sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em 2011, o melão preferiu...


Ø  HORÁRIO ENCANTADO




ü  O horário das seis trouxe duas excelentes novelas. A primeira delas, “Cordel Encantado”, foi um sopro de criatividade ao unir, de forma genial, dois universos aparentemente distintos: o cangaço do sertão e a corte europeia. As autoras Duca Rachid e Thelma Guedes construíram um conto de fadas romântico, mas ao mesmo tempo irreverente e sedutor, com a cara do Brasil. Com elenco afiadíssimo e direção primorosa, o resultado não podia ser outro: a novela caiu nas graças do público e deixou saudades.



ü  Depois do desbunde visual e criativo de “Cordel Encantado”, veio “A vida da gente”, da estreante Lícia Manzo com a difícil missão de manter o sucesso de sua antecessora e conseguiu. Ao contrário da despretensão de “Cordel Encantado”, o que temos visto é um novelão dos bons, sério, denso, incomum para o horário, digno de novela do horário nobre. A trama adulta e a ausência de núcleos cômicos e vilões caricatos, tão típicos do horário, não foram empecilhos para que a novela caísse no gosto popular. Com um texto primoroso, uma trama apaixonante e um trio de excelentes jovens protagonistas que vem dando um show a cada capítulo, a novela vem ganhando elogios desde sua estreia. Destaque também para as irrepreensíveis atuações de Ana Beatriz Nogueira, Gisele Froes e Nicete Bruno. Enfim, uma novela que não menospreza a inteligência do espectador e surpreende a casa capítulo, fugindo do maniqueísmo e de soluções fáceis ao contar a trama do jovem dividido entre duas irmãs. Dá gosto de ver.


Ø  AGORA É QUE SÃO ELES, OS VILÕES

Gabriel Braga Nunes, que deu vida ao maquiavélico Léo de "Insensato Coração"

Pedindo licença pra usar o título do blog amigo, mas em matéria de vilania, esse ano foi dos homens. Em “O astro”, tivemos atuações magistrais de Marco Ricca e Humberto Martins, que como Samir e Neco, fizeram de tudo para infernizar a vida de Herculano Quintanilha, mas que divertiu o público com altas doses de ironia e sarcasmo; em “Fina Estampa”, Alexandre Nero chega a dar raiva de tão asqueroso é seu Baltazar; e em “Insensato Coração”, Gabriel Braga Nunes simplesmente arrasou como o charmoso, cínico e dissimulado Léo, um personagem cheio de nuances que o ator soube defender de forma genial.

Ø  RAINHAS DO DRAMA



ü  Se por outro lado, os homens arrasaram na vilania, as mulheres arrasaram no quesito “drama”. Intensas, apaixonadas, loucas... elas ultrapassaram o limite do bem e do mal e se mostraram assustadoramente humanas e ricas dramaturgicamente. E nesse carrossel de emoções, ninguém superou Clô Hayalla. Passional ao extremo, Clô Hayalla mudava de temperamento de acordo com seu penteado e só mesmo uma atriz com o talento “monstro” de Regina Duarte seria capaz de interpretá-la. Inteligentíssima, La Duarte imprimiu uma marca tão forte que não conseguimos imaginar outra Clô se não a dela. Na contramão dessas emoções, Rosamaria Murtinho fez um contraponto perfeito com Regina e, dentro da contenção de gestos e sentimentos da sofrida Tia Magda, a atriz foi absolutamente soberba, emocionando o público com uma precisão milimétrica. As sequências finais de sua personagem conseguiram arrancar lágrimas de todos, não só pela bela maneira com a qual interpretou o texto, mas também pela coragem de se mostrar de cara limpa. Foi, sem dúvida, o melhor papel de Rosamaria em anos.



ü  Também não posso deixar de mencionar as incríveis atuações de Cássia Kis Magro, que fez de sua mãe coragem a razão de ser de “Morde &Assopra”, comédia das sete em que, ironicamente, o drama roubou todas as cenas.



ü  E o que dizer do “Insensato Coração” de Norma (Gloria Pires)? Para muitos, o grande motivo para se assistir à novela. Uma personagem que foi sendo construída no decorrer da novela com maestria pelos autores e que propiciou mais um show de interpretação de Gloria Pires. Mesmo com atitudes pra lá de questionáveis, o público se apaixonou por Norma e torceu por ela até o fim. Nem santa, nem megera, mas sim uma vítima das circunstâncias. Uma das cenas que mais definiu a enorme dimensão humana da personagem foi a da morte de Teodoro (Tarcisio Meira), quando Norma se arrepende do que fez e chora desesperada no leito de morte do marido. O desfecho trágico de Norma era inevitável, mas mesmo assim Norma conseguiu se vingar de Léo (Gabriel Braga Nunes), seu grande objetivo na trama. Mais um grande momento de Gloria Pires, colecionadora de inesquecíveis personagens em nossa tevê.

ü  E por fim, um duelo de peso em “A vida da gente”, entre duas mulheres fortes, dominadoras, determinadas e, por vezes, muito cruéis: Eva e Vitória, vividas respectivamente por Ana Beatriz Nogueira e Gisele Fróes. E aqui também há um contraponto interessante, pois enquanto a loucura e a obsessão de uma é totalmente motivada pelo amor, a outra age com uma frieza e aparente total ausência de sentimentos. Personagens complexos defendidos com garra por duas grandes atrizes.

Ø  LILIA, A CAMALEÔNICA


Já virou praxe por aqui destacar o talento de Lilia Cabral. Quem diria que a romântica e feminina Mercedes da série “Divã” e a masculinizada e lutadora Griselda de “Fina Estampa” podem ser vividas por uma mesma atriz? Pois Lília é dessas atrizes raras, que transitam em qualquer universo e desempenham lindamente papéis diametralmente opostos. E depois de quase três décadas de carreira televisiva e ótimos serviços prestados, Lilia finalmente chegou ao patamar que merece: o posto de protagonista absoluta do horário nobre. E isso é motivo o suficiente para comemorar. Que venham muitas outras heroínas. E viva o talento reconhecido!



Ø  HUMOR EM DOSE DUPLA



ü  No quesito humor, parece que esse foi o ano das duplas. Destaco, pelo menos, três, que me divertiram bastante no decorrer do ano. Janete e Valéria, vividas pelos impagáveis e talentosíssimos amigos Thalita Carauta e Rodrigo Sant’anna, donos absolutos da cena do “Zorra Total”, que conseguiram a proeza de despertar gargalhadas gerais, das classes A a E, não tem quem não tenha rido e admirado essa dupla em 2011. Sei que é só o começo, pois talento os dois têm de sobra.



ü  Outra dupla que me divertiu demais até antes de entrarem em cena (porque quando lia os capítulos, já os imaginava encenando e ria sozinho aqui em casa) foram os divertidíssimos Cleiton e Pablo, vividos pelos queridos Frank Menezes e Pablo Sanábio, que fizeram misérias no salão “Penha Fashion” e sempre quebravam o constante clima de tensão de “O astro”. A cada aparição da dupla, uma enxurrada de elogios no Twitter. Juntos ou separados, espero ainda rir e me emocionar com os dois por muitos e muitos anos.



ü  Por fim, Sueli (Andrea Beltrão) e Fátima (Fernanda Torres) abusaram do humor popular de “Tapas e Beijos” e conquistaram o público. O talento dessas duas não é novidade pra ninguém, mas vamos combinar que juntas foram sensacionais, sobretudo La Beltrão, que foi além da graça e soube humanizar Sueli na dose certa, fazendo com que todos torcessem por ela. Grande atriz de múltiplos recursos. E que venha a segunda temporada.

Ø  E O PRÊMIO “COMO NÃO AMAR?” VAI PARA...



A impagável Tia Neném, vivida por Ana Lúcia Torre? Escalada apenas para a primeira parte de “Insensato Coração”, a personagem caiu nas graças do público e seguiu até o fim. Fofoqueira, interesseira, maldosa, hipocondríaca e dissimulada, Tia Neném praticava pequenas maldades em proveito próprio. Uma intriguinha aqui, outra ali e pronto: o circo já pegava fogo e ela assistia a tudo de camarote. A mais completa tradução do ditado “parente é serpente”. Quem não tem ou não conhece uma tia Neném?

Ø  HOT, HOT, HOT...



Nesse quesito, sorry, não tem pra ninguém: só deu “O astro”, que trouxe de volta as cenas quentes que estavámos acostumados a ver nas novelas nos ótimos tempos pré-politicamente corretos. É fato que chocou alguns adolescentes caretas que não foram acostumados a isso (esses moços, pobres moços...), mas que agradou a maioria e matou a saudade dos tempos em que as novelas tinham mais liberdade. Vários casais protagonizaram ótimas cenas como as fantasias sexuais de Neco e Beatriz (Humberto Martins e Guilhermina Guinle); o tigrão Samir e sua coelhinha Valéria (Marco Ricca e o furacão Ellen Rocche) e o amor por muitas vezes voraz e desesperado de Márcio e Lili (Thiago Fragoso e Alinne Moraes). Mas nenhum casal mexeu tanto com nossos hormônios como Herculano e Amanda (Rodrigo Lombardi e Carolina Ferraz). Há tempos não tínhamos um casal protagonista com uma química tão forte, que já se manifestava no olhar. E foram tantas cenas fantásticas ao som de “Easy”, que vai ser impossível ouvir a canção sem se lembrar dos dois.

Ø  VALE A PENA VER E REVER DE NOVO

E no campo das reprises, o Canal Viva continua reinando absoluto. Um prazer ímpar rever minisséries de minha memória afetiva como “Anos Dourados” e “Anos Rebeldes” e também que ainda faziam parte de minha memória recente como “Labirinto”. O fenômeno “Vale Tudo” deu lugar a “Roque Santeiro” sem a mesma força, mas com grande entusiasmo. Foi bom também rever “Vamp” e, mesmo constatando que a novela ficou datada e que a trama não era tão boa assim, é sempre divertido revisitar o passado e relembrar uma novela que conquistou pelo inusitado. E pra melhorar, ainda reprisam “Top Model”, essa sim com uma trama maravilhosa e envolvente até hoje (o bom e velho melodrama é mesmo a base de tudo). E que maravilha ver Malu Mader no auge da beleza, Maria Zilda com seu habitual tipo femme fatale e Zezé Polessa como uma espécie de Zelda Scott balzaquiana. E o melhor elenco adolescente que uma novela já teve com destaque para Gabriela Duarte, Carol machado, Rodrigo Penna, Marcelo Faria e Adriana Esteves no auge da puberdade. Estou voltando no tempo, meus pelos pubianos até estão crescendo novamente... (risos).

Ø  ENQUANTO ISSO, NA TV FECHADA...



Não perco um episódio de “Oscar Freire 279”, o endereço mais bafônico de Sampa. A série do Multishow, escrita por Antonia Pellegrino e Julia Spadaccini, dirigida por Márcia Faria, consegue driblar o baixo orçamento e garantir ótimos momentos, fugindo de clichês ao contar a história de Dora (a ótima Livia de Bueno), jovem arquiteta que vai pra São Paulo se tornar florista e acaba virando garota de programa. Sem julgar e nem fazer apologia, a série se passa quase que inteiramente em um único cenário, onde se desenrolam os dramas dos personagens e cenas pra lá de calientes. Destaque para Maria Ribeiro, ótima como a garota de programa experiente, espécie de mentora de Dora e, nos episódios mais recentes, quem brilhou foi a excelente Carla Ribas, no papel de Cíntia, mãe de Dora, uma espécie de “desperate housewife” que se redescobre no endereço em questão. A série continua em 2012 e a julgar pelos ótimos ganchos que fecham cada episódio, ainda promete muitos acontecimentos surpreendentes.

Ø  MINHA PEDRA É AMETISTA!


    Por motivos óbvios, sei que sou totalmente parcial sempre que falo de “O astro”, mas como esse blog é subjetivo mesmo e também não estou sozinho nos elogios, me sinto mais que à vontade para destacar esse projeto, que é mais do que especial em minha vida. Além de colaborador, também fui, de certa forma, espectador, pois sempre que recebia a escaleta ou o capítulo pronto dos autores, vibrava com cada cena, com cada gancho e, como qualquer telespectador, ficava ansioso pelos próximos acontecimentos. A novela das onze trouxe de volta o bom e velho gancho, imprimiu um novo ritmo (que causou certa estranheza), mas manteve o texto no melhor estilo folhetinesco e melodramático. Os autores, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, foram absolutamente fiéis ao estilo apaixonado e apaixonante da mestra Janete Clair e tenho certeza de que, mesmo se não estivesse envolvido no projeto, seria um espectador fervoroso. Seria deselegante destacar alguma atuação do elenco e também injusto, pois todos estiveram ótimos. Por isso, destaco três cenas que me levaram às lágrimas: imagens da maravilhosa Dina Sfat, a Amanda da versão original, quando Ferragus (Francisco Cuoco) se lembra de um grande amor do passado, o velório de Natal (Antonio Calloni) e a morte de Jôse (Fernanda Rodrigues). Pra mim, três momentos, dentre tantos inesquecíveis, que merecem entrar para a antologia das grandes cenas das telenovelas de todos os tempos. Já estou morrendo de saudades e, para sempre, minha pedra será ametista!

Jôse (Fernanda Rodrigues) no leito de morte: emoção à flor da pele.


O velório de Natal emocionou o público e o elenco

___________

Agora, o melão quer saber? O que vocês preferiram em 2011?

_______

Leia também:

Em 2009, eu preferi....






quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Especial 60 anos de Telenovela – minha cena favorita


Jamais vou ter a pretensão de elencar as melhores e mais marcantes cenas de todos os tempos de nossa teledramaturgia, afinal, desses 60 anos, devo ter vivenciado, no máximo, 30. Por isso vou escolher a minha cena favorita, que serve pra simbolizar todas as outras tantas e tantas cenas maravilhosas e antológicas que nos fizeram rir, chorar, vibrar, se emocionar. Mensurar a importância da telenovela na vida do brasileiro também é algo quase impossível, visto que ela está tão entranhada em nossa cultura que não conseguimos imaginar tevê sem novela. E foram tantos os astros, estrelas, autores, diretores e demais profissionais que construíram essa história, que também seria injusto mencionar esse ou aquele.



Portanto, minha cena favorita é altamente subjetiva e o principal motivo que fazem dela minha preferida é que ela é muito completa sob todos os pontos de vista. Na verdade, nem é uma cena e sim, uma sequência de cenas: A CHEGADA DE TIETA EM SANTANA DO AGRESTE em “Tieta”, novela de 1989, de Aguinaldo Silva em coautoria com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretsohn que guardo com carinho na parte mais preciosa de meu baú afetivo de recordações.

Gosto muito da sequência porque ela carrega vários elementos que uma boa telenovela deve ter: trilha sonora emocionante, belas paisagens, um quê de mistério, apresenta lindamente a protagonista, é emocionante, é engraçada, quase todo o elenco participa e, basta assistir a essa cena para se ter uma ideia bem clara do que é a novela, ou seja, Aguinaldo Silva foi absolutamente certeiro e genial em seu poder de síntese. Não conheço outra sequência de cenas que sintetize uma trama de forma tão perfeita.



Então vamos a ela. Tieta (eterna Betty Faria) chega triunfante na cidadezinha em seu carrão vermelho conversível. Ainda não vemos seu rosto. Enquanto ela chega, vai relembrando os momentos que viveu por ali. Ao som de “Coração do Agreste”, na voz e interpretação emocionante de Fafá de Belém, são inseridas cenas de Tieta quando jovem, vivida por Claudia Ohana. Quando enfim o carro chega na praça, vemos que a Tieta agora é Betty Faria e traz consigo Lídia Brondi a chamando de “mãezinha”. Após isso, vemos um momento hilário com o mendigo Bafo de Bode (um impagável Bemvindo Sequeira), que se impressiona com a voluptuosidade do derriére da moça, manda a antológica frase: “isso não é mulher, é uma plantação inteirinha de xibiu”. Mal sabe Tieta que toda a população está naquele momento celebrando a missa de sétimo dia de sua morte. E ao entrar de forma esfuziante igreja adentro é reconhecida apenas por sua madrasta Tonha (Yoná Magalhães), que explode em emoção. E aos poucos os personagens vão sendo apresentados a Tieta e a todo o público, inclusive a vilã Perpétua (Joana Fomm) e todo o seu cinismo e dissimulação. Enfim, o circo está armado. A partir dessa cena, teremos pela frente uma novela deliciosamente irreverente, emocionante, engraçada e sensual.  

Com essa sequência de cenas, melão celebra os 60 anos da teledramaturgia e parabeniza a todos nós por esse produto genuinamente brasileiro que criamos e que nos faz sonhar por noites e noite a fio. Brindemos!



E vocês? Sei que é difícil, mas qual é sua cena favorita desses 60 anos?

domingo, 18 de dezembro de 2011

Melão entrevista BEL KUTNER: “Nunca me imaginei fazendo um papel que minha mãe fez”.




Costumo dizer que tive muita sorte logo em meu primeiro trabalho como roteirista de tevê: “O astro” foi um sucesso por inúmeros motivos. Orgulhosamente, o melão entrevista um desses motivos. De que adiantaria um bom texto sem um ator inteligente e talentoso para interpretá-lo? Esses predicados, Bel Kutner tem de sobra. Ela soube dar à obsessiva secretária Sílvia uma dimensão humana incrível e formou com o igualmente talentoso Tato Gabus uma dupla deliciosa.

Além do talento e da inteligência cênica, Bel é dona de uma simpatia contagiante e de um humor delicioso. Filha da lendária Dina Sfat e do talentosíssimo Paulo José, Bel possui brilho próprio e garante que nunca pensou em interpretar um personagem vivido pela mãe. Ótimo papo, Bel nos concedeu uma deliciosa entrevista, falando de seu processo criativo, de sua estreia em novelas em “Vamp” e do prazer de trabalhar em família. Para essa entrevista contei com a colaboração de leitores mais que especiais e da fofa Fernandinha Rodrigues, em participação afetiva. A vocês, meu muito obrigado e, sem mais delongas, passo a palavra para a queridíssima Bel Kutner.

O que representou para você participar da nova versão de “O astro”? Você tem lembranças da primeira versão estrelada por sua mãe, Dina Sfat?
BEL KUTNERPrimeiro, "O astro" foi um trabalho importantíssimo pra mim. Acho que, por estar mais madura, ter uma visão mais aberta da minha profissão, pude brincar muito com a Sílvia, personagem cheio de cores, como muitos dos personagens da trama. Essa foi uma novela/série, onde a história fluiu muito rápido, sem maniqueísmo e com muita intensidade. Acho que Janete ficaria orgulhosa e minha mãe também!

Bel em cena de "O astro" (2011) como a obsessiva Sílvia

Ter nascido em uma família de atores com certeza a influenciou a seguir a carreira de atriz. Chegou a pensar em ter outra profissão?
BEL KUTNER - É claro que ser de uma família artística me colocou nessa vida. Se eu fosse filha do Jacques Cousteau eu faria Oceanografia ou Biologia Marinha... e seria feliz. Se o meu talento é genético ou é fruto do treino tanto faz. Só sei que amo esse ofício de atriz. Como cresci indo pra fazenda dos meus avós no Rio Grande do Sul, eu sonhava estudar Agronomia, Zootecnia ou Veterinária. Na verdade, mesmo indo pouco agora, penso naquele lugar como um paraíso, um plano B.

Bel ao lado do pai, o ator e diretor Paulo José

Como foi trabalhar no espetáculo “Histórias de amor líquido” ao lado do pai, Paulo José, e da irmã, Ana Kutner? Acredita que o espetáculo, que abordou a questão da efemeridade nas relações amorosas, caberia em um formato televisivo?
BEL KUTNER - A peça "Histórias de amor líquido" foi um projeto super familiar e uma delícia de fazer. Com certeza é um tema que serve tanto pra teatro como pra tv ou cinema: o transitório das relações humanas.

Bel com o elenco do espetáculo "Histórias do amor líquido"
Você é noveleira? Se sim, quais suas favoritas? Quem são os seus ídolos?
BEL KUTNER - Minhas novelas favoritas são: Saramandaia, Vamp, A Favorita, Ti Ti Ti, Feijão Maravilha, Guerra dos Sexos... Ai, são tantas...


Perguntas dos leitores:

Geralmente, o ator recebe o personagem com suas características principais na sinopse, seja de uma telenovela, peça ou filme. O que você, enquanto atriz leva para seus personagens, o que você acrescenta? Segue alguma linha de interpretação, algum método? Qual a sua contribuição criativa para seus personagens? (Ivan Gomes / SP – pesquisador musical e um dos idealizadores do blog “Agora é que são eles”)
BEL KUTNER - Ivan, claro que levo minha interpretação com o meu jeito, meu gosto para os trabalhos que faço. Quanto ao método depende muito do projeto e da direção. Na tv dificilmente vou pronta de casa...

No começo da carreira, como você lidava com a avaliação do público e da crítica? (Evana Ribeiro / Recife PE – criadora do blog “Roteirizando)
BEL KUTNER - Evana, quanto à crítica, continuo lidando da mesma forma de sempre, isto é, depende de quem critica. Sinceramente, em teatro isso é mais assustador, porque a gente fica mais exposto, mas numa novela não dá pra tentar agradar todo mundo. Aliás, agradar não é o único objetivo, mas também se arriscar, experimentar coisas novas.

Bel, já teve vontade de interpretar algum personagem vivido por Dina Sfat? (José Marques Neto / RJ - criador do canal “MOFO TV”)
BEL KUTNER - José, minha mãe fez muitos personagens incríveis e fez um estilo na tv. Nunca me imaginei fazendo um papel que ela fez. Seria engraçado, até pela semelhança física. Talvez ficasse meio bizarro, não é?

Bel Kutner e sua mãe, Dina Sfat.




Dina Sfat tricotando com Falabella ao lado das filhas Bel e Ana 
vídeo capturado por José Marques Neto - Mofo TV

A classificação indicativa tem funcionado como uma censura dentro da televisão. Qual é a sua posição sobre o tema e como a classe artística pode trabalhar para defender a liberdade de criação dentro da teledramaturgia? (Walter de Azevedo / SP - criador do blog “Tocou na Novela”)
BEL KUTNER - Censura é sempre um tema complicado. Claro que quero ter total liberdade de expressão, mas certos assuntos e cenas violentas não combinam com crianças. A indicação etária acho salutar. Censura, não. E com a internet, às vezes fico com meu filho vendo vídeos infantis, de repente aparecem coisas grotescas que nem eu gostaria de assistir.

Bel, sou muito sua fã! Amei estar com você depois de 20 anos! Você tem saudade de “Vamp”? Era divertido, né? (Fernanda Rodrigues – atriz)
BEL KUTNER - Fernandinha, minha irmã caçula! Amei te reencontrar, adoro seu trabalho e quero sua filhinha emprestada! Beijo!!!!

Bel e Fernanda Rodrigues, juntas em "Vamp" (1991)

Você conseguiu acompanhar a reprise de “Vamp” que está rolando no Canal Viva? Quais as melhores lembranças? Falando em reprises, há algum trabalho que você gostaria de rever? (Wesley Vieira / Conselheiro Lafaiete MG – Jornalista e criador do blog “E eu não sei?”).
BEL KUTNER - Wesley, tô vendo Vamp sim, quando consigo. Muito divertido. Mas não fico muito aficcionada em rever meus trabalhos. Tenho alguma coisa gravada. Tem o youtube, graças à Deus!

Bel em cena de "Vamp"

Sua ultima personagem, a Silvia em “O astro”, nutria um amor doentio por Amin (Tato Gabus) e quando rejeitada uma vez chegou ao ponto de tentar suicídio. De onde veio a sua inspiração para viver essa personagem tão intensa? (Danielle Ornelas / MG – Estudante de Biologia)
BEL KUTNER - Silvia era uma apaixonada, louca pelo amante. As cenas já traziam toda a intensidade, era só deixar fluir...  Adorava gravar no escritório do grupo Hayalla, me sentia em "Mad men", serie americana que se passa nos anos 50/60 (pra você ver como a cabeça da gente viaja...).

Tato Gabus e Bel Kutner em cena de "O astro" (2011)
Além de grande ator, seu pai, Paulo José, também é diretor e foi um dos responsáveis pelo êxito de "O Tempo e o Vento", um clássico da TV brasileira. Tem interesse em se aventurar por outras áreas? (Wesley Vieira / Conselheiro Lafaiete MG – Jornalista e criador do blog “E eu não sei?”)
BEL KUTNER - Fui assistente do meu pai em vários trabalho em teatro, até publicidade nós o acompanhávamos. Ele é um craque. Graças a isso, já me aventurei em direção de teatro e foi muito bom. Tenho outros projetos pro futuro.

Bel, querida, gostaria de manifestar publicamente o grande prazer que foi trabalhar com você em “O astro”. Foi um verdadeiro deleite conferir diariamente seu talento, inteligência cênica e o modo como você compreendia e valorizava o texto. Pra mim, que já era seu fã desde “Vamp” foi uma verdadeira realização! Parabéns, obrigado por tudo e espero nos encontrarmos em breve! Beijos mil! Vitor
BEL KUTNER - Vitor, até já! Vamos inventar uma moda nossa. Beijos, Bel.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

ROTEIRISTA CONVIDADO: WALTER AZEVEDO E UMA CENA PRA LÁ DE SOMBRIA


Depois da feliz estreia com meu querido Wesley Vieira e seu impagável “Pega Rapaz” (leia aqui), melão bate a claquete para o segundo ato da seção “Roteirista convidado” e abre alas para outro queridão: Walter de Azevedo. Quem o acompanha pelo Twitter (@walterdeazevedo) já conhece o humor delicioso, o raciocínio sagaz e a inteligência do moço. Sim, Walter tem conteúdo, que também podemos comprovar por meio de seus dois blogs, “Histórias de Tatu” e “Tocou na novela”.

Agora, convido a todos a conhecer o lado criativo e autoral de Walter, que é um roteirista nato. Pude comprovar isso quando li pela primeira vez um capítulo do remake de “Fogo sobre Terra” que ele criou. Fiquei impressionado pela qualidade e pela capacidade de nos envolver e nos transportar diretamente para a história. Além do talento para a escrita, Walter possui outro ponto a seu favor: é apaixonado por teledramaturgia. É disso que a televisão precisa: apostar em profissionais apaixonados por ela. Alô, emissoras! Enquanto sua oportunidade não vem, vamos nos deleitar com uma prévia de “Sombra”, em que Walter nos apresenta uma protagonista atormentada em um cenário pra lá de suspeito. Garanro que, quem ler vai ter aquele gostinho de quero mais. Walter, querido, obrigado pela confiança e... luz, câmera, ação!

SOMBRA cap.01

Primeiro capítulo da história. praticamente a apresentação da personagem central, valéria, jovem de aproximadamente dezessete anos. entrou no bar corrida, fugindo de alguma coisa. foi ao banheiro, teve a impressão de que havia alguém a espionando lá dentro e voltou rápido para o bar. o lugar é decadente, no centro de são paulo, próximo à cracolândia.

CENA 05. BAR. INT. NOITE

VALÉRIA volta do banheiro e se senta em um dos bancos do balcão.
VALÉRIA             — Tequila.
BALCONISTA     — Tem idade pra isso?
VALÉRIA             — Tá de zoação comigo, né? Vai dizer que nesse muquifo aqui vocês pedem identidade?
BALCONISTA     — Calma, moça. Tô fazendo o meu trabalho.
VALÉRIA             — Então me serve.
Enquanto o BALCONISTA vai apanhar a bebida, VALÉRIA fica olhando em torno e, principalmente, para a porta. BALCONISTA coloca a tequila no balcão.
BALCONISTA     — Tá fugindo de alguém?
VALÉRIA             — Cara, tu é muito chato. E se estiver?
BALCONISTA     — Falou!
O BALCONISTA volta a fazer seu trabalho. VALÉRIA bebe a tequila. Olha para o BALCONISTA e se arrepende por ter sido grossa.
VALÉRIA               — Colega.
O BALCONISTA olha para VALÉRIA.
VALÉRIA               — Desculpa. O dia não tá fácil.
BALCONISTA       — Relaxa. Tô acostumado.
VALÉRIA               — Me vê mais uma.
O BALCONISTA enche o copo de VALÉRIA.
BALCONISTA       — Como você disse, não tenho nada com a sua vida, mas esse lugar não é meio barra pesada? Uma menina assim com a sua cara devia estar nos Jardins.
VALÉRIA sorri nervosa.
VALÉRIA               — Cara, se eu tivesse opção, garanto que não estaria aqui. (p) Mas pode acreditar que, nesse momento, isso é o paraíso pra mim.
BALCONISTA       — Então a coisa tá feia.
VALÉRIA               — Você não imagina o quanto.
BALCONISTA       — Posso ajudar? (p) Tô falando de boa mesmo. Você parece ser uma menina legal e... que tá precisando de uma força.
VALÉRIA               — Eu agradeço, mas nem tem como. (p) Sabe quando você nem sabe como se mete numa história e depois não consegue sair?
BALCONISTA       — Tem polícia no meio? Droga? Pode falar porque você já reparou que isso não é novidade aqui na vizinhança.
VALÉRIA               — Não, não tem polícia. Pelo menos não até agora. Droga? Às vezes eu acho que sim, outras eu acho que não.
BALCONISTA       — Meio confuso.
VALÉRIA tira o frasco de remédio da bolsa e coloca sobre o balcão.
VALÉRIA               — Entra no quesito droga?
O BALCONISTA apanha o frasco e lê.
BALCONISTA       — Haloperidol? Pra que serve essa porra?
VALÉRIA               — Pra gente doida.
VALÉRIA apanha o frasco e torna a guardar na bolsa.
BALCONISTA       — E você é doida?
VALÉRIA               — Olha pra minha cara, olha o lugar que eu tô e me responde.
BALCONISTA       — Você é doida.
VALÉRIA               — Cara esperto.
A CAM mostra VALÉRIA com a porta do bar aos fundos. Uma figura não muito bem definida está parada lá. Parece um homem, mas a imagem desfocada não revela. VALÉRIA percebe alguém atrás dela e se volta bruscamente. Quando olha, a pessoa não está mais lá. Os poucos frequentadores do bar se voltam assustados para ela.
BALCONISTA       — O que foi?
VALÉRIA               — (Assustada) Ele tava ali na porta, não tava?
BALCONISTA       — Ele quem?
VALÉRIA               — Ele!! O... o cara. Tinha um cara ali, não tinha?
O BALCONISTA e os frequentadores se olham.
VALÉRIA               — (Nervosa) Vocês viram um homem ali, não viram??!!
BALCONISTA       — Menina, não tinha ninguém ali.
VALÉRIA               — Tinha! Claro que tinha!
VALÉRIA olha para os outros frequentadores, como se pedisse ajuda.
VALÉRIA               — Vocês...viram.
Todos em silêncio, constrangidos.
VALÉRIA               — (Assustada) Eu preciso ir embora!
VALÉRIA apanha a bolsa e se levanta para sair.
BALCONISTA       — Espera! Você não pode sair assim!
VALÉRIA               — Eu tenho que ir.
VALÉRIA apanha algum dinheiro na bolsa, coloca no balcão e sai. O BALCONISTA apanha e depois vai até o telefone.

CORTA PARA
_____

Walter e eu sassaricando na porta da Colombo. 

LEIA TAMBÉM: 

Blogueiro convidado: Walter de Azevedo relembra o remake de Selva de Pedra.



sábado, 10 de dezembro de 2011

Série Memória Afetiva: AS EMPREGADAS FAVORITAS DA FICÇÃO.





Para marcar a estreia do novo banner do melão, decidimos homenagear essas lindas. Elas não podem faltar em qualquer novela. Podem tanto ser a razão de ser produções em “Sem lenço sem documento” (1977), de Mario Prata e em breve em “Marias do Lar”, próxima novela das sete, quanto entrarem mudas e saírem caladas. As mais falantes e participativas, sem dúvida, são as das novelas de Manoel Carlos. Podem ser cômicas, trágicas, bandidas, amigas, sérias, boazudas... o fato é que são indispensáveis. E como são muitas (lógico que muitas injustiças serão cometidas nesse post), resolvi dividir a autoria da lista com meu amigo Eddy Fernandes, parceiro antigo do melão, já que a ideia foi dele. Pedi para que ele escolhesse 5 de suas favoritas e depois complementei com as minhas 5. Vamos a elas?


AS PREFERIDAS DO EDDY



CONCEIÇÃO (MARIA ALVES) em Baila Comigo (1981): 



Impossível deixar de mencionar a primeira das adoráveis domésticas de Manoel Carlos. Como todas as suas sucessoras, Conceição estava sempre disposta a ajudar. Era confidente, conciliadora, amiga. O verdadeiro anjo da guarda da sofrida protagonista Helena (Lílian Lemmertz). A verdade é que muito do mérito da personagem se deve à sensível interpretação da saudosa Maria Alves, que impôs à Conceição um jeito meigo e divertido. Daquela pessoa que está na família há tantos anos que já se tornou parte de casa.


TELEVINA (KLEBER MACEDO) em A Gata Comeu (1985):


A musa de nós, noveleiros! Sem dúvida alguma, Televina formou o caráter da maioria! Lembro que quando assisti a reprise da novela em 2001, me senti absolutamente encantado com a presença de uma personagem viciada em novelas. Tinha pouco mais de nove anos de idade e aquilo era algo absolutamente novo para mim. Só pude ter a exata dimensão da personagem no início do ano, vendo a novela numa espécie de “Vale a Pena Ver de Novo” particular... rs! Televina não era mera ilustração. Tinha importância capital na vida dos patrões, os atores Rafael (Eduardo Tornaghi) e Tony (Roberto Pirillo). Era uma espécie de “mãe” para os dois rapazes. Além de, é claro, prestar uma homenagem ao folhetim eletrônico a cada capítulo com suas referências saborosas. Grande sacada da mestra Ivani Ribeiro, flertando com a metalinguagem.


GERMANA (ARACY BALABANIAN) em Da Cor do Pecado (2004): 


A fiel funcionária dos Lambertini era um “cão de guarda” sempre disposto a defender o patriarca Afonso (Lima Duarte) das armações da perigosa Bárbara (Giovana Antonelli). Apaixonada secretamente pelo patrão, Germana criou Paco (Reynaldo Gianechinni) como filho e foi cúmplice de Afonso na trama que separou o problemático herdeiro de seu irmão gêmeo, o irreverente Apolo, e de sua mãe biológica, a Mamuska Edilásia. Apesar das atitudes questionáveis do passado, Germana era uma figura doce e sensata. Sua afetividade é premiada antes do término da trama, quando finalmente realiza sua paixão por Afonso, casando-se com ele. A felicidade, no entanto, dura pouco, pois o empresário é assassinado pelo terrível vilão Tony (Guilherme Weber). A governanta, mesmo destroçada, não se abala, por ter a noção que é o grande estertor emocional daquela família. Grande personagem escrito por João Emanuel Carneiro, brilhantemente defendido pela nossa eterna dona Armênia.

SHEILA (PRISCILA MARINHO) em Caminho das Índias (2009): 

A espevitada personagem era a maior fã da patroa, a surtada socialite Melissa Cadore (Christiane Torloni) e sua maior cúmplice nos delírios e ataques de consumismo. Sheila esteve também muito presente durante o processo de avanço da esquizofrenia de Tarso (Bruno Gagliasso), o filho “perfeito” de Melissa. Apesar da tinta cômica, a autora Glória Perez soube manejar a doméstica inteligentemente, usando-a como “orelha” da fútil matriarca, que expunha finalmente um lado mais humano e menos plastificado. Ótima estréia de Priscila Marinho.




CLEONICE (VERA MANCINI) em Morde & Assopra (2011): 


A boquirrota serviçal passou grande parte dos capítulos sendo humilhada pela esnobe patroa Salomé (Jandira Martini) e sua filha, a vilãzinha Celeste (Vanessa Giácomo). Cleonice era uma verdadeira escrava. Lavava, cozinhava e ainda agüentava desaforos. É certo que, bastante linguaruda, sempre metia o nariz onde não era chamada. E mantinha uma relação de implicância velada com a avarenta Salomé. Mas uma jogada perspicaz do autor Walcyr Carrasco, levou Cleonice à forra. Ainda no meio da trama, Salomé, para não ter que decretar falência, se viu obrigada a transferir seus bens para a doméstica, acreditando que ela, ingênua, não lhe oferecia risco. Ledo engano. Influenciada por Élcio/Elaine (Otaviano Costa), Cleonice tomou um banho de loja e proporcionando a catarse dos espectadores, transformou sua algoz em empregada, fazendo-a sofrer as mesmas humilhações que lhe impunha. Não preciso nem dizer o quanto foi divertido acompanhar isso... rs! Vera e Jandira deitaram e rolaram em cenas hilárias.

AS PREFERIDAS DO VITOR



ZILDA (THALMA DE FREITAS) E LÍDIA (THALITA CARAUTA), de Laços de Família (2000) e Páginas da Vida (2006):

Empate técnico. Duas adoráveis representantes da nobre linhagem de empregadas de Manoel Carlos. Lídia e seu indefectível “Ô Donelena”, vivida pela talentosa Thalma de Freitas era adorável: companheira, conselheira e fidelíssima à patroa, segurava todas as ondas da casa, apagava os incêndios e mediava os conflitos entre Helena (Vera Fischer) e a filha Camila (Carolina Dieckmann) e desta última com a endiabrada Íris (Debora Secco). Tudo com muito dengo, doçura e um irresistível sotaque baiano.


Já Lídia (Thalita Carauta, muito anterior à babuína Janete do “Zorra Total”), conquistou o público pela desenvoltura e pelo carinho com o qual cuidava de Clarinha (Joana Mocarzel), filha da patroa Helena (Regina Duarte), portadora de Síndrome de Down. Em sua primeira novela, Thalita já demonstrava uma naturalidade impressionante e grande capacidade de improvisação, já que as cenas com Joana, muitas vezes, eram imprevisíveis. Atriz cômica de mão cheia, a personagem Lídia é uma prova da versatilidade de Thalita.



OLÍVIA (MARILU BUENO) em Guerra dos Sexos (1983)

Essa, literalmente, ficava no meio do fogo cruzado dos primos Charlô (Fernanda Montenegro) e Otávio (Paulo Autran). Claro que sobrou torta na cara pra coitada também. De personalidade reprimida, tinha momentos de lascívia ao pensar em Nando (Mario Gomes) e até chegou a trocar beijos com o galã. Muitos méritos para Marilu Bueno, que soube aproveitar a oportunidade e também se destacar em um núcleo repleto de grandes nomes. Impossível se lembrar da lendária novela sem incluir a atrapalhada Olívia.


LUCIMAR (MARIA GLADYS) em Vale Tudo (1988)

Outra que soube se destacar em meio a atuações titânicas. Como diarista, transitava em vários cenários e levava e trazia a fofoca entre eles. Seus comentários cheios de humor e ironia arrancavam gargalhadas do público. Sempre que cruzava com Fátima (Gloria Pires), a filha ingrata da patroa Raquel (Regina Duarte), lhe dizia poucas e boas. A coitada chegou a ficar entre a vida e a morte por causa de uma maionese envenenada, mas teve um final digno de estrela, ao se tornar milionária ganhando no jogo do bicho e se transformando numa espécie de Odete Roitman (Beatriz Segall) da classe C. Maria Gladys viveu outras empregadas e diversos tipos impagáveis, mas sua Lucimar se tornou emblemática na carreira da atriz.


MINA (ILVA NIÑO) em Roque Santeiro (1985)


Até hoje o grito tribal de Porcina (Regina Duarte), “Minaaaaaaaaa”, chamando pela serviçal, ecoa no imaginário do público. E como não amar essa criatura tão fiel, carinhosa e dedicada, apesar dos pontapés que levava da patroa? E se essa figura é vivida pela extraordinária Ilva Niño, o amor é elevado ao cubo. Mina talvez tenha sido a mais fiel e devotada das empregadas. Conhecia todos os segredos da patroa e a ajudava a se livrar das mais diversas enrascadas. E em determinados momentos, era a única a dizer verdades para Porcina de maneira hilária e sutil. Mina é um clássico que não pode faltar em qualquer lista.


NICE (GLORIA PIRES E SUSANA VIEIRA) em Anjo Mau (1976/1997)



A babá mais famosa do Brasil. Como vi pouquíssimas cenas da novela original de Cassiano Gabus Mendes de 1976, vou falar de mais uma atuação espetacular de Gloria Pires na nova versão da novela de 97. Insatisfeita com sua condição social e disposta a tudo para vencer na vida, Nice realizou várias armações para conquistar o coração do patrão Rodrigo (Kadu Moliterno), mas acaba se apaixonando de verdade por ele. Se na primeira versão, Nice não foi perdoada pelas suas artimanhas e foi punida pelo autor com a morte, na nova versão foi perdoada por Maria Adelaide Amaral, afinal não é crime algum uma pessoa querer um objetivo e lutar por ele. Na verdade, essa Nice começou a novela ambiciosa, mas foi se transformando, até se tornar boa e ética. Com isso, o posto de verdadeiro “anjo mau” da novela foi parar nas mãos da maquiavélica Paula (Alessandra Negrini em show de atuação). E a redenção de Nice vem acompanhada do amor de Rodrigo e do nascimento da filha do casal, Vitória. Susana Vieira fez uma participação afetiva no último capítulo como a babá substituta. Os tempos, de fato eram outros e a autora, sabiamente, soube acompanhar essa mudança.

MENÇÃO HONROSA: BÁRBARA (BETTY FARIA) em Duas Caras (2007/2008)

Mais do que uma empregada, Bárbara conhecia todos os segredos do patrão Marconi Ferraço (Dalton Vigh) e era a pessoa em que ele mais confiava na vida, sendo inclusive a responsável pela iniciação sexual do rapaz. Anos depois, permanecia cuidando de Ferraço como a mais fiel das gueixas e, quando foi ameaçada por Sílvia (Alinne Moraes), colocou a vilazinha em seu devido lugar, provando que antiguidade é posto. A cena em que Bárbara dá uma chave de braço em Sílvia, chamando-a de “diabinha” é uma das minhas favoritas da novela. Grande atuação de Betty em um papel aquém de seu talento. Vamos rever a cena?




_______

Sei que faltaram muitas e inesquecíveis representantes da classe. Por isso, o melão dá a palavra a vocês? Quais são suas domésticas favoritas da ficção?
  

Prefira também: