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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Blogueiro convidado: Lufe Steffen celebra 29 anos de "Guerra dos Sexos"


GUERRA DOS SEXOS: UM MOMENTO INESQUECÍVEL

Por Lufe Stefen

Fernanda Montenegro e Paulo Autran em cena histórica
 Há 29 anos, em 6 de junho de 1983, estreava às 19h na Globo a novela “Guerra dos Sexos”. Para quem acompanhava as produções da época, parecia apenas mais uma atração leve para o horário. Apesar do elenco totalmente estelar e de certo luxo na produção, não dava para adivinhar o que estava por vir.

Mas rapidamente o público percebeu que não se tratava de mais uma novela comum. O primeiro capítulo já terminava com Glória Menezes acertando uma torta na cara de Tarcísio Meira. Era apenas o começo.

Eu tinha oito anos de idade e fiquei viciado nessa novela. Largava tudo para vê-la. Me lembro de uma festa junina na praça em frente à casa da minha avó paterna. Todo mundo na festa comendo pé de moleque, e eu afundado na poltrona da sala, vendo “Guerra dos Sexos”.

Adorava ler a revista “Amiga”, que sempre vinha com alguma matéria de capa sobre a novela. Eu recortava as fotos e fazia minhas próprias revistas, arremedos de “Amiga”. Talvez isso pronunciasse minha futura profissão de jornalista...

Enfim, ao lado de “Dancin’ Days” (1978/79) e “Vale Tudo” (1988/89), “Guerra...” forma a tríade que me marcou. Depois revi “Guerra dos Sexos” na reprise da Sessão Aventura em 1989, e mais recentemente, nos famosos DVDs que pululam por aí.

Nem vou falar da trama da novela, porque já é mais do que conhecida. Vale mais lembrar o pique da novela, que foi conduzido de forma vertiginosa, em uma narrativa pitoresca que empolgava o público, sem cair no tédio e na falta de interesse em nenhum momento. O ritmo era ágil e frenético, prendendo a atenção e cativando até o eleitorado masculino, naquela época um tanto avesso às novelas das 19h.

Me lembro do meu pai chegando em casa mais cedo do trabalho, para acompanhar a trama, numa época pré celular, pré internet, e até mesmo quando pouca gente tinha vídeo cassete. Lembro que ele riu muito com a cena em que Charlô vai à casa da Tia Semíramis (a maravilhosa Leina Krespi, já falecida), e a Frô (Cristina Pereira) desce a escada da casa, enrolada em uma toalha, avisando que a privada explodiu.

O sucesso foi total. O autor Sílvio de Abreu conseguia, enfim, implantar o tipo de comédia que vinha tentando desde sua primeira novela na emissora, “Pecado Rasgado” (1978/79). Se a tentativa foi frustrada nessa primeira experiência, em “Jogo da Vida” (1981/82) ele já conseguia esboçar seu objetivo: o auge do pastelão novelístico.

“Jogo da Vida”, também exibida às 19h, partia de uma sinopse de Janete Clair, o que poderia soar conservador. Mas na direção, como assistentes de Roberto Talma, surgiam Jorge Fernando e Guel Arraes. Os dois jovens diretores compraram a briga proposta por Sílvio e ajudaram a fazer de “Jogo da Vida” uma comédia maluca, com farta inspiração nos maiores clássicos de Hollywood.

O sucesso dessa novela surpreendeu a Globo, que assim decidiu dar mais liberdade ao autor. Na novela seguinte, Sílvio pôde então ousar mais, e refinar seu estilo. E até exigir alguns quesitos para que a proposta funcionasse, como o elenco de peso e a direção de arte inspirada nas décadas de 30 e 40. Sílvio conta mais sobre isso no livro “Autores”, da Globo.

Também dessas décadas, de 30 e 40, principalmente, vinha material para o autor: cinéfilo incurável e ex-cineasta, Sílvio acionou seu conhecimento enciclopédico sobre Hollywood e lançou mão das citações intermináveis. Como um Brian De Palma das novelas, recheou “Guerra dos Sexos” com dezenas de referências aos grandes clássicos.

“Os Homens Preferem as Loiras” (1953), “Levada da Breca” (1938), “Deu a Louca no Mundo” (1964), “A Mulher do Ano” (1941), “Golpe Sujo” (1978), entre muitos outros, foram citados e homenageados na novela. E o clima cinematográfico estava por toda parte: o tema incidental de mistério que permeava as cenas vinha do filme “Alta Ansiedade” (1977, de Mel Brooks); as trilhas instrumentais de “Star Wars” (1977) e “Yellow Submarine” (1968) também apareciam. O tom geral se inspirava nas chamadas “screwball comedies” dos anos 30. Na direção, a novela contava novamente com Jorge e Guel – mas desta vez como titulares.

Uma ideia genial era o fato de os personagens olharem para a câmera, dividindo pensamentos com o público, numa espécie de aparte na linha das comédias de Molière. Como a governanta Olívia (Marilu Bueno), que ao levar um beijo de Zenon (Edson Celulari), olhou para a câmera e disparou: “Francamente... eu não merecia isso!”

Outro grande trunfo era o elenco. Paulo Autran e Fernanda Montenegro – “pela primeira vez juntos”, como dizia o letreiro de abertura –, monstros sagrados do teatro brasileiro, arriscavam-se, entregando-se às maluquices propostas pelo autor. O clímax, como todo mundo sabe, é a famosa cena da guerra no café da manhã.

Tarcísio Meira também se destacou, criando um tipo cômico que parecia uma mistura de Jerry Lewis com Clark Kent. Maria Zilda foi um grande charme, com sua voz rouca, encarnando Vânia, dona das “belas pernas”. Mário Gomes como o motorista bobalhão Nando (com sua tatuagem que mexia com a libido de Roberta; aliás, eu queria ter uma tatuagem igual quando eu crescesse), Maitê Proença como a romântica Juliana e Lucélia Santos vivendo a odiosa, mas engraçada Carolina também foram incríveis. E o que dizer de Yara Amaral como Nieta e Hélio Souto como Nenê Gomalina?

José Mayer e Lucelia Santos: destaques de um elenco estelar
Fica quase impossível listar todos os destaques da novela, já que não havia nenhum ator ruim ou inadequado no elenco. Aliás, acho que naquela época não existiam atores ruins na TV.

Fico pensando em como será o remake de “Guerra dos Sexos”, que estreia neste ano. Naturalmente será uma novela diferente, até porque a vida, o mundo – e o Brasil – mudaram muito nesses 30 anos. As relações afetivas, sexuais, o jogo entre machismo e feminino, tudo isso tem outro contexto hoje.

Mudou também o estilo das interpretações televisivas, assim como dos atores que hoje são os mais populares. Nem sempre é possível ter, hoje, a elegância e a sutileza dos atores do passado.

Também o estilo de comédia rasgada que a versão original consagrou, foi bastante reproduzido e copiado ao longo dos anos, desgastando-se. Talvez esse remake não venha causar uma revolução na dramaturgia e nem mobilizar multidões, como ocorreu em 1983. Mas vale a pena esperar os ingredientes que Sílvio de Abreu vai colocar em suas tortas desta vez. Ele que está sempre pronto para atirá-las na nossa cara. “Touché!”, como diria Charlô.

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LUFE STEFFEN nasceu em 1975, é ator, cantor, cineasta e jornalista. Escreveu o livro "Tragam os Cavalos Dançantes" (lançado em 2008), sobre a casa noturna paulistana A Lôca, e atualmente é repórter de TV & Novelas do portal iG. 
Apaixonou-se por novelas em 1978, ao assistir "Dancin' Days". Seu Top Five é: "Vale Tudo" / "Guerra dos Sexos" / "Dancin' Days" / "Cambalacho" / "A Gata Comeu". 

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Série Memória Afetiva: 12 trilhas internacionais – por Wesley Vieira


Obrigado a todos que comentaram sobre as trilhas nacionais favoritas do melão. Também aprecio muito as internacionais, mas não poderia perder a oportunidade de publicar mais um texto de nosso editor-chefe da Sucursal Minas, afinal de contas, o rapaz é completamente apaixonado pelas trilhas internacionais e vai saber falar delas melhor do que eu. E como Wesley já é praticamente sócio, o melão dá todo o aval para ser a opinião oficial do blog. Além de uma grande quantidade de informações sobre as trilhas, Wesley deu seu toque pessoal e divide conosco suas lembranças sobre cada uma delas. Mais uma vez, obrigado, queridão! Com vocês, as favoritas de Wesley Vieira. Ah, e não deixem de comentar sobre suas favoritas também!!!

12 – Louco Amor Internacional – 1983

Para muitos, a trilha internacional dessa novela não merecia estar nessa lista. A maioria das músicas não tem cara de novela. Mas por isso mesmo, considero o disco excelente. Tem “Just Can't Get Enough”, o primeiro sucesso da banda Depeche Mode, música que estourou nas rádios e até hoje é um clássico do New Wave, estilo musical que surgiu naquele momento. Outra música super legal e divertida é “Ich Shaun' Deach An (Peep Peep)” da banda Spider Murphy Gang. De acordo com o site Teledramaturgia, a canção serviu pra embalar as gracinhas do casal mais adorável da novela: Gisela (Lady Francisco) e Edgar (José Lewgoy). Após assistir ao último capítulo da novela, descobri que a linda “Shame On The Moon” do Bob Seger & The Silver Bullet Band foi o tema romântico de Lipe (Lauro Corona) e Carlinha (Beth Goulart). Já o casal principal, formado por Fábio Júnior e Glória Pires, ganhou uma versão (digamos, meio peculiar) de “Can´t Help Falling in Love” cantada por um tal de Cameo. Tinha também a recém saída integrante do ABBA, Fridda, cantando “I Know There´s Something Going On”. Porém a marca registrada da novela foi “We've Got Tonight” dueto de Kenny Rogers com Sheena Easton, tema principal do louco amor de Luiz Carlos por Patrícia (Bruna Lombardi). A música foi executada desde o primeiro capítulo da novela (expediente pouco comum naquela época). Dizem que o tema perdeu força ao longo da história por conta da alteração no destino dos personagens que tiveram o romance desfeito por questões que só fomos saber há pouco tempo: Gilberto Braga, o autor, não gostava da interpretação de La Lombardi.

11 -Por Amor Internacional – 1997/98


Manoel Carlos foi excepcional ao criar uma história de pessoas que eram capazes das maiores loucuras “Por Amor”. Para acompanhar essa novela forte e envolvente, nada como um cd recheado de canções românticas que fizeram enorme sucesso. Não me esqueço da cena em que o personagem Nando sobrevoa o mar e joga rosas para a personagem Laura, morta num acidente de helicóptero. A execução de “So Help Me Girl” do então ex-Take That, Gary Barlow, deixou a dramática cena ainda mais bonita. O amor complicado entre Eduarda e Marcelo ganhou contornos mais suaves e bonitos com “How Could An Angel Break My Heart” da cantora Toni Braxton. Gostava de ver Laura incomodando o casal enquanto “Stay With Me” da Jocelyn Enriquez era executada. Também era uma delícia ver as cenas de Milena ao som contagiante de “More Than This” numa versão da banda 10,000 Maniacs. A bossa nova, tão presente no universo manequiano teve sua versão internacional com “Dindi” de El Debarge & Art Port. E tinha os insuperáveis Backstreet Boys com “As Long As You Love Me”. Não foi por acaso que o cd internacional de Por Amor foi um dos recordistas de venda no primeiro semestre de 98. Só sucessos.

10 - O Outro Internacional - 1987




Outra trilha que a gente encontrava na casa de todo mundo. Na capa, Malu Mader mais linda do que nunca com aquelas pernocas de fora. Linda! Lembro que minha tia ganhou o disco de presente e com medo de que os sobrinhos arranhassem, nunca deixou ninguém ouvir. Pura maldade. Um dia, “peguei emprestado” e então pude conferir aquelas maravilhas. As músicas eram de tirar o fôlego. Nem sei qual música é a minha favorita, mas Carly Simon abrindo o disco com a balada “Coming Around Again” é de arrepiar. Em seguida tinha “Don't Dream It's Over” da banda Crowded House. Laura (Natália do Valle) tinha seus dramas ilustrados pela bela “Words Get in The Way” na voz da latina Gloria Estefan. Enquanto Glorinha da Abolição era representada com perfeição pelo sucesso “Don't Get Me Wrong” da banda Pretenders. Não tenho vergonha em dizer que quase paguei mico numa apresentação da escola com “I'll Be Over You” da banda Toto. Sorte que a festa foi cancelada e me livrei da vergonha. Porém, trata-se de uma música que eu gosto muito e na novela tocava para o casal briguento Genésio (José de Abreu) e Edwiges (Claúdia Raia). E tinha “The Miracle of Love” da banda Eurithmics e claro,” Two People” na voz deTina Turner... Por essas e por outras canções, a trilha de O Outro Internacional é considerada figurinha básica em qualquer coleção de discos de novelas.

9 - Coração de Estudante Internacional – 2002




Uma deliciosa novela que falava sobre o universo dos estudantes numa pequena cidade no interior de Minas (o meu adorável estado) não poderia deixar de ter uma trilha internacional. E Coração de Estudante nos brindou com lindas canções como “Wherever You Wil´l Go” da banda The Calling, pontuando as idas e vindas de amor entre o professor Edu (Fábio Assunção) e Clara (Helena Ranaldi). Esta música, certamente, foi uma das responsáveis pelo sucesso do cd. Mas a trilha tinha outras maravilhas também. O espirituoso Pedro Guerra (Bruno Garcia) lutava por Clara ao som de Joe Cocker cantando uma versão arrebatadora de “Never Tear Us Apart”, música da banda INXS que também apareceu na longínqua “Bebê a Bordo”. Já a atrevida Amelinha (Adriana Esteves), a divertida vilã, ficava mais calma com “One Day in Your Life”, música que fechou com alto astral o último capítulo da novela. Já Nélio, o peão e ”bejeto sexual” das mulheres da cidade, também tinha seus momentos românticos com a belíssima “Handy Man” de James Taylor. E talvez, pra ilustrar o espírito estudantil, a intrépida Pink apareceu abrindo a trilha com “Don´t Let me Get You”.

8 - A Gata Comeu Internacional – 1985




Quando uma novela encontra perfeita sintonia entre elenco, história, direção e trilha sonora, o sucesso surge como resultado natural de todos esses fatores. Assim aconteceu com A Gata Comeu, clássica novela das seis que nos brindou com uma trilha internacional maravilhosa. Só sucessos que até hoje fazem sucesso. Difícil é listar apenas algumas músicas, mas também é injusto não se lembrar das loucuras que Jô Penteado (Christiane Torloni) fazia para conquistar o Professor Fábio (Nuno Leal Maia) ao som de “Forever By Your Side” do Manhattans. As suas peripécias também eram acompanhadas por “Just Another Night” de Mick Jagger. Delícia de música com aquele estilo inconfundível dos anos 80. Já a babinha “I Should Have Known Better” (também conhecida como a Melô do bombeiro), do Jim Diamond esteve presente nas cenas entre Lenita (Débora Evelyn) e Édson (José Mayer). Inesquecível é o rabicho da rebelde Babi (Mayara Magri) ao som romântico de Bryan Adams cantando a clássica “Heaven”. Ao longo da novela, Paula (Fátima Freire) se apaixonou pelo ator Tony Duarte (Roberto Pirillo) e ganhou o excelente Paul Young cantando “Every Time You Go Away” como tema. Estas e outras músicas serviram para ilustrar com perfeição o universo charmoso e colorido dessa inesquecível novela exibida em 1985 e reprisada duas vezes.

7 - Água Viva Internacional - 1980

Reza a lenda que o autor Gilberto Braga não queria trilha internacional para essa novela. Anos depois, o próprio autor desmentiu o boato e disse que tudo não passou de marketing: “Era pro disco nacional vender mais”. Lendas a parte, o caso é que Água Viva Internacional nos presenteou com grandes sucessos daquele início dos anos 80. Curiosamente é um disco que vi na coleção de muita gente. Uma das músicas que mais gosto de ouvir é“Babe” da banda Styx -linda e primordial para enfatizar os dramas do complicado casal formado por Edir (Claudio Cavalcanti) e Márcia (Natália do Valle). No último capítulo da novela, há um lindo clipe com alguns casais ao som de Barry Manilow, que parece ter feito sua “Ships” exclusivamente para as cenas da novela. Também no último capítulo, a reconciliação de Ligia (Betty Faria) e Nélson (Reginaldo Faria) ficou mais bonita com a delicada voz de Tony Wilson cantando a linda “Just When I Needed You Most”. Depois que conheci o disco, não canso de ouvir essas e outras canções como “Just Like You Do”, da sempre presente Carly Simon.  Porém, tenho que dizer que a música mais tocante dessa trilha pertence ao casal Marcos e Janete que protagonizaram uma das cenas mais lindas da teledramaturgia brasileira: ao som de “Cruisin” do Smokey Ronbison, Janete é surpreendida com um simples “eu te amo” escrito no espelho do banheiro.  Difícil é não se emocionar.

6 - Guerra dos Sexos Internacional - 1983


Acompanhar as aventuras desse clássico da teledramaturgia brasileira foi um prazer e uma honra, a qual tive o privilégio de assistir, graças aos amigos que puderam compartilhar suas gravações comigo. Só tenho uma coisa a dizer: Guerra dos Sexos é A novela! Não há dúvidas de que o divertido folhetim revolucionou o gênero e até hoje permanece no imaginário popular como uma das melhores novelas já produzidas pela televisão brasileira. Enquanto as mulheres e os homens se engalfinhavam, acompanhávamos uma trilha internacional recheada de sucessos.  Tudo bem que poucas músicas foram executadas como tema dos personagens, mas sempre que a bela Juliana da Maitê Proença surgia, lá vinha Paul Anka cantando “Hold Me Till The Mornin' Comes”. Linda e triste como a própria personagem. Já “True” do Spandau Ballet tocava sempre que um casal dava uns beijinhos. Também adorava ouvir o pop do Naked Eyes com “Always something there to remind me” nas cenas de locação. Já as mulheres da história ganharam a notável “So Many Men So Little Time” de Miquel Brown como tema principal de suas aventuras na disputa pelo controle das lojas Charlô´s. No disco, há outras canções memoráveis como “Baby Jane” do Rod Stwart e “Nobody’s Diary” da banda Yazoo.

5 - Gente Fina Internacional - 1990


Num antigo texto que escrevi para o Melão sobre essa novela, falei sobre a sua pouca repercussão, mas também comentei sobre a trilha internacional recheada de sucessos e preferida de muitos “novelógos” de plantão. Sempre associei os temas aos personagens e nessa novela não seria diferente. Sempre que a romântica Kika (Lizandra Souto) aparecia, lá vinha Michael Bolton cantando a linda “How Am I Supposed to Live Without You”. Assim como Tears for Fears cantando a única música em trilhas de novelas: “Advice For The Young Hearts”, para o personagem Alex (Jaime Periard). Phil Collins abria o disco com a excelente “Another Day In Paradise”, tema do casal principal Guilherme (Hugo Carvana) e Joana (Nívea Maria). Enquanto lutava pelo amor do marido de sua melhor amiga, Janete (a saudosa Sandra Bréa) era embalada por ”Angel” da banda Eurythmics. E também não dá pra esquecer que Jason Donovan cantou “Sealed With a Kiss”, música que na trilha nacional teve Luan e Vanessa cantando uma versão intitulada de “Quatro semanas de amor”. E a trilha tinha um mega sucesso das pistas: “Running” do Information Society. Mas lindinha mesmo era Nikka Costa cantando “Midnight” e as meninas da banda Heart com ”All I Wanna Do Is Make Love To You”. Ah, delicioso início da década de 90.

4 - Araguaia Internacional – 2010/11


Em tempos de trilhas perdidas, onde as musicas raramente são utilizadas como temas, uma agradável surpresa para os noveleiros de plantão foi a seleção musical dessa novela que mesclava o rural e o urbano com muito propriedade. Não posso deixar de mencionar que a surpresa se deve pelo fato desta trilha ter tocado exaustivamente durante a novela como temas dos personagens. Verdadeiros clipes com as músicas eram feitos para ilustrar as cenas. Os mais bonitos eram ao som de “Marry me” da banda Train, uma perfeição inspiradora sobre as cenas do mocinho Solano (Murilo Rosa) e Manuela (Milena Toscano) nas plantações de girassol. A índia Estela (Cléo Pires, na capa) ganhou uma exclusiva regravação de “Happy” com a brasileira Marina Elali.  As cenas de amor entre Fred (Raphael Viana) e a sensual Janaína (Suzana) ficavam mais lindas com a execução de “I Never Told You” da cantora Colbie Caillat. Eu gostava de ver as três belas Jóias do Araguaia ao som da simpática Diane Birch cantando “Valentino”. O palhaço Pimpinela  conseguiu conquistar o coração da linda Nancy (ao som de “Pray For You”, enquanto o amor da madura Amélia  (Júlia Lemmertz) pelo jovem Vitor (Tiago Fragoso) era acentuado ao som do eterno Elvis Presley com “Love me Tender”. No entanto, confesso que a minha preferida é “Tonight”  de Alex Band, que no penúltimo capítulo conseguiu deixar as imagens da região do Jalapão ainda mais belas. Perfeito!


3 - Hipertensão Internacional – 1986/87




Taí outra trilha que vendeu como água  e não é para menos: a seleção musical é perfeita. Em todas as casas que tinham um aparelho de toca-disco, lá estava, o agora apresentador, César Filho e Carla Marins estampados naquela capinha amarela de gosto duvidoso. Óbvio que a trilha dessa novela era recheada de lindas músicas que fizeram grande sucesso naqueles bailinhos tão típicos dos anos 80. Inclusive, esse disco ganhou merecida homenagem em um dos capítulos da recente novela Ti Ti Ti (2010), quando Ari (Murilo Benício) se lembrou de “Right Between The Eyes” do Wax como música que marcou o início de seu romance com Suzana (Malu Mader). Metalinguagem total. A romântica “Lady in Red” do Chris D´burg curiosamente serviu para ilustrar os dramas de Raquel  (Débora Evelyn), a filha crente e feiosa da poderosa Donana (Geórgia Gomide.  Curiosamente, Madonna já era poderosa e tocou na novela com sua contundente “Papa Don´t Preach”. O romance entre a heroína Carina (Maria Zilda) e Sandro (Claúdio Cavalcanti) era acompanhado de perto pela romântica “Gone With The Winner” da banda Century, que um ano antes emplacou “Lover Why” na trilha da primeira versão de Ti Ti Ti. Uma das minhas preferidas é “Human” da banda Human League, música que  abria o disco, enquanto a lenda James Brown fechava com “How Do You Stop”, tema do romance entre a adolescente Carola (Carla Marins, estreando na televisão) e o maduro Raul (José Mayer).


2 - Transas e Caretas Internacional – 1984


Tudo bem, Transas e Caretas pode não ter sido um grande sucesso de público, mas as músicas de sua trilha internacional, estas sim, fizeram um grande sucesso e até hoje podem ser ouvidas em muitas rádios pelo Brasil afora.  Não acompanhei essa novela por questões óbvias (era uma criança de dois anos), mas com a ajuda do Orkut, tive a chance de saber que a linda “Ebony Eyes”, dueto de Rick James e Smokey Rombison, foi tema do complicado romance entre a bela Marilia (Natália do Valle) e Tiago (José Wilker). Também gostei de ouvir o Culture Club com seu vocalista andrógino Boy George com “Victms”, que segundo o site Teledramaturgia, se tornou o tema de Douglas (Claudio Cavalcanti) e Marília. A magnífica Tina Turner abria o disco com a clássica “Let´s Stay Together”.  Um verdadeiro clássico! No entanto, confesso que a curiosa “Souvenir of China” de Jean Michel Jarre é o meu tema favorito. Amigos que assistiram à novela, contam que a música foi perfeita ao ilustrar o casamento de Marilia com um homem que não amava, neste caso, Jordão (Reginaldo Faria), que também ganhou a simpática “Joana” do Kool and the Gang como tema. E o que falar do popzinho dos The Romantics cantarolando “Talking To Your Sleep”? Para completar a lista de sucessos, a trilha contava com Ann Wilson & Mike Reno cantando “Almost Paradise”, música que também foi tema romântico do filme Footloose.


1 - Que Rei Sou Eu? Internacional - 1989




Seria difícil encontrar uma trilha internacional para uma história que se passa num fictício reino no século 19 e se torna uma sátira do Brasil. Seria. Mas não foi. A seleção de canções para a novela poderia ter se limitado a encontrar clássicos que nos remeteriam para aquele período medieval, porém, por incrível que pareça, a trilha de Que Rei Sou Eu? parece ter sido feita exclusivamente para a novela. É de impressionar a escolha dos sucessos internacionais para ilustrar as cenas da divertida história. Como não confundir a voz bufesca da Rainha Valentine com a de Monserrat de Caballe em dueto com Freddy Mercury na clássica “How Can I Go On?”? Eu era pequeno e jurava que aquela rainha louca estava cantando. Os delicados acordes iniciais de “Eternal Flame” das Bangles foram perfeitos e precisos para acentuar ainda mais o romantismo da doce Princesa Juliete (Claúdia Abreu). Também foi perfeita a sintonia entre a sofrida Suzane (Natália do Valle) e seu tema “Someday We´ll be Together” do Santa Fé. ”Let The River Run” da Carly Simon tinha vencido o Oscar de melhor canção como tema do filme “Uma Secretária do Futuro” no mesmo ano. Porém, se traduzirmos a canção, notaremos que caiu como uma luva para as aventuras do herói Jean Pierre (Édson Celulari). Até a introdução com assobio de “Patience” dos Guns N'Roses tinha a cara daquele clima de época. Por essas e outras, essa trilha internacional é a minha preferida pois curiosamente soube combinar as músicas com os personagens e o clima da novela. 








Wesley Vieira é jornalista, roteirista, blogueiro, mocinho da Janete e editor-chefe da Sucursal Minas do “Eu prefiro melão”.




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Série Memória Afetiva: 15 temas de novela



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Série Memória Afetiva – 10 (ou mais) vilãs memoráveis - anos 80


O primeiro post afetivo do ano do melão só poderia mesmo ser dedicado a elas. Caricatas ou realistas, cômicas ou dramáticas, elas fazem a graça de qualquer novela e muitas vezes são a razão de ser das mesmas. Sempre interpretadas por atrizes superlativas, elas exercem fascínio incomum no público e quase sempre ficam em nossa memória afetiva. São tantas e tão marcantes que o post teve que ser dividido por décadas. Como a memória afetiva deste melão que vos fala se inicia na década de 80, vamos começar nosso desfile com as malévolas oitentistas. Vamos a elas:

PARTE 1 – ANOS 80

10) FEDORA ABDALLA (Cristina Pereira), de “Sassaricando” (1987)


Impossível ouvir “Fata Morgana” sem se lembrar da pérfida e sensual Fedora Abdalla, genial composição da ótima Cristina Pereira, que bem que merece voltar aos grandes papéis dos anos 80. Fedora era engraçadíssima: uma perua apaixonada pelo bandido trapalhão Leozinho (Diogo Vilela) e que infernizou o quanto pode a vida do pai, interpretado por Paulo Autran. Fedora fazia e desfazia e não hesitava em expulsar as pessoas de sua casa com o famoso bordão carregado nos “erres”: rá, ré, ri, ró, rua. Mesmo com tanta vilania, Fefê mereceu um final feliz nas areias do deserto ao lado de seu amado Leozinho. Sem dúvida, uma personagem deliciosa.

9) FERNANDA (Christiane Torloni), de “Selva de Pedra” (1986)


La Torloni não tinha uma missão fácil pela frente: dar vida a uma vilã que fora eternizada pela excelente Dina Sfat nos anos 70. Mas a atriz não só deu conta do recado como é considerada por muitos como o principal destaque do remake da célebre novela de Janete Clair. Dois momentos marcantes foram quando ela se casou vestida de preto, chocando a todos e nas sequências em que sequestrou a mocinha Simone (Fernanda Torres) e fez misérias com ela no cativeiro. Fernanda é daquelas vilãs bem malvadas, com aquele quê de loucura, mas extremamente charmosas, bem ao estilo de Torloni. Um momento off-villania, mas também bastante lembrado é o seu sensual banho de piscina com a personagem de Beth Goulart ao som de “Perigo”, de Zizi Possi: uma leve insinuação gay que não foi pra frente na novela, mas que ficou na memória geral.

8) RENATA DUMONT (Tereza Rachel), de “Louco Amor” (1983)


Em minhas remotas lembranças dessa novela, confesso que morria de medo de Renata. Sempre ouvia comentários na sala de casa sobre o quanto ela era má e naquela época ainda não distinguia atriz de personagem. Resultado: cresci com medinho da Tereza Rachel. Recentemente, pude conferir alguns capítulos e comprovar que a impressão que tinha era inteiramente verdadeira. Já no primeiro capítulo, a chique embaixatriz fez de tudo para separar a enteada Patricia (Bruna Lombardi) do filho da empregada Luis Carlos (Fabio Jr). A sequência em que ela é desmascarada por Isolda (Nicete Bruno) em plena festa é memorável: Renata, na verdade, chamava-se Agetilde e fora a responsável pela morte do patriarca da família Dumont. E ironicamente era a verdadeira mãe de Luis Carlos, a quem tanto humilhou durante a novela. Um trabalho magistral de Tereza Rachel, uma das atrizes que mais brilhantemente interpreta vilãs.


 7) ANDRÉA (Natália do Vale), de “Cambalacho” (1986)


Perigosa! Até hoje o refrão da música do grupo “Syndicatto” remete a essa bela assassina. Muitos consideram o melhor papel de Natalia do Vale. De fato, a atriz esbanjou beleza, charme, talento e maldade pura, na pele da alpinista social que dá o golpe no milionário Antero (Mario Lago), tramando sua morte e se tornando rica. Apaixonada pelo cunhado Rogério (Claudio Marzo), marido de sua irmã Amanda (Susana Vieira), Andréa fez de tudo para separar o casal, além de infernizar a vida da protagonista Naná (Fernanda Montenegro), adorável cambalacheira, filha do empresário assassinado. Andréa não escapou de pagar pelo seus crimes na prisão, mas garantiu lugar no rol das preferidas do melão.

6) JULIANA (Marília Pêra), de “O primo Basílio” (1988)

 A personagem criada por Eça de Queiros já era meio caminho andado. A adaptação brilhante de Gilberto Braga completava o percurso de sucesso. Mas de nada adiantaria se não fosse interpretada por uma atriz menos do que genial. Marilia Pera agarrou a oportunidade e fez misérias na pele de ressentida e ambiciosa empregada de Luisa (Giulia Gam), que descobria a traição da patroa e fazia de sua vida um inferno. As cenas em que Juliana obriga Luisa a realizar os serviços domésticos em seu lugar foram o ponto alto da minissérie, assim como o momento da revelação de que ela era detentora das cartas que provavam a romance de Luisa, com o primo Basilio (Marcos Paulo). Juliana era detestável, mas também patética, digna de pena. Impossível não ler o romance e imaginar outro rosto, que não o de Marília, para a desafortunada personagem. Um deleite para ler, ver e rever sempre.

5) JOANA FLORES (Yara Amaral) de “Fera Radical” (1988)

Dois anos antes, Yara Amaral já tinha brilhado intensamente como a hipócrita Dona Celeste, da minissérie “Anos Dourados”, cabendo aqui uma menção honrosa à personagem. Apesar de ter feito da vida da filha Lurdinha (Malu Mader) um inferno, ao final, Dona Celeste se revelou mais uma vítima dos acontecimentos e dos códigos de conduta da sociedade da época do que uma vilã propriamente dita.
Em “Fera Radical”, ela também fez da vida de Malu Mader um inferno, sendo a grande responsável pelo assassinato dos pais da heroína Claudia, que voltava anos depois jurando vingança. Pouco tempo depois, Yara morreria em pleno réveillon na tragédia do Bateau Mouche, portanto, Joana Flores ficou como a lembrança mais forte que tive dela: uma atriz fantástica, cuja interpretação era cheia de nuances, perfeita nos pequenos gestos e nas pequenas expressões, mas também fantástica e explosiva nos momentos de fúria. O acerto de contas da “fera radical” com a megera é memorável e Yara nunca esteve menos que perfeita nessa novela. Saudades imensas!

4) CAROLINA (Lucélia Santos), de “Guerra dos Sexos” (1983)


Carolina era a candura em pessoa: uma flor de criatura. Doce, gentil, humilde, bonitinha, mas muito, muito ordinária. Uma verdadeira loba em pele de cordeiro, a vilã enganou os personagens da novela durante muito tempo e seduziu grande parte do elenco masculino, inclusive o adorável cafajeste Filipe, em ótima interpretação cômica de Tarcísio Meira. O mote da novela era a batalha entre os sexos, mas Carolina só era a favor dela mesma e aprontou poucas e boas com Charlô (Fernanda Montenegro), Roberta (Gloria Menezes) e grande parte do elenco feminino. Um desafio à altura de uma atriz cheia de recursos como Lucélia Santos.

3) RAINHA VALENTINE (Tereza Rachel), de “Que rei sou eu?” (1989)

 Antes de mais nada, uma das gargalhadas mais gostosas de toda a história da teledramaturgia. Mais um tipo terrível interpretado por Tereza Rachel. Valentine era superlativa, operística, insanamente cruel e engraçada. Com ares de Maria Antonieta, mas muito esperta, sempre levava vantagem em tudo. Seu ponto fraco era a paixonite pelo bobo da corte Corcoran (Stenio Garcia) e as cenas de romance entre os dois eram hilárias. Tereza Rachel, nessa memorável novela de Cassiano Gabus Mendes, foi da comédia ao drama, da leveza à intensidade com a mesma maestria. Seu melencólico e solitário final ao som de “How can I go on”, nas vozes de Freddie Mercury e Montserrah Caballé, é de arrepiar. A melancolia e a derrota da rainha destronada era latente apenas no olhar da atriz que aqui não foi menos que genial.


2) PERPÉTUA (Joana Fomm), de “Tieta” (1989)

Adorável urubu. Bem no íntimo, a eterna viúva do Major Cupertino é minha favorita. O que dizer dessa divertidíssima criação de Aguinaldo Silva em que sua intérprete Joana Fomm fez o que quis? Outra especialista em vilãs (aqui vai uma menção honrosa para Yolanda Pratini, de “Dancing Days”, que mesmo sendo dos 70’s vale a lembrança), Joana Fomm começou carregando mais para o lado do drama, do rancor, do ressentimento que sentia pela sua irmã Tieta (Betty Faria). Mas aos poucos, Perpétua foi ganhando ares mais divertidos, até virar uma vilã das mais caricatas e adoráveis de todos os tempos. A avarenta e maldosa Perpétua dava um show a cada aparição, seja se fingindo de boazinha para a irmã, seja humilhando as fiéis escudeiras Cinira e Amorzinho (Rosane Goffman e Lilia Cabral). Poucas vilãs foram tão longe quanto Perpétua, chegando ao ponto de empurrar o filho para os braços da própria irmã por dinheiro. Além disso, ela se fingia de santa e virtuosa, mas na verdade, a tribufú era libidinosa e bizarra ao guardar o órgão sexual do próprio marido em uma misteriosa caixa branca. Perto disso, o segredo do Gerson (Marcelo Antony) de “Passione” é brincadeira de criança, né? Por essas e outras, Perpétua até hoje é lembrada como uma das maiores vilãs de todos os tempos e com muita justiça. Inesquecível!

1) MARIA DE FÁTIMA (Glória Pires) e ODETE ROITMAN (Beatriz Segall), de “Vale Tudo” (1988)

 Empate técnico. Não deu pra decidir entre as duas que, afinal se revelaram durante a trama mais parecidas do que nunca. Odete (Beatriz Segall) até hoje é o símbolo de uma burguesia corrupta e inescrupulosa, que demonstra desprezo pelo Brasil, mas que construiu sua riqueza às custas da exploração do país. As verdades ditas por Odete são inquietantes e é impossível não se identificar com elas, pelo menos um pouquinho. Odete foi uma criação genial de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres, sobretudo, porque foi uma personagem extremamente humana. Todas as suas vilanias estavam longe de serem gratuitas e eram justificadas pela preocupação que tinha com os filhos. O calcanhar de Aquiles era o fraco que ela tinha por garotões. O resultado é uma personagem poderosa, implacável, mas extremamente deliciosa de se assistir. Seu assassinato, até hoje, foi o que mais mobilizou o país e, mais de 20 anos depois, volta a fazer sucesso na reprise do Viva. Mesmo que Beatriz Segall tenha feito outros ótimos personagens, Odete sempre será seu carro-chefe. Definitiva!

Enquanto isso, Maria de Fátima é o símbolo da determinação. Disposta a vencer na vida e se tornar rica, a moça não media consequências para realizar seus objetivos, como por exemplo, colocar a própria mãe na rua, destruir o romance dela, trair a amiga Solange e até vender o próprio filho. Tudo isso parece terrível, mas mesmo assim Fátima era extremamente humana. Suas vilanias nunca foram motivadas por vingança ou questões pessoais, mas puramente para alcançar seus objetivos. Em sua moral (ou falta dela), Fátima se preocupava com a mãe, sofria cada vez que cometia uma maldade contra ela e achava que poderia consertar depois. E o trabalho de Glória Pires foi magistral. Sem qualquer ranço de caricatura ou exagero, ela sabia compôr duas Fátimas diferentes: a boazinha diante de todos e a pragmática e ambiciosa em suas cenas com o amante César (Carlos Alberto Ricceli). Vai ser difícil surgir uma alpinista social mais interessante e tão perfeitamente construída como esta. Antológica.


MENÇÕES HONROSAS:

ü  Santinha Rivoredo (Eva Todor), de “Sétimo Sentido” (1982)
ü  Tia Fausta (Joana Fomm), de Bambolê (1987)
ü  Donana (Geórgia Gomide), de Hipertensão (1986)
ü  Gláucia (Bia Seidl), de “A gata comeu” (1985)
ü  Lúcia Gouveia (Joana Fomm), de “Corpo a Corpo” (1985)
ü  Chica Newman (Fernanda Montenegro), de “Brilhante” (1981)
ü  Paula (Cissa Guimarães) de “Direito de amar” (1987)
ü  Frau Herta (Norma Blum), de “Ciranda de Pedra” (1981)
ü  Catarina (Marieta Severo), de “Vereda Tropical” (1984)

Esqueci de alguma? Quem foi terrivelmente injustiçada pelo melão? E das citadas, quais suas favoritas? Agora é com vocês!


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Teledramaturgia atual: crise de criatividade ou motivação comercial?



Vitor Santos de Oliveira - A.R

Já em pleno século XXI, as novelas continuam sendo nosso principal produto de exportação e maior entretenimento da população. Mesmo com o advento de novas mídias e a chegada de novas gerações, ela permanece reinando absoluta em nossos lares e ainda é o programa mais assistido de nossa TV, ainda que venha perdendo, gradativamente, boa parte de seu público. Por isso mesmo a pergunta: até quando? Será que a novela, ao lado do futebol e da música, sempre terá lugar cativo no coração dos brasileiros?



Acredito que sim, mas sinceramente, o alerta vermelho já foi acionado. Sem dúvida, há algo de podre no reino da Dinamarca. Tá certo que reclamar de novela também é um dos esportes favoritos do brasileiro, mas é impossível quando nos lembramos de novelas do passado como “Vale Tudo” ou “O casarão”, com textos tão primorosos, situações que fugiam do clichê e, principalmente, com uma trama totalmente imprevisível, para vermos que há um abismo qualitativo separando as produções de outrora das produções de hoje.

Antes que me chamem de saudosista, não pretendo levantar essa bandeira. Não acho que um “Vale Tudo” funcionaria nos dias de hoje. Esta e outras novelas antológicas como “Roque Santeiro”, Pecado Capital”, “Guerra dos Sexos”, “Saramandaia”, “Pantanal”, “Tieta”, “Beto Rockfeller”, “O bem amado”, entre outras, deram certo, exatamente por terem sido revolucionárias em seu tempo, por romperem com a “cartilha” estabelecida e, assim, conquistarem um avanço na linguagem televisiva. Mocinhas sem caráter, heróis sem ética ou protagonistas cinqüentões jogando torta na cara um do outro foram na completa contramão da fórmula manjada do folhetim e conquistaram público e crítica, claro que, por um bom texto e boas atuações, mas também pela ousadia e inovação. O público não é bobo e não agüenta mais assistir à mesma novela. Os ganchos que funcionavam ontem já não funcionam hoje. É preciso se reinventar sempre. Se não houvesse transgressão, até hoje estaríamos assistindo a Glória Magadan. E é esse o problema das novelas atuais: as emissoras, com medo do fracasso e da falta de retorno financeiro, não apostam em renovação, tampouco permitem que os autores, já calejados, ousem em alguma coisa. Por isso, nossas novelas estacionaram e há muito não temos uma trama realmente memorável que marcasse época na TV. Qual foi mesmo o último grande sucesso? As últimas novelas memoráveis talvez datem dos anos 80. E não estou falando do antigo horário das dez, que a Globo utilizava para novas experimentações. As novelas realmente revolucionárias e memoráveis habitavam os horários ditos “comerciais”, como foram os casos de Beto Rockfeller", que trouxe a modernidade e a coloquialidade, "Pantanal", que pegou emprestada a linguagem cinematográfica e imprimiu um ritmo único em sua narrativa. No horário das sete, tivemos "Que rei sou eu?" e "Guerra dos Sexos", que inovaram ao seu modo: a primeira por ser uma crítica mordaz e bem humorada, além de trazer a época para o horário das sete; e a segunda pela anarquia total, que ia desde a atores se dirigindo diretamente para a câmera, até citações e alusões a clássicos do cinema. Enfim, uma novela que transitava na corda bamba e soube ser genial. “Bebê a Bordo”, de Carlos Lombardi, também surpreendeu pelo ritmo ágil, texto anárquico e debochado e não deixa de ser um marco.

Mais exemplos: "Roque Santeiro", que universalizou o regionalismo, fazendo de sua Asa Branca, metáfora e metonímia de um Brasil debochado e corrupto. Fugiu totalmente à fórmula do folhetim ao apresentar um trio de protagonistas de caráter mais que duvidoso. Inovou e foi sucesso. Isso sem contar "Saramandaia", que inaugurou o realismo fantástico; "Irmãos Coragem", que trouxe o gênero aventura para o folhetim; "Tieta", que mostrava a relação incestuosa entre tia e sobrinho na maior leveza.

Não sei se entendem onde quero chegar, mas nenhuma dessas tramas que citei tinha uma proposta experimental. Elas inovaram e venceram por elas mesmas, mas acho que não teriam lugar nos dias de hoje, já que tudo o que foge à cartilha do folhetim e dos arquétipos já consagrados, não vem tendo lugar nas emissoras.
Ou seja, a televisão vem produzindo as mesmas novelas há anos. Têm audiência, rendem lucro, etc. e tal, mas não inovam uma linha e com isso, saturam o gênero. Os autores de hoje são quase os mesmos de outrora, mas o público é outro e está ávido por novidade. A TV não está perdendo audiência para a Internet, mas para sua própria falta de ousadia.

Portanto, ainda que a novela seja um produto que representa grande parte da fatia comercial de uma emissora, é preciso abrir os olhos e ver que precisamos inovar. “Os mutantes” da Record, ainda que gere alguma controvérsia, ganha o público pelo inusitado. Ao invés de mocinhas sofredoras e tramas folhetinescas, o público se diverte com as lutas diárias entre mutantes do bem e do mal. De uma forma ou de outra, amada ou odiada, não passa incólume. Na mesma Record, “Vidas Opostas” também apostou na criatividade e na ousadia ao trazer para seu horário nobre a favela mais realista de nossa TV. A Globo, em contrapartida, apostou em “A Favorita” que, se não inovou na estrutura, inovou na narrativa, ao embaralhar a cabeça do público ao não revelar de cara quem era a heroína. Quem sabe se esses três últimos casos não representem uma (tímida) reação do inusitado? Acertando ou errando, precisamos muito dele. Se o inusitado tivesse mais espaço e as emissoras deixassem o medo de lado e permitissem que os autores apostassem na ousadia, o gênero se reinventaria e a novela estaria a salvo. Pelo menos pelos próximos anos...

(Texto escrito em 28/08/2008 e publicado no site da AR - Associação dos Roteiristas : http://www.artv.art.br/informateca/escritos/televisao/teledrama.htm )

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Blogueiro convidado: Ivan Gomes fala de "Guerra dos Sexos"


 Mais um queridão no melão. E esse é especialíssimo. Dono de um conhecimento raro sobre novelas que ele nem sempre faz questão de exibir, bem como sua capacidade crítica em falar delas com inteligência e estilo. Esse é Ivan Gomes, telemaníaco apaixonado que deixa transcender toda sua paixão naquilo que escreve. E o foco de sua escrita não poderia ser mais especial: a inesquecível “Guerra dos Sexos”, marco indiscutível da teledramaturgia brasileira, que conseguiu unir popularidade e ousadia. Uma das novelas mais cultuadas de todos os tempos e que, segundo seu autor, o genial Silvio de Abreu, promete voltar em 2012. Só nos resta ficar na torcida. Enquanto isso, vamos apreciar e telembrar, através do ótimo texto de Ivan, esse grande sucesso de 1983, coincidentemente publicado no dia do aniversário de uma das estrelas da novela, Lucélia Santos! Então, fica também como singelo presente do melão para a atriz. Vamos ao texto:

Série Memória Afetiva: Guerra dos Sexos

Por Ivan Gomes


Acabei de rever essa novela, uma versão editada de Portugal, que meu irmãozinho Vitor emprestou para mim.
Foram meses deliciosos , relembrando essa comédia que tive o privilégio de acompanhar na exibição original em 83 e na reprise de 89. Gostaria de dividir minhas impressões com vocês: Acredito que hoje a comédia de Guerra dos Sexos foi tão reutilizada, tanto pro bem qto pro mal, que para o pessoal mais novo a novela não teria nada demais. Mas em 83 foi um choque! Substituiu a convencional, mas deliciosa Final Feliz, da craque Ivani Ribeiro, e de repente a tela era invadida por um bando de malucos deliciosos.

Criança, eu não tinha noção da importância de uma Fernanda Montenegro e de um Paulo Autran, mas achava bacana na abertura o “e pela primeira vez juntos’’ que antecedia os nomes deles, me despertando a atenção para o trabalho desses maravilhosos artistas. Esses dois estavam muito bem acompanhados por um elencaço e é deles que eu queria comentar: Glória Menezes era minha heroína, talvez uma das personagens que mais gosto até hoje. Torcia muito pela sua Roberta Leone, sofria e ria junto com ela. Roberta tinha um amor, uma generosidade, uma alegria de viver que me encantavam, seu amor verdadeiro, honesto e sincero pelo Nando (Mario Gomes) me comovia e talvez o meu lado romantico tenha surgido da identificação com os sentimentos da Roberta, minha personagem favorita da trama. Tarcisão também esteve muito bem num tipo infantilóide que todos aqui na minha casa adoravam! Amava quando o chamavam de “pipinho”. Foi o primeiro trabalho desse ícone que acompanhei de fato!

 Lucélia Santos interpretava Carolina, uma vilã em que ela pode mostrar todo seu potencial, principalmente quando ela vai deixando a vilania por seu amor por Felipe (Tarcisio Meira). Muitas cenas dela me impressionaram muito. Não era uma vilã gratuita, mas que, de certa forma, debochava um pouco desse tipo de personagem, hoje tão idolatrado. Lucélia tem uma força, uma entrega ao personagem indiscutível, e mostrou muito mais de seu talento ainda na mudança de comportamento da personagem. Quando Carolina muda de atitude e se arrepende dos seus atos, ficou crível, não ficou forçado.

Fernanda e Paulo sem comentários, eu torcia mais pra Charlô, achava-a genial, amiga, inteligente e muito, muito engraçada! Na época acabei vendo o Otavio do Paulo, como uma espécie de vilão. Nas cenas finais quando Otavio revela toda sua solidão entendi o porquê de tantas malandragens contra a Charlô: era um amor encubado que ele não acreditava que fosse se realizar, ao ver a amada casando-se tantas vezes com outros homens.

O casal Tarcísio e Glória entre Maitê Proença

Cristina Pereira e sua Frô eram demais, talvez a personagem que mais me fez rir na novela, com sua auto-estima lá em cima e sua cara de pau! Maitê Proença e Maria Zilda lindas e divertidas também, destacando a Zilda com uma personagem ousada pra época, mais liberal, livre. Acredito que muitas mulheres tenham se sentido ‘’defendidas’’ por essa personagem (Vânia), tirando a mulher da condição de capacho sexual , presa a convenções matrimoniais e podendo viver a vida (eheheheheh) como bem entendessem. A Juliana de Maitê era o grande toque romântico da novela, única personagem que carregou consigo um tema musical marcante: "ANJO", do grupo Roupa Nova. Doce, medrosa num amor proibido no inicio, acabou revelando-se uma mulher que evita se envolver com seu amor por puro preconceito, sem conseguir aceitá-lo como é (daí meu favoritismo pro casal Nando e Roberta) tornando-se mais tarde uma mulher insegura e ciumenta, o q acaba custando seu grande amor.Um outro grande destaque pra mim e um ator bastante discutido foi Mario Gomes, com um Nando perfeito, acredito até que um ator bom, com mais recursos, não teria feito tão bem. Nando tinha uma humanidade que eu achei genial, integridade, valores, e uma característica que me chamou a atenção agora que revi a trama: ele não olhava no interlocutor quando precisava ‘’se abrir’’, falar dos seus sentimentos, apenas algumas vezes. Isso mostra uma interpretação pensada para o personagem, criando um tipo, estudando o papel. Parabéns para ele!



Não dá pra falar de todos porque senão esse texto não termina nunca! Mas deixei pro final a maravilhosa Yara Amaral, uma das maiores perdas das nossas artes. Que atriz é essa, meu Deus! Faz comédia e drama como ninguém, que dona Nieta real, humana, divertida, contraditória! Fez um casal maravilhoso com o grande Ari Fontoura (o tímido Dinorah). Saudades eternas!

Pra encerrar, falo um pouco do texto de Silvio de Abreu que escreveu uma historia onde assumiu a comédia rasgada sem deixar  de lado uma certa sofisticação, em meio a tortas voando, perseguições de diamante e calores sexuais muitas referências sutis a filmes e músicas. Silvio uniu o pastelão a um humor mais fino, principalmente em alguns momentos de Charlô e Otávio, agradando ao povão e a quem tem uma certa cultura geral! Valeu mesmo! Também é importante destacar que todos os personagens, mesmo estando em uma comédia, tinham alma, nada era gratuito. É só vê-los com mais atenção que a gente se reconhecia, percebia atitudes e sentimentos parecidos com os nossos, entendia as razões os motivos de seus atos e, ainda por cima, se divertia muito!!! Uma pena que os textos estão se empobrecendo e humor hoje em telenovela anda beirando a debilidade mental e, de certa forma, contribuindo pra manter o gosto popular (que deveria ser mais estimulado) no mesmo patamar pouco exigente!


Valeu, Silvio de Abreu, Jorge Fernando, Guel Arraes, TV Globo e toda turma que criou esse clássico da TV!



Mansão de Otávio e Charlô. A trama se passava em Sampa, mas a casa fica em Petrópolis - RJ

FIM

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