quinta-feira, 26 de maio de 2011

Blogueiro convidado: Robério Silva revela os signos em “ValeTudo”


 Enquanto “O astro” Herculano Quintanilha não chega, recorri a um de meus mais inteligentes e cultos amigos para uma divertida brincadeira com os personagens de “ValeTudo”. Robério Silva é professor universitário, Doutor em Literatura pela UFF e amante de todo tipo de arte, inclusive as ocultas...(risos). Além de seu invejável currículo acadêmico, Robério é cinéfilo e noveleiro de carteirinha, fã de Gal e ainda por cima, astrólogo e tarólogo (dos bons!). Com tantos afazeres, ele ainda arrumou tempo para ser o mais novo blogueiro convidado deste humilde melão e aceitou entrar na minha brincadeira de identificar os prováveis signos dos principais personagens dessa novela que, mesmo depois de mais de 20 anos, continua mexendo com o imaginário do público. É que certa vez, Robério fez o mesmo com as “Mulheres Apaixonadas” (ainda tem o texto, honey? Que tal publicá-lo no melão?). Não poderia deixar a oportunidade passar e ter um de meus amigos mais antigos, próximos e queridos por aqui também. O melão agradece demais a Robério e espera que todos vocês se divirtam com nossa aventura novelístico-astrológica.

O astral de “Vale Tudo”
Por Robério Silva


Olá, amigos, é com muita honra e prazer que recebi o convite do querido Vítor de Oliveira para escrever essas pequenas impressões astrológicas sobre as personagens de “Vale Tudo”. Faço-o com muito prazer, pois a obra ainda é minha novela favorita: trama saborosa e de eficaz crítica social, personagens carismáticas e muito bem interpretadas num trabalho de direção inspirada e atores em momento de graça. A ênfase do texto, obviamente, recai sobre as fulgurantes figuras humanas construídas pelo texto de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres e pela atuação dos intérpretes. Foi até difícil separá-las pelos doze signos do zodíaco, mas afinal, com ajuda do próprio Vítor, conseguimos um panorama astrológico muito interessante. Vamos a ele.

 MARIA DE FÁTIMA - o que dizer de nossa protagonista arrivista, antiheroica, mas, sobretudo, de uma humanidade e genuinidade poucas vezes vista na ficção televisiva? Bem, primeiro vamos pensar em alguém que tem um forte objetivo, capacidade de foco, coragem de arriscar, falta de escrúpulos (afinal, ela só não mata, mas o resto...), falsidade e muito veneno – só destilado na companhia do amante. Estamos diante de uma nativa de ESCORPIÃO, senhoras e senhores (pensaram que era Capricórnio? Não, capricórnio ia estudar e trabalhar, não ia trair a própria mãe etc.), claro, trabalhada no lado negativo do signo. Percebam como ela é discreta e alheia quando os problemas não lhe dizem respeito nem atrapalham suas ambições. Claro que tudo isso está disfarçado por um simpático ASCENDENTE EM TOURO, que faz de Fátima uma moça suficientemente bonita, agradável, aparentemente cordata e gentil, o que é muito positivo para seus interesses escusos em busca do casamento rico – que afinal consegue, devido também à tenacidade dos dois signos. No entanto, Fátima não gosta de barraco nem de grosseria, embora seja capaz de gestos dramáticos e artisticamente elaborados, como se jogar nas escadarias do Municipal a fim de interromper a inoportuna gravidez. Apesar de ligeiramente cafona (culpa do ascendente), gosta de vida social, de eventos e festas de gente fina. Temos aqui uma LUA EM LIBRA: além das características acima, Fátima ainda apanha e não revida na hora (trama vinganças escorpiônicas), quando alguém grita ou a encara, ela mete o galho dentro e fica quieta, já que não é boa de briga – só nos bastidores.


ODETE ROITMAN – fala a verdade, é um ícone! Odete é carismática, inesquecível, posa de séria diante da família, mas é meio vagaba – sem perder a classe – longe dos olhos dos parentes e curte mesmo é uma boa baixaria, nos dizeres de sua filha Helena. Antes de tudo, porém, Odete é mãe, é a chefe do clã, faz tudo – sobretudo, tudo de errado – pelos seus; reclama do Brasil, mas não consegue se desvencilhar, amando-o pelo avesso através das críticas contínuas e cotidianas. Além de mãe, é uma grande empresária, tem pulso forte nos negócios, sabendo ser uma raposa predatória como executiva . Ao mesmo tempo, domina a família com mão de ferro, e sabe exercer sua tirania sobre os filhos problemáticos e a irmã passiva. Estamos diante de alguém do signo de CÂNCER. No entanto, por ter ASCENDENTE EM CAPRICÓRNIO, posa de madame fina e chique (lembrem-se de que ela também usou o casamento como ascensão social), sabendo o valor real das boas coisas, e não faz o papel de figura doméstica; gosta de circular nas altas rodas, detesta cafonice piegas e zela por sua figura pública. Sua determinação e gosto por luxo, conforto e boa vida são reforçadas pela LUA EM TOURO, que reforça tanto seus traços maternais quanto a devoção aos negócios e o gosto pelos prazeres sensuais e eróticos, literalmente comprados através de sua fortuna.


RAQUEL ACCIOLY – afinal, a verdadeira heroína da novela resulta em não ser glamourosa como suas antagonistas (o que é uma regra do melodrama, não é mesmo?). Batalhadora, humilde, simples, trabalhadora honesta, com tino e mão para os negócios, Raquel é um dos estereótipos da filha de TOURO. Apaixonada e romântica, também se sacrificará pela filha e pelo homem amado ao mesmo tempo. O ASCENDENTE EM SAGITÁRIO lhe dá a mania de ficar soprando verdades o tempo inteiro, e passando lição de moral, mas ao mesmo tempo é o responsável por seu grande otimismo e gargalhada sonora. Atirada e com iniciativa e capacidade liderança, além de um certo nervosismo e certa chatice, traz ainda a marca da LUA EM ÁRIES que caracteriza um mulher-líder, empresária, aventureira (afinal ela vem atrás da filha no Rio de Janeiro), mas também chegada num barraco e numa certa falta de glamour (se comparada com as outras mulheres da história).


IVAN – aqui temos o típico sujeito quase que exclusivamente preocupado com sua carreira, com os negócios, e com a própria ambição. De ética ambivalente (lembremos que seu casamento com Heleninha é meio na base do interesse...), Ivan, apesar de maduro e realista deixa-se seduzir pelo poder dos Roitman e a possibilidade de ascensão social tanto na TCA quanto através das relações sociais e matrimoniais. Posa de bom moço, mas na verdade, apesar de seu envolvimento romântico com Raquel, trai um grande egoísmo. Temos aqui um CAPRICÓRNIO de alta envergadura, persistente, tenaz, discreto. O egoísmo, no entanto, se acentua, junto com o fato de ser disputado por várias mulheres na trama, devido a um ASCENDENTE EM LEÃO. Ivan sabe aparecer quando é necessário, tem capacidade como executivo e não se furta a grandes entradas em cena. Tem vaidade de sua suposta honestidade e valor como profissional. Empurra a vida familiar com a barriga, embora não se livre de vez da ex-mulher, filho e demais parentes.


MARCO AURÉLIO – chegamos ao porco chauvinista, machista, preconceituoso, grosso, autoritário e tirano, mas que se submete à verdadeira dona do pedaço, Odete. Sexualizado, mas misógino, é outra personagem astrologicamente arquetípica: o macho de ÁRIES! Grita com os subalternos e com as esposas, inferniza a vida do filho, cobrando-lhe uma atitude mais “masculina” (em seu próprio entender) do rapaz, conta com um capacho para ajudá-lo nas falcatruas ousadas – inclusive, roubando da própria Odete (!!!) o que trai a famosa temeridade ariana, brinca com fogo. Como possui uma LUA EM CAPRICÓRNIO, exerce a força física ariana numa presença antipática no ambiente de trabalho, e é na carreira que enfrenta as provas e obstáculos a que os arianos são tão afeitos. Sério e mal humorado, quer vencer os colegas e acionistas da empresa.

CÉSAR – ah, o michê bom-vivant, agradável, garotão, esportivo, sabe um pouco de tudo, línguas estrangeiras aqui, conhecimentos de informática ali, bissexual, leva a vida na flauta, cínico e com sabedoria de rua... estamos diante do tipo não estudioso de SAGITÁRIO. Beneficia-se de mulheres mais velhas, gosta de viver ao ar livre, pouca roupa e viagens, também tem noção do que é medíocre e tenta se afastar. A LUA EM ESCORPIÃO lhe dá o sex-appeal necessário para o meio de vida que escolheu, um ar misterioso e discreto, certa intuição para se safar de situações indesejáveis (nem sempre) e o tino para detectar o lado obscuro das outras personagens -  o que será muito útil a Maria de Fátima. Assim, como sua amante, também se apresenta como uma figura simpática, agradável, é bonitão, denotando outro ASCENDENTE EM TOURO.


SOLANGE DUPRAT – inteligente, moderna, independente, amiga dos amigos, desafia a autoridade de Odete, não aceita o machismo de Afonso, e, quando se descobre traída por Fátima, não hesita em lhe dar uma boa bofetada, mas com toda a classe possível, prometendo-lhe abertamente a vingança: Solange é o protótipo da mulher evoluída de AQUÁRIO – qual outra resolveria ter uma gravidez independente e arcar com todo o processo? Sofisticada e ao mesmo tempo mordaz, incisiva e respondona, parece trazer ASCENDENTE GÊMEOS, o que lhe confere o ar jovem e descolado, sem perder a sofisticação dos signos de ar.


HELENINHA – ah, Heleninha, frágil e suave artista plástica, alcoólatra e pobre menina rica... Pobre menina rica? Só quando está bêbada ou na depressão pós-bebedeira, né? De cara limpa é um saco, chata de dar dó, e, como diz a própria mãe, “Não há marido que agüente”! E é esnobe e elitista como uma boa Roitman. No entanto, cheia de culpa, descarrega tudo na bebida e protagoniza porres homéricos e históricos. Estamos diante de uma descontrolada nativa de PEIXES. De qualquer modo, é uma artista de valor, e apesar da chatice e arrogância, tem bons sentimentos, o que deve vir de um coração de ascendente em LEÃO, o que ainda favorece as grandes cenas na hora da manguaça. E se estiver de mau humor sabe muito bem como quebrar um bar, à la LUA EM AQUÁRIO.


CELINA – fala a verdade, quem não gosta de tia Celina? Educada, do bem, fina, sofisticada, interessada em arte, adora os papos de cinéfilo de seu fiel escudeiro Eugênio. Mas sem pulso diante da poderosa irmã, gosta de esconder os problemas da família sob panos quentes, mas pouco eficazes, passa o tempo todo diluindo ou negociando os conflitos, e trocando o estofado do sofá: uma LIBRA autêntica. Discreta e mãezona dos sobrinhos e protegidos, mostra uma influência de LUA EM CÂNCER, esquecendo-se um pouco de viver a própria vida em prol de acompanhar as relações familiares.



RENATO – jornalista sofisticado, profissional, vive em movimento e não batalha muito o amor das mulheres por quem chega a se interessar. Mostra um padrão típico dos nativos de GÊMEOS. Apesar de simpático, ajudar a amiga Celina, e ser ombro amigo de Heleninha, não se envolve mais profundamente nas loucuras do Roitman, apesar da amizade fiel demonstrada: ASCENDENTE EM LIBRA.





AFONSO – o riquinho rico que todos protegem; é todo machinho, vaidoso, cai na lábia de qualquer piriguete arrivista social, e dispensa a namorada gente boa, mas que trabalha demais... qual o signo? LEÃO, é claro; até porque, pelo lado positivo, soube dar umas porradas no César e esculachar a esposa adúltera. Mas é meio infantil, deixa as bombas maiores serem resolvidas pela mãe, que o sufoca. Bebê do zodíaco? ASCENDENTE EM ÁRIES!


POLLYANNA – bom amigo, pobrezinho, trabalhador, diligente, humilde, humilde, humilde, daqueles que gostam de ser pobre: VIRGEM, ASCENDENTE EM PEIXES, pra ter aquele arzinho desprotegido de Pluft ou Gasparzinho. Mas é amigo fiel e pau pra toda obra. Ai, aquela humildade toda deve ter LUA EM VIRGEM também, rsrsrsr.

Menções rápidas: LEILA – outra escorpiana, porém desastrada; ALDEÍDE – leonina do tipo divertida, alegria do núcleo pobre.

Abraços astrais!

Robério e eu há milênios atrás...


sexta-feira, 20 de maio de 2011

20 anos de “O dono do mundo”: um legítimo “Gilberto Braga”.




No dia 20 de maio de 1991, ia ao ar o primeiro capítulo de “O dono do mundo”, talvez a novela mais polêmica e controversa de Gilberto Braga. Segunda obra da trilogia sobre a corrupção, que começou com a antológica “Vale Tudo” (1988), “O dono do mundo”, no entanto, não é lembrada pelo êxito da primeira, mas por uma polêmica que prejudicou a audiência na época e até hoje é mais comentada do que as suas inúmeras qualidades.


A trama contava a saga de vingança da jovem Márcia (Malu Mader), professora virgem do subúrbio, que é seduzida em sua lua de mel pelo sedutor cirurgião plástico Felipe Barreto (Antonio Fagundes), que aposta uma caixa de champanhe com o amigo Julio (Daniel Dantas), que levaria a moça para a cama antes do próprio noivo, Walter (Tadeu Aguiar). Felipe arma todo um esquema para que isso aconteça e acaba seduzindo Márcia, que acaba se apaixonando pelo crápula. Ao descobrir toda a verdade, Walter perde o controle e acaba sofrendo um acidente de carro e morre. Tomada de amores, Márcia tem esperanças de que Felipe vai se separar da devotada e rica esposa Stela (Gloria Pires) para ficar com ela. Ao descobrir que fora enganada e que teve sua vida destruída, Marcia parte para uma implacável vingança contra Felipe.

Porém, o que o autor não esperava era que o público, ainda conservador, fosse se voltar contra Márcia, atribuindo a ela a culpa pela morte do noivo. Na verdade, o que não perdoaram foi o fato de Márcia ir bater na porta do quarto de Felipe, e não o contrário. A solução foi dar bastante destaque a outro par romântico da novela, Taís e Beija-Flor, vividos pelos estreantes em novelas globais Letícia Sabatella e Ângelo Antônio. Mesmo se prostituindo no início da novela, o público não se voltou contra Taís e torceu até o fim para que o amor deles prevalecesse. Impossível não ouvir “Codinome beija-Flor” na voz de Luiz Melodia e não se lembrar do casal, cujo maior empecilho era a ambição da moça e a falta de ambição do rapaz.

Um fator que talvez tenha afastado parte do público da novela, que migrou para o SBT, que exibia a açucarada “Carrossel”, era a acidez de sua narrativa. Ao contrário de “Vale Tudo”, que através de sua trabalhadora heroína Raquel, lançava um olhar otimista para a realidade, mesmo com um time de vilões de primeira categoria e com toda a crise por qual passava o país, “O dono do mundo” era mais sombria, mais cínica, mais pessimista, mostrava que o poder tudo podia e que os pobres não passavam de marionetes nas mãos dos mais poderosos. A abertura, com Chaplin vivendo “O grande ditador”, brincando com um mundo povoado por belas mulheres, já ditava o tom da narrativa e dava a dica do que vinha por aí.  Frases como “nunca mais pego mulher de além-túnel” eram proferidas pelo protagonista o tempo todo sem o menor resquício de culpa. Apesar de Gilberto Braga afirmar o tempo todo que o verdadeiro mocinho da novela era Rodolfo (Kadu Moliterno), que se envolveu com Stela após esta se separar de Felipe, o público, a exemplo de Márcia, também se deixou seduzir pelo cafajeste charmoso construído por Fagundes.

Entre os destaques do elenco, cito Nathalia Thimberg e Glória Pires pelo mesmo motivo. As duas viveram tipos bem marcantes em “Vale Tudo” e suas personagens na novela em nada lembram as antecessoras. Impressionante como Nathália não deixou nem rastro da doce e amável Celina ao interpretar a amarga e desagradável Constância Eugênia, assim como a digna e elegante Stela não lembra em nada a ambiciosa Maria de Fátima. Dá gosto de ver duas atrizes em cena com capacidade tão altamente transformadora. Vale ressaltar também a transformação da própria Malu no decorrer da novela, de uma Márcia ingênua e simplória para uma Márcia vingativa e charmosa. Justiça seja feita: a atuação de Malu foi louvável. Felipe Barreto está entre meus personagens favoritos de Fagundes, sempre dotado de carisma, mas aqui também com um charme arrasador. Maria Padilha, como a patética e interesseira Karen, também foi um grande destaque. Entre os destaques jovens do elenco, impossível não lembrar da saudosa Daniella Perez, que além de linda e carismática, já dava mostras de seu talento promissor. E o time de veteranos deu um show à parte: Beatriz Lyra (adorável), Claudio Correa e Castro, Ana Rosa, Hugo Carvana, Odete Lara em rara aparição televisiva, Jacqueline Laurence, Stenio Garcia, Paulo Goulart... com um timaço desses e um texto inspirado, o resultado não poderia ser menos do que alta dramaturgia.

Constância e Olga, inimigas na trama, renderam ótimos momentos.

Mas o grande destaque mesmo fica por conta de Fernanda Montenegro e sua impagável Olga Portela. Na pele da cafetina não declarada, Fernanda deu um show, deitou e rolou com um texto inspiradíssimo, mas que só renderia na boca de uma atriz de altíssima competência. Olga tinha falas maravilhosas e Fernanda soube dosar perfeitamente o cinismo e a hipocrisia da personagem que, afinal de contas, era do bem e guardava um dos maiores segredos da trama.

Quanto à polêmica com Felipe Barreto, o autor chegou a criar uma redenção para o personagem, fazendo com que o público pensasse que ele havia se regenerado. Mas ao final, Marcia consegue cumprir seu objetivo de desmascará-lo.  A cena que fecha a novela é a de Felipe se casando com uma jovem herdeira de um fazendeiro em Goiás e paquerando outra jovem durante a cerimônia. O olhar cúmplice de Felipe para o público e o comentário: “é virgem” foi a resposta perfeita do autor para o público, que também se deixou seduzir por Felipe, confirmando o tom cínico e crítico que permeou toda a trama.

Enfim, quando assisti à novela pela primeira vez, era muito jovem e nem tomei conhecimento dos comentários negativos a respeito dela. Agora, ao rever a novela, estou constatando a ótima impressão que tive na época. Um autêntico Gilberto Braga, com tudo aquilo que o universo do autor tem de delicioso: a elegante decadência do high society, alpinismo social, armações e viradas espetaculares, texto irônico, mas sem deixar de lado o bom e velho folhetim e, claro, grandes cenas para grandes atores.
Fica a torcida por uma reprise no Canal Viva no mesmo horário de “ValeTudo”  e a lembrança de duas décadas de mais essa pérola gilbertiana.



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Blogueiro convidado: Eduardo Vieira relembra “O pulo do gato”


Como alguns de vocês já sabem, sou nascido no final da década de 70, portanto só fui me tornar espectador de telenovelas a partir do início dos anos 80. Apesar de saber e conhecer muitas tramas anteriores a essa época por ter assistido a cenas de arquivo ou lido e discutido a respeito, não me atrevo muito a falar sobre elas, já que considero o valor da memória e de ser testemunha ocular dos acontecimentos, imprescindível. Por isso, recrutei novamente meu amigo Eduardo Vieira, que vivenciou bastante a década de 70 e propus a ele que falasse sobre a novela que bem quisesse, inclusive sobre as mais obscuras (até preferia). Sempre gentil, Edu atendeu novamente ao meu chamado e escreveu um texto bastante elucidativo sobre a novela “O pulo do gato”, de 1978, pouquíssimo lembrada e que vale a pena conhecermos um pouco. O melão, mais uma vez, agradece a luxuosa contribuição de Edu e apresenta “O pulo do gato”:


De volta aos setenta

por Eduardo Vieira

Como noveleiro que sou, sempre carrego comigo lembranças do tempo que assistia às novelas e as acompanhava mesmo, não perdia capítulo, fingia doença, via duas vezes o final pra me despedir, coisas que só os noveleiros entendem.

Crescemos e viramos bichos críticos. Ainda bem, mas pra ver novela eu pessoalmente acho que se deve aceitar algumas coisas no terreno da ficção: aquele encontro de todos no mesmo restaurante, pessoas que entram na casa de outras sem a chave... é inegável que as próprias novelas encarregaram –se de também quererem ser vida real, às vezes conseguindo chegar quase à perfeição desta, outras vezes beirando a superficialidade que o gênero ainda felizmente permite.

Nos anos 70 e início dos 80, havia um horário para que se pudesse falar sobre temas mais adultos no meio dos “eu te amo, eu te odeio” de todas as novelas. Esse horário, para uma criança da década de 70, era infinitamente tarde (pelo menos pra mim era). Mas ficava eu acordado, disfarçando, pra ver as novelas que não eram permitidas a mim.

Os autores dessa faixa de horário eram sempre escritores mais politizados que defendiam a renda escrevendo pra um gênero que, até há pouco, tinham enorme preconceito. Autores teatrais e jornalistas enveredaram pelos caminhos da telenovela, surgindo nomes como Bráulio Pedroso, Dias Gomes e Jorge Andrade, entre outros. Brincando outro dia com um amigo, disse a ele: “Essa fez novela das dez, merece meu respeito”. Quem era a atriz não me recordo, mas agora me veio essa lembrança da importância que essas novelas tiveram pra mim. Tanto pra entender algumas questões, quanto pra me confundir a respeito de outras.



Entre essas novelas, lembro de uma, a qual tinha a impressão que só eu assistia, tamanho fracasso, comparada a nomes como Gabriela, O Espigão, O Bem Amado. Refiro-me a “ O pulo do gato”, que já me encantava pela literal abertura da música com o seguinte verso: “companheiro dessa minha melancolia” somada a uma melodia maravilhosa da minha ovelha negra Rita Lee.

Havia nessa novela algo estranho que eu não conseguia entender. Não havia uma linha, um casal forte e principal de condução da história, mas um apartamento chique e um prédio decadente em que moravam estranhas pessoas. Havia sim um casal que era um tanto coadjuvante à história central, a de um escroque que vivia sem dinheiro, mas sempre nas altas rodas .

 Bráulio Pedroso escrevia um Beto Rockfeller já na meia idade, Bubby Mariano, vivido pelo ator Jorge Dória, que enganava seus amigos ricos, falsificando quadros junto ao personagem do também grande Milton Gonçalves. Porém algumas pessoas desejavam que ele tivesse uma vida mais real, mais condizente às pessoas normais, como sua namorada Noêmia, Sandra Bréa no auge do talento e histrionismo e sua filha, a tal “mocinha” da história vivida por uma atriz que não seguiu a carreira, Marly Aguiar, que também faria a novela Pecado Rasgado. Mal ela sabe que seu namorado vivido pelo ator João Carlos Barroso também não era flor que se cheirasse, pois ainda era casado, mas tinha vergonha da pobreza de sua esposa e do filho que eles tinham. Nos anos 70 discutir adultério e casais interraciais não era tão comum. A esposa do personagem Nando era feita pela atriz mulata Juciléia Teles.

No prédio, ainda moram o terapeuta de Noêmia, Procópio, um bon vivant, cuja renda nunca ficava muito explícita , pois ele não era muito chegado a trabalhos convencionais; Billy, um surfista que tinha vida dupla fazendo programas com senhoras de mais idade. Aliás, havia até uma “ Stella” da época, antes de Passione, uma mulher que saia às tardes para fazer compras, mas sempre ia se encontrar com jovens rapazes. Era a fogosa Regina, vivida por Lady Francisco, em grande forma física, que era casada com o personagem ciumento de Carlos Kroeber e que tinham um filho jovem e bem rebelde (a censura não permitiria falar a causa da rebeldia), vivido pelo, na época, magrinho Pedro Paulo Rangel.

Como já dito, as histórias nessa novela eram todas um tanto improvisadas, pelo menos era o que parecia ao telespectador. Tanto que sempre que se iniciava um capítulo havia um locutor que enumerava as ações do capítulo anterior ou anteriores. Um locutor a La Lombardi, sobre o qual nunca ficávamos sabendo da identidade. Lembro que as pessoas sempre se perguntavam quem do elenco estaria fazendo essa narração. No final descobre-se que não é ninguém da novela, mas o humorista Paulo Silvino, uma figura inusitada na época em uma novela.

Isso só veio jogar a pá de cal de esculhambação de que a novela já tinha fama. Havia também uma história moderna pra época: a da mãe que compete com as filhas, feita pela elegante modelo Márcia Rodrigues. Os homens gostavam das meninas, mas quando viam a mãe, caíam matando e, pior, ela gostava.

A história toma um ar de aparente normalidade quase pro final quando o casal da novela surge, Mário Gomes e Sandra Bréa, uma espécie de anti-casal. Era uma época em que as mulheres começavam a ter a terapia como prática e os problemas femininos eram levantados, como os complexos da personagem da irmã de Procópio, Sofia, feita visceralmente pela atriz Camila Amado. A atriz tinha cenas de monólogo intermináveis, algo que hoje seria impensável!

Uma das ironias pra mim foi descobrir o porquê do título bem depois: uma alusão aos golpes dos personagens que enganavam homens e mulheres ricas. O tal “pulo do gato” era irmão do jeitinho brasileiro que os autores dessa faixa de horário sempre desejaram criticar; da esperteza, das ações hipócritas de uma sociedade que estava mudando, mas que era retratada de uma forma ainda bem romântica nas ficções dos outros horários. A sorte é que pelo humor podia-se dizer algumas coisas e se tratar de temas mais específicos, algo que ainda hoje é um tanto difícil, pois por vezes alguns desses temas não passam pelo crivo da censura da própria sociedade.

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sábado, 7 de maio de 2011

Betty Faria: 70 anos de uma grande estrela



As várias facetas da atriz, homenageda pela comunidade do orkut "Queridões". Montagem de Duh Secco

Betty, querida! Que os próximos capítulos de sua vida sejam tão belos, ricos e plenos quanto os capítulos de sua vitoriosa carreira. O melão estende o tapete e lhe dá os parabéns pelos muitíssimos bem vividos anos de vida com um banner comemorativo que permanecerá por todo o mês de maio no blog e ilustra dois momentos ao lado dos grandes galãs de nossa teledramaturgia: “Cavalo de Aço”, com Tarcísio Meira; e “Pecado Capital”, com Francisco Cuoco.


Este domingo, dia 08 de maio de 2011, promete ser muito especial: além dos seus 70 anos e da comemoração do Dia das Mães, é o encerramento de sua vitoriosa temporada carioca do espetáculo "Shirley Valentine". A emoção não vai faltar no palco do CCBB. 


Sem mais palavras, segue agora um desfile de imagens e videos de sua carreira, relembrando grandes personagens como Lazinha, Lucinha, Joana, Marina, Tieta, Walkíria com votos de muito sucesso e Boa Sorte Sempre!



Banner comemorativo criado por Felipe Ribeiro


Em

Em "A próxima atração" (1970) e com Milton Moraes em "O espigão" (1974)
Lucinha, personagem clássica de "Pecado Capital" (1975)


                       





Momentos da atriz em "Água Viva" (1980) , "Baila Comigo" (1981), "O salvador da pátria" (1989), "Tieta"(1989/90)  e "A idade da loba"(1995)  


Duas Caras: duelo de Bárbara (Betty Faria) e Sílvia (Alinne Moraes):





Tieta se despede das dunas:




Betty Faria canta no Video Show:




Momentos da carreira (por Montenegro&Raman)




Betty Faria canta "Esses Moços" para seus fãs. Video de Anna Paulla Ferreira:






Amália de "Uma rosa com amor" (2010): seu trabalho em tv mais recente


Agradecimentos especiais a Felipe Ribeiro, por mais um belíssimo banner e Naira Freitas, pelo envio de algumas das fotos.





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