quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma pitada de eternidade

Especial "O astro" - última semana




Vitor de Oliveira

Nem preciso dizer o quão maravilhosa foi minha experiência como colaborador de “O astro”. A começar pelo “dream team” de roteiristas: Tide e Geraldo, dois grandes mestres, não só na arte das palavras, como também em generosidade, gentileza e profissionalismo; além de meu querido Tatá, que foi meu colega de oficina, com quem tenho grande afinidade. Quando todos falam a mesma língua e estão imbuídos em fazer um trabalho sério, não tem como não dar certo. Soma-se a isso o fato de estarmos recontando um verdadeiro clássico de Janete Clair, mestra de todos nós e elenco e equipe irrepreensíveis, o resultado só poderia ser positivo.

No início, claro que bateu aquele nervoso, tamanha a responsabilidade do trabalho, mas à medida que o trabalho foi fluindo, pude me soltar e me encontrar totalmente. Os autores, muito generosos, estão sempre abertos a sugestões e nos davam liberdade para criarmos dentro da cena. Trabalhar assim é um prazer constante. Mas devo admitir que senti minha primeira cena como um grande teste, um rito de passagem, que poderia significar, tanto minha morte quanto minha eternidade. 

A cena: Herculano e Amanda trocavam juras de amor na praia. A única indicação que me veio foi a seguinte: “Amanda e Herculano falam de eternidade”. Procurei escrever a cena pensando nos personagens, me colocando em seus sapatos. Herculano, sempre solene, romântico, querendo impressionar e Amanda, por sua vez, mais descontraída, tentando disfarçar seu encantamento com uma pitada de ironia. Aquela situação não deixava de ser uma batalha de amor. Imaginei Herculano repetindo aquele famoso verso de Vinícius de Moraes “que seja infinito enquanto dure”, mas de forma um pouco diferente, para dar a entender que a citação era sua e Amanda, esperta e culta, logo retruca em tom de brincadeira, mas sempre carinhosa: “isso é lindo, mas eu já ouvi isso antes. O poetinha chegou na sua frente”. Depois de rirem muito, Herculano retoma a expressão séria e responde: “É muito mais que isso. Se eu fosse poeta, sabe o que eu diria? Que o nosso encontro já estava marcado. Além desse mundo. E não importa o que aconteça daqui pra frente. Ninguém vai tirar isso de nós. Nunca mais”. Nocaute. Herculano desarma Amanda, que se entrega totalmente à paixão.

Ao assistir à cena, fiquei extremamente emocionado, não só pela forma belíssima como foi realizada, direção excelente e atuações perfeitas, mas por ser a primeira vez que palavras escritas por mim eram repetidas em uma produção televisiva. Minha primeira cena poderia ter sido absolutamente trivial, mas foi bela, intensa e romântica. Esse foi o primeiro de muitos presentes que ganhei de Tide e Geraldo no decorrer da novela. Agora é tempo de comemorar! Foi uma jornada intensa, mas sempre feliz. Com gostinho de eternidade. 

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O MELÃO CIRCULANDO POR AÍ... EDIÇÃO ESPECIAL "O ASTRO - ÚLTIMA SEMANA"

Nessa reta final, o melão andou dando o ar de sua graça em blogues parceiros, por isso convido a todos a ler também:

- Entrevista minha e de Alcides Nogueira para Isaac Abda, do blog "Posso Contar Contigo?":

- "Tá curtindo, Dona Clô?" - artigo meu relatando um pouco de minha experiência como colaborador de "O astro" publicado no blog "O cabide Fala", de Fábio Dias:


Quem matou Salomão Hayalla?

Ainda dá tempo de dar o seu palpite!

Agradecimento especial ao meu amigo DOUGLAS pelo lindo banner comemorativo de "O astro". Douglas utilizou o lindo logo criado pelo Felipe e inseriu as figuras de Herculano e Ferragus. Com amigos tão talentosos assim, o melão vai muito bem! Até mais!



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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quem matou Salomão Hayalla?





O astro chega em sua reta final e ainda há muitos mistérios a serem revelados na trama de meus queridos mestres Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro. Mas o principal deles já começa a ganhar maior notoriedade: Quem matou Salomão Hayalla? As bolsas de apostas já começaram por todos os sites. Nada mais justo que o melão também perguntasse o palpite de seus leitores.
Para ajudar, segue uma lista dos principais suspeitos e algumas de suas motivações. Participem! Quero todo mundo opinando e explicando o porquê!

SAMIR HAYALLA:


Mais esperto e ambicioso dos irmãos Hayalla e favorito absoluto nas bolsas de apostas. De fato, é quem, aparentemente teria mais motivos para querer se livrar do irmão e quem mais lucrou com sua morte. Sua lista de vilanias é infindável. Não é segredo pra ninguém a sede de poder de Samir e sua obstinação para conseguir o que quer, custe o que custar. Samir se mostrou um verdadeiro mestre em armações e intrigas e parece não se importar em sujar as mãos de sangue para conseguir o que quer. Assassinou friamente sua coelhinha Valéria (Ellen Rocche) e demonstrou durante toda a novela sangue frio o suficiente para atingir seus objetivos. Será que matou friamente o próprio irmão, de quem sempre viveu à sombra?

AMIN HAYALLA:


Tudo bem que, pra chegar ao nível de maldade de Samir, falta bastante, mas ética e escrúpulos, definitivamente, não estão entre as características de Amin. Machista, canalha e ambicioso, Amin vivia levando lição de moral de Salomão e sempre foi o cúmplice perfeito das armações de Samir. Mantém um casamento falido por interesse e trata a amante como se fosse um objeto, Amin possui o cinismo necessário para esconder um crime e jogar a culpa em outra pessoa. É uma boa aposta!

YOUSSEF HAYALLA:


Zero à esquerda, bobo da corte, inútil... Youssef é o mais fraco dos irmãos e já foi humilhado por eles de todas as formas possíveis e manipulado pela mulher, a quem sempre cede aos impulsos de ambição. Aparentemente, parece não ter brios e sempre se finge de morto quando a situação se agrava. Seria o último dos suspeitos, pois não aparenta ser capaz de matar nem uma mosca. Por isso mesmo, pode ser um assassino em potencial, pois poucas pessoas são capazes de aguentar tantas humilhações como Youssef aguentou. Além disso, depois de Salomão é o irmão mais velho e estava certo de que assumiria o poder com a morte do empresário. Olho nele!

TIA MAGDA


No princípio, uma mulher discreta, pacata e apagada. Aos poucos, foi revelando uma atitude mais que suspeita ao ficar pelos cantos ouvindo todas as conversas. Sem dúvida, é a que mais conhece os segredos da família Hayalla e também tem muitos segredos a esconder. Aos poucos, a devotada tia solteirona foi revelando uma personalidade traiçoeira e sombria. Foi amante de Salomão durante anos, preterida pela sobrinha Clô. No meio de tantos segredos e dissimulação, pode ter matado o amante durante um acesso de fúria ou por vingança por anos e anos vivendo à sombra da família. Suspeitíssima até o último fio de cabelo.

FELIPE


O “boy magia” de Clô também é um suspeito direto. Além de Salomão ter descoberto o caso que tinha com sua esposa, também o tinha em mãos pelo roubo de uma valiosa escultura, além de provas de seu envolvimento com um perigoso traficante. ambição para alcançar seus objetivos. É outro que lucrou bastante com a morte de Salomão, além de ter sido o assassino da primeira versão. Será que essa nova adaptação será fiel à obra original de Janete Clair? É, sem dúvida, uma possibilidade...

HENRI



Comparsa de Felipe em todos os golpes, Henri sempre teve acesso livre à mansão por ser o cabeleireiro de Clô. Além disso, foi visto subindo para o segundo andar da casa momentos antes do crime. Apresentou um álibi, que pode ser falso. Aliàs, falsidade é o que Henri tem de sobra. Ladrão, frio e dissimulado, mostrou ser o grande articulador dos crimes que cometeu ao lado do amante Felipe e tem os mesmos motivos que ele para ter matado Salomão.

CLÔ HAYALLA



Estava em maus lençóis antes da morte de Salomão que, ao descobrir seu caso com Felipe, a expulsou de casa e pretendia deixa-la sem nada no acordo do divórcio. Não era segredo pra ninguém o que ela pensava a respeito de Salomão: um moooooonstro! Teve brigas homéricas com ele nos dias que antecederam o crime, estava magoadíssima por ele ter internado o filho Márcio em sua clínica psiquiátrica e com ódio mortal por ele ter assumido seu romance com Lili em uma festa diante de todos. Demonstrou grande descontrole emocional durante toda a novela e, num acesso de fúria pode ter acabado com a vida do marido.

NECO


Explosivo por natureza e facínora de carteirinha, Neco tentou arrancar dinheiro de Salomão e foi expulso a pontapés da empresa por ele. Roubou um convite de Beatriz e, de arma em punho, conseguiu entrar na festa em que o empresário foi morto. Foi o primeiro suspeito e chegou a ser preso sob essa acusação, mas sua inocência logo foi provada. Contudo, Neco é esperto o suficiente para ter adulterado as provas e sua ligação com Samir o recoloca na lista dos suspeitos.

MIRIAM


A esperta dona do cassino clandestino também esconde seus segredos. A exemplo de Magda também teve um affair com Salomão nos seus tempos de modelo e recebia uma generosa mesada do empresário, que só foi interrompida um mês antes dele ter sido assassinado. Além disso, cedeu às chantagens de Samir para a exercer sua atividade ilícita. Uma mulher tão suspeita assim certamente possui mais segredos a esconder. Hummmmm...

ASSUNÇÃO


Será que por trás da aparência de lorde inglês se esconde um assassino sanguinário e vingativo? Pacato e fraco, sua construtora foi passada pra trás pelo Grupo Hayalla durante uma negociata com um grupo chinês. Além disso, é perdulário, viciado em jogo e devia muitos favores a Salomão. Pra completar, é o atual namorado de Miriam e não sabia do envolvimento dela com Salomão. Será que uma crise de ciúmes pode ter motivado o elegante senhor a cometer um assassinato?

NÁDIA


Uma cobra venenosíssima, extremamente esperta e traiçoeira, Nádia é a ambição em pessoa, mas não se conforma com a fraqueza do marido Youssef, a quem vive manipulando para conseguir o que quer, inclusive torna-lo presidente do Grupo Hayalla. Salomão, sem dúvida, era um grande obstáculo para seus objetivos. Pra piorar a situação, ainda foi humilhada pelo empresário dias antes dele morrer pelo fato de não ter conseguido engravidar durante todos esses anos. Vamos piorar mais um pouquinho? A divina naja sugeriu um envenenamento antes de ir para a festa e ainda escondeu uma arma debaixo de sua elegante echarpe. Será que a sedutora Rainha de Sabá utilizou de seus maléficos recursos para tirar a vida de Salomão? Motivos e frieza suficientes ela tem.

Correndo por fora....


Os onze suspeitos já foram apresentados, mas há sempre aqueles que correm por fora e que ninguém espera como Jamile Hayalla, considerada por todos como uma mosca morta, fraca e submissa, mas que também foi humilhada por Salomão quando este afirmou que Amin só se casou por ela pela fortuna de sua família. Será que a bibelô seria capaz de cometer tal violência?; Cerqueira não é nada suspeito. Ao contrário, se mostrou uma pessoa íntegra e honesta o tempo todo, mas além de dever dinheiro a Salomão, pode ter agido num impulso para proteger o filho Felipe. Vai saber... E claro que, assassinato sem suspeita do mordomo não tem a menor graça e Inácio demonstrou ter o rabo preso desde o início, além de uma devoção canina às patroas Clô e Magda. O único aspecto que conta a seu favor é que Salomão arrancou um tufo de cabelo de seu provável assassino e cabelo é justamente o que falta em Inácio. Mas não sabemos o que aconteceu nas paredes daquela suíte.


A revelação do crime só saberemos na semana que vem, mais precisamente no dia 28 de outubro, mas já podemos nos divertir e começarmos a fazer nossas apostas, inclusive em personagens que não constam dessa lista.

Portanto, o melão pergunta: quem matou Salomão Hayalla e por quê?

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sábado, 15 de outubro de 2011

Série Memória Afetiva: as melhores amigas da ficção




Dedico “prazamiga”

Estava eu um dia em casa com meus grandes amigos Ivan Gomes, Walter de Azevedo e Wesley Vieira, quando surgiu a ideia. Nem lembro quem comentou primeiro, mas começamos a fazer um brainstorm procurando lembrar daquelas personagens que estão sempre ali pro que der e vier: as melhores amigas das telenovelas. Elas são geralmente chamadas de "personagens-orelha" no jargão técnico. Mas algumas delas são muito mais que isso. A lista é infindável, pois elas estão praticamente em todas as novelas e séries. Por isso, mais uma vez, meu critério vai ser subjetivo. Elas não representam as melhores ou mais inesquecíveis, mas sim aquelas que falam mais alto em minha memória afetiva.



Claro que, quando pensei nesse post, não consegui tirar de minha cabeça duas autênticas representantes desse tipo de personagem, ambas de “O astro”: a funkeira Tânia (vivida brilhantemente por Carolina Chalita), a batalhadora e esfuziante melhor amiga de Lili (Alinne Moraes); e a sensual executiva Beatriz (a linda Guilhermina Guinle), a melhor amiga de Amanda (Carolina Ferraz). Claro que ambas possuem trama própria na novela: Tânia acabou se enrabichando pelo tímido Olavo (Rafael Losso) formando um dos casais mais fofos da novela, enquanto Beatriz, depois de se envolver com Samir (Marco Ricca) e arrastar a asinha pra cima de Herculano (Rodrigo Lombardi), acabou engatando um romance pra lá de caliente com seu “namorado bandido”, Neco. A partir das duas, pra quem também dedico meu post, comecei a me lembrar de outras melhores amigas favoritas. São elas:


10) Jandira (Cristina Galvão em “Insensato Coração - 2011)


Cristina Galvão já tinha vivido uma grande amiga em “Tieta” (1989), quando ajudava Imaculada (Luciana Braga) a se livrar das garras do Coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura). Anos depois em “Paraíso Tropical”, viveu uma enfermeira camarada que ajudou Paula (Alessandra Negrini) a se livrar das armações de Taís. Mas foi com a companheira de cela de Norma (Gloria Pires) que ela conquistou definitivamente o Brasil e entrou para o rol das amigas mais queridas da ficção, afinal ela esteve com Norma até o fim em suas armações, se mostrando não só uma amiga fiel, mas como a mais confiável das cúmplices. Ótima dobradinha das atrizes e mérito da atriz, sempre doce e carismática. Quando cometer um crime, quero uma Jandira só pra mim.

9) Lenir (Guida Vianna em “Duas Caras” – 2008)


Guida Vianna é outra atriz que está cada vez mais se especializando em ser a melhor amiga, como Isolina, sua atual personagem em “Fina Estampa”, em que é uma das melhores amigas de Griselda (Lilia Cabral) e Wilma (Arlette Salles). Junto com Celeste (Dira Paes), parecem uma versão, digamos, diferenciada de “Sex and the City”. Minha primeira lembrança de Guida Vianna vem do cinema e já nesse papel de melhor amiga: era uma das empregadas amigas de Fausta (Betty Faria) em “Romance da Empregada”, de Bruno Barreto. Tanto que Aguinaldo batizou sua personagem com o mesmo nome da personagem de Betty no filme em “Senhora do Destino”, em que fazia a empregada de Nazaré (Renata Sorrah). Mas a “melhor amiga” mais divertida de sua carreira é a Lenir de “Duas Caras”, que não saía da casa da perua Gioconda (Marília Pêra). De nada adiantava colocar vassoura atrás da porta. Lenir tomava café da manhã, almoçava e jantava na casa da amiga, para o desespero do dono da casa Barreto (Stenio Garcia). Apesar de usar e abusar da hospitalidade da amiga e de não ter o menor semancol, Lenir era uma companhia divertidíssima, sempre com ótimas tiradas e dona dos comentários mais inconvenientes nas piores horas, o que garantiu uns dos melhores momentos da novela. 


8) Eliete (Isabela Garcia em “Celebridade” – 2003)


Era o tipo da amiga que dizia sempre o que pensava, doa a quem doer. Inspirada na camareira ranzinza de Margo Channing (Bette Davis em “A malvada”), Eliete era o anjo da guarda de Maria Clara Diniz (Malu Mader). Mesmo de classes sociais diferentes, as duas tinham muita cumplicidade. Eliete era sacoleira e fazia questão de não aproveitar as vantagens financeiras que poderia ter em ser amiga de Maria Clara. A exemplo do filme, foi a única a perceber que o jeito doce de Laura (Claudia Abreu) escondia uma terrível vilã capaz de tudo para prejudicar Maria Clara. Mas Laura era tão sonsa e dissimulada que conseguiu fazer com que todos pensassem que Eliete estava com ciúmes da amiga. A grande (e impagável) vingança da sacoleira foi quando foi visitar Laura no hospital após esta levar uma surra de Maria Clara. Eliete debochou do fato de Laura ter perdido um dente após a surra e tripudiou o quanto pôde na vilá. Claro que a plateia vibrou e se sentiu vingada também. Curiosidade: Malu Mader e Isabela Garcia também são grandes amigas na vida real.


7) Leopoldina (Beth Goulart em “O primo Basílio” – 1988)

Essa é uma melhor amiga clássica, não só na teledramaturgia, como também na literatura. A “pão e queijo”, como era conhecida por toda a Lisboa, Leopoldina era uma mulher de péssima reputação por trair o marido constantemente com todo tipo de homem. Por isso, a amizade dela com Luisa (Giulia Gam) não era vista com bons olhos pelo marido desta Jorge (Tony Ramos). Mesmo assim, Leopoldina era a mais fiel das amigas e foi cúmplice da traição de Luisa com Basilio (Marcos Paulo) e fez de tudo para tentar livrar a amiga da chantagem de Juliana (Marilia Pera). Mesmo quando Luísa jogou em sua cara a má fama que ela tinha e mesmo rejeitada pela amiga no final de sua vida, Leopoldina foi companheira até o fim. Uma grande personagem de Eça, transposta brilhantemente para a telinha por Gilberto Braga e muitíssimo bem interpretada por Beth Goulart. Uma de minhas personagens favoritas do livro / minissérie.


6) Rosinha (Betty Faria em “Incidente em Antares” – 1994)


Foi uma pequena participação de minha diva, mas um dos melhores momentos da minissérie. Betty brilhou na pele da singela e sofrida prostituta Rosinha, melhor amiga da também prostituta e recém-falecida Erotildes (Marília Pêra) e única a não sentir medo da amiga após sua morte. Betty fez pouquíssimas cenas na minissérie, mas uma bastante tocante foi quando ela maquiou a amiga depois de morta para que ela se juntasse aos outros defuntos que não foram enterrados devido a greve dos coveiros. Em uma cena quase felliniana, Rosinha, após lamentar por todo o seu sofrimento de uma noite em que foi violentada por vários rapazes, faz um pedido final à amiga ao se despedir: “Pede a Deus que me dê uma boa morte, já que ele não me deu uma boa vida”. Um momento breve, mas extremamente sensível e emocionante que contou com uma interpretação visceral de Betty Faria, que soube empregar singeleza, melancolia e intensidade na dose certa. Confesso: uma de minhas cenas favoritas de toda a carreira da atriz.

5) Guiomar (Louise Cardoso em “Força de um desejo” – 1999)


Cortesãs costumam ter amigas fiéis. E no caso da esplendorosa Ester Delamare (Malu Mader), ela tinha mais que uma amiga: um verdadeiro cão de guarda. Com seu jeito irreverente e despachado, Guiomar comprava todas as brigas da amiga, não só na capital, mas também quando se mudaram para o interior. Esperta, gaiata e descolada, Guiomar sempre tinha uma carta na manga para salvar Ester dos apuros e sem papas na língua, sempre dizia os desaforos que o espectador queria ouvir. Vivia às turras com Bartolomeu, mas no fundo era amor recolhido. Protagonizou momentos hilariantes da luxuosa trama de Gilberto Braga e Alcides Nogueira ao dar aulas de boas maneiras para a aspirante a baronesa Bárbara Ventura, brilhantemente interpretada por Denise del Vecchio. Além do grande alívio cômico da trama, Guiomar cumpriu com louvor sua missão de melhor amiga até o fim.

4) Marta (Bia Nunnes em “História de amor” – 1995)

Todas as Helenas de Maneco sempre puderam contar com grandes amigas, mas Marta é minha favorita de todas. Mais que amiga: comadre, cúmplice e grande ombro de Helena (Regina Duarte). Marta gostava tanto da amiga que acabou revelando à mimada Joyce (Carla Marins) que Helena não era sua mãe biológica, pois não suportava mais os maus tratos da filha ingrata. Marta perdeu a amizade de Helena, mas pelo mais nobre dos motivos. Fora isso, também foi um dos grandes destaques da novela ao superar um câncer de mama. A trama foi contada com muita delicadeza e Bia Nunnes conseguiu uma interpretação sensível e marcante. Confira a cena em que Marta, após revelar a Joyce que Helena é, na verdade sua tia, a esbofeteia e lhe diz muitas verdades para defender a amiga Helena. Catarse total!



3) Solineuza (Dira Paes em “A diarista”- 2003/2009)


A “poia”, como era “carinhosamente” chamada pela amiga diarista Marinete (Claudia Rodrigues) foi, aos poucos, crescendo até se tornar o destaque absoluto da série. Burra de dar dó, mas com um grande coração, Solineuza sempre tinha a melhor das intenções e, ao tentar ajudar a amiga, sempre a colocava em grandes enrascadas. Dira Paes deitou e rolou no papel e suas tiradas proporcionavam as maiores risadas da história. Com um jeito atrapalhado e ingênuo, Solineuza nos despertava compaixão, graças à interpretação genial de Dira Paes, que conseguiu um precioso equilíbrio entre o humano e o caricatural. Mesmo aprontando as mais inacreditáveis loucuras, Dira nos fazia acreditar que a personagem estava levando sempre tudo muito a sério. Sem sombra de dúvidas, a singela Soli era o grande motivo de se assistir “A diarista”.


2) Carmosina (Arlette Salles em “Tieta” – 1989)


A sonhadora funcionária dos correios foi um dos melhores papéis da Arlete Salles e entrou para a galeria dos personagens inesquecíveis da novela. Carmosina abria as cartas no bico da chaleira (costume herdado de sua mãe Dona Milu, vivida pela inesquecível Miriam Pires) e, desta forma, conhecia todos os segredos dos moradores da cidade, algo impensável de se colocar em uma novela nos dias de hoje por conta da onda politicamente correta que assola nossa tevê. Solteirona, ou “no caritó”, como se dizia na novela, Carmosina foi a única a oferecer ajuda para Tieta (Claudia Ohana / Betty Faria) quando esta foi expulsa de Santana do Agreste. Quando a cabrita volta à terra natal, as duas retomam a amizade e Carmô se torna sua grande confidente, inclusive sabia dos planos de vingança da amiga e do romance dela com seu sobrinho Ricardo (Cassio Gabus Mendes) e também seu grande segredo: Tieta não era viúva de um comendador, mas sim dona de um famoso bordel. A amizade das duas chegou a ficar abalada quando ela descobriu que Tieta pagou Gladstone para “inaugurá-la”. Mas o amor  e amizade prevaleceram e a ex-invicta terminou feliz ao lado de seu amor e fez as pazes com a grande amiga. Carmosina é uma das personagens que mais me comove. Me fez rir e me fez chorar com cenas magníficas. Essa bate fundo na memória afetiva.

1) Ronalda Cristina (Catarina Abdalla em “Armação Ilimitada” – 1985/88)

Essa é uma das mais autênticas representantes do gênero. Com um apetite voraz, tanto para sanduíches, quanto para homens, Ronalda Cristina era a grande amiga e confidente de Zelda Scott (Andréa Beltrão) e segurava todas as barras e dores de cotovelo da amiga, sempre as voltas com seus amores Juba e Lula (Kadu Moliterno e André di Biase). Ronalda era tão amiga que até batizou com o nome da amiga a filha que teve com um extraterrestre (!): Zeldinha Cristina, um bebê com poderes sobrenaturais. Dentro da proposta deliciosa e revolucionária que era a série, Ronalda funcionava como a cereja do bolo, sempre irreverente e sempre levantando o astral da amiga. Uma gostosura inesquecível. Confesso: formou meu caráter.


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Menção honrosa: ZÉ MARIA (Guilherme Piva em "Xica Da Silva" - 1996)
Tá, não foi propriamente uma "melhor amiga", mas teve essa função na deliciosa trama de Adamo Angel, pseudônimo de Walcyr Carrasco na extinta TV Manchete. Zé Maria aguentava todos os desaforos de sua amiga sinhá e foi responsável pelos momentos mais engraçados da novela. 
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Agora é a sua vez! O melão quer saber: quais suas amigas favoritas da ficção?


sábado, 1 de outubro de 2011

Blogueiro convidado: Aladim Miguel e os 35 anos de "Escrava Isaura"


DOSSIÊ “ESCRAVA ISAURA” 35 ANOS

Por Aladim Miguel



Fada? Anjo? Deusa? O que essa escrava tem que hipnotizou os telespectadores do Brasil e de mais de uma centena de países mundo á fora em uma novela tão simples? Neste dossiê produzido para um pool entre os blogs especializados em teledramaturgia: “Eu Prefiro Melão” de Vitor de Oliveira, “No Mundo dos Famosos” de Jéfferson Balbino, “Posso Contar Contigo?” de Isaac Abda e “Zappiando” de Paulo Ricardo Diniz, vamos desvendar os mistérios e segredos dessa fórmula que resultou em um verdadeiro fenômeno da teledramaturgia mundial. A seguir “Escrava Isaura” Especial 35 Anos.

Links dos blogs para o pool – em ordem alfabética:
EU PREFIRO MELÃO

NO MUNDO DOS FAMOSOS

POSSO CONTAR CONTIGO?

ZAPPIANDO

A Adaptação Para a TV:



O romance “A Escrava Isaura”, de 1875, do mineiro Bernardo Guimarães (1825-1884) é um romance romântico com pretensões a abolicionistas. Seu enredo conta a saga de Isaura, uma escrava branca, que após a morte da mãe passa a ser criada e protegida pela senhora da fazenda onde nasceu. Quando essa senhora morre, Leôncio, o filho dela, insiste em tentar seduzir a escrava a todo custo, como ela resiste, ele parte para castigos e ameaças de violência física e psicológica. O romance apresenta uma seqüência de peripécias ao estilo dos folhetins de época, recheados de personagens unidimensionais (O bom é sempre bom, e o mau é sempre mau). O novelista Gilberto Braga seguiu os conselhos de uma antiga professora do colégio e fez uma adaptação primorosa e muito fiel ao romance original, ele soube captar toda a essência do drama da escrava para criar novas tramas e personagens que pudesse sustentar os 100 capítulos da novela. A novela estreou em 11 de Outubro de 1976 e ficou no ar até 05 de fevereiro de 1977.
  
A Direção:



A novela foi toda armada e dirigida por Herval Rossano (1935-2007), grande responsável pelas adaptações literárias do horário das seis da TV Globo nos anos 70 e 80, até o capitulo 24, em parceria com o ator Milton Gonçalves, depois Herval viajou e Milton tocou a novela até o final. No processo de escalação da protagonista, Herval chegou a pensar nas atrizes Nívea Maria, sua esposa na época, e Elizangela para o papel de Isaura, enquanto Gilberto Braga pensava em Louise Cardoso. O nome de Lucélia Santos surgiu depois de ela ter tido o reconhecimento dos críticos de teatro do “Jornal do Brasil” como uma grande promessa de atriz que estava surgindo no cenário nacional.

As Gravações:
As externas da novela eram feitas, no Rio de Janeiro, na antiga Embaixada da Argentina e em fazendas de Conservatória, Vassouras e Santa Cruz. Algumas cenas de estúdio foram realizadas na extinta TV Educativa do Rio, em decorrência de um incêndio que a TV Globo sofreu na época das gravações da novela.



A Abertura e sua Trilha Sonora Original:

Produzida por Hans Donner, utilizando figuras clássicas do pintor francês Debret, a abertura de “Escrava Isaura” mostra um total entrosamento entre imagens e a forte canção “Retirantes”, um poema de Jorge Amado e Dorival Caymmi. O famoso “Lerê, Lerê”, abria a novela e nunca mais desgrudou do inconsciente coletivo, quem nunca se pegou cantarolando essa canção que virou o hino dos explorados? Uma curiosidade da abertura era uma vela posta por trás de um dos quadros de Debret para que desse o efeito de um poste de rua acesso. Pura criatividade!

Trilha sonora em Portugal
Guerra Peixe foi o responsável pela trilha sonora incidental com várias canções da trilha sonora original em versões instrumentais, ele utilizou somente instrumentos de percussão, uma vez que nem se pensava em acrobacias musicais tecnológicas, tudo era feito artesanalmente.  Por motivos inexplicáveis o compacto da novela não trazia a versão de “Retirantes” que era apresentada na abertura da novela com a Orquestra e Coral Som Livre. Uma pena...
  
Os Protagonistas:



Rosto completamente desconhecido da TV, a jovem atriz paulista Lucélia Santos, então com 19 anos, foi resgatada pelo diretor Herval Rossano do teatro, muito influenciando pela grande propaganda feita pelo saudoso ator Milton Moraes. Lucélia já havia feito testes para outras produções da TV Globo como: “Gabriela” e “Estúpido Cupido”, quando foi convidada pelo diretor Borjalo para assumir a protagonista da novela. Seu carisma e talento foram fundamentais para o grande êxito da trama. Se de um lado Lucélia transbordava pureza na pela da submissa escrava branca, o imbatível Rubens de Falco (1931-2008) tocava o maior terror em todos os personagens, seu Leôncio entrou para a galeria eterna de grandes vilões. A química entre os dois atores foi instantânea e fulminante. Uma dobradinha de sucesso absoluto.



Os mocinhos e galãs Roberto Pirillo, o Tobias, e Edwin Luisi, o Álvaro, tinham torcida por seus personagens. Como o Tobias não existia no romance original e foi um personagem querido do público, foi muito difícil ter que retirar o personagem de Pirillo de cena, isso aconteceu em um incêndio, muito realista para os padrões da época, os telespectadores não acreditavam que ela fosse morrer, é bom lembrar que naquela época não existia o “boom” de informações que temos hoje em dia com internet e centenas de revistas sobre novelas. Já Álvaro, o segundo amor de Isaura marcou a estreia de Edwin na TV Globo em um papel bem ao estilo príncipe encantado, tanto que foi recebido sem ressalvas pelo público que estava “órfão” de Tobias.


Outra que dominou sua personagem de uma forma incrível foi a veterana atriz Norma Blum. Sua linda e delicada Malvina chegou a fazer sombra a Isaura. Era uma sinhazinha que não se conformava com a condição da escrava e fazia de tudo para tentar conseguir a sua carta de alforria. Infelizmente não conseguiu e ainda acabou queimada no mesmo incêndio, provocado por Leôncio, que matou Tobias.

Os Anjos de Isaura:


Duas personagens bastante carismáticas também foram grandes destaques na trama: D. Ester, a madrinha de Isaura, interpretada pela atriz Beatriz Lyra, foi responsável por momentos de grande emoção como na cena da sua morte antes de poder contar à escrava que havia conseguido sua carta como último desejo de sua vida. Já Januária, a mãe preta de Isaura, um show de interpretação de Zeny Pereira (1924-2002), tinha um que de Mamãe Dolores do clássico “O Direito de Nascer” e foi, sem dúvida, o personagem mais popular da novela com suas tiradas pra lá de inspiradas.

O Mal é Mau Mesmo:

Os ótimos desempenhos dos atores Léa Garcia e Isaac Bardavid também deixaram marcas. Os vilões Rosa e Francisco, os dois braços de Leôncio, seguiam o mesmo caminho da maldade do vilão titular. Rosa era uma escrava pra lá de invejosa que não se conformava de jeito nenhum com as mordomias de Isaura e fez de tudo para acabar com ela, chegando até a tentar envenena – lá, mas por um golpe do destino, acabou provando do próprio veneno e morreu no final. Francisco, o terrível feitor da fazenda, também não deu trégua para escrava e chegou à manda - lá para os canaviais em uma cena inesquecível.



Os Subprodutos da Novela:
O sucesso de “Escrava Isaura” foi tão grande no exterior que vários subprodutos foram lançados no rastro da novela. O romance homônimo de Bernardo Guimarães ganhou tradução para todos os idiomas por onde a trama foi exibida e ganhou uma versão em quadrinhos no Brasil. Em Cuba, foi lançado um álbum de figurinhas que fazia parte de uma campanha de reciclagem do país, as figurinhas eram trocadas por lixo reciclável. A trilha sonora, com pequenas alterações, chegou a ser lançada em Portugal e na Venezuela.

Álbum de figurinhas lançado em Cuba

Uma Escrava Made in Brazil:





Vários países tiveram suas rotinas alteradas pela passagem de “Escrava Isaura” em suas terras. Cuba mudou o horário de voos e do racionamento de energia para não atrapalhar a transmissão da novela. Na Rússia a palavra “fazenda” foi incorporada ao seu vocabulário. Na Bósnia, aconteceu um cessar fogo nos horários da novela. Em Portugal, o comércio fechava portas. Na China havia sessões tipo cineminha nas ruas para que a população pudesse ver em alguns aparelhos de TV a novela e a população elegeu Lucélia Santos a atriz do ano e lhe deu o troféu “Águia de Ouro”, primeiro prêmio concedido á uma atriz estrangeira. Na Polônia chegaram a fazer “vaquinhas” para libertar a escrava e também fizeram concursos de sósias de Isaura. Na Itália os muros eram pichados com dizeres de libertação a escrava. Na Alemanha a novela foi exibida 5 vezes e 7 vezes na França tamanho o sucesso. Talvez por identificação ao tema da liberdade, os telespectadores dos países comunistas – China, Rússia e Cuba - tenham sido atraídos pelo drama da escrava. Até hoje “Escrava Isaura” continua sendo uma das campeãs de exportação da TV Globo e conseguiu abrir as portas de todas as emissoras do mundo para os produtos da TV Brasileira.



A Campeã de Reprises:

“Escrava Isaura” mantém o recorde de novela mais exibida no Brasil, foram 5 exibições em horários diferentes. Em 1976, 1977, 1979 – de novo no horário das 18 horas –, 1982 – dentro do programa TV Mulher – e em 1990, como encerramento do Festival 25 anos da TV Globo, com vários astros da novela na apresentação dos capítulos. A versão mais conhecida da novela contém 30 capítulos e foi essa a versão mais exportada.


Outros Personagens Inesquecíveis:

Maria das Graças e Haroldo de Oliveira
Não poderíamos deixar de citar as participações de outros atores que mandaram muito bem na novela como: Átila Iório (Miguel, o pai de Isaura), Haroldo de Oliveira e Maria das Graças (os escravos André e Santa), Mário Cardoso (O gentil Henrique), Carlos Duval (O jardineiro Beltrão) e Gilberto Matinho (O severo Comendador Almeida). Duas participações especiais marcaram a novela: Lady Francisco como Juliana, a mãe de Isaura e Henriette Morineau como a atriz francesa Madame Bensançon, que conseguiu comprar Isaura, mas na hora H, a escrava recuou em nome do amor, tem coisa mais romântica que essa atitude dela?
  
A Volta da Escrava Isaura:
A Globo Marcas, em parceria com a Som Livre, já anunciou na mídia o lançamento do DVD “Escrava Isaura” para este ano ainda, agora novas gerações vão poder comprovar a força e o carisma desse grande sucesso da teledramaturgia brasileira que se ouve falar há 35 anos. Feliz Niver Escrava Isaura!

Repercussão internacional

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