segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Em 2012, o melão preferiu...



2012: O ANO DAS EMPREGUETES!





Empregadas domésticas protagonistas de novelas não são propriamente uma novidade em nossa teledramaturgia, afinal ainda nos anos 60, nossa querida Rosamaria Murtinho já protagonizava uma novela, “A moça que veio de longe”, na pele de uma empregada. Nos anos 70, além da clássica babá Nice (Susana Vieira) em “Anjo Mau”, o autor Mário Prata dedicou uma novela inteiramente a elas chamada “Sem lenço, sem documento”.

Porém, nunca elas brilharam tanto e em todos os horários como em 2012. Em um determinado momento, as quatro novelas globais apresentavam, simultaneamente, empregadas domésticas como heroínas: Camila Pitanga em “Lado a Lado”, na pele de Isabel, empregada de Madame Besançon (Beatriz Segall); as empreguetes propriamente ditas em “Cheias de Charme”; a sombria Nina (Debora Falabella), em “Avenida Brasil”, que se infiltrou como empregada na mansão de sua algoz, Carminha (Adriana Esteves); e “Gabriela”, que tinha a personagem-título, vivida por Juliana Paes, moça faceira que servia ao seu patrão Nacib (Humberto Martins) algo mais que iguarias e quitutes. Por isso, melão, ao apresentar sua retrospectiva do ano, não podia deixar passar esse curioso fato despercebido. Sem mais delongas, vamos às atrações que o melão preferiu em 2012?

Ø  CHEIAS DE CHARME: FRESCOR E DIVERSÃO NO HORÁRIO DAS SETE.


 Já escrevi tanto sobre essa novela durante todo o ano que qualquer coisa que diga ficaria redundante. De longe, foi minha novela favorita do ano. “Cheias de Charme” trouxe de volta ao horário das sete uma grande comédia digna dos grandes clássicos oitentistas de Silvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes, mas ao mesmo tempo trouxe frescor, novidade e originalidade ao contar a saga das três empregadas domésticas que viraram cantoras. Sobretudo, nos fez de novo torcer e admirar as heroínas em uma época em que as vilãs são a grande sensação das novelas. Não que Claudia Abreu não tenha brilhado intensamente: sua Chayene já se tornou um personagem épico. Mas as três mocinhas vividas por Leandra Leal, Taís Araújo e Isabelle Drummond não ficaram devendo nada. Além disso, revelou um novo e promissor talento: Titina Medeiros. Além delas, muitos foram os destaques do elenco e as qualidades da novela como um todo. Só me resta desejar vida longa à dupla Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.


Ø  AVENIDA BRASIL: A NOVELA QUE FEZ O BRASIL PARAR



Se “Cheias de Charme” trouxe a diversão de volta para o horário das sete, o que dizer do furacão “Avenida Brasil”? A novela trouxe de volta a catarse coletiva promovida por grandes novelas que se podem contar nos dedos. Há muito tempo o Brasil não parava, vibrava, torcia, se emocionava e assistia tão atentamente a uma trama. Mais uma vez, João Emanuel Carneiro mexeu com as estruturas do folhetim e fez o público voltar a discutir novela na rua. Adriana Esteves, em atuação arrasadora, fez de sua Carminha uma personagem inesquecível e entrou definitivamente para o rol das grandes atrizes desse país. E além da “empreguete” Nina (Debora Falabella, defendendo com garra sua heroína), as outras duas empregadas da Mansão do Divino, Zezé (Cacau Protássio) e Janaína (Claudia Missura) também brilharam intensamente (não disse que 2012 foi o ano das empreguetes?). Direção genial, elenco em estado de graça e cenas sempre na mais alta tensão garantiram o sucesso estrondoso da novela. O #OiOiOi dificilmente será esquecido e “Avenida Brasil” já faz parte da galeria das grandes telenovelas.

Ø  JOSÉ WILKER E LAURA CARDOSO: EXCELENTES MOTIVOS PRA SE FICAR ACORDADO



O remake de “Gabriela”, escrito por Walcyr Carrasco, rendeu bons índices para o horário das onze e garantiu a diversão de muita gente que ficou acordada até tarde para assistir à novela. Mas dois nomes em especial brilharam intensamente: Laura Cardoso e José Wilker. Além de colocarem seus bordões na boca do povo em 2012, também brilharam intensamente nas cenas em que protagonizaram. Laura, como a hipócrita e moralista Dorotéia, conseguia transmitir toda a antipatia da personagem, causando asco, mas também divertindo muito o público. Já Wilker conseguiu dar dimensão humana a seu dificílimo personagem, Coronel Jesúino, sobretudo nas cenas do seu julgamento pela morte da esposa Sinhazinha (Maitê Proença), em que ele tinha que transmitir, ao mesmo tempo, a dureza e a rudeza do homem daquela época, mas também amor e saudade pela mulher que amava. A expressão de Wilker, contida, a cara fechada, mas os olhos marejados, cheios de amor e saudade: um trabalho de gênio, digno de grandes atores. Em um ano de grandes e brilhantes atuações, Wilker foi o ator do ano, na humilde opinião deste melão.


Ø  LADO A LADO: O BOM E VELHO FOLHETIM


Lado a Lado”, da dupla João Ximenes Braga e Claudia Lage, pode não ter o ritmo alucinante de “Avenida Brasil”, nem o humor hilariante e o frescor de “Cheias de Charme”, mas também vale a muito a pena ser assistida: é um novelão, e dos bons! Reconstituição de época perfeita de um período pouquíssimo explorado em nossa teledramaturgia, direção de arte primorosa, texto saboroso e elenco afiado fazem da novela uma grande atração no horário das seis.

Ø  BRADO DE QUALIDADE


Em se tratando de séries, também foi produzido um verdadeiro biscoito fino em 2012: “Brado Retumbante”, de Euclydes Marinho, um thriller político de primeira que não deixou nada a dever aos similares americanos, mas com a cara e o jeito do Brasil. O dia-a-dia do presidente, com seus problemas pessoais e familiares no melhor estilo “The west Wing”. Texto primoroso e direção bem cuidada, com ótimas atuações de Mariana Lima e Maria Fernanda Cândido. Destaque, é claro, para Domingos Montaigner, que desponta como um dos grandes galãs da atualidade.


Ø  O SHOW DE FAFY


Depois de Maysa, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, mais uma grande artista ganhou uma caprichada biografia em uma microssérie na Rede Globo: a grande Dercy Gonçalves, que pela pena de Maria Adelaide Amaral, teve sua emocionante trajetória passada a limpo. Reconstituição de arte primorosa e personagem muito bem defendida por Heloísa Perissê na fase jovem da comediante e Fafy Siqueira, que deu um verdadeiro show na pele da Dercy que todos nós conhecemos. A fusão das imagens com a própria Dercy e as cenas de Fafy comprovaram o primoroso trabalho da atriz.


Ø  TERAPIA DAS BOAS


Em tempos de interatividade, alta movimentação e narrativas de videoclipe, Selton Melo e a equipe de roteiristas liderada por Jaqueline Vargas conseguiram uma verdadeira proeza: prender a atenção do público apenas pela palavra, já que as cenas de “Sessão de Terapia” eram focadas apenas nos diálogos de Théo (ZéCarlos Machado) com seus pacientes, quase sem nenhuma ação. Com um elenco excelente, quem assistiu à versão brasileira do seriado israelense “Be Tipul” não se arrependeu.

Ø  A VOLTA DOS (BONS) MUSICAIS

A "deusa" Rosana: uma das presenças mais frequentes no programa
ü  Como se não bastasse nos presentear durante todo o ano com novelas e minisséries que fizeram parte de nossa história, o Canal Viva marcou mais um golaço em 2012 ao reprisar alguns programas do “Globo de Ouro”. Numa época em que o cenário musical brasileiro não se resumia apenas aos poucos e popularescos estilos, o programa era uma deliciosa salada musical que ia desde grandes nomes da MPB como Gal Costa, Rita Lee e Gilberto Gil, passando por expoentes do nosso rock Brasil como Paralamas do Sucesso, Titãs e Legião Urbana, até os grandes vendedores de discos da época como Wando, Rosana e Fábio Junior. E a reprise do programa fez o maior sucesso, também em grande parte graças ao visual anos 80, hoje exóticos e inacreditáveis, causando riso e espanto na plateia mais jovem. Além de causar grande comoção no twitter, ainda influenciou a programação da tevê aberta, fazendo com que o TV Xuxa produzisse programas temáticos dos anos 80 e 90 e o Caldeirão do Huck fizesse sua própria edição do “Globo de Ouro”. Ainda há um grande acervo do programa ainda não exibido. Esperamos que o Canal Viva continue nos brindando com essas pérolas em 2013.

Ellen Oléria, vencedora da 1ª edição do "The Voice Brasil"
ü  Outra grata surpresa no cenário musical de nossa tevê em 2012 foi o “The Voice Brasil”, que a exemplo do “Globo de Ouro”, também causou rebuliço nas redes sociais. O grande diferencial do programa foi valorizar o talento e a voz ao invés de ficar perdendo tempo com tipos bizarros e pretensamente engraçados. Vida longa para o “The Voice”, que prova que o público está ávido por novidade e por boa música e não quer apenas canções sertanejas “universitárias” vazias de sentido e cheias de vogais e onomatopeias.

Ø  “DOCE DE MÃE”: IGUARIA SABOROSA PARA O PÚBLICO


E já às portas do novo ano, o público foi brindado com um presentão: o telefilme “Doce de mãe”, de Jorge Furtado, estrelado por Fernanda Montenegro e um ótimo elenco. Sensível, comovente e muito divertido, o filme agradou em cheio e  mostrou uma Fernanda Montenegro com a corda toda na pele da adorável Dona Picuxa, um papel em que ela pode, mais uma vez, dar um verdadeiro show, mostrando todas as suas potencialidades cômicas e dramáticas, mostrando por que é uma das atrizes mais respeitadas do mundo. Fica a torcida para que “Doce de mãe” se transforme em uma série em 2013 e que a emissora aposte cada vez mais nesse formato de telefilme.

Ø  PEDRA AMETISTA BRILHANDO COMO NUNCA!

E pra fechar a retrospectiva com chave de ouro, não posso deixar de mencionar a vitória de “O astro” no Emmy Internacional como melhor novela de 2011. Viva a pedra ametista que continua a brilhar mundo afora!


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Agora, o melão quer saber? O que vocês preferiram em 2012?

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domingo, 23 de dezembro de 2012

TOP 10 – REGINA DUARTE




Impossível pensar em teledramaturgia brasileira sem que seu nome não venha imediatamente à cabeça. Regina, rainha absoluta da televisão. São tantas Reginas em uma só que, assim como outros dois homenageados recentemente, Betty Faria e Lima Duarte, foi uma tarefa hercúlea eleger apenas 10 personagens de sua riquíssima galeria de mulheres inesquecíveis. Românticas, loucas, passionais, idealistas, exuberantes, guerreiras... Em 50 anos de carreira, Regina Duarte deu vida a todos os tipos e todas as emoções, com sua interpretação corajosa, visceral e sempre genial. Pra fechar o ano com chave de ouro, confira esse TOP 10 Especial de Fim de ano! Vamos relembrar algumas dessas grandes mulheres vivida por essa grande mulher:


10) HELENA DE “HISTÓRIA DE AMOR” (1995)


A Helena mais “gente como a gente” de todas. Ela ia à feira, reclamava do preço do chuchu (e do melão), saía com os amigos, se divertia, não levava desaforo pra casa... enfim, uma mulher como outra qualquer do planeta, mas não seria Helena se não tivesse um grande segredo, uma falha trágica. Na verdade, ela não era a verdadeira mãe da mimadíssima Joyce (Carla Marins) e sim, sua tia, segredo que foi revelado no último capítulo. A lembrança mais forte que tenho da personagem é de seu romance com o médico Carlos (José Mayer) embalado pela voz de Gal em “Futuros Amantes” sob um Rio ensolarado e feliz.


9) CHIQUINHA GONZAGA DE “CHIQUINHA GONZAGA” (1998)


De que a vida da célebre compositora foi inspiradora e apaixonante ninguém duvida. Mas a interpretação sensível de Regina fez com que se tornasse mais fascinante ainda aos olhos do espectador. A atriz sempre interpreta muito bem esse tipo de papel: mulher guerreira, sofrida, lutadora, que dá a cara a tapa, rompe barreiras e preconceitos. Apaixonante também foi o romance da compositora com seu “mancebo imberbe” Joãozinho, vivido brilhantemente por Caio Blat. Chiquinha Gonzaga ficou conhecida pela nova geração graças à minissérie de Lauro Cesar Muniz e Marcilio Moraes e La Duarte soube defender a personagem com a maior dignidade.


8) LUANA CAMARÁ / PRISCILA CAPRICE DE “SÉTIMO SENTIDO” (1982)

Uma de minhas primeiras lembranças televisivas. Na verdade, não me lembro de quase nada da novela, a não ser de Luana Camará incorporando Priscila Caprice. Até então com 5 anos de idade, os gritos de Regina Duarte me causavam medo e fascínio. Ao meu ver, a personagem fez uma espécie de transição para o que viria depois na carreira da atriz, a inesquecível Porcina.



7) HELENA DE “POR AMOR” (1997)

Regina e a filha Gabriela em cena de "Por amor"
Praticamente uma personagem de tragédia grega, a mais polêmica das Helenas talvez tenha carregado a mentira mais grave de todas. Helena, no início, parecia uma mulher comum, alegre, que via no romance com Atílio (Antonio Fagundes) uma nova oportunidade para o amor. Amor que não foi mais forte do que o amor cego e irracional que ela sentia pela filha Eduarda (Gabriela Duarte) chegando ao ponto de trocar o bebê morto da filha pelo seu filho saudável que acabara de nascer para que a filha não sofresse. Uma verdadeira leoa, capaz de tudo para preservar a cria. Quando Atílio descobriu toda a verdade, disse a Helena uma das frases mais emblemáticas da história da teledramaturgia: “você não sabe amar, mas pode aprender”. Obra prima de Manoel Carlos e mais um show de interpretação de Regina Duarte.


6) MALU DE “MALU MULHER” (1979)



Temas que, às vezes, nos parecem tão distantes, mas ainda tão presentes na sociedade como a violência contra a mulher, a questão do divórcio, independência feminina, mulher no mercado de trabalho... assuntos que parecem banais hoje em dia na época eram tabus que foram quebrados por Malu, emblemática personagem que Regina Duarte, mais uma vez, defendeu com garra e vigor e que representa um divisor de águas em sua carreira, dando um adeus definitivo ao eterno título de namoradinha do Brasil e adquirindo um respeito cada vez maior como uma de nossas mais importantes atrizes. Viva Malu!


5) CLÔ HAYALLA DE “O ASTRO” (2011)

Não resisti e beijei Clô na exposição da carreira da atriz
Como não incluir essa linda na lista? Claro, que, por motivos óbvios, Clô Hayalla sempre vai fazer parte da minha lista de personagens favoritas da atriz, mas independente disso, a matriarca dos Hayalla é o melhor personagem de Regina em anos. Louca, passional, impulsiva, vingativa, Clô já seria um prato cheio para qualquer atriz. Em se tratando de uma atriz superlativa como Regina Duarte, o prato cheio se transforma em um verdadeiro banquete, que ela oferecia diariamente a um público fiel e apaixonado na forma de uma atuação que dava o tom arrebatado e melodramático da novela de Janete Clair adaptada por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro. Verdadeiro show em cena e um talento monstro, que pude comprovar de perto. Uma atriz genial que consegue dar cores e texturas ao texto que surpreende até mesmo os autores.


4) MARIA DO CARMO DE “RAINHA DA SUCATA” (1990)


Prima da Viúva Porcina, Maria do Carmo também era uma força da natureza. A filha de sucateiro que transformou o negócio do pai em um verdadeiro império arrebatou o Brasil e chamava a atenção para o início da ascensão da classe média tão valorizada nos dias de hoje. Os novos ricos estavam tomando conta do Brasil e Maria do Carmo era a representante dessa classe emergente versus a decadência da aristocracia, representada por Laurinha Figueiroa, brilhantemente interpretada por Gloria Menezes. O choque entre esses dois mundos e o duelo dessas duas grandes atrizes renderam momentos antológicos de nossa teledramaturgia. Maria do Carmo era deliciosamente cafona, adorava ostentar sua riqueza e Regina estava muito à vontade em cena. A atriz parecia estar se divertindo tanto quanto o público. Já estou contando os dias para rever a sucateira em 2013 no Canal Viva.


3) RAQUEL DE “VALE TUDO” (1988)


Tudo bem que Odete Roitman e Maria de Fátima se eternizaram como duas das maiores vilãs de todos os tempos, mas se a novela tem uma alma, essa alma é a de Raquel Accioly, que ganhou através de Regina Duarte uma das interpretações mais viscerais da história da teledramaturgia. O Brasil chorou, sofreu, se emocionou com Raquel e também foi à forra na catártica cena em que a personagem, aos gritos, rasga o vestido de noiva da filha na véspera do casamento. Raquel simboliza a mulher brasileira e o espírito guerreiro do nosso povo, mostrando que vale a pena, sim, ser honesto no Brasil. Um papel perigoso, que tinha tudo pra cair no estereótipo, mas a personagem, cheia de nuances, foi muito bem construída pelos autores e muitíssimo bem defendida por La Duarte. Impossível ver alguém vendendo sanduíche na praia e não se lembrar da batalhadora Raquel.


2) SIMONE DE “SELVA DE PEDRA” (1972)

Regina Duarte e Francisco Cuoco em cena da novela
Mesmo não fazendo parte de minha memória afetiva, essa importante personagem não poderia ficar de fora, pois até hoje Simone Marques representa o protótipo de heroína em nossas novelas. E já há 40 anos atrás, Janete Clair construía uma mocinha nada boba, que tinha uma profissão, ia à luta por seus objetivos e dava a volta por cima, jurando vingança a seus inimigos. E Regina, ainda muito jovem, soube dosar doçura e força na medida certa e conquistou definitivamente o coração dos brasileiros. Impossível não se comover nas cenas românticas de Simone e Cristiano (Francisco Cuoco) ao som de “Rock and roll lullaby”, tema romântico mais emblemático da história de nossa teledramaturgia.


1) VIÚVA PORCINA DE “ROQUE SANTEIRO” (1985)


Pense em todos os adjetivos superlativos. Talvez ainda seja pouco para definir Porcina. Escandalosa, exuberante, fogosa, irreverente, sensual, lasciva e politicamente incorretíssima, a personagem significou um giro de 180 graus na carreira da atriz, acostumadas a tipos mais delicados e sofredores. Na pele da operística viúva que foi sem nunca ter sido, Regina já não precisava provar nada pra ninguém há muito tempo, mas mesmo assim provou que é capaz de absolutamente TUDO em se tratando da arte de representar. Na célebre trama criada por Dias Gomes, Porcina era um verdadeiro carrossel de emoções, indo das cenas mais dramáticas às mais irreverentes: um verdadeiro manancial para as impagáveis caras e bocas da atriz. Graças à Regina Duarte, Porcina virou dona, não só do coração de Roque (José Wilker) e Sinhozinho Malta (Lima Duarte), mas de todos os brasileiros.


MENÇÕES HONROSAS:

Ø  ANDRÉA, DE “VÉU DE NOIVA” (1969)
Ø  RITINHA, DE “IRMÃOS CORAGEM” (1970)
Ø  PATRICIA, DE “MINHA DOCE NAMORADA” (1971)
Ø  CECÍLIA, DE “CARINHOSO” (1972)
Ø  NINA, DE “NINA” (1977)
Ø  SHIRLEY, DE “INCIDENTE EM ANTARES” (1994)
Ø  HELENA, DE “PÁGINAS DA VIDA” (2006)


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MELÃO APROVEITA PARA DESEJAR BOAS FESTAS A TODOS OS SEUS LEITORES E PERGUNTA: QUAIS SÃO SEUS PERSONAGENS FAVORITOS DE REGINA DUARTE?
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Top 10 - LIMA DUARTE





domingo, 16 de dezembro de 2012

Melão entrevista Manoel Carlos: “Lilian Lemmertz foi, sem nenhuma dúvida, a criadora da Helena”






Mais um grandioso presente de final de ano para o melão e seus leitores. Particularmente, fiquei muito feliz e honrado com essa entrevista, já que se trata de um de meus autores favoritos, afinal Manoel Carlos povoa meu imaginário desde sempre. Mais precisamente, desde as remotas lembranças que tenho de “Sol de verão”, novela que foi ao ar quando eu tinha 5 anos de idade, mas já me impressionava com a atuação de Tony Ramos, passando pelo LP internacional da novela “Baila Comigo” que pertencia às minhas primas e que eu passei praticamente toda a infância ouvindo, observando a capa e tentando imaginar do que se tratava a trama (naquela época a internet não era nem projeto), até assistir de fato a uma primeira trama de sua autoria, “Felicidade”, em reprise atualmente no “Canal Viva”. A partir daí minha admiração por ele só aumentou com as novelas “História de amor” (1995), “Por amor” (clássico de 1997) e “Laços de Família” (2000). Nenhum autor consegue dar tanta dimensão humana a seus personagens como Maneco, que também é dono dos diálogos mais naturalistas de nossa teledramaturgia. Suas novelas são deliciosas crônicas do cotidiano, mas que nunca abrem mão dos melhores ingredientes do folhetim. Claro que, se como espectador já era fã de carteirinha, como autor ele é uma verdadeira inspiração.

Mesmo atribulado com os preparativos para sua próxima novela, o autor cedeu gentilmente um pouco de seu tempo para responder a algumas perguntas sobre sua vasta carreira. Ele relembra a primeira Helena, vivida pela saudosa e maravilhosa Lilian Lemmertz em “Baila Comigo” e comemora o fato da filha dela, Julia, ser a próxima. Maneco também fala de trabalhos anteriores, de processo de trabalho, das campanhas sociais em suas novelas, de suas preferências como telespectador, revela alguns nomes confirmados para a próxima novela e confessa o desejo de trabalhar com uma grande atriz com quem nunca trabalhou, além de muitos outros assuntos. Enfim, um prato cheio para todos os fãs do autor e pra todo mundo que ama e admira teledramaturgia. Mais uma vez, o melão estende o tapete vermelho para um grande nome de nossa tevê. Com vocês, Manoel Carlos!



Desde que você anunciou que Julia Lemmertz seria sua última Helena, suscitou uma enorme curiosidade por parte do público a respeito de sua próxima novela.  O que você já pode adiantar a respeito dela?

Manoel Carlos - A minha novela está prevista para estrear na segunda quinzena de janeiro de 2014. Daqui a um ano, portanto. A sinopse, já aprovada, tem dois nomes provisórios: FÊNIX e EM FAMÍLIA.  Ainda estou fazendo mudanças, corrigindo algumas trajetórias da trama, etc., etc. Portanto, qualquer coisa que eu adiante corre o risco de ser mudada. Só mesmo quando uma novela entra na linha de produção é que se pode garantir determinados fatos que ocorrerão no seu desenrolar.

A inesquecível Lilian Lemmertz, a primeira de todas as Helenas do autor; e Julia Lemmertz, filha dela, a próxima Helena.

Falando em Julia Lemmertz, inevitável não lembrar que a mãe dela, Lilian, foi a primeira Helena de suas novelas. Assistindo a “Baila Comigo” (1981) recentemente, pude comprovar a maestria do trabalho da atriz e a naturalidade assustadora que ela imprimia em todas as cenas, por mais simples que fossem. Você diria que a Helena de “Baila Comigo” é a gênese de todas as outras Helenas? Qual a contribuição da atriz na construção da identidade da personagem?  

Manoel Carlos - Lilian Lemmertz foi, sem nenhuma dúvida, a criadora da Helena e, por extensão, de todas as Helenas que vieram depois. Foi ela quem deu alma ao personagem, ao mesmo tempo em que esculpiu nele o seu próprio gestual, sua inflexão maternal, seu desvelo. Foi ela que deu à Helena esse comportamento dúbio, que mescla generosidade com egoísmo, e mais tudo que a grande atriz que foi Lilian sabia emprestar a todos os personagens que criava. Eu a “namorei” de longe, desde que a vi sobre o palco pela primeira vez, nos anos 60, ao lado de Cacilda Becker e Walmor Chagas, em “Quem tem medo de Virginia Woolf”, de Albee. Era uma jovem de menos de 30 anos, que já iluminava o caminho que viria a percorrer como estrela de primeira grandeza. Vinte anos depois desse encontro, pude dar a ela o personagem de “Baila Comigo”. A filha Julia foi pelo mesmo caminho. Humana e sensível como poucas, só agora terei a oportunidade de escrever para ela o papel criado por sua mãe. Essa oportunidade me deixa muito feliz.


Ainda sobre as Helenas, todas têm em comum o fato de carregarem um grande segredo e serem bastante abnegadas, mas ao assistir à reprise de “Felicidade” (1991), atualmente em exibição no Canal Viva, constatei que a Helena de Maitê Proença, a exemplo das outras, também escondeu um grande segredo, que foi uma falsa gravidez, promovendo, inclusive, o enterro de um tijolo, fingindo ser o bebê morto e enganando toda a cidade. Mas o que essa Helena tem de diferente é o fato de mentir em benefício próprio, ao contrário das outras, que mentiam pra beneficiar alguém. Isso foi de caso pensado? O que mais você pode destacar a respeito dessa novela?

Manoel Carlos - Muitas Helenas se parecem em algumas qualidades e defeitos, mas não em todas, já que ninguém é exatamente igual a outro alguém. Nem entre filhos da mesma mãe e do mesmo pai. As Helenas são uma imitação de pessoas humanas e verdadeiras, pois essa é minha maneira de ver as novelas.  Nem realista ou naturalista, como querem alguns. E nem delirantes. Apenas verossímeis. Possíveis.  No caso de “Felicidade” há que se notar que foi uma novela apresentada às 18 horas, numa época (1991-1992) em que não se podia avançar muito. Além disso, todas as seis ou sete histórias que se entrecruzavam eram inspiradas livremente em contos de Aníbal Machado. Portanto, muita coisa desses contos ficou agregada ao meu trabalho. O elenco era afinadíssimo, com Maitê e Tony formando um par que sempre tive vontade de repetir.

Maitê Proença e Tony Ramos em cena de "Felicidade"

Você também tem planos de escrever uma minissérie.  Ela virá antes ou depois da novela? Prefere esse formato por serem mais curtas?

Manoel Carlos - É verdade e não vou desistir. A minissérie MADAME, inspirada em “Madame Bovary”. Acertei com a direção da TV Globo a produção dessa minissérie para depois da novela. Quem sabe em 2015?
        
O que acha desse novo formato de novelas com menos capítulos às 23 horas? Aceitaria continuar a escrever novelas nesse horário, que proporciona uma liberdade maior para cenas mais ousadas como vimos em “O astro” e “Gabriela”? Que novela sua escolheria para um remake?

Manoel Carlos - Acho excelente. O “Astro” foi muito bem realizado e acredito totalmente no sucesso de “Saramandaia”, que vai ser reescrita pelo Ricardo Linhares, um autor de grande sensibilidade e talento, tanto na comédia como no drama. Eu escreveria com prazer uma novela para esse horário, mas jamais adaptaria uma obra minha. Isso não dá certo. O próprio autor não sabe fazer esse trabalho, é preciso que seja entregue a outra pessoa, que enxergue a tarefa como uma empreitada totalmente nova.

Você talvez seja o autor que retrata melhor o universo feminino.  De onde vem essa inspiração e, com exceção das Helenas, que personagens femininas destacaria em suas obras?

Manoel Carlos - Acho a mulher mais rica do que o homem, como fonte de inspiração. Isso certamente tem raízes na minha trajetória pessoal, pois fui criado mais pela minha mãe do que pelo meu pai, tendo nascido depois que eles tiveram duas meninas, que também participaram da minha criação. Não conheci nenhum dos meus dois avôs, mas minhas duas avós tiveram papéis fundamentais na minha vida, assim como três tias e algumas primas, sendo que foram essas, as primas, que despertaram minhas primeiras paixões de adolescente. Vai nisso também meu amor pelas atrizes, seres incomparáveis, donas de uma personalidade mutante, capazes de rir e chorar com a mesma “falsa verdade”. Para mim não existe nenhuma profissão no mundo melhor do que a de atriz. Sempre divinas e cruéis. Reconheço que todos os meus personagens femininos têm um acabamento melhor do que os masculinos.

Reunião de Helenas.
Pergunta do leitor Rodrigo Ferraz: apesar de paulista, você nunca criou uma Helena nascida aqui. Já pensou em ambientar uma novela em São Paulo, talvez com uma Helena paulistana, quem sabe de descendência judia ou italiana?

Manoel Carlos - Já pensei e ainda penso. Sempre quis, desde que escrevi a minha primeira novela, mas nunca consegui. E acho ótima a sugestão de que fosse descendente de italianos ou judeus. Quem sabe ainda faço?


Você sempre faz questão de incluir em suas tramas o que a emissora costuma chamar de merchandising social, como o caso da violência contra a mulher e o desrespeito contra os idosos em “Mulheres apaixonadas” (2003), a leucemia em “Laços de Família” (2000), a questão da tetraplegia em “Viver a Vida” (2009), Síndrome de Down em “Páginas da Vida” (2006) e o alcoolismo em quase todas as novelas. Ainda assim, você acredita que o objetivo principal de uma novela é o entretenimento ou a função social é algo imprescindível?

Manoel Carlos - Para mim, as duas finalidades se completam. Uma não impede a outra. O que sempre achei é que escrever uma novela, seja para que horário for, é uma grande oportunidade que o autor tem de oferecer alguma ajuda, sem esquecer o entretenimento. E essa disposição foi sempre muito gratificante. 

Trama dos maus tratos aos idosos na novela "Mulheres apaixonadas"

Que cuidados um autor deve ter ao retratar a vida de pessoas reais como a cantora Maysa, retratada em uma minissérie de sua autoria? Qual o limite entre o real e o ficcional?

Manoel Carlos - Escrevi “Maysa” com ampla liberdade. Sem esquecer o que era importante em sua biografia e sem deixar de salpicar a história com cenas e fatos criados por mim. Não sou um biógrafo, mas um ficcionista. O resultado foi muito feliz e teve a concordância do filho da Maysa, o Jayme Monjardim, que assinou a direção do projeto.  

Larissa Maciel dando vida à cantora Maysa

Como é a divisão de trabalho entre você e seus colaboradores? Você costuma dar a liberdade a eles para criar dentro da escaleta ou sugerir novos rumos para as tramas?

Manoel Carlos - Não tenho um regulamento para isso. Muitas vezes divido o trabalho, outras vezes entrego o capítulo para que eles o escrevam integralmente, Não sigo uma regra, como em quase tudo na minha vida. Minhas escaletas, quando existem, são precárias, incompletas, com mais sugestões do que determinações. Trabalho há muito tempo com as mesmas pessoas. Se possível serão sempre elas, ainda que eu queira que alcem vôos solos, assinando seus próprios projetos, já que são capazes de realizar esse trabalho.

Você, talvez, seja o autor que mais consegue dar dimensão humana aos personagens, mas ao mesmo tempo suas histórias são repletas dos elementos mais tradicionais do melodrama, como segredos de família, trocas de bebês e outras coincidências do destino. Como consegue driblar os clichês e as armadilhas do gênero para compor um painel de personagens sempre tão rico e diverso?

Manoel Carlos - Mas eu não acho que drible os clichês. Uso todos que me pareçam necessários. Afinal, a vida é feita de lugares-comuns. Não fazemos mais do que repeti-los. O Millôr Fernandes escreveu uma vez que a originalidade é a coisa mais velha do mundo. Conheço uma outra reflexão muito interessante de um autor que não me lembro agora: “O lugar comum é obra de gênio”.  O que distingue um autor do outro é a maneira de repetir e encarar esses estereótipos. Uma vez, numa conferência que eu assisti do genial Agripino Grieco, ele disse que muitas pessoas o criticavam por contar, nas palestras, sempre as mesmas histórias, repetir as mesmas piadas, etc. E ele então perguntava: “Não temos diariamente o mesmo pôr do sol e a mesma aurora?” E concluía: “E Deus, afinal de contas, tem mais recursos do que eu!”.

Qual sua posição pessoal a respeito da classificação indicativa? Até que ponto ela limita o trabalho do autor?

Manoel Carlos - Perto do que já existiu de limitação ao trabalho de um autor, a classificação é uma benção. Nem obrigatória ela é, mas apenas indicativa, como o nome diz.  E vale lembrar que em outros países, como nos Estados Unidos, é bem pior.

Na entrevista para o livro “Autores”, você conta que a reação do público acabou mudando os rumos da trama em “Sol de Verão” (1983) em que o personagem do Tony Ramos se envolveria com a personagem de Carla Camuratti e isso acabou não acontecendo. Até que ponto deve-se fazer concessões para que a autoria não se perca de vista? Citaria algum exemplo inverso, em que você não cedeu ao clamor popular?

Manoel Carlos - A novela de televisão sempre precisará da aprovação da audiência. E essa aprovação, muitas vezes, exige mudanças pontuais exigidas pelo público.


Você é noveleiro? Quais são as novelas preferidas do Manoel Carlos espectador?

Manoel Carlos - São muitas, mas cito apenas três: “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro, “Que Rei sou eu?”, de Cassiano Gabus Mendes e “Nina”, de Jorge Andrade.


Já pensou no elenco da nova novela?

Manoel Carlos - Reservei alguns nomes, além da Julia Lemmertz. Não me lembro de todos neste momento, mas entre eles estão: Tony Ramos, Vivianne Pasmanter, Natália do Vale e Helena Ranaldi. Gostaria de ter a Mel Lisboa, uma atriz que a Globo, a meu ver, não poderia ter perdido, mas quem sabe... não é?  


Há alguma atriz para quem você gostaria de escrever, mas que nunca escreveu?

Manoel Carlos - Glória Pires, sem nenhuma dúvida. E não perdi a esperança.

Para terminar, qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

Manoel Carlos - Muito presente no dia-a-dia e de ampla aceitação em todas as classes sociais, econômicas e culturais. Nada se compara a ela, pela diversão que proporciona e – muitas vezes – pela reflexão que provoca sobre temas comuns na esfera humana. Falar para milhões é – afinal de contas – o sonho dourado de qualquer escritor. E o novelista de televisão realiza esse sonho diariamente.

Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores" 
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Lilian Lemmertz: a “mãe” de todas as Helenas e favorita do blog!





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