

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