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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Temas e Trilhas: ROBERTA MIRANDA




Melão assume seu lado escancaradamente romântico e declara: ADORA Roberta Miranda e seu canto derramado e apaixonadamente despudorado, que fala de amor sem reservas e sem vergonha! Já disse que cresci ouvindo os discos de Gal e Bethânia da minha mãe, mas ela também tinha alguns de Roberta Miranda que sempre ouvia e aprendi a gostar. E além dos grandes sucessos radiofônicos como “Vá com Deus”, “Dói” e “Sol da minha vida”, a cantora é presença constante na trilha sonora de muitas novelas, com seu canto inconfundível e sua interpretação personalíssima. Listei abaixo minhas favoritas, algumas porque nos remetem imediatamente à novela em questão, outras porque batem forte em minha memória afetiva. Vamos a elas:


10) “MEU DENGO” em “PARAÍSO” (2009)


Em dueto com a cantora Tânia Mara, esse animado forró era o tema das “regateiras”, espécie de “periguetes rurais”, as divertidas moças da pensão de Dona Ida (Walderez de Barros) vividas por Mareliz Rodrigues, Lucy Ramos, Paula Barbosa e Caroline Abras que, além de viverem à procura de um marido, também eram as responsáveis por espalhar todas as fofocas da cidade. Pra dançar agarradinho e relembrar do remake de Benedito Ruy Barbosa.


9) “SEU AMOR AINDA É TUDO” EM “ESTRELA DE FOGO” (1998)
Confesso que não assisti a um capítulo sequer dessa novela, mas sempre adorei essa música na voz de Roberta Miranda e, por isso, ela não podia ficar de fora da lista. Adoro essas canções que começam calminhas, introspectivas e depois vão crescendo até explodir em um ótimo refrão. Dramática, passional, desesperada... impossível não cantar alto!



8) “LA MAESTÁ IL SABIÁ” em “TERRA NOSTRA” (1999)
Aqui, em dueto com Chitãozinho e Xororó, Roberta interpreta em italiano uma composição sua de enorme sucesso na voz de Jair Rodrigues. O tema era de locação e ajudava a ambientar o ambiente rural em que viviam os imigrantes italianos da novela de Benedito Rui Barbosa. Portanto, a versão italiana de um clássico de nossa música sertaneja caiu como uma luva.

7) “SEMPRE MAIS” EM “ERA UMA VEZ...” (1998)



Versão de “Baby can I hold you”, sucesso avassalador de Tracy Chapman que fez parte da trilha de “Vale Tudo”, aqui ganha uma versão mais doce e brejeira na voz de Roberta Miranda. Na novela de Walther Negrão, era tema de Isaura (Myrian Rios), mãe solteira do menino Sarrafo (Eduardo Caldas), mulher batalhadora que trabalhava em um trailer e acaba se envolvendo com Julio (André Gonçalves), rapaz bem mais novo e que, por isso, mesmo, ela relutava em viver esse romance. Talvez o último bom papel de Miriam Rios em uma novela e ganhou uma canção à altura.


6) “MEU PRIMEIRO AMOR” EM “A FAVORITA” (2008)


Casal 20 da teledramaturgia brasileira, Tarcisio Meira e Gloria Menezes dispensam qualquer apresentação. Já formaram par romântico em diversas novelas. O mais recente foi em “A Favorita”, grande sucesso de João Emanuel Carneiro, em que viviam Irene e Copola, casal maduro que sempre foram apaixonados, mas que acabaram se casando com outras pessoas. Só após a morte do marido Gonçalo (Mauro Mendonça), Irene teve coragem de assumir seu amor por Copola, que abandona a esposa Iolanda (Suzana Faíni). Os encontros do casal, sempre regados com muito lirismo, eram embalados por essa belíssima canção, verdadeiro clássico de nossa música, que ganhou uma interpretação mais doce e menos arrebatada de Roberta Miranda, mas não menos emocionante.

5) “A MULHER EM MIM” EM “O AMOR ESTÁ NO AR” (1997)


Versão de um sucesso de Shania Twain, era o tema da perversa Úrsula, grande vilã da novela de Alcides Nogueira interpretada por Nicette Bruno. Úrsula era má, rancorosa, dominadora, mas também tinha seus momentos de fraqueza. Sua paixão não correspondida por Guima (Nuno Leal Maia) era embalada por essa canção, interpretada de forma apaixonada por Roberta Miranda. É do tipo de canção e de interpretação que remete imediatamente à novela.

4) “CABECINHA NO OMBRO” EM “PEDRA SOBRE PEDRA” (1992)


Outro grande clássico da música sertaneja que aqui, ganha uma versão repaginada no dueto de Fagner e Roberta Miranda. Também é daquelas canções que remetem imediatamente à trama. Como não se lembrar de Jorge Tadeu (Fabio Jr), fogoso fotógrafo que, mesmo depois de morto, continua a ter encontros amorosos com as mulheres de Resplendor? As cenas de amor, sempre pra lá de quentes, eram embaladas por essa canção, que fez um tremendo sucesso na época. Me transporto imediatamente para os banhos de rio entre Jorge Tadeu e sua favorita, a esotérica Úrsula (a sempre ótima Andréa Beltrão). Doces lembranças...


3) “ATRAÇÃO FATAL” EM “PORTO DOS MILAGRES” (2001)


Era o tema da beata atrapalhada e “invicta” Genésia (Julia Lemmertz dando um banho de interpretação), minha personagem favorita da novela. Também amava “Sem amor”, tema anterior da personagem interpretado por Patricia Mellodi (na época Patricia Melo), quando Genésia fervia de paixão e se lamentava por não ter um amor. Mas com a chegada do boy magia Ezequiel (primeiro papel de destaque de Vladimir Brichta em uma novela), o tema de Genésia passa a ser esse animado e fogoso forró na interpretação sacana e deliciosa de Roberta Miranda. Quando o amor dos dois explode, a “atração fatal” do título da canção passa a fazer todo o sentido.

2) “EU TE AMO, TE AMO, TE AMO” EM “O REI DO GADO” (1996)


Esse clássico da dupla Roberto e Erasmo Carlos já ganhou interpretações dramáticas, como a de Antonio Marcos e chiques como a de Marisa Monte. Mas, fala sério, delícia mesmo é ouví-la na voz aveludada e sôfrega de Roberta Miranda e seu delicioso “ah, eu amo”. A canção na voz da cantora nos remete imediatamente à apaixonadíssima Lea Mezenga, grande momento de Silvia Pfeiffer na tevê, às voltas com o malandro Ralf (Oscar Magrini), que a explorava, a espancava, mas também a fazia tremer (e gemer) de paixão. É um dos casos em que a canção se casa perfeitamente com a trama.


1)   “LUAR DO SERTÃO” EM “TIETA” (1989)


Sim, a primeira colocada, além de fazer parte da trilha de minha novela favorita de todos os tempos, ainda me remete a lembranças muito felizes de minha pré-adolescência. Daquelas que, só de ouvir, nos remete a uma época e a um lugar que não existem mais, exceto em nossas lembranças. Na novela, era tema do Comandante Lauro (Flavio Galvão) e sua esposa Laura (Claudia Alencar), que viviam felizes em Mangue Seco. Adorava as cenas do casal namorando na rede da varanda de casa, sob a luz de uma imensa lua que só existe nas novelas de Aguinaldo Silva, embalados pela doce e emotiva interpretação de Roberta Miranda para esse grande clássico de nossa música. Bela e inesquecível.


Agora é com vocês! Melão quer saber: quais são seus temas de novelas favoritos na voz de Roberta Miranda?
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TEMAS E TRILHAS – MARIA BETHÂNIA





quinta-feira, 14 de abril de 2011

Série Memória Afetiva – 10 vilãs memoráveis - PARTE III – ANOS 2000


Depois das maravilhosas malévolas das décadas de 80 e 90, encerro essa “série memória afetiva” com as minhas vilãs favoritas da última década, que foi pródiga no assunto. Por isso mesmo, já prevejo polêmicas, já que é inevitável que as favoritas de muitos fiquem de fora. Outro item que vai dar o que falar é a posição no ranking, já que há praticamente um empate técnico entre as quatro primeiras. Qualquer uma dessas quatro poderia ser a primeira, já que fizeram um sucesso retumbante. Antes de mais nada, um agradecimento especial ao querido amigo Duh Secco, do blog “Agora é que são eles”, pela luxuosa colaboração. Vamos a elas:


10) NORMA (Carolina Ferraz em “Beleza Pura)


 Na época da exibição de “Beleza Pura”, só se falava em Rakelly (Isis Valverde). A maluquete roubou a cena da novela, deixando em segundo plano a trama central, na qual Norma era encarregada das mais terríveis vilanias. Mas bem depois da novela, Norma virou febre com o surgimento do vídeo “Eu sou rica”, no qual nossa belíssima vilã deixa bem claro para o mocinho Guilherme (Edson Celulari) o motivo pelo qual não iria presa. “Eu sou rica” ganhou as pistas de dança, virou hit na internet e colocou Norma na galeria das grandes vilãs.



9) VILMA (Lucinha Lins em “Chamas da Vida”)


Uma mãe dominadora, uma empresária ambiciosa e uma incendiária insana. Assim era Vilma Oliveira Santos, que não hesitava em botar fogo, literalmente, na vida de seus inimigos. Brilhante desempenho de Lucinha Lins, Vilma dominou a ação em Chamas da Vida, desde o início, quando todos sabiam que ela era a responsável por inúmeros incêndios envolvendo seus inimigos, até o fim, quando passou a ser perseguida por um segundo incendiário e se viu completamente louca com a hipótese de ser eliminada da mesma forma que eliminava seus rivais. (Por Duh Secco)


8) SÍLVIA (Alinne Moraes em “Duas Caras”)

 Ela foi chegando de mansinho na novela, mostrando-se dócil e amável no início, para logo depois revelar uma personalidade obsessiva e crimonosa. Sílvia usava de seu charme para conseguir o que queria com Ferraço (Dalton Vigh) e não hesitava em querer eliminar seus inimigos. Dois momentos da vilã são muito marcantes pra mim: o primeiro, no qual ela deixa seu enteado Renato se afogando em um lago com a desculpa de que não pode molhar o cabelo (como amo ironia!!!); e o segundo, seu embate com a governanta Bárbara (Betty Faria), braço-direito de Ferraço, que detectou de cara a boa bisca que ela era. Vibro com aquela cena em que Sílvia tenta dar um tapa em Bárbara e leva uma chave de braço da governanta, que arremata com a melhor definição possível para a vilã: “diabinha”.
  

7) MAÍSA (Daniela Escobar em “O clone”)

 Maísa não é daquelas vilãs clássicas que trama coisas mirabolantes em meio a gargalhadas malévolas. É uma vilã, a la Gloria Perez, que foge desses estereótipos: amargurada, rancorosa, ressentida e humana. Mãe dominadora, faz de tudo para impedir o namoro da filha com seu segurança. Sem o amor do marido Lucas (Murilo Benício) e humilhada pela paixão deste por Jade (Giovana Antonelli), Maísa compensa sua frustração torrando o patrimônio do maridos com joias e vestidos caros e age silenciosamente, seduzindo Said (Dalton Vigh), marido de Jade, para se vingar da Odalisca. Uma cobra, que espera pacientemente pelo bote e um trabalho intenso e bem realizado de Daniela Escobar.


6) MARTA (Lília Cabral em “Páginas da Vida”)


 Outra vilã que foge do modelo clássico. Aliás, há quem nem a considere uma vilã, tamanha a humanidade que a genial Lilia Cabral emprestou à personagem. Frustrada pelas expectativas que depositou no marido e nos filhos, Marta era uma mulher comum e foi até compreendida por grande parte da audiência, que a via como uma batalhadora que carregava a família nas costas. Mas o fato dela rejeitar a neta portadora de Síndrome de Down, revelando todo o seu preconceito foi inaceitável. E com isso, nossa “querida” Marta foi contemplada com um passaporte para ingressar no rol das grandes vilãs da década.


5) ADMA (Cássia Kiss em “Porto dos Milagres”)



Mais uma vilã “aguinaldeana”. Adma era fria, calculista, minimalista. Transpirava crueldade pelos poros e era capaz de tudo para proteger seu amado Félix (Antonio Fagundes) dos inimigos. A arma? Uma boa dose de veneno que carregava em seu anel. O público vibrou com mais essa atuação espetacular de Cássia Kiss e esperava apreensivo para saber quem seria a nova vítima da terrível Adma.


4) BIA FALCÃO (Fernanda Montenegro em “Belíssima”)

“Pobreza pega”. Sim, queridos, agora começa o desfile das maiores vilãs. O quarto lugar pode até soar injusto para Bia, mas acreditem, até o primeiro lugar foi quase um empate técnico. Espécie de Odete Roitman do terceiro milênio, Bia tinha todas as características da histórica vilã “valetudista” (desprezo pelo Brasil, corrupção, instintos assassinos e sede por garotões). E com um agravante: o total desprezo pela filha legítima Vitória (Claudia Abreu). Bia fez e aconteceu: simulou a própria morte, prejudicou a neta Júlia (Gloria Pires) o quanto pôde e ainda protagonizou uma cena digna de tragédia grega ao rejeitar solenemente a filha pela segunda vez. Terminou feliz em Paris nos braços de um garotão aos brados de “bando de idiotas”. Mais um excelente trabalho para a já extensa galeria de personagens inesquecíveis de Fernanda Montenegro.


3) LAURA (Claudia Abreu em “Celebridade”)


Essa adorável “cachorra” causou frisson na época da novela e até hoje é lembrada como um dos melhores desempenhos de Claudia Abreu. Sonsa, dissimulada, com uma ironia e sarcasmo únicos, Laura movimentou a novela até ser assassinada no último capítulo. Totalmente inspirada em Eve Harrington, clássica personagem que infernizava Bette Davis em “A malvada”, Laura tinha objetivo destruir a vida de Maria Clara Diniz (Malu Mader) e, para isso, contava com a ajuda de um bom michê, Marcos (Marcio Garcia), como toda vilã gilbertiana que se preza. A surra que Laura levou de Maria Clara (inspirada em uma antiga cena de “Água Viva”) foi memorável, mas a melhor lembrança que tenho de Laura é dela arrasando, linda, na pista de dança, comemorando seu triunfo sobre a inimiga.


2) FLORA (Patricia Pillar em “A Favorita”)



Essa é cult! Flora deu a sua intérprete Patrícia Pillar inúmeras possibilidades de interpretação. E a atriz não desperdiçou: deu um banho como psicopata vingativa da genial trama de João Emanuel Carneiro, obstinada em destruir a vida de Donatela (Claudia Raia), por quem tinha um misto de ódio e admiração. Flora não poupava ninguém, nem a própria filha Lara (Mariana Ximenez), por quem tinha um profundo desprezo, e não teve escrúpulos em usá-la para colocá-la contra Donatela. Flora foi um show: irônica, sempre com ótimas tiradas, divertiu o público pra valer e também foi responsável por cenas eletrizantes em que o limiar entre a vida e a morte estava sempre em jogo. A intérprete de “Beijinho Doce” arrebanhou uma legião de fãs e até hoje deixa saudade.

1)           NAZARÉ TEDESCO (Renata Sorrah em “Senhora do Destino”)


O que dizer dessa linda raposa felpuda? Dona de uma invejável autoestima, Nazaré Tedesco foi a responsável pelo sofrimento de décadas da “anta nordestina”, como gostava de chamar Maria do Carmo (Susana Vieira), pelo sequestro de sua filha Lindalva (Carolina Dieckmann), a quem criou cercada de amor, como se fosse sua própria filha. E para proteger esse segredo, Nazaré foi capaz de tudo, inclusive matar o próprio marido José Carlos (Tarcisio Meira) e sua antiga colega dos tempos de prostituta, Djnenane (Elisângela), ambos rolando escada abaixo. Além disso, infernizava a vida de enteada Claudia (Leandra Leal). Nazaré era deliciosamente lasciva, debochada, insana, engraçada, divertida, enfim, um show à parte de Renata Sorrah, que soube aproveitar o genial texto de Aguinaldo Silva como ninguém. Pra o melão, é a campeã pelo seguinte motivo: apesar de extremamente caricata, Nazaré era, antes de tudo, humana, e movida pelo amor incondicional que tinha pela filha, a ponto de abrir mão de sua própria vida por causa dela. Portanto, se você cruzar em uma esquina com uma bela loira com uma tesoura na mão, fuja! Mesmo depois de morta, Nazaré pode ser capaz de tudo! Palmas para Nazaré, a incontestável campeã da década.




MENÇÕES HONROSAS:

Ø  FRAU HERTA (Ana Beatriz Nogueira) em “Ciranda de Pedra"
Ø  CRISTINA (Flávia Alessandra) e DEBORA (Ana Lucia Torre) em “Alma Gêmea”
Ø  JEZEBEL (Elizabeth Savalla) em “Chocolate com Pimenta”
Ø  LAILA (Christiane Torloni) em “Um anjo caiu do céu”
Ø  YVONNE (Leticia Sabatella) em “Caminho das Índias”
Ø  DJANIRA PIMENTA (Betty Faria) em “América”
Ø  LEONA (Carolina Dieckmann) e  MILU (Marília Pera) em “Cobras e Lagartos”
Ø  SOFIA (Zezé Polessa) e BEATRIZ (Debora Falabella) em “Escrito nas estrelas”
Ø  MARCELA (Drica Moraes) em “O cravo e a rosa”
Ø  BÁRBARA (Giovana Antonelli) em “Da cor do pecado”
Ø  ESTER (Zezé Polessa) em “A lua me disse”
Ø  AUGUSTA EUGÊNIA (Arlette  Salles) em “Porto dos Milagres”
Ø  ZILDA (Cassia Kiss) em “Eterna Magia”
Ø  TAÍS (Alessandra Negrini) em “Paraíso Tropical”
Ø  JUDITH (Debora Evelyn) em “Caras e Bocas”
Ø  CLARA (Mariana Ximenes) em “Passione”


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Série Memória Afetiva – 10 (ou mais) vilãs memoráveis - anos 80



terça-feira, 19 de outubro de 2010

Teledramaturgia atual: crise de criatividade ou motivação comercial?



Vitor Santos de Oliveira - A.R

Já em pleno século XXI, as novelas continuam sendo nosso principal produto de exportação e maior entretenimento da população. Mesmo com o advento de novas mídias e a chegada de novas gerações, ela permanece reinando absoluta em nossos lares e ainda é o programa mais assistido de nossa TV, ainda que venha perdendo, gradativamente, boa parte de seu público. Por isso mesmo a pergunta: até quando? Será que a novela, ao lado do futebol e da música, sempre terá lugar cativo no coração dos brasileiros?



Acredito que sim, mas sinceramente, o alerta vermelho já foi acionado. Sem dúvida, há algo de podre no reino da Dinamarca. Tá certo que reclamar de novela também é um dos esportes favoritos do brasileiro, mas é impossível quando nos lembramos de novelas do passado como “Vale Tudo” ou “O casarão”, com textos tão primorosos, situações que fugiam do clichê e, principalmente, com uma trama totalmente imprevisível, para vermos que há um abismo qualitativo separando as produções de outrora das produções de hoje.

Antes que me chamem de saudosista, não pretendo levantar essa bandeira. Não acho que um “Vale Tudo” funcionaria nos dias de hoje. Esta e outras novelas antológicas como “Roque Santeiro”, Pecado Capital”, “Guerra dos Sexos”, “Saramandaia”, “Pantanal”, “Tieta”, “Beto Rockfeller”, “O bem amado”, entre outras, deram certo, exatamente por terem sido revolucionárias em seu tempo, por romperem com a “cartilha” estabelecida e, assim, conquistarem um avanço na linguagem televisiva. Mocinhas sem caráter, heróis sem ética ou protagonistas cinqüentões jogando torta na cara um do outro foram na completa contramão da fórmula manjada do folhetim e conquistaram público e crítica, claro que, por um bom texto e boas atuações, mas também pela ousadia e inovação. O público não é bobo e não agüenta mais assistir à mesma novela. Os ganchos que funcionavam ontem já não funcionam hoje. É preciso se reinventar sempre. Se não houvesse transgressão, até hoje estaríamos assistindo a Glória Magadan. E é esse o problema das novelas atuais: as emissoras, com medo do fracasso e da falta de retorno financeiro, não apostam em renovação, tampouco permitem que os autores, já calejados, ousem em alguma coisa. Por isso, nossas novelas estacionaram e há muito não temos uma trama realmente memorável que marcasse época na TV. Qual foi mesmo o último grande sucesso? As últimas novelas memoráveis talvez datem dos anos 80. E não estou falando do antigo horário das dez, que a Globo utilizava para novas experimentações. As novelas realmente revolucionárias e memoráveis habitavam os horários ditos “comerciais”, como foram os casos de Beto Rockfeller", que trouxe a modernidade e a coloquialidade, "Pantanal", que pegou emprestada a linguagem cinematográfica e imprimiu um ritmo único em sua narrativa. No horário das sete, tivemos "Que rei sou eu?" e "Guerra dos Sexos", que inovaram ao seu modo: a primeira por ser uma crítica mordaz e bem humorada, além de trazer a época para o horário das sete; e a segunda pela anarquia total, que ia desde a atores se dirigindo diretamente para a câmera, até citações e alusões a clássicos do cinema. Enfim, uma novela que transitava na corda bamba e soube ser genial. “Bebê a Bordo”, de Carlos Lombardi, também surpreendeu pelo ritmo ágil, texto anárquico e debochado e não deixa de ser um marco.

Mais exemplos: "Roque Santeiro", que universalizou o regionalismo, fazendo de sua Asa Branca, metáfora e metonímia de um Brasil debochado e corrupto. Fugiu totalmente à fórmula do folhetim ao apresentar um trio de protagonistas de caráter mais que duvidoso. Inovou e foi sucesso. Isso sem contar "Saramandaia", que inaugurou o realismo fantástico; "Irmãos Coragem", que trouxe o gênero aventura para o folhetim; "Tieta", que mostrava a relação incestuosa entre tia e sobrinho na maior leveza.

Não sei se entendem onde quero chegar, mas nenhuma dessas tramas que citei tinha uma proposta experimental. Elas inovaram e venceram por elas mesmas, mas acho que não teriam lugar nos dias de hoje, já que tudo o que foge à cartilha do folhetim e dos arquétipos já consagrados, não vem tendo lugar nas emissoras.
Ou seja, a televisão vem produzindo as mesmas novelas há anos. Têm audiência, rendem lucro, etc. e tal, mas não inovam uma linha e com isso, saturam o gênero. Os autores de hoje são quase os mesmos de outrora, mas o público é outro e está ávido por novidade. A TV não está perdendo audiência para a Internet, mas para sua própria falta de ousadia.

Portanto, ainda que a novela seja um produto que representa grande parte da fatia comercial de uma emissora, é preciso abrir os olhos e ver que precisamos inovar. “Os mutantes” da Record, ainda que gere alguma controvérsia, ganha o público pelo inusitado. Ao invés de mocinhas sofredoras e tramas folhetinescas, o público se diverte com as lutas diárias entre mutantes do bem e do mal. De uma forma ou de outra, amada ou odiada, não passa incólume. Na mesma Record, “Vidas Opostas” também apostou na criatividade e na ousadia ao trazer para seu horário nobre a favela mais realista de nossa TV. A Globo, em contrapartida, apostou em “A Favorita” que, se não inovou na estrutura, inovou na narrativa, ao embaralhar a cabeça do público ao não revelar de cara quem era a heroína. Quem sabe se esses três últimos casos não representem uma (tímida) reação do inusitado? Acertando ou errando, precisamos muito dele. Se o inusitado tivesse mais espaço e as emissoras deixassem o medo de lado e permitissem que os autores apostassem na ousadia, o gênero se reinventaria e a novela estaria a salvo. Pelo menos pelos próximos anos...

(Texto escrito em 28/08/2008 e publicado no site da AR - Associação dos Roteiristas : http://www.artv.art.br/informateca/escritos/televisao/teledrama.htm )

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