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Elenco de "Pé na Cova" reunido |
Não
é novidade que, em se tratando de teledramaturgia, as telenovelas estão no topo
de minha preferência. Mas também adoro séries e acompanho a sua evolução desde
os tempos em que as tramas tinham início, meio e fim em cada episódio, até as
mais atuais, que ganham cada vez mais ares de telenovela, com seus ganchos e
tramas folhetinescas que se estendem por toda a temporada. Enquanto as séries,
com seus episódios semanais e por seu formato compacto, permitem um trabalho de
escrita mais cuidadoso e um tempo maior em sua elaboração, as novelas,
geralmente, têm um processo diário, mais industrial, com prazos mais rígidos e
envolvendo um número bem maior de ideias, tramas e profissionais. Por outro
lado, as novelas, mesmo as com audiência insatisfatória nunca ficam sem
desfecho. Novelas podem ser encurtadas pelo fracasso ou esticadas pelo sucesso,
mas a legenda “fim” jamais aparece enquanto todas as tramas não estiverem
concluídas ao passo que as séries, caso não correspondam ao sucesso esperado,
são canceladas sem dó nem piedade deixando as tramas em aberto e espectadores
órfãos, como foi o caso de “Pan Am”,
cuja primeira temporada terminou sem desfecho algum, deixando todas as tramas
no meio do caminho e o espectador a ver navios, digo, aviões. Por essas e
outras razões, as telenovelas ainda são meu porto seguro, o que não me impede de
ter minhas séries favoritas e vibrar com cada uma delas.
Minha
favorita de todos os tempos para sempre será “Sex and the City”, pela
capacidade de, no decorrer da série, escapar dos quatro arquétipos femininos
propostos e criar personagens tão ricos e multifacetados em episódios tão
engraçados quanto envolventes. Sim, as quatro meninas de Manhattan habitarão
para sempre em meu coração. Mas minhas preferências também passam por “Downton Abbey”, um verdadeiro novelão,
e por “Mad Men”, pela perfeita
reconstituição de uma época que adoro, pelo subtexto sempre presente e pela
total quebra de expectativa a cada episódio. Mas no momento, tenho apreciado as
séries mais transgressoras, que rompem com paradigmas ou ousam de alguma forma
como “Girls”, “Pé na Cova” e (acredite!), “Glee”.
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Lena Dunham em cena de "Girls" |
Confesso
que gostei mais da primeira temporada de “Girls”, que já ganhou um post aqui no blog. Nessa
segunda, a decadence das meninas
ficou um pouco mais deselegante. O texto continua genial e as atuações idem.
Admiro a coragem e a ousadia de Lena Dunham (criadora, autora, produtora,
diretora e atriz da série) ao expor seu corpo fora dos padrões de beleza
impostos pela sociedade em cenas fortes, mas nem por isso apelativas. Mas não
consigo mais torcer pela sua personagem, Hannah (uma escritora que não escreve
nunca), cujas atitudes beiram à infantilidade. O que seria uma série sobre a
difícil inserção dos jovens na vida adulta foi se transformando aos poucos na
saga de personagens neuróticos com complexo de Peter Pan que se recusam a
crescer. Amor mesmo só por Adam, espécie de “Mr. Big” de Hannah, bem mais
amoroso do que o eterno objeto de desejo de Carrie Bradshaw em “Sex and the City”. Ainda sim, considero
“Girls” uma boa série com fôlego suficiente para muitas temporadas.
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Elenco da terceira temporada de "Glee" |
Enquanto
isso, “Glee”
continua no topo de minhas preferências. Como não amar essa série? E antes que
os mais “cults” me apedrejem, considero sim uma série pra lá de transgressora
sem parecer ser. Mais transgressora que “Modern
Family”, por exemplo, que até acho simpática, mas esconde todos os estereótipos
por trás de uma embalagem moderna: a típica família americana, o pai trapalhão,
a filha periguete, a filha nerd, o filho lesado e a mãe tentando controlar
tudo, o coroa que se casa com a latina sexy e o casal gay assexuado. “Glee”, ao
contrário, tem uma embalagem careta: jovens estudantes cantando um punhado de
hits de todos os tempos da música pop americana. Mas é justamente essa
embalagem, digamos, comercial que fisga o grande público, que embarca pra valer
na saga do coral estudantil com todos os seus dilemas típicos da idade. O mais
bacana em “Glee” é que as lindinhas são meras coadjuvantes, enquanto as
consideradas minorias são o centro das atenções, a começar pela obstinada
Rachel Berry, uma força da natureza defendida com brilho e garra por Lea
Michele, uma mocinha completamente fora dos padrões convencionais, tanto na
aparência quanto nas atitudes, nem sempre éticas. Além dela, há o gay, o
cadeirante, a negra obesa, a latina gostosa, a portadora de Síndrome de Down,
todos extremamente cativantes e nunca na posição de coitadinhos. “Glee” explora
o lado bom do politicamente correto e dá voz a personagens que nunca tiveram
vez em outras produções. E verdade seja dita: que outro programa da tevê aberta
e voltado para jovens tem a ousadia de, não só mostrar o tão cobrado beijo gay,
mas tratar as relações homoafetivas em pé de igualdade com outros romances da
série? Os gays de “Modern Family” não chegam nem perto em matéria de ousadia se
comparados aos de “Glee”. Acreditem, “Glee” é mais transgressor do que
parece ser.
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Velório Drive Thru: uma das loucas cenas de "Pé na Cova" |
Por
fim, outra série que não perco por nada é a nossa, muito nossa “Pé na Cova”.
A série de Miguel Falabella é
simplesmente deliciosa. Não tem o humor hilariante e escancarado de “Toma lá, dá cá”, nem a crítica tão
abertamente corrosiva de “A vida alheia”,
criações anteriores do autor. “Pé na Cova” possui esses dois elementos, só que
de maneira mais sutil. O humor não é gratuito, todas as piadas têm um objetivo.
O programa faz rir, mas também possui uma melancolia que nos leva à reflexão
sobre a vida daquelas pessoas carentes de tudo, como diria Milton Nascimento, “uma
gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta”. Os personagens são
deliciosos, a começar pelos nomes: Adenoide, Soninja, Luz Divina,
Alessanderson, Odete Roitman, Tamanco... O elenco afiadíssimo brilha intensamente,
comandados pelos veteranos Marilia Pêra e Miguel Falabella, em atuação
comovente, diferente de tudo o que ele já fez como ator. E aquela estética “kitsch”,
colorida, mesclada com muitas doses de bizarrice nos remete aos impagáveis e
geniais filmes oitentistas de Almodóvar. “Pé na Cova” é um verdadeiro tapa na
cara da sociedade, um grito contra a caretice estabelecida em nosso país.
Consegue divertir e comover ao mesmo tempo. Sem dúvida, uma das melhores
produções de nossa teledramaturgia dos últimos tempos. Absolutamente necessária
nos dias de hoje. Que venham outras temporadas.
E
enquanto as novas temporadas de “Downton
Abbey” e “Mad Men” não chegam,
no momento estou conferindo “Smash”,
espécie de “Glee” para adultos e achando interessante. Enfim, mesmo que
ocupando o segundo lugar no pódio (as novelas, pra mim, são imbatíveis), melão
também adora e prefere séries.
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Mad Men: genial após seis temporadas |
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E vocês? Quais seriados estão assistindo no momento? Melão quer
saber. Deixe seu comentário!
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