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domingo, 28 de outubro de 2012

TEMAS E TRILHAS - ZÉLIA DUNCAN




A nova edição de “Temas e Trilhas” é dedicada a aniversariante do dia, Zélia Duncan, que já foi responsável por inúmeros sucessos que figuraram em nossa teledramaturgia. Para a difícil tarefa de elencar apenas 10 canções, melão recrutou um dos maiores fãs da cantora: o queridíssimo Thiago Henrick que, além de noveleiro de primeira, é uma das pessoas que mais entende de música que conheço. Thiago é dono do já cultuado “EnTHulho Musical”, que mesmo em recesso, continua sendo um dos melhores blogs de MPB existentes. Zélia dispensa quaiquer apresentações, mas Thiago a descreveu de forma tão brilhante que já passo a bola pra ele ainda na introdução. Vamos às nossas favoritas:


- AS PREFERIDAS DO THIAGO:

“Hermética popular” – Marília Gabriela certa vez utilizou essa expressão para definir Zélia Duncan e o fez muitíssimo bem. “Às vezes, você canta coisas tão intimistas, que muitos podem sequer entender, entretanto estão lá, cantando em coro e vibrando com seu show”.
Isso é verdade. Por mais que involuntariamente ostente essa postura de “cult”, Zélia faz um enorme sucesso popular, sobretudo quando suas músicas tocam nas novelas. E a própria adora isso! Como já relatou em entrevistas, “A Próxima Vítima” foi vital para que esse sucesso aparecesse, pois “Catedral”, sua versão para o sucesso da cantora britânica Tanita Tikaram, foi tema de um dos casais importantes da novela, vividos por Viviane Pasmanter e Marcos Frota, e lhe projetou de vez. “Confidenciei isso à Viviane um dia, quando a encontrei num aeroporto: que torcia para que a Irene e o Diego ficassem logo juntos para que tocassem a minha música”.
Sou muito suspeito para elogiar a Zélia. Segura, charmosa, talentosa, inteligente, dedicada, sem abertura a estrelismos, uma voz contida e linda e já conta um repertório de trabalhos apresentados muito acima da média. Escolher cinco momentos seus nas novelas foi um trabalho duro, mas procurei eleger cinco bastante representativas de sua trajetória nas trilhas.
Espero que gostem!


5- JURA SECRETA – DA COR DO PECADO (2004)



A composição de Sueli Costa/Abel Silva já havia sido tema de abertura de novela da Globo na voz de Simone – no caso, “Memórias do Amor”, de Wilson Aguiar Filho (1979). Zélia regravou a canção e ela foi tema de Paco (Reynaldo Gianecchini) e Preta (Taís Araújo), casal principal da novela “Da Cor do Pecado”, estreia solo de João Emanuel Carneiro, na faixa das 19h (2004). Na minha humilde opinião, Zélia retirou os excessos de Simone e suavizou a forte letra, conseguindo uma melodia deliciosa e conquistando meu quinto lugar no ranking daqui do Melão.

4- DIZ NOS MEUS OLHOS (INCLEMÊNCIA) – ALMA GÊMEA (2005/2006)
“Diz nos Meus Olhos” é do álbum “Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005)”. Zélia musicou um poema de Guerra Peixe, compositor de Petrópolis (RJ) e o resultado final caiu como uma luva pro clima de época da novela “Alma Gêmea”, que sublinhava as maldades da vilã Cristina (Flávia Alessandra). Sabe quando a sonoplastia casa harmonicamente com a obra? É o caso...

3- BREVE CANÇÃO DE UM SONHO – CHEIAS DE CHARME (2012)



Exclusivamente para “Cheias de Charme”, novela de estreia dos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, Zélia pôs voz em “Breve Canção de Um Sonho”, belíssima música de Dimitri Rebello com letra da compositora. Não pertence a nenhum disco específico – o que lembra muito a prática antiga e atualmente pouco constante de se criar músicas exclusivamente para os folhetins televisivos – até Cheias de Charme - que quebrou esse tabu e teve uma das mais belas trilhas sonoras dos últimos tempos! Na trama, pontuou muito bem o romance entre a empreguete Rosário (Leandra Leal) e Inácio (Ricardo Tozzi).

2- CARNE E OSSO – SE7E PECADOS (2007)



Carne e Osso”, parceria de Zélia com Paulinho Moska, foi tema de abertura de “Se7e Pecados”. Em entrevista em 2011 ao “Sem Censura”, Zélia contou que a canção chegou à novela com uma ajudinha da própria. Jorge Fernando havia lhe encomendado uma música para integrar um dos núcleos-pecados capitais da trama, e ela respondeu. “Tá, mas por enquanto ouve essa aí”, Ele ouviu e achou que tinha tudo a ver com a proposta da trama, ganhando, assim, a abertura. Hoje vejo que foi praticamente a única coisa que funcionou na novela...

1- ENQUANTO DURMO – SALSA & MERENGUE (1996/1997)

 O primeiro lugar vai mais para a personagem do que para a trama em si. A excepcional Teodora (Débora Bloch), esposa possessiva de Eugênio (Marcello Anthony) era divertidíssima, tinha a língua afiada e roubou todas as cenas que apareceu. Aliada a um texto afiado, tinha “Enquanto Durmo” ao fundo de suas cenas, dando mais charme ainda à antagonista. A música consta no álbum “Intimidade” (1996), abrindo o disco com um barulho de trovão seguido do violãozinho bem dedilhado que é bem característico dessa fase “folk” de Zélia. “Se a chuva é boa, deixa cair”.


- AS PREFERIDAS DO VITOR:














5- VERBOS SUJEITOS – LABIRINTO (1998)
Oficialmente era o tema da hilária Yoyô (Isabela Garcia). Mas o tema tocava sempre que alguém começava a transar. De uma forma ou de outra, combinava perfeitamente com a atmosfera sensual e sexual da minissérie de Gilberto Braga, que tinha aquele ar “decadence avec elegance” irresistível de suas obras. Mesmo tendo conhecido a canção antes da minissérie, agora sempre que a ouço lembro de “Labirinto”.

4- NÃO VÁ AINDA – QUEM É VOCÊ (1996)
Uma das minhas canções favoritas da cantora, que abre o álbum de 1995 que a consagrou. Confesso que pouco assisti à novela, mas a ouvi algumas embalando os encontros e desencontros de Afonso e Maria Luiza (Alexandre Borges e Elizabeth Savalla). As lembranças que tenho são muito mais do final de minha adolescência em Petrópolis em que ouvia esse CD sem parar, mas sempre repetia essa música que, além de linda melodicamente, tem uma letra arrasadora. “Por favor não vá ainda, espera anoitecer. A noite é linda, me espera adormecer” (quem nunca? rs...)

3- DREAM A LITTLE DREAM OF ME – SENHORA DO DESTINO (2004)



Canção do maravilhoso álbum “Eu me transformo em outras”, que caiu como uma luva para o adorável casal, o barão Pedro e a baronesa Laura, vividos magistralmente por Raul Cortez e Gloria Menezes, casal de aristocratas falidos que não abrem mão do charme, da classe e da elegância. O casal era absolutamente adorável e a interpretação charmosa de Zélia só fez com que torcêssemos ainda mais por eles.  

2- NOS LENÇÓIS DESSE REGGAE – CONFISSÕES DE ADOLESCENTE (1994)



Uma das canções mais conhecidas de Zélia, mas pouquíssimo lembrada em uma trilha sonora. Foi tema do cultuado seriado “Confissões de Adolescente”, exibido na TV Cultura e depois na Band. Lembro especificamente de um episódio em que a canção tocou o tempo todo embalando o romance da ainda pré-adolescente Deborah Secco, que vivia Carol, a caçula das irmãs. Carol acaba de ganhar um novo colega de classe, vivido por Victor Hugo e acaba tendo seu primeiro beijo com ele. Uma verdadeira pérola, que também contou com as participações de Leandra Leal e Dudu Azevedo ainda bem novinhos. E a cena final do episódio é ótima com o casalzinho namorando na praia. Uma relíquia que vi e revi várias vezes.


1- CATEDRAL – A PRÓXIMA VÍTIMA (1995)
Mesmo já citada pelo Thiago na introdução, essa canção não poderia ficar de fora do ranking. Mais do que isso: merece o alto do pódio, pois foi a que projetou Zélia nacionalmente e, como o Thiago já disse, foi tema do romance de Irene (Viviane Pasmanter) e Diogo (Marcos Frota) em “A próxima vítima”, blockbuster de Sílvio de Abreu. Curiosamente também tocou em "Confissões de Adolescente". Lembro de um episódio em que Natalia (Daniele Valente) vai acampar e acaba ficando com o personagem de Rodrigo Penna ao som dessa canção. Mesmo tendo ouvido a música na novela e na série, confesso que minha memória afetiva em relação a ela vai bem além disso. Me lembra uma época de muitas descobertas em minha vida quando ainda morava em Petrópolis (impossível não lembrar sempre que passo pela catedral da cidade). Uma de minha canções favoritas, não só do repertório de Zélia, como de todas as canções que conheço. É daquelas que, mesmo tocando incessantemente, eu nunca enjoei e jamais deixei de ouvir.


BONUS TRACK: SUPER HOMEM: A CANÇÃO – DELEGACIA DE MULHERES (1990)
Não resisti e cito aqui essa pérola pouco conhecida, do tempo que a cantora ainda assinava sob a alcunha de Zélia Cristina, chegando a lançar um disco com esse nome. A canção fez parte da trilha da série “Delegacia de Mulheres” e embalava a complicada relação da policial Marineide (Lucia Veríssimo) com o detetive Zé Paulo (Marcos Paulo). Essa é do baú e só pra iniciados (risos).


Melão agradece a luxuosa contribuição de Thiago, deseja feliz aniversário à nossa querida Zélia e que suas canções continuem a embalar muitas trilhas de novela.

E vocês? Quais seus temas favoritos na voz da cantora?

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TEMAS E TRILHAS – ADRIANA CALCANHOTTO:




Blogueiro convidado: Thiago Henrick relembra "Baila Comigo"



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Blogueiro convidado: Thiago Henrick relembra "Baila Comigo"


                                                                                                                                                                   

 E o melão acaba de ganhar mais um correspondente especialíssimo. Diretamente da sucursal de Alagoas, Thiago Henrick que, além de um queridão, é um talento de rara sensibilidade, sobretudo musical. O rapaz mantém um ótimo blog chamado “EnTHulho” (www.enthulho.blogspot.com ) onde podemos encontrar os textos mais sensíveis e inspirados sobre música. Recomendo.

Além disso, Thiago também é telemaníaco de carteirinha e admirador das novelas de Maneco, dentre as quais, ele elegeu “Baila Comigo” (1981), novela de enorme sucesso que, mesmo depois de quase 30 anos, ainda permanece no imaginário popular. Mesmo quem não era nascido na época já assistiu pelos “Videos Shows” da vida a emocionante cena em que os gêmeo Quinzinho e João Victor (Tony Ramos em mais um magistral trabalho) se encontram. Estreia o autor no horário nobre como autor titular, foi nessa novela que surgiu a primeira Helena (a saudosíssima Lilian Lemmertz), liderando um elenco estelar que contava com nomes como Fernanda Montenegro, Reginaldo Faria, Raul Cortez, Betty Faria, Fernando Torres, Tereza Rachel, Christiane Torloni, Lidia Brondi, Beth Goulart, Natália do Vale, Arlete Salles, Fernanda Torres, Lauro Corona, Milton Gonçalves, Suzana Vieira, enfim, um timaço!

Sem mais delongas, curtam o maravilhoso texto de Thiago e deixem suas impressões!


A NOVELA DO MANECO É UMA VERDADEIRA TERAPIA

Por Thiago Henrick


Como grande fã do novelista Manoel Carlos, sempre tive curiosidade de saber mais sobre a novela Baila Comigo. Graças a um grande amigo, consegui terminar de assistir e, encantado, gostaria de compartilhar minhas impressões sobre a trama com os leitores do Melão.

 Na época, Manoel Carlos já havia realizado trabalhos que chamaram atenção em outras faixas de horários. Baila não foi seu maior sucesso, mas chamou muita atenção naquele ano de 1981, além de ter conseguido alguns grandes méritos: era a estreia do autor no horário nobre (antes, apenas uma colaboração um ano antes em “Agua Viva”, de Gilberto Braga); trazia Tony Ramos num papel duplo – grande feito, pois Tony era um dos mais talentosos de sua geração e desenvolveu uma perfeita composição em suas interpretações; e, por fim, iniciava então a primeira de uma série de heroínas humanas, cheias de virtudes, defeitos e conflitos, de nome Helena.

A trama era bem simples e folhetinesca: a história de gêmeos que não sabiam da existência um do outro, causando inúmeras confusões devido a essa semelhança. O diferencial, contudo, estava justamente na característica que mais marcou a grande carreira do escritor: a presença de um rico texto, com diálogos poderosos intercalados com cenas bem banais, envolvendo-nos numa maneira bem peculiar de contar sua história. Além, claro, da capacidade de criar personagens bem críveis, tão próximos e identificáveis com a nossa realidade. O estilo perdurou em trabalhos posteriores do autor

 Helena (Lilian Lemmertz) era uma personagem de classe média de vida difícil que, ao descobrir que teria gêmeos, não pôde criá-los, deixando um deles com o pai verdadeiro, Quim (Raul Cortez), e criando o outro com seu marido, Plínio (Fernando Torres). Sente-se culpada e angustiada por mentir e omitir bastante sobre o fato para todos, sobretudo pro gêmeo que ficou com ela, Quinzinho (Tony Ramos), jovem extrovertido e que adorava curtir a vida. Já o outro filho, João Vitor (Tony Ramos), foi criado com o pai em Portugal e se tornou um garoto sério e dedicado a advocacia. O destino faz com que a Quim e sua esposa Marta (Tereza Rachel, já naquela época demonstrando ser perfeita para interpretar mulheres rudes e poderosas) voltem com seus filhos João Vitor e Débora (Beth Goulart) para o Brasil, cenário onde acontecerão as peripécias causadas pela semelhança dos irmãos. O esqueleto da novela era esse. O recheio, contudo, foi o talento de Maneco de nos emocionar junto com os personagens. As brigas oriundas da crise de consciência de Helena com o bastante humano Plínio fizeram do casal um dos grandes destaques da novela: sensibilidade e riqueza para as magistrais interpretações dos atores, sobretudo a de Lilian, que criou um olhar melancólico único, sem deixar a rigidez da personagem creditá-la como mera coitadinha. Saudosa atriz...

 Nas tramas periféricas, tivemos Lúcia (Natália do Valle, no auge da beleza), jovem e competente médica, que tinha uma maravilhosa relação com a mãe (Sílvia, uma atriz, interpretada por Fernanda Montenegro), mas também vivia com o pai, o semi-inescrupuloso Caio (Carlos Zara), separado de Silvia e interessadíssimo na bela professora de dança Joana (Betty Faria). Joana, aliás, foi uma personagem que muito prometeu assim que apareceu, mas se limitou, no desenrolar da trama, a servir de alvo da disputa entre Caio, Quim e João Vitor. Pouco pra grande atriz que é Betty, mas sua beleza enfeitou a novela e estampou a capa do disco nacional. Curiosidade adicional é trazer Susana Vieira, atriz que hoje só se dedica a chamar atenção dentro e fora das tramas, num papel de coadjuvante, Paula, que tem que aturar as bebedeiras do marido Mauro (Otávio Mesquita). Mauro foi protagonista, contudo, de uma das cenas mais impactantes: enfurecido, ele joga seu avião em cima de Caio, colidindo e fazendo ambos morrerem.

No núcleo jovem, Lauro Corona interpretou Caê, amigo de Quinzinho e típico malandrinho carioca, que negociava pegar o carro da irmã para poder curtir as gatas e adorava uma baladinha. Lauro encontrou o tom certo e fez de seu namoro com a rica e sensível Débora um dos grandes trunfos da trama, sempre pontuados com “Corações a mil”, música da novata Marina estourando nas cenas de paixão dos dois. Além deles, tivemos a chatice de Mira (Lídia Brondi), obcecada por Quinzinho, mas que depois “troca de gêmeo”, passando a se interessar por João Vitor. Não foi a Lídia quem causou ojeriza na interpretação: a personagem era mimada mesmo e isso era comentado por todo o seu núcleo.

A cena mais comentada e lembrada, que foi o reencontro dos gêmeos, alcançou todos os níveis positivos possíveis graças ao talento de Tony Ramos. O ator é detentor de vários personagens de destaque em toda sua carreira, e acredito que nesse rol estejam João Vitor e Quinzinho, pois ele soube como poucos diferenciar os nuances, sobretudo nessa cena, em que o contexto pedia. Imagino que, na época, tenha mesmo parado o Brasil diante da telinha. Mateus Solano, que interpretou os gêmeos de Viver a Vida (última novela do autor) não comprometeu, mas deveria ter assistido Baila Comigo pra se aperfeiçoar mais em suas composições.


 Assistir essa novela tão rica e cheia de discursos de pessoas de tantas classes e níveis me fez perceber que, desde cedo, as novelas de Manoel Carlos são uma verdadeira terapia. Há quem não goste, que prefira uma trama repleta de cenas de ação, ou com guinadas fantásticas, sem ter oportunidade de respirar um pouco diante da telinha, mas eu admiro muito o estilo do autor de nos fazer parar e refletir sobre nossas próprias naturezas, medos, fragilidades, alegrias e aleluias. Eu vejo que Maneco escreve muito de acordo com o seu humor o dia – assim como na vida da gente, há capítulos mais alegrinhos e mais entediantes ou mal humorados. Isso faz com que conquiste mais ainda seu público, que se identifica com o cotidiano descrito em suas tramas. Por mais que suas últimas novelas não tenham agradado como deveriam, o autor tem uma grande bagagem televisiva e, acredito sim, ainda tem muito a nos oferecer. E nos emocionar.

                                                                                                                                                                                                                                            

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