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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Blogueiro convidado: Edu Vieira relembra “Marron-Glacé”


Mais uma vez, este melão recorreu à memória de Edu Vieira e seu talento para relatar essas memórias. A escolhida da vez é “Marron-Glacê”, de 1979, um dos primeiros sucessos de Cassiano Gabus Mendes para o horário das sete da Rede Globo que sempre desperta saudades e quem viu e também a curiosidade de quem não assistiu, já que não há tantas informações disponíveis sobre a novela. Edu nos brinda com um texto que relembra os principais acontecimentos da novela e também revela algumas curiosidades em torno dela. Confiram!

  
Champagne no gelo...

Ary Fontoura e Sura Berditchevsky em cena de "Marron Glacê"

Lembro-me que toda vez que ouvia esse inicio do tema da novela Marrom Glacê, já estava postado à tv, cantando junto. Mais uma novela do autor Cassiano Gabus Mendes, meu autor favorito na época, que nunca me deixava na mão, sempre com várias histórias pra contar, com aquela que era sua marca registrada: temas adultos e folhetinescos embutidos numa narrativa leve e sofisticada.

Não conhecia a tal sobremesa do título- o tal marrom glacê, até a Cica lançar na época- vejam o que uma novela não faz - um produto similar à iguaria finíssima... que fez um enorme sucesso, sendo o próprio  que anunciava a novela. Cassiano, dessa vez, mostrava-nos o cotidiano da vida das pessoas que serviam uma classe abastada, os garçons, que moravam no mesmo prédio. Eles eram vividos por Lima Duarte, Armando Bogus, João Carlos Barroso e Ricardo Blat, cada um com um drama a ser contado ao longo da novela.

A trama se inicia com um elemento bem novelesco, um homem, Otávio (Paulo Figueiredo, que havia sido galã na Tupi) deseja vingar a morte da mãe (Eloísa Mafalda, em participação no primeiro capítulo), que havia morrido na miséria por culpa de uma família que, segundo ela, enganara seu pai.
O jovem não só conhece a tal família como vai trabalhar no Buffet da esposa do suposto responsável, Clotilde, conhecida como D. Clô (Yara Cortes), uma mulher muito justa, mas enérgica com seus empregados e também com suas duas filhas: Vanessa e Vânia, que não têm muito juízo e acabam aprontando sempre com a mãe, principalmente a mais nova, a apaixonante Vânia (Louise Cardoso) que logo se enamora por Otávio, tendo uma relação às escondidas. A grande ironia é que o rapaz apaixona-se de verdade, contra todas as suas expectativas de vingança, por sua irmã, Vanessa (Sura Berditchevsky), já noiva. Esta demonstra uma repugnância gratuita pelo rapaz, mas nós telespectadores já sabíamos do que se tratava...

A trama dos garçons alternava drama e comédia. Quando estavam juntos havia sempre cenas bem engraçadas, com eles zombando do exigente máitre, vivido por Laerte Morrone, que sempre desejava  colocar ordem no estabelecimento e também  do afetado e mal  humorado  cozinheiro, Nestor de Montemar. O mais velho deles, Oscar, vivido por Lima Duarte morava com duas senhoras um tanto gagás que fazia perucas para ele e este para não magoá-las fingia usá-las... essas cenas com as maravilhosas Ema D’ávila e Dirce Migliaccio, em um trabalho de composição, garantiam boas risadas. O personagem também tem um filho, Luis César (João Carlos Barroso) que trabalha com ele, porém mal fala com o pai por alguma razão do passado.

Nessa novela ainda há a estreia de uma atriz, na época modelo, começando muito bem, Mila Moreira, chamada apenas de Mila. Ela fazia Érika, secretária e braço direito de Clô. Era uma mulher sofisticada e um tanto esnobe que ganha espaço cada vez maior na trama quando o personagem de Armando Bogus, Nestor, cai de amores por ela... ela acha isso divertido e dessa situação  sai uma das muitas cenas memoráveis da novela. Querendo brincar com o garçom, aposta com as amigas fúteis que iria dar um beijo em qualquer garçom e contrata-o. Ele finge aceitar e no ato, revida um tapa no rosto da secretária, que a partir desse momento, passa a enxergá-lo. Um gancho e tanto, não? Outra cena também que ficou na história das novelas, mesmo tornando-se um clichê do gênero, é a cena em que Vanessa deixa o noivo no altar para ficar com Otávio, resultando num grande rebuliço com a mãe e principalmente a irmã, personagem que cativou o público. Muitos, na época, torciam para que Otávio se apaixonasse por Vânia, pois a mocinha, feita por Sura, era um tanto carrancuda.

Ainda, no prédio, viviam o casal feito pelos atores Ricardo Blat e Myriam Rios.  Esta fazia Shirley, uma mulher bonita que andava sempre de shorts, saias curtas, o que provocava sempre a ira do marido, o ciumento Juliano. Muitas mulheres, na época achavam mesmo o comportamento da mulher imoral, só para constar que se podia fazer uma crônica da vida real numa novela das 7. Porém o personagem vira o jogo, alegrando o público, meio machista, quando arruma uma pretendente feita por Heloísa Millet, em uma participação do meio pro final da história. Aí o feitiço vira contra a feiticeira...

No final da história, o (anti) herói acaba por descobrir que seu pai havia sido um contador que subtraíra boa parte do dinheiro do marido de Clotilde e pede perdão à ex-patroa, desejando ficar com sua filha. Vânia, no final, ganha um prêmio de consolação, está de olho em outro garçom, Mário Gomes em uma participação no último capítulo, último capítulo, aliás, que serviu de ponte para o primeiro da próxima novela Chega Mais em que a família da noiva contrata os serviços do Buffet Marrom Glacê. Mas, parafraseando o Charles Gavin, essa já é outra história...

Eduardo Vieira

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Blogueiro convidado: Eduardo Vieira relembra “O pulo do gato”



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Blogueiro convidado: Eduardo Vieira relembra “O pulo do gato”


Como alguns de vocês já sabem, sou nascido no final da década de 70, portanto só fui me tornar espectador de telenovelas a partir do início dos anos 80. Apesar de saber e conhecer muitas tramas anteriores a essa época por ter assistido a cenas de arquivo ou lido e discutido a respeito, não me atrevo muito a falar sobre elas, já que considero o valor da memória e de ser testemunha ocular dos acontecimentos, imprescindível. Por isso, recrutei novamente meu amigo Eduardo Vieira, que vivenciou bastante a década de 70 e propus a ele que falasse sobre a novela que bem quisesse, inclusive sobre as mais obscuras (até preferia). Sempre gentil, Edu atendeu novamente ao meu chamado e escreveu um texto bastante elucidativo sobre a novela “O pulo do gato”, de 1978, pouquíssimo lembrada e que vale a pena conhecermos um pouco. O melão, mais uma vez, agradece a luxuosa contribuição de Edu e apresenta “O pulo do gato”:


De volta aos setenta

por Eduardo Vieira

Como noveleiro que sou, sempre carrego comigo lembranças do tempo que assistia às novelas e as acompanhava mesmo, não perdia capítulo, fingia doença, via duas vezes o final pra me despedir, coisas que só os noveleiros entendem.

Crescemos e viramos bichos críticos. Ainda bem, mas pra ver novela eu pessoalmente acho que se deve aceitar algumas coisas no terreno da ficção: aquele encontro de todos no mesmo restaurante, pessoas que entram na casa de outras sem a chave... é inegável que as próprias novelas encarregaram –se de também quererem ser vida real, às vezes conseguindo chegar quase à perfeição desta, outras vezes beirando a superficialidade que o gênero ainda felizmente permite.

Nos anos 70 e início dos 80, havia um horário para que se pudesse falar sobre temas mais adultos no meio dos “eu te amo, eu te odeio” de todas as novelas. Esse horário, para uma criança da década de 70, era infinitamente tarde (pelo menos pra mim era). Mas ficava eu acordado, disfarçando, pra ver as novelas que não eram permitidas a mim.

Os autores dessa faixa de horário eram sempre escritores mais politizados que defendiam a renda escrevendo pra um gênero que, até há pouco, tinham enorme preconceito. Autores teatrais e jornalistas enveredaram pelos caminhos da telenovela, surgindo nomes como Bráulio Pedroso, Dias Gomes e Jorge Andrade, entre outros. Brincando outro dia com um amigo, disse a ele: “Essa fez novela das dez, merece meu respeito”. Quem era a atriz não me recordo, mas agora me veio essa lembrança da importância que essas novelas tiveram pra mim. Tanto pra entender algumas questões, quanto pra me confundir a respeito de outras.



Entre essas novelas, lembro de uma, a qual tinha a impressão que só eu assistia, tamanho fracasso, comparada a nomes como Gabriela, O Espigão, O Bem Amado. Refiro-me a “ O pulo do gato”, que já me encantava pela literal abertura da música com o seguinte verso: “companheiro dessa minha melancolia” somada a uma melodia maravilhosa da minha ovelha negra Rita Lee.

Havia nessa novela algo estranho que eu não conseguia entender. Não havia uma linha, um casal forte e principal de condução da história, mas um apartamento chique e um prédio decadente em que moravam estranhas pessoas. Havia sim um casal que era um tanto coadjuvante à história central, a de um escroque que vivia sem dinheiro, mas sempre nas altas rodas .

 Bráulio Pedroso escrevia um Beto Rockfeller já na meia idade, Bubby Mariano, vivido pelo ator Jorge Dória, que enganava seus amigos ricos, falsificando quadros junto ao personagem do também grande Milton Gonçalves. Porém algumas pessoas desejavam que ele tivesse uma vida mais real, mais condizente às pessoas normais, como sua namorada Noêmia, Sandra Bréa no auge do talento e histrionismo e sua filha, a tal “mocinha” da história vivida por uma atriz que não seguiu a carreira, Marly Aguiar, que também faria a novela Pecado Rasgado. Mal ela sabe que seu namorado vivido pelo ator João Carlos Barroso também não era flor que se cheirasse, pois ainda era casado, mas tinha vergonha da pobreza de sua esposa e do filho que eles tinham. Nos anos 70 discutir adultério e casais interraciais não era tão comum. A esposa do personagem Nando era feita pela atriz mulata Juciléia Teles.

No prédio, ainda moram o terapeuta de Noêmia, Procópio, um bon vivant, cuja renda nunca ficava muito explícita , pois ele não era muito chegado a trabalhos convencionais; Billy, um surfista que tinha vida dupla fazendo programas com senhoras de mais idade. Aliás, havia até uma “ Stella” da época, antes de Passione, uma mulher que saia às tardes para fazer compras, mas sempre ia se encontrar com jovens rapazes. Era a fogosa Regina, vivida por Lady Francisco, em grande forma física, que era casada com o personagem ciumento de Carlos Kroeber e que tinham um filho jovem e bem rebelde (a censura não permitiria falar a causa da rebeldia), vivido pelo, na época, magrinho Pedro Paulo Rangel.

Como já dito, as histórias nessa novela eram todas um tanto improvisadas, pelo menos era o que parecia ao telespectador. Tanto que sempre que se iniciava um capítulo havia um locutor que enumerava as ações do capítulo anterior ou anteriores. Um locutor a La Lombardi, sobre o qual nunca ficávamos sabendo da identidade. Lembro que as pessoas sempre se perguntavam quem do elenco estaria fazendo essa narração. No final descobre-se que não é ninguém da novela, mas o humorista Paulo Silvino, uma figura inusitada na época em uma novela.

Isso só veio jogar a pá de cal de esculhambação de que a novela já tinha fama. Havia também uma história moderna pra época: a da mãe que compete com as filhas, feita pela elegante modelo Márcia Rodrigues. Os homens gostavam das meninas, mas quando viam a mãe, caíam matando e, pior, ela gostava.

A história toma um ar de aparente normalidade quase pro final quando o casal da novela surge, Mário Gomes e Sandra Bréa, uma espécie de anti-casal. Era uma época em que as mulheres começavam a ter a terapia como prática e os problemas femininos eram levantados, como os complexos da personagem da irmã de Procópio, Sofia, feita visceralmente pela atriz Camila Amado. A atriz tinha cenas de monólogo intermináveis, algo que hoje seria impensável!

Uma das ironias pra mim foi descobrir o porquê do título bem depois: uma alusão aos golpes dos personagens que enganavam homens e mulheres ricas. O tal “pulo do gato” era irmão do jeitinho brasileiro que os autores dessa faixa de horário sempre desejaram criticar; da esperteza, das ações hipócritas de uma sociedade que estava mudando, mas que era retratada de uma forma ainda bem romântica nas ficções dos outros horários. A sorte é que pelo humor podia-se dizer algumas coisas e se tratar de temas mais específicos, algo que ainda hoje é um tanto difícil, pois por vezes alguns desses temas não passam pelo crivo da censura da própria sociedade.

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sábado, 16 de abril de 2011

Blogueiro convidado: Eduardo Vieira analisa “Macho Man”



 Mais um querido amigo me dá o prazer de publicar um texto no melão. Trata-se de Eduardo Vieira, um santista apaixonado por televisão, que conhece e acompanha novelas desde os anos 70 e sempre nos brinda com seus valiosos comentários nas comunidades virtuais das quais fazemos parte.

Edu nos escreve sobre “Macho Man”, nova série da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado, com direção geral de José Alvarenga Jr. Estrelado pelo impagável Jorge Fernando, a trama gira em torno dos dilemas de um ex-gay que precisa lidar com sua nova condição. O texto, sabiamente, aponta para os aspectos da série que vão além de clichês e estereótipos e nos oferece uma reflexão mais densa, ainda que seja através do riso. O melão agradece a Edu e espera que ele retorne com mais textos.
  

“Macho man”, de Fernanda Young e Alexandre Machado.

Por Eduardo Vieira

Folder promocional da série

A ideia sempre foi curiosa... um homossexual está dançando e após uma pancada, é mudada a sua condição sexual, de gay assumidíssimo ele tem tendências heterossexuais, tendo atração por corpos femininos.

Haviam convidado Rodrigo Santoro para o papel. O ator declinou por razões desconhecidas. Entrou Jorge Fernando, mais conhecido como diretor e ator do espetáculo quase sem roteiro Boom!!! A autora Fernanda Young sempre disse que gostaria de trabalhar com ele.

Todos se espantaram: Jorginho Fernando, um homem bem extrovertido, digamos assim, fazer um ex gay? Claro que as pessoas, entre elas, eu, pensaram na possibilidade de ele virar um estereótipo do machão, pegador, com jeito masculino. E é aí é que mora a surpresa do seriado. Os autores, corajosamente, dissociaram a vontade, a libido, da identidade que cada pessoa tem, seja ela hétero ou homo. Ou seja, fizeram um saco de gatos com tudo o que separa a identidade do macho man, o verdadeiro, daquele homem mais sensível que culmina por enxergar o mundo de um modo um tanto  bifocal, pensa como um gay, com tudo o que acarreta pensar como um gay: tem rapidez de raciocínio, humor camp, auto comiseração, clichês muito bem trabalhados dentro do texto. Não há como negar, por exemplo, que os gays pensam diferente sobre um bocado de coisas!

E aquele outro homem recém-descoberto,  que  tem sentimento e  instinto de  latin lover , vem causar uma grande confusão em sua cabeça, pois são duas pessoas  aprisionadas (outro clichê sexual) num corpo só. Aliás, o seu cérebro que ainda é gay controla o corpo, este louco pra experimentar o corpo feminino, então, sua única escolha lógica.

Daí vêm os dilemas: socialmente ele nega ter “virado” hétero, pois não pegaria bem no seu emprego de cabeleireiro e depilador. Os preconceitos são vistos de forma divertida e irreverente. E no jogo também entram a melhor amiga, uma ex-gorda que ainda não se acostumou na sociedade a viver o papel com seu novo corpo, pois mudou sua aparência, enquanto a essência continua dentro dela. Assim como Zuzu ou Nelson, que pensa como homo, Valéria( Marisa Orth) pensa ainda como gorda e dessas reflexões é que surgem os diálogos mais engraçados e por vezes agridoces dos dois amigos.

Ainda no ótimo elenco de coadjuvantes, estão Venetta (Rita Elmor), uma ex- top model quase anoréxica, sempre na rebordosa, que diz deliciosas  calamidades aos dois amigos. Está sempre no salão falando abertamente sobre sua vida; Frederick (Roney Facchini), o dono do salão, paranóico, que sempre está à margem de tudo o que acontece; e enfim, a divertida e séria  recepcionista gótica (Natalie Klein, em ótima interpretação), que também esconde uma divertida identidade, pois tem medo de ser rejeitada, como se o rótulo de gótico fosse muito bem aceito!

A dupla de escritores, mais uma vez, alterna entre piadas com diálogos inspirados, contrabalançando o olhar homo e hétero, sobre  as coisas mais banais, como um modo de vestir até um lugar para se paquerar, até o humor com uma conotação mais agressiva e um tanto escatológica, como já acontecia em Os Normais e no último Separação?! . Porém, acho que Macho Man está mais para o primeiro no sentido de longevidade.


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