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sábado, 16 de abril de 2011

Blogueiro convidado: Eduardo Vieira analisa “Macho Man”



 Mais um querido amigo me dá o prazer de publicar um texto no melão. Trata-se de Eduardo Vieira, um santista apaixonado por televisão, que conhece e acompanha novelas desde os anos 70 e sempre nos brinda com seus valiosos comentários nas comunidades virtuais das quais fazemos parte.

Edu nos escreve sobre “Macho Man”, nova série da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado, com direção geral de José Alvarenga Jr. Estrelado pelo impagável Jorge Fernando, a trama gira em torno dos dilemas de um ex-gay que precisa lidar com sua nova condição. O texto, sabiamente, aponta para os aspectos da série que vão além de clichês e estereótipos e nos oferece uma reflexão mais densa, ainda que seja através do riso. O melão agradece a Edu e espera que ele retorne com mais textos.
  

“Macho man”, de Fernanda Young e Alexandre Machado.

Por Eduardo Vieira

Folder promocional da série

A ideia sempre foi curiosa... um homossexual está dançando e após uma pancada, é mudada a sua condição sexual, de gay assumidíssimo ele tem tendências heterossexuais, tendo atração por corpos femininos.

Haviam convidado Rodrigo Santoro para o papel. O ator declinou por razões desconhecidas. Entrou Jorge Fernando, mais conhecido como diretor e ator do espetáculo quase sem roteiro Boom!!! A autora Fernanda Young sempre disse que gostaria de trabalhar com ele.

Todos se espantaram: Jorginho Fernando, um homem bem extrovertido, digamos assim, fazer um ex gay? Claro que as pessoas, entre elas, eu, pensaram na possibilidade de ele virar um estereótipo do machão, pegador, com jeito masculino. E é aí é que mora a surpresa do seriado. Os autores, corajosamente, dissociaram a vontade, a libido, da identidade que cada pessoa tem, seja ela hétero ou homo. Ou seja, fizeram um saco de gatos com tudo o que separa a identidade do macho man, o verdadeiro, daquele homem mais sensível que culmina por enxergar o mundo de um modo um tanto  bifocal, pensa como um gay, com tudo o que acarreta pensar como um gay: tem rapidez de raciocínio, humor camp, auto comiseração, clichês muito bem trabalhados dentro do texto. Não há como negar, por exemplo, que os gays pensam diferente sobre um bocado de coisas!

E aquele outro homem recém-descoberto,  que  tem sentimento e  instinto de  latin lover , vem causar uma grande confusão em sua cabeça, pois são duas pessoas  aprisionadas (outro clichê sexual) num corpo só. Aliás, o seu cérebro que ainda é gay controla o corpo, este louco pra experimentar o corpo feminino, então, sua única escolha lógica.

Daí vêm os dilemas: socialmente ele nega ter “virado” hétero, pois não pegaria bem no seu emprego de cabeleireiro e depilador. Os preconceitos são vistos de forma divertida e irreverente. E no jogo também entram a melhor amiga, uma ex-gorda que ainda não se acostumou na sociedade a viver o papel com seu novo corpo, pois mudou sua aparência, enquanto a essência continua dentro dela. Assim como Zuzu ou Nelson, que pensa como homo, Valéria( Marisa Orth) pensa ainda como gorda e dessas reflexões é que surgem os diálogos mais engraçados e por vezes agridoces dos dois amigos.

Ainda no ótimo elenco de coadjuvantes, estão Venetta (Rita Elmor), uma ex- top model quase anoréxica, sempre na rebordosa, que diz deliciosas  calamidades aos dois amigos. Está sempre no salão falando abertamente sobre sua vida; Frederick (Roney Facchini), o dono do salão, paranóico, que sempre está à margem de tudo o que acontece; e enfim, a divertida e séria  recepcionista gótica (Natalie Klein, em ótima interpretação), que também esconde uma divertida identidade, pois tem medo de ser rejeitada, como se o rótulo de gótico fosse muito bem aceito!

A dupla de escritores, mais uma vez, alterna entre piadas com diálogos inspirados, contrabalançando o olhar homo e hétero, sobre  as coisas mais banais, como um modo de vestir até um lugar para se paquerar, até o humor com uma conotação mais agressiva e um tanto escatológica, como já acontecia em Os Normais e no último Separação?! . Porém, acho que Macho Man está mais para o primeiro no sentido de longevidade.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ti Ti Ti: uma novela sem vergonha de ser novela.


                                                                                                                                                                  
AUTORA UNE O MELHOR DO PASSADO E DO PRESENTE EM TRAMA DIVERTIDÍSSIMA


A apreensão em torno da estreia do remake do megasucesso de Cassiano Gabus Mendes era quase tão grande quanto a expectativa, afinal, por mais talentosa que seja a autora Maria Adelaide Amaral e, mesmo sendo discípula do autor da novela original, sempre é perigoso mexer com grandes sucessos, ainda mais se tratando de personagens como Jacques L’eclair e Victor Valentim, que se tornaram quase míticos no imaginário popular. Quando foi anunciado então que a autora iria mesclar tramas de outro sucesso do autor, “Plumas e Paetês”, o receio aumentou. As comparações seriam inevitáveis e Maria Adelaide tinha um grande desafio pela frente. Como escrever uma novela que reverenciasse o passado sem cheirar a naftalina? Como agradar a nova geração sem desagradar os noveleiros mais antigos? Como criar uma história nova, com frescor que, ao mesmo tempo, preservasse a aura e o estilo das tramas do velho Cassiano? E não é que Maria Adelaide conseguiu?



A novela é uma delícia de se assistir. A autora está sabendo, com maestria, criar uma história nova, envolvente, cheia de referências ao melhor do passado e do presente, que diverte, emociona, faz rir, e entretém no melhor sentido da palavra. A opção por incluir o mote central de “Plumas e Paetês” foi um grande acerto e, por que não dizer, um gol de placa. A saga de Marcela (Ísis Valverde) trouxe os elementos do folhetim e do melodrama que justamente faltavam a “Ti-Ti-Ti”. E a trama foi apresentada primeiro,o que causou um estranhamento no início, mas que agora entendemos que foi pra mostrar que, além da comédia rasgada dos costureiros rivais, um novelão dos bons também estava por vir. E Marcela está longe de ser ume heroína chata ou previsível. Sua trama convence e emociona e seu núcleo, através do romance de Osmar e Julinho (Gustavo Leão e André Arteche), trouxe ousadia para o horário das sete e o casal gay, apresentado com muita sensibilidade e bom gosto, caiu nas graças do público. Mesmo com a morte de Osmar, a homossexualidade ainda está sendo abordada, através das conversas de Julinho com a religiosa mãe de Osmar, Bruna, vivida por Giulia Gam. Ela e André Arteche estão ótimos em cena. Diálogos inspiradíssimos, realistas e no tom certo.

 
Julinho e Osmar: empatia com o público



 A parte de “Ti Ti Ti” também começa a pegar fogo com Victor Valentim entrando em cena. Benicio e Borges estão muito bem. Ali a comédia rasgada é totalmente permitida e, diferente da primeira versão, os rivais agora estão com um tom mais infantil, mais cartoon, marca registrada da direção de Jorge Fernando. Caricatural, mas excelente, está Claudia Raia. Diferentemente da classuda Jacqueline de Sandra Bréa da primeira versão, La Raia está usando e abusando da comédia física com seu jeitão pateta e atrapalhado. A sequência dela dançando Ilariê foi uma das mais engraçada dos últimos tempos. E como se não bastasse, o texto de Jacqueline é ótimo, cheio de referências pop e tiradas inspiradíssimas e Claudia Raia está sabendo deitar e rolar. Malu Mader, mesmo parecendo fazer papel de Malu Mader, é sempre um motivo para ficarmos diante da TV. E através dela a gente percebe o ótimo clima dos bastidores. Por várias vezes, ela não consegue conter o riso quando contracena com Borges e Benício. E todos os grandes nomes do elenco estão muito bem, como Christiane Torloni, Elisângela, Dira Paes, Marco Ricca. Entre os jovens, Humberto Carrão faz um Luti diferente da primeira versão, mais calmo, mas igualmente simpático. E novela de Cassiano e Adelaide sem Mila Moreira certamente faltaria algo. Há muito tempo a atriz não tinha um papel tão bom. Esbanja o charme de sempre e merecia vir melhor creditada na abertura. A trilha sonora também é um caso à parte. Regravações deliciosas de sucessos dos anos 80, de grandes clássicos como “Let’s face the music and dance” juntamente com músicas atuais como a bela “O que eu não conheço” na voz de Maria Bethânia. As canções casam perfeitamente com a trama, que casa com a cenografia e os figurinos, que casam com a direção de arte, enfim... tudo muito inspirado. O universo da moda mudou muito desde 1980 e 1985, anos em que Plumas e Ti Ti Ti foram ao ar. E a novela acompanhou muito bem essa mudança e tudo exala e remete ao mundo fashion atual.



Enfim, com tanta coisa boa, “Ti Ti Ti” é uma grande festa e uma feliz junção do texto inspirado de Adelaide com o humor divertido e clown de Jorge Fernando. Diverte o espectador afeito a humor pastelão e não subestima os mais exigentes que prezam, sobretudo, um bom texto. A autora está sabendo como ninguém captar a essência de Cassiano e mesclar com elementos atuais, criando algo novo e absolutamente original. As referências a outras novelas do autor como a cena em que reproduziu a abertura de “Locomotivas” são emocionantes para os saudosistas. Era disso que o gênero precisava: de uma novela que não tem vergonha de ser novela e de homenagear a própria telenovela, que quase sempre pega carona em referências cinematográficas. “Ti Ti Ti”, ao contrário, é uma homenagem não só á obra de Cassiano, mas à teledramaturgia como um todo. Aplausos efusivos para Maria Adelaide Amaral e equipe, que driblaram todas as armadilhas que poderiam fazer a empreitada naufragar e já fazem de “Ti Ti Ti” já disparada melhor novela dos últimos tempos.


Pra terminar, uma das cenas mais hilárias da novela!



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