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Os filhos de Gaspar: Olívia (Gabriela Duarte), Elvis (Marcelo Faria), Ringo (Henrique Farias), Jane (Carol Machado) e Lennon (Igor Lage) |
Hoje vai ao ar, pelo
Canal Viva, o último capítulo da reprise de “Top Model”, novela de Walther Negrão e Antonio Calmon que marcou toda uma geração. E, concidentemente, há
exatos 23 anos atrás, dia 18 de setembro de 1989, a Globo exibia o primeiro
capítulo da novela, que na época de seu encerramento, deixou muitas saudades e
uma legião de fãs, principalmente crianças e adolescentes, todos desejando ser
um dos filhos de Gaspar (Nuno Leal Maia),
ter nome de astros do rock e do cinema e viver naquela casa super animada à
beira da praia.
Pra quem, como eu,
era adolescente na época, foi um verdadeiro deleite e um retorno no tempo acompanhar
a novela. Mas as gerações seguintes também gostaram de conhecer a trama que
sempre ouviram falar bem. Claro que, muitos anos e dezenas de novelas depois,
nosso olhar é outro e hoje, bem mais crítico, consigo reconhecer que não se
trata de uma novela perfeita. Pelo contrário, a trama muitas vezes, foi
conduzida em banho-maria, sustentando-se apenas pelo carisma dos personagens,
interpretados por um ótimo time de veteranos e por um surpreendente elenco
jovem, talvez o melhor elenco adolescente já reunido em uma novela. Todos os
garotos e garotas foram muito bem construídos e pareciam de carne e osso, não ficavam
o tempo todo proferindo um amontoado de gírias e tendo atitudes “modernas” que
sempre soam forçadas em tramas adolescentes. O mais bacana é que eles não eram
apenas filhos de alguém. Todos tinham o mesmo peso dos personagens adultos. A
trama das irmãs Olívia e Jane (Gabriela
Duarte e Carol Machado), por
exemplo, apaixonadas pelo mesmo garoto, Artur (Jonas Torres), foi conduzida com extrema sensibilidade, sem
vilanizar nenhuma das duas, mostrando, sobretudo, que o amor que uma sentia
pela outra sempre foi maior do que qualquer rivalidade.
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Maria Zilda: destaque positivo |
Outro aspecto
positivo da trama foi a ausência de maniqueísmo e estereótipos. A mocinha não
era tão mocinha, o vilão, muitas vezes, foi humanizado, o herói tinha um pé na
marginalidade e o grande paizão da trama, em vários momentos, não passou de um
garotão irresponsável. Um bom exemplo disso foi a personagem Marisa (ótima
atuação de Maria Zilda Bethlem), que
começou a trama parecendo ser mais uma vilã corriqueira, mulher interesseira
que abandona o irmão pobre, a quem ama, pra ficar com o irmão rico. Mas Marisa foi
muito além e teve uma trajetória bastante interessante, chegando, em um
determinado momento, a assumir o controle dos negócios da família, para depois
se tornar riponga, desmemoriada, chegando ao cúmulo de aconselhar a rival Naná
(Zezé Polessa) a conquistar seu
próprio marido. E em todos esses momentos, Maria Zilda se saiu muito bem,
sempre imprimindo leveza e bom humor. Zezé Polessa e Drica Moraes foram as grandes revelações adultas da novela. Zezé,
como uma adorável faz-tudo eternamente apaixonada por Gaspar. Quem não gostaria
de ter uma Naná em casa? Já Drica, na pele da “empreguete” Cida, provocou muitas
gargalhadas como a doméstica apaixonada por bandido que virou cantora (quem
disse que a Cida de “Cheias de Charme” foi a pioneira?).
Eva Todor e Zezé Polessa: diversão garantida na trama
Outro grande destaque
do time dos veteranos foi Eva Todor,
que brilhou na pele da atrapalha avó Morgana e fez uma dupla adorável com o saudoso Luiz Carlos Arutin. Nos momentos em
que a trama não andava, era Morgana quem garantia a diversão, sempre com um
texto inspirado. E para fazer justiça, é impossível não citar Cecil Thiré, que simplesmente arrasou
como o doentio vilão Alex Kundera, outro personagem muitíssimo bem construído.
Alex não era um monstro 100% do tempo. Claro, era um psicopata que não
conseguia conviver com a inveja que sentia pelo irmão, mas também tinha
dimensão humana: sofria por amor e demonstrava afeto pelo filho Alex Júnior (Rodrigo Penna). Um papel que só podia
mesmo ter sido vivido por um grande ator como Cecil Thiré.
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Cecil Thiré na pele de Alex Kundera com Rodrigo Penna: ator brilhou na pele de vilão |
Já o par romântico
central da trama não funcionou como deveria. A heroína Duda (Malu Mader) começou forte e decidida,
mas foi enfraquecendo no decorrer da novela e desistiu com muita facilidade de
seu amor por Lucas (Taumaturgo Ferreira),
mostrando-se, muitas vezes, mimada e egoísta. Além disso, os autores mantiveram
o casal separado na novela por muito tempo. Nesse meio tempo surge Giulia (Alexandra Marzo em seu melhor momento
na tevê), para arrebatar o coração de Lucas e promover o antagonismo com Duda.
Nesse caso, a ausência de maniqueísmo contou a favor de Giulia, já que ela
estava bem distante das características de uma vilã. Ao contrário, Giulia era
amiga, simpática, companheira, generosa, determinada, enfim, adorável, tudo o
que Duda não foi. Resultado: houve uma imensa torcida para que Lucas ficasse
com Giulia e não com Duda, que chegou a ficar ausente da trama justamente nos
capítulos finais. Até mesmo a reconciliação de Lucas e Duda foi promovida por
Giulia que, se não foi a heroína da trama, teve mais atitude de heroína do que
a mocinha original, que nada fez para lutar por seu amor.
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Luiz Carlos Arutin e Alexandra Marzo: fotografados de minha tevê |
A trilha sonora
também foi um caso à parte. Poucas vezes, canções e trama combinaram tão bem em
uma novela e muitas delas se tornaram memoráveis. Impossível não ouvir “Stairway
to Heaven” e “Hey Jude” e não se lembrar de Gaspar e sua família. Ou “Oceano” e
“Right here waiting”, que nos remetem imediatamente ao romance de Duda e Lucas,
da mesma forma que “Wish you were here”, com os Bee Gees, vai sempre nos
lembrar de Giulia. “Stay”, com Oingo Boingo e “À francesa”, com Marina Lima, também
são exemplos de canções que sempre irão nos remeter à novela. A lista é grande...
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Lucas e Duda: casal ficou distante demais durante a trama |
Enfim, mesmo não
tendo o ritmo de uma novela que se espera que tenha nos dias de hoje, em que os
espectadores querem uma novidade por minuto, “Top Model” manteve seu charme,
seu frescor da época com sua trama ensolarada e alto astral. Valeu a pena ver
de novo e pra sempre valerá.
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