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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Melão Entrevista o mestre MARCÍLIO MORAES!




Pra começar o ano em grande estilo, nada melhor do que um entrevistado mais do que especial. Sim, pois esse blog se dá ao luxo de entrevistar apenas os profissionais que admira. E Marcílio Moraes, certamente, é um deles. Da qualidade indiscutível de autor-roteirista, escritor e dramaturgo nem preciso falar, mas também tive o privilégio de ter sido aluno desse grande mestre e de privar de sua companhia, sempre simpática e agradável. De uma forma muito franca e honesta, Marcilio discute a questão da classificação indicativa no audiovisual, bem como a inevitável interferência das emissoras no trabalho autoral, faz um balanço de sua gestão como presidente da Associação dos Roteiristas, aborda a questão da quase inexistência de crítica televisiva em nosso país e do papel dos blogues independentes, nos conta de sua relação com seu grande mestre Dias Gomes e, claro, de seus principais trabalhos na televisão como as novelas “Essas Mulheres”, “Ribeirão do Tempo” e “Vidas Opostas” e as minisséries “Chiquinha Gonzaga” e “As noivas de Copacabana”, entre outras. Delícia de papo. Espero que curtam e feliz 2012 a todos!


Melão - Que avaliação que você faz de seu trabalho à frente da presidência da AR – Associação dos Roteiristas? Quais foram as maiores conquistas de sua gestão e quais são os maiores desafios do novo presidente, Newton Cannito?

Marcílio - Eu já escrevi um relatório da minha participação na presidência da AR, que pode ser visto no meu site pessoal, www.marciliomoraes.com.br . Em termos de avaliação, creio que a razão fundamental pela qual a AR existe foi alcançada ao longo desses dez anos: dar ao autor-roteirista brasileiro uma identidade própria, independente da empresa ou do produtor para o qual trabalhe. Graças à AR, hoje há a consciência profissional de que não basta encher o peito e dizer que é da Globo ou da Record, ou que trabalha com tal ou qual diretor.

Em termos de realizações, temos o nosso Código de Ética, fundamento da associação; a própria estruturação administrativa e legal da entidade; a presença independente e firme no panorama da política audiovisual; o respeito que obtivemos das outras entidades e das burocracias governamentais; a luta pela plena liberdade individual de expressão; a luta pelos direitos autorais, etc.

Melão -  Qual sua posição pessoal sobre a classificação indicativa?

Marcílio - Enquanto artista, enquanto autor, eu não posso admitir que alguém, seja diretor de empresa ou burocrata do governo, conheça melhor o meu público do que eu mesmo. Em função disso, sou, por princípio, contra qualquer interferência na minha obra, e por conseqüência na dos meus colegas.
Assim sendo, não posso aceitar que uma entidade que me represente assuma compromissos, seja em nome do que for, com instâncias que têm o poder real de se imiscuir no que escrevo. No caso, órgãos governamentais ou empresariais.
Na vida profissional, muitas vezes sou obrigado a aceitar interferências. Tudo bem, faz parte do jogo. Mas a entidade que me representa não pode, de nenhuma forma, legitimar essa interferência. Tem que se manter como referência de princípio, não só para os autores-roteiristas como para produtores, diretores, emissoras e governos.

Melão -Independente das limitações criativas impostas pela classificação indicativa, parte do público, surpreendentemente jovem, tem se mostrado bastante conservador com relação a cenas mais sensuais e ousadas, algo que não acontecia com tanta frequência na década passada. Pude perceber isso como colaborador de “O astro” quando lia tais declarações através do twitter. A que você atribui esse fenômeno? Acha que o público “encaretou”?

Marcílio - A televisão aberta atinge muita gente para você tomar algumas manifestações individuais como tendência. Certamente há muita caretice por aí, inclusive de jovens. Na verdade, ser jovem nunca foi sinônimo de mente aberta.
Quem costuma jogar com uma pretensa reação do público a temas e cenas mais ousadas são as direções das emissoras. Se você ler o Código de Ética que a Globo segue, que é o Código da ABERT, verá que ele é tão ou mais rígido que aquele manual de classificação indicativa usado pelo Ministério da Justiça.

Melão - “Essas Mulheres” é uma de minhas novelas favoritas de todos os tempos. Acompanhei do início ao fim e considero um trabalho primoroso, sobretudo pelo texto. Você acredita que o fato dela ter tido apenas 140 capítulos contribuiu para esse bom resultado? Novelas de menor duração possibilitam um trabalho de maior qualidade?


Marcílio - Novelas, pela sua própria natureza, são longas, o que não significa que quanto mais longa melhor é uma novela; nem o contrário, que sendo mais curta adquire mais qualidade. “Essas Mulheres” foi uma excelente novela por várias razões, pela inspiração em José de Alencar, pelo nível das pessoas que escreveram, pela produção bem cuidada, embora simples, pela direção do Colatrello, etc. A duração não determinou esta excelência. Tinha fôlego para chegar aos 180 ou mesmo 200 capítulos, sem perda de qualidade.
Mas concordo que tramas menores são mais confortáveis, não só para o autor como para toda a equipe. Permitem um maior apuro. O problema é que as emissoras faturam muito mais com os prolongamentos. É difícil se contrapor a este argumento.

Melão - Como surgiu a ideia de “Vidas Opostas”? Com o novo seriado “Chapa Quente” você pretende concluir uma trilogia abordando essa temática de violência urbana, que também contou com a série “A lei e o crime” ou ainda tem fôlego para mais histórias do gênero?

Marcílio - Em 2006, a Record me pediu uma novela. Apresentei algumas opções, que iam de uma trama de época a uma bem atual, ousada, abordando corrupção policial, tráfico de drogas, com metade dos personagens vivendo na favela, etc. A direção da emissora, acertadamente, escolheu esta última. E daí surgiu “Vidas Opostas”. O assunto não era novo para mim. Eu tinha escrito poucos anos antes uma peça, “A Demanda”, que nunca consegui montar, só fiz leituras públicas, e o romance “O Crime da Gávea”, que tratam do mesmo universo.
A idéia de que pode ser uma trilogia não tinha me ocorrido. Interessante você ter pensado nisso. Mas não vejo “Chapa Quente” fechando um ciclo. Na nova série vou trabalhar sobre o mesmo universo, mas de uma perspectiva diferente. O gênero policial tem fôlego praticamente infinito. Veja a literatura, o cinema americano e europeu, as séries americanas. É um gênero popular e pode ser muito sofisticado. Ainda tenho fôlego para escrever muitas outras séries sobre o assunto.

Jacson (Heitor Martinez) em "Vidas Opostas"
Melão -  Jacson (Heitor Martinez), antagonista de “Vidas Opostas”, foi aos poucos ganhando a simpatia e torcida de parte do público. A que você atribui esse fato? Como dar dimensão humana ao antagonista fugindo do maniqueísmo, mas ao mesmo tempo manter a torcida do público pelo herói?

Marcílio - Eu sempre procuro evitar que a função dramática dos personagens se sobreponha a sua dimensão humana. Construí o Jacson não como um vilão malvado, mas como alguém que se posiciona na vida de uma forma não acomodada. Ele viveu uma circunstância social perversa e reagiu a isso se revoltando, assumindo a violência como postura de vida. Não parti de um julgamento moral ou político sobre ele, nem sobre nenhum outro personagem. O fato dele ter ganhado a simpatia do público prova que fui bem sucedido. O espectador foi levado, pelo menos em parte, a ver o mundo do ponto de vista dele.
Claro que numa novela, você, em algum momento, tem que decidir a direção para onde quer levar o público. Eu não podia levar a identificação do espectador ao ponto da novela terminar com a vitória do marginal. Daí incluí algumas ações em que o Jacson se mostrou de fato perverso, mau, arrogante. Cortei, por assim dizer, a empatia dele com o público, para não correr o risco de me acusarem de apologia às drogas... rs. Mesmo assim, mantive a ambigüidade até o fim. Quando Jacson morre, ele cai nos braços de Joana, que o ampara ao mesmo tempo em que dá a mão a mão ao namorado mauricinho, que acabou de ser espancado por ele.

Melão - “Ribeirão do Tempo” foi uma novela que inaugurou um novo estilo dentro da Record, uma crônica de costumes repleta de crítica social e política em que uma pequena cidade fictícia serve de metáfora e metonímia do nosso país. Seu trabalho como colaborador em “Roque Santeiro” serviu de inspiração para criar essa história?

Bianca Rinaldi e Jacqueline Laurence em cena de "Ribeirão do Tempo"
Marcílio - “Inspiração” propriamente não. Foi uma influência, claro. O Dias Gomes foi um mestre para mim. Ele criou um plot inigualável e insuperável em “Roque Santeiro”. Eu nem me atreveria a tentar alguma coisa semelhante.
Minha intenção em “Ribeirão do Tempo” era outra. Queria, antes de tudo, brincar com os mitos da geração anos sessenta, a minha geração, especialmente a revolução socialista. Mas a turma, especialmente a imprensa, parece que não curtiu muito, porque ninguém falou no assunto. Daí não ter dado para desenvolver o tema como eu havia imaginado. Pena. Mais uma vez se comprova que questionamentos políticos, no Brasil, são difíceis de emplacar.

Melão - Dias Gomes foi um de seus parceiros mais constantes. Como era trabalhar com ele e que lições aprendeu com esse grande mestre?

Marcílio - Como já disse, o Dias foi meu grande mestre na televisão. Aprendi o que era de fato uma novela, não uma novela qualquer, mas uma novela crítica, naqueles primeiros 50 capítulos iniciais escritos pelo Dias.
Mas o fato de ter sido um mestre e um amigo não significa que não tivéssemos divergências. Em “Mandala” chegamos mesmo a ficar estremecidos, porque eu achei que ele tinha largado uma bomba de cem megatons na minha mão. Eu também era muito arrogante naquela época. E a novela provocou uma celeuma tal que, para qualquer pessoa envolvida, era difícil manter a cabeça fria.  Mas depois fizemos as pazes e voltamos a trabalhar juntos em “Noivas de Copacabana” e outras obras.

Vera Fischer e Nuno Leal Maia em cena de "Mandala"

Melão - “Mico Preto”, novela que escreveu em coautoria com Euclydes Marinho e Leonor Bassères, tinha um texto bastante ousado em que uma relação homossexual era discutida abertamente em pleno horário das 19 horas. Na época vocês sofreram algum tipo de censura ou resistência com relação à abordagem dessa temática?

Marcílio - “Mico Preto” foi a novela mais conflituosa que escrevi, em termos de bastidores. Não quero entrar em detalhes porque isso mexe com muita gente que ainda está por aí e não vale a pena.
A sinopse foi criada por mim. De fato, era bastante ousada, irônica, corrosiva. E engraçada. Entre outras, havia a história de um deputado, gay enrustido, que se casa com uma moça para tentar disfarçar sua condição. Mas não dá certo e ele acaba se juntando a outro gay, que era feito pelo Falabella, que se passa por mulher. Para complicar, um político machão, o Osvaldo Loureiro,  se apaixona pela pretensa mulher. E por ai ia.
A novela foi massacrada, não pelo público, mas internamente na Globo. Alguns figurões tinham forte interesse em derrubar a iniciativa. Naquela época a censura tinha acabado e ainda não havia a tal classificação indicativa, de forma que o governo não meteu o bedelho. O problema foi interno.



Melão - “Chiquinha Gonzaga”, minissérie que escreveu em co-autoria com Lauro César Muniz é, até hoje, um de seus trabalhos mais elogiados e foi a grande responsável por revelar aos mais jovens a vida e obra de uma de nossas figuras históricas mais importantes. Quais os cuidados que se deve ter em contar uma a história de uma personagem que existiu de fato? Qual o limite entre o ficcional e o biográfico?

Regina e Gabriela Duarte em dois momentos de "Chiquinha Gonzaga"

Marcílio - Foi uma honra ter sido convidado pelo Lauro para escrever junto com ele essa minissérie. No entanto, minha participação não foi grande. O mérito do trabalho é do Lauro.
Creio que “Chiquinha Gonzaga” é bem o exemplo de como adaptar a vida de uma personagem real às necessidades de uma obra dramática, sem trair os dados  biográficos e criando os conflitos e desenvolvimentos fictícios necessários para despertar e manter o interesse do telespectador.  O limite entre o ficcional e o biográfico se encontra na fronteira entre a chatice fiel e o interesse do público.

Melão -  Como é a divisão de trabalho entre você e seus colaboradores? Você costuma dar a liberdade a eles para criar dentro da escaleta ou sugerir novos rumos para as tramas?

Marcílio - Eu costumo escrever sozinho a sinopse e os 30 primeiros capítulos, quando se trata de uma novela. A partir daí, aos poucos, vou passando cenas para os colaboradores dialogarem, até que se familiarizem com os personagens, sua maneira de falar, etc.
A partir daí, foi cada vez mais me restringindo a fazer uma escaleta detalhada, deixando para eles a tarefa de dialogar. E faço uma revisão final do capítulo. Também costumo promover reuniões periódicas para discutir as tramas e os rumos da história.
De um modo geral, sou bastante centralizador. Dentro da escaleta, não dou margem para nenhum vôo do colaborador. Nas reuniões, ouço todas as sugestões e críticas e absorvo as que me parecem procedentes.

Melão -  Que conselho daria a alguém que pretende seguir a carreira de roteirista de televisão?

Marcílio - Se ele quer escrever novelas, aconselho a ler os clássicos da literatura, especialmente do século XIX.  

Melão - Você considera o gênero “telenovela” como algo menor se comparado ao cinema ou teatro? Qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

Marcílio - Geralmente não se atribui o status de obra de arte a uma telenovela, enquanto um filme ou uma peça de teatro podem aspirar a essa dignidade. Mas eu creio que também uma telenovela pode se tornar arte, ou pelo menos ter momentos de pura arte.
O que restringe o escritor, neste caso, são as exigências empresariais, comerciais  e da própria audiência.  É difícil escapar do sensacionalismo apelativo e se ater ao desenvolvimento dramático. Mas como disse, é possível.
A audiência brasileira está viciada em telenovelas. Creio que em nenhuma outra parte do mundo se tem todo o horário nobre da TV coberto por telenovelas. Isso só é bom para as empresas, que faturam mais com poucos riscos. Para os artistas e para o público, embora este muitas vezes não perceba, é uma prática muito restritiva. A TV brasileira precisa de novos formatos, novos desafios, mais polêmica. Só assim vamos  ampliar o mercado de trabalho e ter uma programação mais instigante e inteligente.

Melão -  Como você avalia a crítica televisiva em nosso país e qual a importância dos blogs e sites que fazem um trabalho paralelo, mas sem o vínculo institucional que possuem os críticos “oficiais”?

Marcílio - A crítica televisiva praticamente não existe no Brasil. De um modo geral, se confunde com o “colunismo”. A tradição monopolista, que ainda sobrevive, leva a isso. Raramente vejo análises pertinentes e um pouco mais profundas da dramaturgia de televisão. Na universidade surgem, de vez em quando, um ou outro trabalho mais aprofundado, mas que não chega ao público.  Neste sentido, o trabalho dos sites e blogs independentes é muito valioso. Dificilmente, por exemplo,  me pediriam uma entrevista como esta que estou dando num órgão da grande imprensa. É sempre tudo muito ligeiro, os jornalistas de modo geral são mal informados, não sabem o que você já fez, etc.

Melão - Pra terminar, que novela ou série você mais gostou de escrever e qual novela de outro autor que gostaria de ter escrito?

Marcílio - “Vidas Opostas” foi uma novela que gostei muito de escrever, porque rompi com alguns tabus da telenovela, porque falei de uma porção de assuntos e personagens que tinha vontade, etc. “A Lei e o Crime” também foi muito gratificante. Dos tempos da Globo, “Roda de Fogo” foi um desafio muito grande. Ali eu provei que era capaz de escrever uma novela. Também tenho ótimas recordações de “Noivas de Copacabana”.

Patricia Pillar e Miguel Falabella em "As noivas de Copacabana"
Mestre Marcílio, É uma grande honra poder contar com sua participação no melão e um privilégio ter tido você entre meus professores. Obrigado por tudo e sucesso sempre!



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Leia também: 

Tide, só tinha de ser com você!!! - Entrevista especial com ALCIDES NOGUEIRA!!!





sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Em 2010, o melão preferiu...



Ø  TI TI TI
Disparada a melhor novela do ano. Maria Adelaide Amaral e equipe estão de parabéns por trazer ao horário das sete um novo fôlego que há tempos não se via. A autora optou por não escrever uma versão literal do megassucesso de 1985. Foi esperta ao mesclar algumas tramas de “Plumas e Paetês” e, com isso, acrescentar elementos de folhetim que faltava à versão oitentista de “Ti Ti Ti”. O resultado é uma trama altamente original, movimentada, divertida e cheia de personalidade, mas que mantém o clima das melhores novelas do Mestre Cassiano Gabus Mendes. “Ti Ti Ti” faz uma grande e comovente homenagem à teledramaturgia brasileira, ao citar e revisitar personagens, não só das tramas de Cassiano, como de outras novelas de sucesso como “Fera Radical” e “O clone”. A direção sempre solar e colorida de Jorge Fernando casa perfeitamente com o texto sempre esperto. Elenco, direção de arte, figurino, enfim, tudo em sintonia. O que mais surpreende em “Ti-Ti-Ti” é a novela está longe de ser escrita no piloto automático. Mostra fôlego para surpreender e divertir a cada capítulo, nos brindando com um humor popular e refinado ao mesmo tempo, já que as citações não se limitam apenas às novelas, mas também ao cinema e à cultura pop em geral, e quem não as absorve, se diverte do mesmo jeito. Ousadia na medida certa. Sem dúvida, o maior acerto do ano!

Ø  CLAUDIA RAIA


Como disse meu amigo Eduardo Vieira, Jackeline é o “Mario Fofoca” da novela. Um verdadeiro show a cada capítulo. Claudia Raia está perfeita, caricata no bom sentido, mas também extremamente humana. Jackeline pode parecer uma doida de pedra, mas também sofre, chora, se emociona como qualquer um de nós. Impossível não torcer por ela. La Raia, assim como no drama de “A favorita”, arrasa nessa novela também, com uma interpretação visceral, sem medo de cair no ridículo e no exagero. E o texto de Jackeline? Foram tantas tiradas geniais e a atriz consegue aproveitar cada uma delas. Sua fase como Irmã Desgosto, no melhor estilo “Maus hábitos” de Almodóvar, está simplesmente genial e hilariante. Dentre os tantos motivos para se assistir à novela, Claudia Raia, sem dúvida, é o maior deles. Disparada a melhor atriz do ano!


Ø  ANDRÉ ARTECHE

Quando assisti ao ótimo filme “Houve uma vez dois verões”, de Jorge Furtado, conheci a interpretação de André Arteche e percebi que se tratava de um ator diferente, de uma sensibilidade especial. Seus papéis na TV, por menores que fossem, foram confirmando minha impressão. Agora em “Ti Ti Ti”, na pele de Julinho, André está excelente, arrebatador e arrebatado pela ótima abordagem de Maria Adelaide Amaral sobre um relacionamento gay. O romance de Julinho e Osmar (Gustavo Leão) durou pouquíssimos capítulos, mas fez tanto sucesso que o casal é forte candidato a melhor do ano. Tudo ali funcionou: a química dos atores, o texto delicado, a canção-tema “True Colors”... E a trama continua viva até hoje. André continua fazendo uma ótima dobradinha com a sempre competente Giulia Gam. A relação maternal de Bruna com Julinho é comovente e muito bem urdida. André Arteche ganhou um excelente papel e está aproveitando da melhor maneira possível e já está a léguas do estereótipo gay bonzinho melhor amigo da mocinha. O melão aplaude de pé!


Ø  IRENE RAVACHE

A personagem “perua emergente” está longe de ser novidade nas novelas. Menos novidade ainda é o talento de Irene Ravache, que ainda consegue emprestar muito humor e trazer novos elementos ao tipo já manjado em nossa TV. Ravache sempre é garantia de excelente interpretação e oferece a mesma naturalidade, seja em tipos sofridos como a Dona Lola de “Éramos Seis”, ou como a tresloucada Clô de “Passione”. A atriz protagonizou as cenas mais hilárias da novela, como a do jantar oferecido a ela por Bete Gouveia (Fernanda Montenegro), no qual quase leva Dona Brígida (Cleyde Yáconis) à loucura com sua falta de etiqueta. Outro momento hilário foi quando, ao pedir churrasquinho de gato, solicitou ao entregador que não esquecesse a farofa. Sílvio de Abreu é um mestre do humor e Irene, habituadíssima ao texto do autor, faz misérias em cena. O melão elege La Ravache como o grande destaque de “Passione”.


Ø  A VIDA ALHEIA

Miguel Falabella se afastou um pouco do humor escrachado e da estética kitch de suas divertidíssimas novelas, mas manteve a ironia, o deboche e o sarcasmo nessa ótima série que critica o mundo das revistas de celebridades, dispostas a tudo para conseguir um furo, ignorando qualquer senso de ética e respeito. A comédia dramática de humor rascante proporcionou a atrizes como Claudia Jimenez e Marilia Pêra brilharem intensamente e deu a Daniele Winits a oportunidade de defender um papel diferente dos que costuma interpretar. Entre o elenco masculino, destaque total para Carlos Gregório. Uma pena que não tenha uma nova temporada, pois história e conteúdo pra isso não faltam. 

Ø  AS CARIOCAS


Já na abertura, dava pra notar que o seriado seria uma delícia. Um desfile de belas atrizes e uma história pra contar a cada semana referente a um bairro do Rio de Janeiro. Com jeito leve, gaiato, despretensioso e safadinho... mais Rio de Janeiro impossível. Mais uma ótima parceria de Euclides Marinho e Daniel Filho, que voltou à TV em grande estilo. E que delícia também assistirmos a um programa repleto de locações externas. Gostinho de nostalgia. Uma festa!

Ø  CLANDESTINOS – O SONHO COMEÇOU


Outro gol de placa este ano. Impossível não se envolver e não se comover com a luta de jovens aspirantes ao palcos e à fama em busca de um lugar ao sol. A feliz empreitada teatral de João Falcão ganhou uma ótima adaptação e revelou talentos promissores como Adelaide de Castro, Fabio Enriquez e Elisa Pinheiro. Texto sempre afiado, muito lirismo e muita emoção. Claro que o DVD é super aguardado, né?

Ø  RIBEIRÃO DO TEMPO


Marcílio Moraes não é um autor que se acomoda em uma determinada temática. Sua primeira novela na Record, “Essas Mulheres”, que bebia da literatura de José de Alencar, era um primor de tão boa. Depois, Marcílio deu um giro de 180 graus e levou a realidade dos morros cariocas de maneira nunca antes vista na Tv com “Vidas Opostas” e a série “A lei e o crime”. Agora, com “Ribeirão do Tempo”, Marcilio inaugura na Record aquele estilo político-regionalista, que lembra as antigas tramas de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, e o faz com bastante acerto. Crítica social, irreverência, deboche e um texto sempre inspirado.


Ø  UMA ROSA COM AMOR



A novela, sem dúvida, representou um “upgrade” nas produções do SBT, que buscou um bom elenco que contou com nomes de peso como Betty Faria, Carla Marins e Jussara Freire. A singeleza do texto de Vicente Sesso, atualizado por Tiago Santiago, nos trouxe uma novela romântica, divertida, com um quê de nostálgica e muito gostosa de se assistir. Não emplacou os índices de audiência esperados pela emissora, mas provou que é possível fazer dramaturgia sem precisar recorrer o tempo todo aos melodramas mexicanos. Um bom começo.

Ø  CANAL VIVA


Viva! Mil vezes Viva! O sonho de todo telemaníaco começou a se concretizar com a criação do canal, que dedica grande parte de sua grade à reprises de antigos sucessos da teledramaturgia global. Quando veio “Por amor” e “Quatro por Quatro”, imaginamos grandes possibilidades, mas quando foi anunciado o retorno de “Vale Tudo” a festa foi total. E 2011 já promete com a volta da “Tv Pirata”. E ainda há as minisséries, os seriados... tudo o que podemos desejar é vida longuíssima ao Viva e força nos gravadores!


Ø  BOX ROQUE SANTEIRO

Outro presentão para os telemaníacos que abre inúmeras possibilidades. Para quem ainda não adquiriu, é imperdível. A saga do santo que não morreu, da viúva que foi sem nunca ter sido e do poderoso coronel que adora bancar o cachorrinho na intimidade são garantia de diversão e de excelentes atuações. O universo suigeneris criado por Dias Gomes, escrito por ele e por Aguinaldo Silva, ainda é atual ao denunciar a corrupção e as injustiças de uma metonímica Asa Branca e sua galeria de personagens inesquecíveis. Para muitos não houve novela como “Roque Santeiro”. Esperamos que seja apenas o primeiro lançamento de muitos outros.


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Claro que listas são sempre muito pessoais e muita coisa boa ficou de fora. Mas o melão quer saber: o que vocês preferiram em 2010?


O que eu preferi em 2009? Vamos relembrar? http://euprefiromelao.blogspot.com/2009/12/em-2009-eu-preferi.html

Enfim, queria dizer que 2010 foi, particularmente, um ano de muita batalha e, principalmente de muitas conquistas para o melão e para este blogueiro que vos fala. Só tenho a agradecer a todos por sempre prestigiarem o espaço e conto com vocês para 2011. Que seja diamante verdadeiro para todos nós. Até lá!

sábado, 29 de maio de 2010

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas! – Edição 7


Antes tarde do que nunca

Como esqueci de avisar antes, informo depois. Nessa segunda, participei do X Seminário Salínguas, do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Faculdade de Letras da UFRJ, do qual faço parte e apresentei o trabalho "NOVELAS E ORKUT: NOVAS PERSPECTIVAS DE LETRAMENTO E HIBRIDIZAÇÃO".

Ainda é um reconhecimento de terreno, uma apresentação do cenário e dos personagens de minha futura dissertação de Mestrado. Apesar de nervoso, acho que a apresentação foi satisfatória e me deu a boa sensação de finalmente unir minha carreira acadêmica à minha grande paixão, a telenovela. Vamos ver no que dá. Desde já agradeço aos compenheiros da comunidade "Teledramaturgia" pela colaboração e peço que continuem me ajudando.

Prometo divulgar as cenas dos próximos capítulos dessa minha árdua jornada. Até mais!
Mais informações sobre o X Seminário Salínguas em: http://salinguasufrj2010.blogspot.com/
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- VIVA O VIVA!

 Tudo bem que não é aquele canal só com reprises de novelas, sonho de 11 entre 10 telemaníacos. Mas há duas boas novelas sendo reprisadas. Tudo bem também que essas novelas não são lá tão antigas assim: são da década de 90, aliás, década da maioria da programação do canal. Mas mesmo assim, é mais que bem vindo esse novo canal da Globosat. Confesso que não estava sentindo a menor saudade de rever as intermináveis idas e vindas de Raí e Babalú em “Quatro por quatro”. Mas a novela de Carlos Lombardi foi sucesso indiscutível e tem seu retorno merecido. Além disso, o novo canal proporciona outras sessões nostalgia como os ótimos seriados “Mulher”, “Sexo Frágil”, “Comédia da Vida Privada” e “Sai de baixo”. Mas meu grande deleite mesmo é poder rever a excelente “Por amor”, dos bons tempos de Manoel Carlos. Só na primeira semana de exibição a novela teve mais acontecimentos do que “Viver a Vida” inteira. Estou amando odiar Eduarda (Gabriela Duarte) novamente. Bem que o “Viva” podia abrir mais horários de exibição para as novelas, afinal de contas, à tarde é só pra quem não trabalha fora ou pra quem possui gravador. De qualquer forma, estamos em festa e torcendo para que o “Viva” nos traga muitas outras velhas novidades.


“PASSIONE”: A VOLTA DO NOVELÃO.


Em sua segunda semana de exibição e com índices de audiência nada animadores (será o trauma pela novela anterior?), “Passione”, de Sílvio de Abreu tem o grande desafio de recuperar índices de audiência cada vez mais distantes de outros tempos e de outras novelas do horário nobre. Ainda que não traga grandes novidades com relação à trama e aos personagens, Sílvio tem seus trunfos: excelente elenco  e um novelão típico, com direito a ganchos, filhos desconhecidos, triângulos amorosos e conflitos familiares.  Dizem que o sotaque italiano não está agradando. A mim, não incomoda em nada. Confesso que elegi minha própria heroína: Stela, a bela da tarde (e da noite também) da cada vez mais linda Maitê Proença (foto). Torço para que a trama da personagem possa ser desenvolvida a contento, uma vez que foge do lugar comum. A novela ainda não está imperdível, mas altamente assistível. E trouxe de volta um ingrediente indispensável ao gênero: ganchos. Só no capítulo de hoje foram três. Já é um bom começo.


RIBEIRÃO DO TEMPO: NOVOS TEMPOS NA RECORD.

Ainda falando de estreias, uma nova novela de Marcílio Moraes é sempre aguardada com ansiedade e otimismo. E sempre podemos esperar ótimo texto e personagens nada óbvios. Valorizado na Record por suas tramas que abordam violência urbana, Marcílio estreou na emissora com a primorosa “Essas Mulheres” e agora sabiamente promove uma nova guinada com uma trama política, irônica e bem humorada, que mescla bem mistério e romance, mas parecendo brincar com os gêneros. Tais características podem trazer para a emissora parte dos públicos A e B que ainda transitam pouco por lá. “Ribeirão do Tempo”, em seu início, já apresenta uma identidade própria e se mostra diferente de tudo que a Record produziu até então. Como ex-aluno de Mestre Marcílio e privilegiado por comprovar seu talento de perto, torço para que colha bons frutos com sua nova empreitada.


- "MOTHERN" ESTÁ NO AR.

Como já disse, sempre que posso acompanho a reprise de “Por amor” às 16:30 no Viva. Mas assim que a novela termina, corro pra GNT pra conferir a reprise dos episódios de “Mothern”, excelente série que, infelizmente, as pessoas pouco conhecem. A série é uma delícia: leve, inteligente, engraçada, bem escrita, bem dirigida, enfim, tudo de bom. Vale também pelo elenco: as quatro mães do título são ótimas, com destaque para Fernanda D’umbra e Melissa Vettore (desperdiçadíssima como a acompanhante de Lolita Rodrigues em “Viver a Vida). Melissa é ótima e garante, não só momentos engraçados, como os mais intensos da série. Também podemos ver Klara Castanho, cujo talento e profissionalismo já saltava os olhos aos 6 anos, arrasando como e esperta Bel, e Rafinha Bastos do CQC como um dos maridos da série. Portanto, pra quem ainda não viu, eis uma excelente oportunidade.

- LIGANDO O NOME À PESSOA.

 Com certeza, você já viu esse rosto muitas vezes na TV, mas talvez nunca tenha ligado o nome à pessoa. Figura simpática e marcante em tudo o que faz, Nica Bomfim tem agora uma oportunidade melhor pra mostrar seu talento e seu carisma com um ótimo personagem em “Escrito nas estrelas” na pele da adorável mãezona Magali. A primeira vez que prestei atenção na atriz foi em “História de amor” (1995), como a prestimosa auxiliar da Helena da vez, vivida por Regina Duarte. Desde então foram muitas participações em produções como “Eterna Magia” e “Zorra Total”, mas é Magali quem está proporcionando a Nica vôos teledramatúrgicos maiores. Não há como não cair de amores pela personagem fãzoca de Fábio Júnior e dona da macarronada mais cobiçada da novela. Pelo andar da carruagem, promete muita emoção por aí. Magali ainda nos fará rir e chorar muito, aposto, pois é daquele tipo de personagem alto astral e do bem que todos nós gostaríamos de ter por perto. Parabéns pra Nica e que muitos outros personagens como esse possam surgir daqui pra frente.

Beijos, abraços e até a próxima!

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