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sábado, 8 de dezembro de 2012

Melão entrevista Ricardo Linhares: "o escritor recria a realidade a partir do seu olhar"




Ainda faltam alguns dias para o natal, mas o melão e seus leitores já ganharam um tremendo presente: uma entrevista super especial com o queridíssimo e talentoso Ricardo Linhares, que em breve vai assinar o remake de um grande sucesso de Dias Gomes, “Saramandaia”. Ele nos revela algumas novidades dessa nova versão e algumas diferenças em relação à original. Generoso, o autor nos conta toda a sua trajetória, desde o início como autor de programas educativos, o aprendizado com Doc Comparato, que o levou à Rede Globo como redator de casos especiais, passando por programas de humor como “Viva o Gordo”, as primeiras colaborações em novelas e minisséries até se tornar o autor mais jovem a assinar uma trama no horário nobre: “Tieta”, em parceria com Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretsohn. A partir daí, foi conquistando vários êxitos em sua carreira e hoje em dia é um dos profissionais mais valorizados e respeitados de nossa teledramaturgia. Além disso, Ricardo, um noveleiro de mão cheia, relembra suas primeiras paixões televisivas, opina sobre a classificação indicativa e fala do papel da telenovela na vida do brasileiro. Tudo isso com muita simpatia e delicadeza. Além de profissional de primeira linha, Ricardo também nos encanta com sua simplicidade ao narrar uma trajetória tão vitoriosa e (por que não dizer?) inspiradora e emocionante, sobretudo para quem ama novela e trabalha no ramo. Tapete vermelho estendido, melão dá a palavra ao querido Ricardo:  



O que podemos esperar da nova versão de “Saramandaia”? Quais as novidades e o que você pretende manter em relação à versão original?

Ricardo Linhares - Os tempos são outros. De 1976 (data em que a primeira versão foi ao ar) para cá, o mundo mudou, a TV mudou e os espectadores mudaram. Hoje, há outra expectativa em relação à dramaturgia televisiva. O público era mais passivo, em parte por falta de concorrência, de conhecimento comparativo com o que era feito nas TVS de outros países. Apesar da TV não ser mais novidade, ainda tinha uma certa aura, uma certa mitificação. Era o grande veículo popular de acesso às informações. Muitas casas ainda não tinham aparelhos de televisão, a TV a cores era um luxo para poucos. Hoje, num certo sentido, a TV se banalizou. Os aparelhos estão espalhados pelos cômodos, assiste-se à TV no computador, nos ônibus, nos celulares. Eu sou espectador também, eu curto novela, assisto ao trabalho dos amigos, vibro com uma boa história. Então, me coloco no lugar do público, que está mais exigente, é ativo. É preciso acompanhar a evolução. Então, não faz sentido simplesmente reproduzir o que foi feito há quase 40 anos. É preciso recontar, recriar. A primeira versão de “Saramandaia” era uma novela atemporal, que se passava numa cidadezinha perdida no interior, ainda dominada por coronéis, como se estivessem nos anos 40. Eu trouxe a novela para o Brasil contemporâneo. Parte da história vem da novela do Dias; outra parte, eu criei especialmente para esta versão, com novos conflitos e novos personagens, alguns de realismo mágico, mas todos vivendo questões da atualidade.

Como está sendo a experiência de escrever uma novela de duração mais curta?

Ricardo Linhares - É um alívio ter 60 capítulos em vez de 185 (de “Insensato Coração”, minha novela mais recente). Por outro lado, é um desafio condensar a história em vez de espichá-la, fazer as tramas renderem por diversos meses, como habitualmente. Os escritores de telenovela não têm hábito da concisão. É estimulante. As cenas são curtas, o diálogo ágil, o ritmo intenso.

Você teve suas primeiras oportunidades como roteirista depois de fazer cursos, como o que fez na CAL ministrado por Doc Comparato e, posteriormente, na Casa de Criação Janete Clair. Considera importante iniciativas como essas para a formação do profissional como a atual oficina de teledramaturgia promovida pela Rede Globo?

Ricardo Linhares - Considero fundamental. Devo o início da minha carreira aos cursos que fiz e aos ótimos professores que tive, como Doc, Paulo José, Flávio de Campos. Além dos que você citou, eu fiz outros cursos. Entre eles, uma Oficia de Humor, na Globo. Nessa época, eu já escrevia como freelancer um programa chamado “Caso Verdade”, que ia ao ar no horário atual de “Malhação”. Havia necessidade de redatores de humor e a Globo criou esta oficina. Entre outros, estavam Alexandre Machado e Mauro Wilson, que acabou de ganhar o Emmy por “Mulher Invisível”. Éramos todos jovens... A direção gostou dos trabalhos que apresentei ao longo da oficina. E foi assim que tive o meu primeiro contrato, de 1 ano de duração, como redator do programa “Viva o Gordo”, do Jô Soares, fazendo parte da equipe do Max Nunes e do Hilton Marques. A partir daí, meus contratos foram sendo renovados. E, ao fazer a Oficina de Telenovela, na Casa de Criação, fui convidado para trabalhar como colaborador do Aguinaldo Silva em “O Outro”. Espero que a Globo faça mais Oficinas de Dramaturgia e que outras emissoras também invistam na formação de novos profissionais. Mas hoje em dia o panorama do mercado mudou, com a entrada forte das produtoras independentes na TV a cabo, com a nova legislação. E o jovem roteirista não precisa mais ter a Globo como única meta. É a maior empregadora da área no Brasil e uma empresa sólida, que valoriza seus profissionais. Tenho orgulho de trabalhar lá. Mas o leque se abriu, existem mais alternativas do que quando eu comecei. Infelizmente, Record, SBT, Band e outras emissoras não conseguem manter um investimento constante na área de teledramaturgia, o que aqueceria o mercado. Já realizaram trabalhos excelentes e de grande repercussão, gerando muitos empregos, mas avançam e recuam, não transmitem confiança a longo prazo. Por isso, considero o trabalho nas produtoras independentes o grande caminho atualmente. É difícil de entrar, ficar e conquistar um lugar na Globo. Imagino que nas produtoras também. Mas a TV fechada está iniciando uma trajetória de expansão. E um dia a TV aberta vai chegar na exaustão.

Você escreveu muitos casos especiais no início de sua carreira. Que tal o formato? O que aprendeu com eles e levou para as novelas depois?

Ricardo Linhares - O início, na Globo, quando eu tinha 21 anos, foi nos programas “Caso Verdade” e “Tele-tema”, que o sucedeu (ao mesmo tempo, eu já trabalhava como redator de programas educativos na extinta TVE, desde os 19 anos, enquanto ainda cursava faculdade de Comunicação, sou formado em Jornalismo). Ambos tinham o mesmo formato: 5 capítulos, de 30 minutos cada, com 2 intervalos comerciais, que iam ao ar de segunda à sexta-feira, no mesmo horário em que “Malhação” é exibida hoje. Era preciso ter uma história com início, meio e fim, com ganchos diários e fôlego para durar os 5 dias. Foi uma excelente escola para escrever novelas. Quando eu e Ana Maria Moretzsohn fomos convidados pelo Roberto Talma para supervisionar a primeira temporada de “Malhação”, levamos este formato para lá, com algumas adaptações, claro. Havia um núcleo central na academia de ginástica, e historinhas com personagens de participação que duravam 5 capítulos. Os 2 primeiros anos da novelinha foram um sucesso. E eu atribuo à dinâmica desse formato.

Você diria que “Tieta” representa um marco em sua carreira? Quais suas lembranças da novela?

Betty Faria na cena em que Tieta retorna ao agreste

Ricardo Linhares - Só tenho lembranças boas de “Tieta”! Há novelas especiais, em que tudo dá certo, e “Tieta” é uma delas. A parceria com o Aguinaldo e a Ana, a concepção do Paulo Ubiratan (um dos grandes diretores da nossa TV, infelizmente pouco valorizado), o elenco maravilhoso, as caracterizações, a música. Aguinaldo, Ana e eu nos reuníamos toda segunda-feira num apart-hotel, disponibilizado pela produção para os nossos encontros, e criávamos as tramas do próximo bloco. A partir da reunião, Aguinaldo fazia as escaletas, que são o resumo de cada capítulo. E cada um de nós escrevia 2 capítulos. As reuniões eram deliciosas, ríamos muito, trabalhávamos nos divertindo o tempo todo. Claro que o trabalho era puxado, embora a duração de cada capítulo fosse bem mais curta que hoje em dia. Mas o retorno foi compensador. É muito importante trabalhar com pessoas queridas, generosas e criativas. Éramos um time entrosado. É uma novela que deixou saudade no público e na equipe. Agora, a lançaram em DVD. Eu comprei a caixa, mas por conta do trabalho em “Saramandaia”, ainda não tive tempo para assistir. Vai ser o meu programa de férias!


Depois de “Tieta”, você assinou “Lua Cheia de amor” em parceria com Ana Maria Moretsohn e Maria Carmem Barbosa. Como foi essa experiência?

Francisco Cuoco e Marilia Pera em cena de "Lua cheia de amor"

Ricardo Linhares - Foi um remake de “Dona Xepa”, novela do Gilberto Braga baseada na peça homônima de Pedro Bloch. O Gilberto supervisionou os primeiros capítulos. A direção era do Talma. E o elenco era encabeçado pela Marília Pera, que fazia dona Genu, uma camelô – diferentemente da personagem original, que era feirante. Os dois filhos tinham vergonha da mãe batalhadora, mas inculta. É um tema melodramático fascinante e eterno, que recentemente fez sucesso em “Morde & Assopra” e “Fina Estampa”. Li que Gustavo Reiz vai escrever uma novela baseada na peça, para a Record. Achei uma ótima ideia e desejo sucesso a ele. Infelizmente, a minha novela não pode ser reprisada, apesar dos inúmeros pedidos dos espectadores, por uma questão jurídica envolvendo os direitos dos herdeiros de Pedro Bloch. Quem roubou a cena foi a querida Arlete Salles, que fazia a alpinista social Kika Jordão, cujo bordão “translumbrante” caiu na boca do povo. Suzana Vieira, como Laís Souto Maia, a rica chique e bom-caráter, também se destacou. A novela demorou um pouco para engrenar; por inexperiência, abrimos tramas paralelas demais no início. A partir da entrada de Francisco Cuoco, que fazia o marido malandrão da Genu, que havia a abandonado, a trama deslanchou.


Você escreveu muitas novelas em coautoria com Aguinaldo Silva e Gilberto Braga. O que destacaria de cada uma dessas parcerias?

Ricardo Linhares e Gilberto Braga: parceiros constantes

Ricardo Linhares - Eu gosto de trabalhar em parceria. Gosto de somar e compartilhar. E tive a felicidade de contar com dois companheiros como Aguinaldo e Gilberto para dividir a autoria de inúmeros trabalhos. Ambos têm muito em comum, como talento, disciplina, organização, método, criatividade e generosidade. Nunca houve qualquer tipo de desavença entre nós, nunca divergimos sobre os rumos de uma trama porque sempre houve respeito pela ideia do outro. Conversando, nós sempre chegávamos à melhor solução. Aguinaldo e Gilberto têm um universo de referência diferente e trabalhar com ambos foi enriquecedor e fundamental na minha formação. É muito bom trabalhar em dupla. É curioso que em diversas ocasiões eu havia sugerido, separadamente, ao Filipe Miguez e a Izabel de Oliveira que procurassem trabalhar em parceria, principalmente ao assinar uma trama pela primeira vez. E os dois se uniram para escrever Cheias de Charme, esse sucesso estrondoso.

Como foi ajudar a escrever “Anos Rebeldes”, uma das mais cultuadas minisséries de Gilberto Braga?

cena de "Anos Rebeldes"
Ricardo Linhares - Existem oficinas de roteiro, faculdade de Letras, mas só se aprende realmente a escrever para TV na prática. Como não existe faculdade de Teledramaturgia, cada trabalho é como um curso de formação. Colaborar com o Gilberto em “Anos Rebeldes” foi como fazer um mestrado na área. Aprendi muito com o talento dele. E tenho o maior orgulho de ter participado desse trabalho.

Em “Pedra sobre Pedra”, você retomou a parceria com Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretsohn. O que destacaria de positivo nessa novela?

Ricardo Linhares - Continuamos grandes parceiros e grandes companheiros. Levamos mais adiante a proposta de realismo fantástico, com personagens marcantes até hoje, como Jorge Tadeu (Fabio Jr) e Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que era sugado pela lua cheia. Mais uma vez, Paulo Ubiratan foi o diretor responsável por altos voos de criatividade, além de saber escalar muito bem um elenco. Digo mais: esta novela mereceria um remake, com as possibilidades de efeitos especiais que temos hoje.

Sergio Cabeleira (Osmar Prado) em "Pedra sobre pedra"
“Fera Ferida” foi uma novela inspirada na obra de Lima Barreto. Em adaptações como essa, qual o limite entre seguir a obra original e a livre criação?

Ricardo Linhares - Tanto em “Fera Ferida” quanto em “Porto dos Milagres” (baseada em “Mar Morto” e “A descoberta da América pelos turcos”, de Jorge Amado) não ficou praticamente nada das obras que originaram essas tramas, além do nome de um ou outro de personagem, de uma ou outra situação. Tivemos que mudar tudo, pois não havia trama que sustentasse meses de história. Se não fosse mexido, não haveria novela. Tanto Lima Barreto quanto Jorge Amado entraram mais como uma grife, foram homenageados como os grandes escritores que são. O adaptador não pode ficar engessado na obra que serviu de ponto de partida.

Lima Duarte e Edson Celulari em "Fera Ferida"
Suas novelas-solo “Meu bem querer” e “Agora é que são elas” têm em comum o fato de serem novelas regionalistas cujas tramas se passam em cidades fictícias. Você se sente mais à vontade nesse universo?

Ricardo Linhares - Eu sou um contador de histórias. Esse é o meu ofício. Estas duas novelas foram regionais porque as ideias brotaram assim. Cada trama nasce com as suas características próprias. Eu me sinto à vontade tanto no universo urbano quanto no rural. Até hoje, não escrevi novelas de época, tirando a colaboração em “O tempo e o vento” e “Anos Rebeldes”. Gostaria muito de escrever uma trama histórica. Não gosto de ficar restrito a um estilo. Sobre cidades fictícias, a verdade é que todas as tramas se passam em locais fictícios, embora alguns pareçam reais.

Flavia Alessandra e Leonardo Brício em "Meu bem querer"

Em “Paraíso Tropical”, pudemos identificar muito do estilo de Gilberto Braga, mas também é possível identificar muitas características de suas obras como os diversos quiprocós que aconteciam no Edifício Duvivier. Até que ponto a Copacabana da novela se assemelhava com as cidades fictícias das tramas regionalistas que você escreveu?

Ricardo Linhares - Respondi acima sem ter lido esta pergunta. A Copacabana do Edifício Duvivier era tão fictícia quando o Divino de “Avenida Brasil” ou o Leblon do Manoel Carlos. O escritor recria a realidade a partir do seu olhar; senão, faria um documentário.

“Insensato Coração” foi uma novela, cuja estrutura nos primeiros 100 capítulos foi mais episódica com tramas que iniciavam e se encerravam rapidamente e personagens que entravam e saíam o tempo todo da trama. A partir da segunda metade, a novela apresentou uma narrativa mais linear seguindo o modelo clássico do formato do gênero. A que se deveu essa mudança?

"Insensato Coração": sucesso também no mercado internacional
Ricardo Linhares - Na segunda metade, pode ter diminuído um pouquinho as participações, mas a novela continuou episódica até o final. Esta era a proposta da trama, a sinopse foi criada assim. Eu sempre quis escrever uma novela em que personagens fixos contracenassem com participações. Como na vida. Quantas pessoas passam por nós, convivem algum tempo, marcam ou não nossas vidas, e depois nunca mais as reencontramos? Por que na novela temos que acompanhar todos os personagens do início ao fim? Às vezes, a trama de um núcleo já acabou, mas os atores ficam até o final, sem história. Eu e o Gilberto optamos por fazer com que eles saíssem da novela quando se esgotasse a sua função. Nos seriados americanos, esse recurso é super comum. Atores entram e participam de 2 ou 3 episódios e depois vão embora; alguns voltam 10 episódios depois e somem novamente. O público entende a dinâmica. Na novela, provocou polêmica: houve quem visse uma novidade, houve quem reclamasse que esse formato não dava tempo de gerar empatia com os personagens novos. O nosso público está cada vez mais conservador e imediatista, quer a trama mastigadinha para entender. Uma novela ousada, inteligente e sensacional como “O Casarão”, do Lauro César Muniz, que se passava em 3 épocas simultâneas, jamais poderia ser feita hoje. O espectador ficaria confuso. Enfim, eu fiquei feliz por ter podido experimentar. E considero o saldo positivo. Gilberto e eu nunca pretendemos revolucionar a telenovela. Acho que isso não existe. Mas quisemos contar aquela trama desta maneira específica. A venda da novela para outros países tem sido excelente.

Como é a divisão de trabalho entre você e seus colaboradores? Você costuma dar a liberdade a eles para criar dentro da escaleta ou sugerir novos rumos para as tramas?

Ricardo em seu escritório. Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores"
Ricardo Linhares - Todos têm liberdade, claro. Somos uma equipe de amigos, de pessoas em quem se pode confiar. A opinião de cada um é importantíssima e soma no resultado final. Eu divido o trabalho por núcleos, já que cada escritor naturalmente tem mais afinidade com determinado tom: comédia, romance, ação, jovens, etc. Então, meus colaboradores costumam seguir um personagem, ou um núcleo, do início ao fim da novela. Temos sempre reuniões de criação em que conversamos sobre os rumos da trama. E hoje em dia, com a facilidade da internet, ficamos o tempo todo conectados trocando dezenas de e-mails com dúvidas e sugestões.

Você atuou como supervisor de texto em “Cheias de Charme” e, aparentemente, a novela não tinha muitas características de suas obras, ao contrário de outras supervisões em que notamos de maneira muito clara o estilo do supervisor. Até que ponto o supervisor deve intervir no trabalho do autor?

Ricardo Linhares - Cada pessoa trabalha de uma maneira diferente, não existe certo, nem errado. Na minha opinião, o supervisor não deve intervir no tom dos autores. Além de “Cheias de Charme”, da primeira temporada de “Malhação” e da penúltima temporada, já fiz outros trabalhos de supervisão, principalmente de sinopses. Como gosto de trabalhar em equipe, considero o supervisor mais um membro do time. O meu trabalho é ajudar o autor a contar a história que ele deseja contar e do jeito que ele quer. Claro que, com a experiência de 30 anos de TV que eu tenho, sei que algumas coisas devem ser bem avaliadas e dou a minha opinião e apresento alternativas. Não existe nada pior do que alguém que diz: não vai por esse caminho. E não apresenta outras soluções. Mas na TV não existem regras nem fórmulas. O que deu errado uma vez, pode dar certo em outras circunstâncias. O que faz sucesso hoje pode ser um fracasso no ano que vem, vice-versa. Então, é preciso liberdade e ousadia. Como supervisor, eu cuido, ajudo, ando de mãos dadas, tiro dúvidas, leio tudo, do início ao fim, participo das reuniões de criação, mas nunca impondo. Felipe e Izabel são dois escritores talentosíssimos, antenados, criativos e responsáveis. Ambos já tinham uma grande experiência como colaboradores com diversos autores. O sucesso que fizeram me encheu de orgulho. E fiquei muito feliz por ter feito parte da equipe deles.

"Cheias de Charme": novela de sucesso que contou com a supervisão do autor

Qual sua opinião sobre classificação indicativa?

Ricardo Linhares - Não sou contra a classificação indicativa. Acho que o espectador (principalmente os pais) tem o direito de saber a censura que o Ministério da Justiça dá a cada programa. No cinema, é assim. Sabemos se um filme tem censura livre, ou é proibido para maiores de 12, 16 anos etc. Sou radicalmente contra atrelar a classificação indicativa ao horário de exibição. É a mesma coisa que filmes com censura 18 anos só pudessem ser exibidos a partir das 22h nos cinemas. As regras da censura oficial não são claras. Programas sensacionalistas, supostamente jornalísticos, exibem nudez ao meio-dia. E em “Malhação” não podemos fazer cenas de intimidade de namorados acordando na mesma cama. É hipocrisia.

Geralmente, quando cria algum personagem, já pensa no possível ator / atriz para interpretá-lo?

Ricardo Linhares - Primeiro nasce o personagem, em função da trama. Ao elaborar a ação do personagem e suas características, já penso no ator/atriz para interpretá-lo. Ou, pelo menos, num tipo de ator, inicialmente. Por exemplo, ao começar a esboçar um perfil, posso pensar em Sophia Loren. E depois, à medida em que desenvolvo suas características, me vem à cabeça a intérprete brasileira. Na fase de sinopse, muitas vezes as escalações iniciais podem não se concretizar, por diversas razões. Mas ao escrever o diálogo dos primeiros capítulos acho importantíssimo saber o intérprete.

Você é noveleiro? Assiste a novelas desde criança ou só começou a acompanhar por força do trabalho? Quais as novelas e personagens favoritos do Ricardo Linhares espectador?

Ricardo Linhares - Sou noveleiro desde cedo. Mas na minha casa não havia o hábito de se assistir às novelas. Aliás, víamos pouca televisão em família. Tenho lembranças de novelas antigas, “Irmãos Coragem”, “Cavalo de aço”, a primeira versão de “Mulheres de Areia”, de “A Viagem”, “O semideus”, “Selva de Pedra”, “Escalada”, “Estúpido Cupido”, “Anjo Mau”, “Helena”, “Bravo”, “Corrida do ouro”. Pelo horário, eu não podia assistir às novelas das 22h porque tinha que acordar cedo para ir para o colégio. Mas sempre dava um jeitinho de acompanhar. Lembro de “O Bem-amado”, “O Espigão”, “Gabriela”, “Saramandaia”. Gostava de quando os meus pais saíam ou tinha festa em casa, porque a TV ficava liberada. Uma novela das 10 que me marcou muito foi “Os ossos do barão”. Fiquei eletrizado com “O Rebu”. Adorei “Nina”. “O grito” foi inesquecível. Enfim, são tantas... “Pecado Capital”, “Duas Vidas”, “Feijão Maravilha”, “O Astro”, “Vejo a lua no céu”, “O feijão e o sonho”, “A sucessora”, “Paraíso”, “O Casarão”, “Dancin’ Days”. Nem passava pela minha cabeça que um dia eu seria escritor e criaria novelas. Mas acho que a semente foi plantada ali.

Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores"


Já pensou em escrever para outros veículos como teatro ou cinema?

Ricardo Linhares - Na verdade, comecei a escrever para teatro, aos 14 anos. As minhas primeiras leituras foram de peças teatrais, devorei os clássicos na adolescência, dos gregos a Tennessee Williams, Shakespeare, Ibsen, Arthur Miller, O’Neill, Pirandello, Nelson Rodrigues, Jorge Andrade, Dias Gomes, Ionesco, Beckett, entre dezenas de autores maravilhosos. Eu lia tudo o que podia, era rato de biblioteca. Leitura é tudo. Acho que hoje em dia as pessoas leem tão pouco... Há quem queira ser escritor e nunca tenha lido Édipo Rei, por exemplo, que é a base de toda a dramaturgia ocidental. Ganhei alguns prêmios em concursos de teatro. E pretendia seguir por aí. Nem pensava em televisão. Mas conheci uma produtora da TVE, Ana Gouveia, num curso de inglês (olha a importância dos cursos na minha vida!). É uma mulher inteligente, culta, dinâmica. Ela produzia uma série de programas educativos chamada “Qualificação Profissional”. Conversando no intervalo das aulas, eu contei que havia ganho alguns prêmios com peças de teatro. Ela me pediu para ler. E depois me convidou para escrever os roteiros da série. Eu tinha 19 anos, era estudante de Jornalismo. Foi assim que entrei para a TVE. Gostei do trabalho, soube do primeiro curso que o Doc Comparato daria na CAL, me inscrevi. Doc gostou do meu texto, me encaminhou ao “Caso Verdade”, na Globo, que era dirigido pelo Paulo José. E eu nunca mais parei, sempre emendei um trabalho no outro. Tenho 50 anos, trabalho na Globo desde 1983. Já escrevi para todas as faixas, de Malhação a minisséries e linha de show. Fui o mais novo autor de novela das 21h, aos 27 anos, ao assinar “Tieta” com Aguinaldo e Ana Moretzsohn. Entre autoria, coautoria, colaboração e supervisão, já fiz mais de 15 novelas, além de Malhação, minisséries, especiais, seriados e humor. Nesse tempo todos, várias vezes já pensei em voltar ao teatro, mas, por falta de tempo, fui adiando... e hoje não tenho mais interesse. Adoro teatro como espectador, sou assíduo. Mas guardo as minhas ideias pra TV. Anda tenho muito trabalho pela frente.

Qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

Ricardo Linhares - É, e acredito que sempre será, a grande fonte de emoção, risos, romances, sonhos e reflexões. É nossa querida companheira diária. Ao mesmo tempo em que entretém, a telenovela ajuda na evolução dos costumes, a diminuir o preconceito, leva informação e ilustra a vida da maioria da nossa população. É preciso sempre estar mudando para acompanhar a evolução do mundo e do comportamento, com ousadia, liberdade e responsabilidade. A novela é o espelho da vida.

Ricardo, gostaria de agradecer muitíssimo pela entrevista. É uma honra para o melão e uma alegria para os leitores. Sou muito seu fã. Te desejo muito sucesso em “Saramandaia” e fica a torcida para que possamos trabalhar juntos algum dia.

Ricardo Linhares - Valeu, querido! Eu é que agradeço a oportunidade. Um beijo grande de final de ano para os seus leitores. Feliz 2013 a todos, que seja um ano pleno de realizações! Parabéns pelo merecidíssimo Emmy de “O Astro”, e tomara que os nossos caminhos se cruzem adiante. Muito obrigado pela torcida positiva!

Eu e Ricardo em evento na PUC-Rio
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sábado, 24 de novembro de 2012

Melão entrevista NORMA BLUM: “o ator deve se apaixonar perdidamente por seu personagem”



 Ela, humildemente, recusa o título de grande dama, mas poucas atrizes possuem uma carreira tão rica, tanto no teatro quanto na televisão, veículo em que participou desde os primórdios. Norma Blum ainda hoje é bastante lembrada por suas mocinhas das novelas de época dos anos 70 como a Aurélia de “Senhora” ou a Malvina de “Escrava Isaura”, papel que até hoje lhe rende reconhecimento popular. Mas já provou que seu talento e versatilidade estão a serviço de qualquer personagem, como a cultuadíssima vilã Frau Herta de “Ciranda de Pedra” ou a mãe sofredora Walkíria de “Anos Rebeldes”. Nessa deliciosa entrevista, Norma faz um passeio por toda a sua carreira, revela o desejo de viver uma vilã cômica e se mostra uma noveleira de primeira, antenada com os mais recentes sucessos de nossa teledramaturgia. Norma foi uma das atrizes biografadas no livro “As grandes damas e o teatro brasileiro”, de Rogéria Gomes e, na companhia da autora, tem viajado a muitas cidades para tardes e noites de autógrafo. Além disso, já marcou sua volta às telas de cinema em 2013, gravando uma participação em um filme esse ano. Com muito orgulho e muita alegria, melão estende o tapete vermelho pra essa grande dama em todos os sentidos: Norma Blum.


Você faz parte da história da tv participando praticamente desde o início ainda criança e também fez parte do elenco da primeira novela diária da Rede Globo, “Ilusões Perdidas” (1965). Além das enormes diferenças tecnológicas, que mudanças considera significativas da televisão do início para a televisão de agora?
Norma Blum - No início era tudo improvisado. Estavam todos aprendendo a fazer tevê ao vivo. Não existia o videoteipe e a adrenalina estava sempre a mil. Parecia teatro ao vivo transmitido pela tevê. Aconteciam erros, pequenos acidentes imprevisíveis e, claro, a tevê era em preto e branco. Apesar das limitações tecnológicas como estúdios, equipamentos, produção, grandes programas foram gerados. No Rio de Janeiro foram doze anos de pioneirismo até a chegada da tecnologia de gravação em fita. Hoje contamos com o HD, a alta definição da imagem a cores e inúmeras mídias repetidoras, trucagens e malabarismos na edição, além da possibilidade do registro para a memória já que tudo é gravado e arquivado para as futuras gerações.

Norma em cena de "Senhora" (1975) ao lado de Claudio Marzo

Mesmo atuando em muitas tramas contemporâneas, suas personagens em novelas de época são muito marcantes. Tem especial predileção por esse tipo de papel e que lembranças você tem das antigas novelas das seis dos anos 70 como “Senhora” e “Vejo a lua no céu”?
Norma Blum - Adoro fazer época, os figurinos, os cenários e o tratamento cinematográfico da fotografia recriam épocas diferentes, vide “Lado a Lado”, que nos remete ao início do século passado e usa o recurso de transformar fotos antigas em cenário. E o que dizer da deliciosa “Cordel Encantado” que misturou época com atualidade? Para os atores, há o desafio no gestual e no emprego da linguagem como em Escrava Isaura e principalmente em Senhora de José de Alencar, ambas adaptadas genialmente por Gilberto Braga. Em “Senhora” todo o tratamento era na segunda pessoa do singular e do plural. Um primor e um banho de cultura. Geralmente são personagens densos e situações arquetípicas que favorecem a interpretação.

Uma das cenas mais marcantes e comentadas em nossa teledramaturgia até hoje foi a da morte de sua personagem Malvina em “Escrava Isaura” (1976). Como foi a repercussão na época? Até hoje você é lembrada pela novela e por essa personagem?
Norma Blum - Até hoje sou parada em lugares públicos porque as pessoas se lembram de Malvina, Leôncio (Rubens de Falco) e de Isaura (Lucélia Santos). Na época, havia uma bolsa de apostas entre muitos espectadores que garantiam que Malvina e Tobias (Roberto Pirillo) teriam escapado do incêndio e retornariam ao final da novela.

Rubens de Falco e Norma Blum em "A Escrava Isaura" (1976)

A terrível governanta Frau Herta de “Ciranda de Pedra” (1981), brilhantemente interpretada por você, entrou para a galeria das vilãs memoráveis de nossa tv. Como foi viver essa personagem? Sente vontade de interpretar outras vilãs?

 Norma Blum - Ao ser convidada por Herval Rossano para essa novela, num primeiro momento rejeitei o personagem emocionalmente. Minha família fugiu dos nazistas na Segunda Guerra. Senti que, para a atriz, interpretar uma nazista fanática seria um grande desafio. Na verdade o ator deve se apaixonar perdidamente por seu personagem. Então busquei alguns resquícios de humanidade nessa vilã e ela acabou sendo votada como um dos personagens favoritos da novela. Quando conseguimos imprimir muitos tons à vilã ou à mocinha o personagem adquire uma dimensão muito maior porque supera o maniqueísmo entre o Bem e o Mal. Adoro fazer vilãs. Gostaria novamente desse desafio. Mas gostaria de representar uma vilã que inicialmente pareceria um anjo de bondade para o espectador enquanto trama a destruição de outros. Isso é um personagem rico a ser explorado. Quando, durante os dez primeiros anos da TV Tupi, fazíamos pelo menos três tele-dramas por semana tive vários personagens onde pude exercer essa fascinante dualidade. Ajudada pelo fato de ser muito bonita na época e da carinha inocente. Em toda mocinha também consegui colocar umas pitadas de diabinho. Achava as simplesmente “ingênuas” muito chatas. Então vamos acrescentar mais uns tons à sua humanidade, certo? Foi um exercício constante no aprendizado da atriz.

Você esteve no elenco da clássica minissérie “Anos Rebeldes” no papel de Walkiria, mãe do militante João (Cassio Gabus Mendes) e protagonizou cenas emocionantes quando ele foi perseguido pelos militares. Você sofreu algum tipo de repressão durante os anos de chumbo? Usou alguma experiência vivida nessa época para compor a personagem?
Norma Blum - Com certeza, apesar de Walkíria pertencer a uma família conservadora. Pessoalmente participei muito do movimento contra a censura assim como inúmeros colegas e todos nós sofremos repressão. Nos laboratórios para as gravações os atores veteranos puderam compartilhar com os jovens atores do seriado a experiência que foi a luta contra a ditadura. Foi muito enriquecedor e uma grande sacada do diretor Dennis Carvalho.

Norma Blum e Denise del Vecchio em "Anos Rebeldes" (1992)
Pergunta do leitor Rodrigo Ferraz: Você esteve no elenco das novelas “Floribella”, “Malhação” e atualmente está em “Carrossel”. Como foi trabalhar com artistas jovens e crianças? E o que você acha de obras feitas especialmente pra esse publico infanto-juvenil?
Norma Blum - Sempre trabalhei com e para crianças e adolescentes. Durante os primeiros dez anos de carreira pisei nos palcos em inúmeros espetáculos infantis. Participei de programas infantis na tevê e durante seis anos fui princesa e/ou mocinha do Teatrinho Trol, dirigido por Fábio Sabag. Era transmitido nos domingos das 14 às 15 horas e a praia do Rio de Janeiro esvaziava porque todos corriam para assistir. Depois das 15h a praia voltava a encher. Foi considerado o primeiro fenômeno de massa associado à televisão no Brasil, isso na década de cinquenta, devido ao enorme sucesso do programa. Depois, em 1975, com direção de Geraldo Casé, inauguramos o horário infantil das 17h na TV Globo com a minissérie “Pluft, o Fantasminha” em vinte capítulos. Fiz a menina Maribel. O horário foi depois ocupado pelo “Sítio do Pica Pau Amarelo”.

Recentemente você fez uma participação no episódio “A culpada de BH” da série “As Brasileiras” interpretando uma personagem cômica, mostrando uma faceta ainda pouco conhecida do grande público. Você se sente à vontade fazendo comédia? Gostaria de fazer com mais frequência?
Norma Blum - Adoro comédia embora me considerem mais uma atriz dramática em virtude dos papéis que fiz nas novelas. Assim como uma vilã adoraria fazer papéis cômicos. Ah, porque não uma vilã cômica? Esse foi o personagem que gravei recentemente em “Carrossel” numa participação de seis capítulos. Divertido.

Norma Blum, ao centro, em recente participação em "As Brasileiras" (2012)
Você acredita que a oferta de bons papéis diminui para os veteranos e por quê?
Norma Blum - Não. Basta ver Eva Todor, Laura Cardoso, Juca de Oliveira e Luiz Gustavo na ativa além de muitos outros. Os bons papéis por enquanto só andaram diminuindo para mim. Ah, lástima! E eu que adoro tanto trabalhar!

Você é uma das atrizes biografadas no livro “As Grandes Damas e um perfil do teatro brasileiro” de Rogéria Gomes e vai viajar com a autora dando palestras por várias cidades. Como foi convidada para o projeto e que tal ser considerada uma grande dama?
Norma Blum - Nunca me considerei uma dama de nada a não ser da paciência e da boa educação. Foi uma surpresa quando recebi o convite para dar meu depoimento para Rogéria. Depois da surpresa uma honra de estar reunida a colegas maravilhosas.

Você é noveleira? Quais as novelas e personagens favoritos da Norma telespectadora?
Norma Blum - Recentemente “Cordel Encantado”, “Amor Eterno Amor” e o remake de “Tititi”. Cláudia Raia em “Tititi” e Cláudia Abreu como Chayenne. Muito boa. Destaque para o Crô de “Fina Estampa”. Hilário e impagável.

Tem algum projeto em cinema, teatro ou televisão para 2013?
Norma Blum - Meu projeto é trabalhar muito em 2013. Este mês gravei minha participação no média-metragem “Entre Dois Amores”, direção de Bruno Saglia. Adorei voltar ao cinema apesar de não ser um longa. Adoro a linguagem cinematográfica e gostaria muito de voltar a fazer mais cinema. E também aguardo ansiosa um convite para minissérie ou novela.


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Norma, querida, muitíssimo obrigado por conceder essa entrevista. Saiba que é uma honra para mim e uma grande alegria para os leitores do melão poder conhecer um pouco mais a seu respeito e de sua brilhante carreira. Desejo ainda mais sucesso e que um dia possamos trabalhar juntos. Beijo carinhoso!

Agradecimento: Marcelo Rissato
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Temas e Trilhas: Elis Regina




Este blog não é muito de efemérides. Mas como passar em branco os 30 dolorosos anos sem Elis Regina, a intérprete mais emocionante e emocionada do Brasil? Muitos dizem que depois dela não apareceu mais ninguém à altura. Sem querer entrar no mérito da questão, melão presta sua homenagem a essa grande estrela e promove um desfile de seus 10 temas de novelas e séries favoritos. Vamos a eles:

10) “ALÔ ALÔ, MARCIANO” em “COBRAS E LAGARTOS” (2006)



A irreverente canção de Rita Lee na voz da Elis foi tema de Zuleika (Eva Wilma)   em “História de Amor” (1995) e também do seriado “Tarcisio & Glória”, de 1988. Mas a lembrança mais marcante que temos é como tema de abertura da novela “Cobras e Lagartos”, que dizia muito sobre a trama de João Emanuel Carneiro, que abordava a desigualdade social de maneira sarcástica e bem humorada. E Elis deita e rola, deixando a canção personalíssima. Mais debochada, impossível.

9) “PARA LENNON E MC CARTNEY” EM “CORPO A CORPO” (1984)



“Eu sou da América do Sul / Eu sei, vocês nem vão saber”... Minha lembrança mais forte dessa canção é do final da novela “Corpo a Corpo” (1984), de Gilberto Braga, em que o elenco era apresentado ao som dessa música. A canção ficou no meu imaginário e nunca mais a desvinculei da novela. Graças à interpretação sempre marcante de Elis.

8) “O BÊBADO E O EQUILIBRISTA” em “QUERIDOS AMIGOS” (2008)

Hino indiscutível da anistia no Brasil, a mítica canção de João Bosco e Aldir Blanc, em interpretação definitiva de Elis também ilustrou o retorno dos personagens da minissérie ao Brasil. Além disso, a canção dizia muito sobre aquele grupo de pessoas retratadas na trama. De fato, é emblemática para toda aquela geração que viveu e sofreu os anos de chumbo. Uma ode à liberdade.

7) “REDESCOBRIR” EM “CIRANDA DE PEDRA” (2008)



Também foi tema de abertura da novela do SBT “Razão de Viver” (1996), mas foi na trama cinquentista de Alcides Nogueira que a canção entrou definitivamente para o imaginário popular ao fazer parte da bela abertura da novela. O fato do refrão tocar incessantemente faz com que a música grude como chiclete em nossa mente, mas se abstrairmos esse fato, podemos perceber uma letra lindíssima e uma interpretação arrebatadora de Elis.

6) “ME DEIXAS LOUCA” EM “A VIDA COMO ELA É” (1996)

Um dos últimos sucessos de Elis, aqui ela nos oferece uma interpretação mais que apaixonada, mas totalmente entregue, lânguida e seduzida pelo fascínio da paixão. Também foi tema da novela "Brilhante" (1981), mas minha memória afetiva me transporta diretamente para a atmosfera da série inspirada em contos de Nelson Rodrigues. Casou perfeitamente com a atmosfera erótica da série e suas cenas pra lá de quentes. As aventuras das mulheres rodrigueanas, cujo destino é sempre pecar, tinham sua mais perfeita tradução nessa música e em uma Elis em êxtase.

5) “TIRO AO ÁLVARO” EM “SASSARICANDO” (1987)

Presente na trilha sonora do remake de “Uma rosa com amor” (2010), era o tema dos personagens do cortiço. Coincidentemente, essa canção deliciosamente paulistana de Adoniran Barbosa também era o tema dos divertidos moradores do cortiço de “Sassaricando” (1987). Como não ouvir a canção e não se lembrar das aventuras de Tancinha (Claudia Raia), Dona Aldonza (Lolita Rodrigues) e de toda a família? Oficialmente, era o tema de Juana e Adonis (Denise Milfont e Rômulo Arantes), mas eu acabo lembrando de todo o núcleo. Adoro Elis solar e irreverente.

4) “COMO NOSSOS PAIS” EM “ANOS REBELDES” (1992)



Só me lembro da música ter tocado na última cena da minissérie em que Maria Lucia (Malu Mader), ao rever seu álbum de fotografias, aos prantos, constata que “minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Precisa dizer mais alguma coisa? A canção já era um dos maiores clássicos de Elis. E no contexto da minissérie, sua interpretação pungente e poderosa ganhou ainda mais força. Um momento antológico de nossa teledramaturgia.

3) “ATRÁS DA PORTA” EM “DE CORPO E ALMA” (1992)

Como não amar Antônia (Betty Faria), desesperada, descendo pela parede, aos prantos, pela perda do marido Diogo (Tarcisio Meira)? Quem nunca jurou vingança e cantarolou a canção após ser traído? E aqui temos uma das interpretações mais emocionantes de Elis, sobretudo na gravação ao vivo em que ela chora copiosamente e valoriza ainda mais a letra sofrida de Chico Buarque e Francis Hime. Confesso que a novela não está entre as minhas favoritas, mas já valia por ver Betty Faria pós-Tieta em um papel diferente de tudo o que ela já tinha feito, introspectiva, submissa e sofrida. Bela interpretação de Betty com uma canção que não poderia ser mais adequada.


2) “MODA DE SANGUE” EM “TORRE DE BABEL” (1998)

Apesar de pouco lembrada, esse é um dos temas que mais me emociona. Ele tem a angústia de “Atrás da Porta” e a lascívia de “Me deixas louca” e não podia ser mais adequado para o amor desesperado, doloroso e dilacerante de Clara (Maitê Proença) e Clementino (Tony Ramos) em “Torre de Babel”. Elis, mais uma vez, perfeita, conseguindo unir sua técnica irretocável com emoção à flor da pele. Para se ouvir muitas vezes sem cansar.


1)   “FASCINAÇÃO” EM “O CASARÃO” (1976)

O primeiro lugar não poderia pertencer a outra canção, senão a esse verdadeiro clássico. Elis simplesmente perfeita, esbanjando doçura e emoção a um dos momentos mais sublimes da televisão brasileira. Mesmo quem não acompanhou a novela de Lauro César Muniz, conhece e se emociona com a sequência final do reencontro de João Maciel (Paulo Gracindo) e Carolina (Yara Cortes) 40 anos depois. Sim, gostamos de sonhar, gostamos de acreditar que amores resistem ao tempo e gostamos de nos emocionar com grandes atores em cena ao som de uma trilha sonora que fala direto ao coração. Emocionante e inesquecível.





E quanto a vocês? Melão quer saber: quais são seus temas de novelas favoritos na voz de Elis? 

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