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sexta-feira, 12 de abril de 2013

De “Glee” a “Pé na Cova”, o melão também prefere séries



Elenco de "Pé na Cova" reunido

Não é novidade que, em se tratando de teledramaturgia, as telenovelas estão no topo de minha preferência. Mas também adoro séries e acompanho a sua evolução desde os tempos em que as tramas tinham início, meio e fim em cada episódio, até as mais atuais, que ganham cada vez mais ares de telenovela, com seus ganchos e tramas folhetinescas que se estendem por toda a temporada. Enquanto as séries, com seus episódios semanais e por seu formato compacto, permitem um trabalho de escrita mais cuidadoso e um tempo maior em sua elaboração, as novelas, geralmente, têm um processo diário, mais industrial, com prazos mais rígidos e envolvendo um número bem maior de ideias, tramas e profissionais. Por outro lado, as novelas, mesmo as com audiência insatisfatória nunca ficam sem desfecho. Novelas podem ser encurtadas pelo fracasso ou esticadas pelo sucesso, mas a legenda “fim” jamais aparece enquanto todas as tramas não estiverem concluídas ao passo que as séries, caso não correspondam ao sucesso esperado, são canceladas sem dó nem piedade deixando as tramas em aberto e espectadores órfãos, como foi o caso de “Pan Am”, cuja primeira temporada terminou sem desfecho algum, deixando todas as tramas no meio do caminho e o espectador a ver navios, digo, aviões. Por essas e outras razões, as telenovelas ainda são meu porto seguro, o que não me impede de ter minhas séries favoritas e vibrar com cada uma delas.

 Minha favorita de todos os tempos para sempre será “Sex and the City”, pela capacidade de, no decorrer da série, escapar dos quatro arquétipos femininos propostos e criar personagens tão ricos e multifacetados em episódios tão engraçados quanto envolventes. Sim, as quatro meninas de Manhattan habitarão para sempre em meu coração. Mas minhas preferências também passam por “Downton Abbey”, um verdadeiro novelão, e por “Mad Men”, pela perfeita reconstituição de uma época que adoro, pelo subtexto sempre presente e pela total quebra de expectativa a cada episódio. Mas no momento, tenho apreciado as séries mais transgressoras, que rompem com paradigmas ou ousam de alguma forma como “Girls”, “Pé na Cova” e (acredite!), “Glee”.

Lena Dunham em cena de "Girls"
Confesso que gostei mais da primeira temporada de “Girls”, que já ganhou um post aqui no blog. Nessa segunda, a decadence das meninas ficou um pouco mais deselegante. O texto continua genial e as atuações idem. Admiro a coragem e a ousadia de Lena Dunham (criadora, autora, produtora, diretora e atriz da série) ao expor seu corpo fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade em cenas fortes, mas nem por isso apelativas. Mas não consigo mais torcer pela sua personagem, Hannah (uma escritora que não escreve nunca), cujas atitudes beiram à infantilidade. O que seria uma série sobre a difícil inserção dos jovens na vida adulta foi se transformando aos poucos na saga de personagens neuróticos com complexo de Peter Pan que se recusam a crescer. Amor mesmo só por Adam, espécie de “Mr. Big” de Hannah, bem mais amoroso do que o eterno objeto de desejo de Carrie Bradshaw em “Sex and the City”. Ainda sim, considero “Girls” uma boa série com fôlego suficiente para muitas temporadas.

Elenco da terceira temporada de "Glee"
Enquanto isso, “Glee” continua no topo de minhas preferências. Como não amar essa série? E antes que os mais “cults” me apedrejem, considero sim uma série pra lá de transgressora sem parecer ser. Mais transgressora que “Modern Family”, por exemplo, que até acho simpática, mas esconde todos os estereótipos por trás de uma embalagem moderna: a típica família americana, o pai trapalhão, a filha periguete, a filha nerd, o filho lesado e a mãe tentando controlar tudo, o coroa que se casa com a latina sexy e o casal gay assexuado. “Glee”, ao contrário, tem uma embalagem careta: jovens estudantes cantando um punhado de hits de todos os tempos da música pop americana. Mas é justamente essa embalagem, digamos, comercial que fisga o grande público, que embarca pra valer na saga do coral estudantil com todos os seus dilemas típicos da idade. O mais bacana em “Glee” é que as lindinhas são meras coadjuvantes, enquanto as consideradas minorias são o centro das atenções, a começar pela obstinada Rachel Berry, uma força da natureza defendida com brilho e garra por Lea Michele, uma mocinha completamente fora dos padrões convencionais, tanto na aparência quanto nas atitudes, nem sempre éticas. Além dela, há o gay, o cadeirante, a negra obesa, a latina gostosa, a portadora de Síndrome de Down, todos extremamente cativantes e nunca na posição de coitadinhos. “Glee” explora o lado bom do politicamente correto e dá voz a personagens que nunca tiveram vez em outras produções. E verdade seja dita: que outro programa da tevê aberta e voltado para jovens tem a ousadia de, não só mostrar o tão cobrado beijo gay, mas tratar as relações homoafetivas em pé de igualdade com outros romances da série? Os gays de “Modern Family” não chegam nem perto em matéria de ousadia se comparados aos de “Glee”. Acreditem, “Glee” é mais transgressor do que parece ser.

Velório Drive Thru: uma das loucas cenas de "Pé na Cova"
Por fim, outra série que não perco por nada é a nossa, muito nossa “Pé na Cova”. A série de Miguel Falabella é simplesmente deliciosa. Não tem o humor hilariante e escancarado de “Toma lá, dá cá”, nem a crítica tão abertamente corrosiva de “A vida alheia”, criações anteriores do autor. “Pé na Cova” possui esses dois elementos, só que de maneira mais sutil. O humor não é gratuito, todas as piadas têm um objetivo. O programa faz rir, mas também possui uma melancolia que nos leva à reflexão sobre a vida daquelas pessoas carentes de tudo, como diria Milton Nascimento, “uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta”. Os personagens são deliciosos, a começar pelos nomes: Adenoide, Soninja, Luz Divina, Alessanderson, Odete Roitman, Tamanco... O elenco afiadíssimo brilha intensamente, comandados pelos veteranos Marilia Pêra e Miguel Falabella, em atuação comovente, diferente de tudo o que ele já fez como ator. E aquela estética “kitsch”, colorida, mesclada com muitas doses de bizarrice nos remete aos impagáveis e geniais filmes oitentistas de Almodóvar. “Pé na Cova” é um verdadeiro tapa na cara da sociedade, um grito contra a caretice estabelecida em nosso país. Consegue divertir e comover ao mesmo tempo. Sem dúvida, uma das melhores produções de nossa teledramaturgia dos últimos tempos. Absolutamente necessária nos dias de hoje. Que venham outras temporadas.

E enquanto as novas temporadas de “Downton Abbey” e “Mad Men” não chegam, no momento estou conferindo “Smash”, espécie de “Glee” para adultos e achando interessante. Enfim, mesmo que ocupando o segundo lugar no pódio (as novelas, pra mim, são imbatíveis), melão também adora e prefere séries.

Mad Men: genial após seis temporadas
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E vocês? Quais seriados estão assistindo no momento? Melão quer saber. Deixe seu comentário!

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“A vida alheia”: humor inteligente e ousado na TV.





sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Em 2010, o melão preferiu...



Ø  TI TI TI
Disparada a melhor novela do ano. Maria Adelaide Amaral e equipe estão de parabéns por trazer ao horário das sete um novo fôlego que há tempos não se via. A autora optou por não escrever uma versão literal do megassucesso de 1985. Foi esperta ao mesclar algumas tramas de “Plumas e Paetês” e, com isso, acrescentar elementos de folhetim que faltava à versão oitentista de “Ti Ti Ti”. O resultado é uma trama altamente original, movimentada, divertida e cheia de personalidade, mas que mantém o clima das melhores novelas do Mestre Cassiano Gabus Mendes. “Ti Ti Ti” faz uma grande e comovente homenagem à teledramaturgia brasileira, ao citar e revisitar personagens, não só das tramas de Cassiano, como de outras novelas de sucesso como “Fera Radical” e “O clone”. A direção sempre solar e colorida de Jorge Fernando casa perfeitamente com o texto sempre esperto. Elenco, direção de arte, figurino, enfim, tudo em sintonia. O que mais surpreende em “Ti-Ti-Ti” é a novela está longe de ser escrita no piloto automático. Mostra fôlego para surpreender e divertir a cada capítulo, nos brindando com um humor popular e refinado ao mesmo tempo, já que as citações não se limitam apenas às novelas, mas também ao cinema e à cultura pop em geral, e quem não as absorve, se diverte do mesmo jeito. Ousadia na medida certa. Sem dúvida, o maior acerto do ano!

Ø  CLAUDIA RAIA


Como disse meu amigo Eduardo Vieira, Jackeline é o “Mario Fofoca” da novela. Um verdadeiro show a cada capítulo. Claudia Raia está perfeita, caricata no bom sentido, mas também extremamente humana. Jackeline pode parecer uma doida de pedra, mas também sofre, chora, se emociona como qualquer um de nós. Impossível não torcer por ela. La Raia, assim como no drama de “A favorita”, arrasa nessa novela também, com uma interpretação visceral, sem medo de cair no ridículo e no exagero. E o texto de Jackeline? Foram tantas tiradas geniais e a atriz consegue aproveitar cada uma delas. Sua fase como Irmã Desgosto, no melhor estilo “Maus hábitos” de Almodóvar, está simplesmente genial e hilariante. Dentre os tantos motivos para se assistir à novela, Claudia Raia, sem dúvida, é o maior deles. Disparada a melhor atriz do ano!


Ø  ANDRÉ ARTECHE

Quando assisti ao ótimo filme “Houve uma vez dois verões”, de Jorge Furtado, conheci a interpretação de André Arteche e percebi que se tratava de um ator diferente, de uma sensibilidade especial. Seus papéis na TV, por menores que fossem, foram confirmando minha impressão. Agora em “Ti Ti Ti”, na pele de Julinho, André está excelente, arrebatador e arrebatado pela ótima abordagem de Maria Adelaide Amaral sobre um relacionamento gay. O romance de Julinho e Osmar (Gustavo Leão) durou pouquíssimos capítulos, mas fez tanto sucesso que o casal é forte candidato a melhor do ano. Tudo ali funcionou: a química dos atores, o texto delicado, a canção-tema “True Colors”... E a trama continua viva até hoje. André continua fazendo uma ótima dobradinha com a sempre competente Giulia Gam. A relação maternal de Bruna com Julinho é comovente e muito bem urdida. André Arteche ganhou um excelente papel e está aproveitando da melhor maneira possível e já está a léguas do estereótipo gay bonzinho melhor amigo da mocinha. O melão aplaude de pé!


Ø  IRENE RAVACHE

A personagem “perua emergente” está longe de ser novidade nas novelas. Menos novidade ainda é o talento de Irene Ravache, que ainda consegue emprestar muito humor e trazer novos elementos ao tipo já manjado em nossa TV. Ravache sempre é garantia de excelente interpretação e oferece a mesma naturalidade, seja em tipos sofridos como a Dona Lola de “Éramos Seis”, ou como a tresloucada Clô de “Passione”. A atriz protagonizou as cenas mais hilárias da novela, como a do jantar oferecido a ela por Bete Gouveia (Fernanda Montenegro), no qual quase leva Dona Brígida (Cleyde Yáconis) à loucura com sua falta de etiqueta. Outro momento hilário foi quando, ao pedir churrasquinho de gato, solicitou ao entregador que não esquecesse a farofa. Sílvio de Abreu é um mestre do humor e Irene, habituadíssima ao texto do autor, faz misérias em cena. O melão elege La Ravache como o grande destaque de “Passione”.


Ø  A VIDA ALHEIA

Miguel Falabella se afastou um pouco do humor escrachado e da estética kitch de suas divertidíssimas novelas, mas manteve a ironia, o deboche e o sarcasmo nessa ótima série que critica o mundo das revistas de celebridades, dispostas a tudo para conseguir um furo, ignorando qualquer senso de ética e respeito. A comédia dramática de humor rascante proporcionou a atrizes como Claudia Jimenez e Marilia Pêra brilharem intensamente e deu a Daniele Winits a oportunidade de defender um papel diferente dos que costuma interpretar. Entre o elenco masculino, destaque total para Carlos Gregório. Uma pena que não tenha uma nova temporada, pois história e conteúdo pra isso não faltam. 

Ø  AS CARIOCAS


Já na abertura, dava pra notar que o seriado seria uma delícia. Um desfile de belas atrizes e uma história pra contar a cada semana referente a um bairro do Rio de Janeiro. Com jeito leve, gaiato, despretensioso e safadinho... mais Rio de Janeiro impossível. Mais uma ótima parceria de Euclides Marinho e Daniel Filho, que voltou à TV em grande estilo. E que delícia também assistirmos a um programa repleto de locações externas. Gostinho de nostalgia. Uma festa!

Ø  CLANDESTINOS – O SONHO COMEÇOU


Outro gol de placa este ano. Impossível não se envolver e não se comover com a luta de jovens aspirantes ao palcos e à fama em busca de um lugar ao sol. A feliz empreitada teatral de João Falcão ganhou uma ótima adaptação e revelou talentos promissores como Adelaide de Castro, Fabio Enriquez e Elisa Pinheiro. Texto sempre afiado, muito lirismo e muita emoção. Claro que o DVD é super aguardado, né?

Ø  RIBEIRÃO DO TEMPO


Marcílio Moraes não é um autor que se acomoda em uma determinada temática. Sua primeira novela na Record, “Essas Mulheres”, que bebia da literatura de José de Alencar, era um primor de tão boa. Depois, Marcílio deu um giro de 180 graus e levou a realidade dos morros cariocas de maneira nunca antes vista na Tv com “Vidas Opostas” e a série “A lei e o crime”. Agora, com “Ribeirão do Tempo”, Marcilio inaugura na Record aquele estilo político-regionalista, que lembra as antigas tramas de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, e o faz com bastante acerto. Crítica social, irreverência, deboche e um texto sempre inspirado.


Ø  UMA ROSA COM AMOR



A novela, sem dúvida, representou um “upgrade” nas produções do SBT, que buscou um bom elenco que contou com nomes de peso como Betty Faria, Carla Marins e Jussara Freire. A singeleza do texto de Vicente Sesso, atualizado por Tiago Santiago, nos trouxe uma novela romântica, divertida, com um quê de nostálgica e muito gostosa de se assistir. Não emplacou os índices de audiência esperados pela emissora, mas provou que é possível fazer dramaturgia sem precisar recorrer o tempo todo aos melodramas mexicanos. Um bom começo.

Ø  CANAL VIVA


Viva! Mil vezes Viva! O sonho de todo telemaníaco começou a se concretizar com a criação do canal, que dedica grande parte de sua grade à reprises de antigos sucessos da teledramaturgia global. Quando veio “Por amor” e “Quatro por Quatro”, imaginamos grandes possibilidades, mas quando foi anunciado o retorno de “Vale Tudo” a festa foi total. E 2011 já promete com a volta da “Tv Pirata”. E ainda há as minisséries, os seriados... tudo o que podemos desejar é vida longuíssima ao Viva e força nos gravadores!


Ø  BOX ROQUE SANTEIRO

Outro presentão para os telemaníacos que abre inúmeras possibilidades. Para quem ainda não adquiriu, é imperdível. A saga do santo que não morreu, da viúva que foi sem nunca ter sido e do poderoso coronel que adora bancar o cachorrinho na intimidade são garantia de diversão e de excelentes atuações. O universo suigeneris criado por Dias Gomes, escrito por ele e por Aguinaldo Silva, ainda é atual ao denunciar a corrupção e as injustiças de uma metonímica Asa Branca e sua galeria de personagens inesquecíveis. Para muitos não houve novela como “Roque Santeiro”. Esperamos que seja apenas o primeiro lançamento de muitos outros.


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Claro que listas são sempre muito pessoais e muita coisa boa ficou de fora. Mas o melão quer saber: o que vocês preferiram em 2010?


O que eu preferi em 2009? Vamos relembrar? http://euprefiromelao.blogspot.com/2009/12/em-2009-eu-preferi.html

Enfim, queria dizer que 2010 foi, particularmente, um ano de muita batalha e, principalmente de muitas conquistas para o melão e para este blogueiro que vos fala. Só tenho a agradecer a todos por sempre prestigiarem o espaço e conto com vocês para 2011. Que seja diamante verdadeiro para todos nós. Até lá!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

“A vida alheia”: humor inteligente e ousado na TV.


O autor Miguel Falabella (abaixo à esquerda), com o elenco principal da série.


"É mais fácil elogiar a mediocridade. Essa não ameaça.", dispara Alberta Peçanha (Claudia Jimenez) se justificando por não elogiar com freqüência os feitos de Manoela (Danielle Winits) em “A vida alheia”. Frases inquietantes como essa são ditas por personagens nada óbvios o tempo todo na série de Miguel Falabella.

O slogan da fictícia revista “A vida alheia – mais interessante que a sua” já é uma provocação ao público e já mostra que seu criador não está disposto a fazer concessões para agradar. Ao contrário: em tempos em que o nível do humor na TV busca cada vez mais atingir o fundo do poço qualitativo com piadas físicas, fáceis, gratuitas e apelativas, a série vai na contramão disso tudo e brinda o público com o que há de melhor no gênero: comédia dramática inteligente, de humor ácido, reflexivo, aparentemente fútil, mas muito denso e irônico.

O mote de uma revista especializada em celebridades disposta a tudo para conseguir o furo jornalístico e, por conseguinte, o sucesso de vendas, acaba funcionando como ponto de partida para discutir uma série de outras questões como ética, hipocrisia e o valor do afeto e do respeito nas cada vez mais confusas relações amorosas, profissionais e familiares dos dias atuais, cada vez mais marcadas pelo vazio e pelo efêmero. Já no primeiro episódio, mostrou que veio mesmo pra incomodar, já que uma famosa colunista de fofocas se sentiu ofendida com a abordagem da série. Mas talvez a trama contínua que faz o arco da temporada seja ainda mais interessante que as tramas que são apresentadas a cada episódio. E a tensão construída em torno dos personagens fixos é cada vez mais crescente e interessante.

Mas o texto (genial e cheio de subtextos o tempo todo) tão instigante de Falabella e equipe não seria nada se não fosse acompanhada por uma direção competente e ágil e, principalmente, por ótimas atuações, a começar pelo trio de atrizes que comanda a atração: Marília Pêra, emprestando cinismo e classe na dose certa à Catarina, a dona da revista; Cláudia Jimenez, deliciosamente cruel e debochada como a editora-chefe Alberta Peçanha (aliás, o trocadilho com peçonha também é genial); e Danielle Winits, como Manoela, a ambiciosa repórter, que nos remete ao melhor estilo das alpinistas sociais gilbertianas. Porém, justiça seja feita: todo o elenco está afiadíssimo e ligadíssimo na proposta da série. E as implacáveis Alberta e Catarina são humanizadas a cada episódio, o que mostra que as personagens foram construídas com profundidade.

Enfim, “A vida alheia” é um sopro de criatividade, ousadia e competência nas noites de quinta-feira da Rede Globo, que merece ser assistida e comentada. Humor que não leva às gargalhadas, mas que oferece algo mais duradouro e rico: a reflexão sobre o chamado “mundo cão”.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Melão Express - Rapidinhas, mas saborosas – Ed 6:


MÊS DE ESTREIAS:

  • Sim, o ano “global” começa em abril. Dentre as inúmeras estréias e reestréias da TV Globo, destaco as séries “Separação” e “A vida alheia”. Esta última trouxe um autor Miguel Falabella diferente de suas demais obras televisivas. Longe da estética kitsch e do humor escrachado, a série aborda o cotidiano de uma revista de celebridades e tudo é abordado de maneira irônica, crítica, sarcástica. Há humor, mas não aquele humor fácil tão presente na programação atual. Claudia Jimenez chegou prometendo um grande papel, mas todo o elenco esteve muito bem. Ótima atração, que preza pelo espectador com mais de dois neurônios.

Thiago Prado Neri / TV Globo / Divulgação



  • “Separação” apresenta um tipo de humor bem parecido com "Os normais" (comparação inevitável com o mega-sucesso da dupla Young/Machado), mas os personagens parecem ter mais consistência. Enquanto "Os normais", embora fosse ótimo, ficava só no terreno do humor e na busca por piadas (inteligentes ou físicas), "Separação" parece que vai mais fundo. Enquanto em “Os normais”, os protagonistas funcionavam como uma metonímia de vários casais e, por isso mesmo, com características muito comuns a todos, “Separação” parece lançar um olhar mais apurado e particular àquele universo do casal em crise. Tem um pezinho no drama e as piadas fazem mais sentido dentro da história. Debora Bloch está super à vontade, Brichta, muito bem, tem a chance de mostrar o ótimo ator qeue é, sem aquele ar abestalhado de trabalhos anteriores. Além de ótimos coadjuvantes. Sucesso!


TV Globo / Divulgação



  • Também estreou “Escrito nas estrelas”, de Elisabeth Jhin, nova novela das seis. Produção muitíssimo bem cuidada, com ótimas sequências de ação, equilibrando as cenas e apresentando muito bem os personagens, fugindo ao máximo do inevitável didatismo. A novela parece vir com força e com tudo pra conquistar o espectador médio e frustrar os mais exigentes. Texto simples, personagens idem. Trama folhetinesca, mas totalmente adequada a atualidade, mesclando o romance tradicional com temas modernos e atuais. Já de cara destaco o trabalho de Natália Dill (foto), ótima em cena, super diferente de seus dois papéis anteriores e se consolidando com uma das melhores promessas da nova geração. Sua heroína Viviane dominou a cena e a atriz soube equilibrar vigor e graça na medida certa. Jayme Matarazzo também deu verdade ao personagem, sobretudo com o olhar. De cara, já deu vontade de torcer pelo casal. Os coadjuvantes que apareceram também estiveram muito bem. Enfim, uma receita de bolo que parece que vai funcionar.


  • Ainda no quesito “estreias”, parabenizo a Leda Nagle e toda a equipe do "Sem Censura", da TV Brasil, pela estréia da nova temporada. Na verdade, a atração parece ter dado um “up” em sua qualidade técnica e tem um novo e bonito cenário. O formato do programa continua o mesmo. Graças a Deus! Se “interatividade” parece ser a ordem permanente do dia, o “Sem Censura” já faz isso há quase duas décadas com a mesma competência. Só é uma pena que o programa tenha perdido meia hora de sua duração diária, mas o importante é que ele permanece com fôlego para muitos e muitos anos.

 ENQUANTO ISSO, NA TV DA MINHA CASA

Faz o maior sucesso a reprise de “Ti Ti Ti”, que ganhei de meu grande amigo Ronaly. Estou revendo a novela que me conquistou em 1985 quando tinha apenas 8 anos, e comprovando a impressão que tive na época. Excelente. Há uma teoria de que elegemos como favoritas as novelas vistas na infância por ainda não possuirmos muito senso crítico, o que torna tudo mais romântico e idealizado. Mas, sinceramente, “Ti Ti Ti”, a exemplo de “Tieta”, está me provando o contrário. O embate entre os eternos inimigos Ari/Victor Valentin e André/ Jacques Leclair continua delicioso. Atmosfera chique, texto primoroso de Cassiano Gabus Mendes (quantas tiradas ótimas sem o menor resquício de apelação), ótimos atores em cena e personagens que vão além do arquétipo. Saudades do tempo em que os personagens cômicos de novela não pareciam imbecis. E que elenco: Reginaldo Faria, Luiz Gustavo (em estado de graça), Marieta Severo, Malu Mader, Cassio Gabus Mendes, Aracy Balabanian, enfim... fantáticos. Saudades de Paulo Castelli e Miriam Rios, sempre com uma ótima química. Tania Alves, maravilhosa e, sobretudo, muitas saudades de Sandra Brea. Belíssima e talentosa! Assisto a um capítulo e não consigo me conter. Quero logo assistir ao seguinte. Como faz falta um bom gancho em novelas.. 

Enfim, estou esquentando os tamborins para o aguardadíssimo remake de Maria Adelaide Amaral sem nenhuma ilusão de que será uma cópia fiel do original. E seria um erro se assim o fosse. Maria Adelaide já provou em “Anjo mau” que entende como poucos o universo de Cassiano e sabe atualizar uma trama sem que ela perca sua essência. Promete!

Também ganhei de meu amigo Ivan Gomes ótimos compactos de “O sexo dos anjos” e “Final feliz”, da maravilhosa Ivani Ribeiro. Também me deliciando, mas deixo pra falar sobre elas em outra edição.
  

 DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS 


  • Que a programação da TV aberta aos domingos é um horror, isso todo mundo já sabe. Uma enxurrada de programas de auditório apelativos, com atrações de baixíssimo nível e qualidade mais do que duvidosa. Tudo é nivelado por baixo. Tenho pena de quem não tem TV por assinatura ou algo melhor para se fazer na rua. Enfim, mas o que me surpreendeu foi que, dia desses, durante uma infeliz zapeada, me surpreendi com mulheres sensualíssimas ensinando e praticando “pole dance” no inicio da tarde no programa de Ana Hickmann. Até aí, nada demais. Mas há dois anos atrás, não foi exatamente a tal dança que causou a maior polêmica com a personagem de Flávia Alessandra em “Duas Caras” chegando, inclusive, a ser proibida na novela? Sou radicalmente contra a qualquer tipo de proibição, mas gostaria de entender essa lógica. Em plena tarde de domingo com programas de classificação livre pode e numa novela das nove não pode? Como assim? Se não for perseguição às novelas, não sei o que pode ser...

NOVO GUIA DE NOVELAS:


Por fim, fica uma dica para quem gosta do gênero. O livro Guia Ilustrado TV Globo – Novelas e minisséries”, lançado pela Zahar, que faz parte do projeto Memória Globo em comemoração pelos 45 anos da emissora. Para noveleiros inveterados, nenhuma novidade. A bíblia da teledramaturgia e guia de consulta obrigatório continua sendo o site do Nilson Xavier (http://www.teledramaturgia.com.br/). Mas o livro não deixa de ser uma boa pedida para se ter em casa e sempre à mão, pois traz o resumo de TODAS as novelas e minisséries produzidas pela emissora até hoje, bem como mais de 600 fotos. Precisamos de mais e mais livros sobre o gênero que mais faz sucesso no país há quase 50 anos e faz parte da nossa cultura assim como Hollywood faz parte da cultura do povo norte-americano. Enfim, a novela parece começar a ser valorizada. Que venham outras publicações.

Abração a todos e até mais!!!

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