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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

PERSONAGENS DE NOVELA CAEM NO SAMBA!

São Clemente apresenta o que há de melhor no horário nobre de nossa tevê: as telenovelas.



Roque quer sambar. Né brinquedo não! Além dele, Sinhozinho Malta, Viúva Porcina (sambando igual mulata), a doce Isaura, a fogosa Tieta, a morena sensual Gabriela, o Astro na imagem da televisão, Perpétua e sua peruca e outros milhões de imortais também presentes na tela da São Clemente! É isso mesmo! Estes e outros personagens inesquecíveis vão cair no samba e desfilar diante de nossos olhos pela Marques de Sapucaí na próxima segunda-feira, dia 11, às 21 horas. Imperdível para todos os amantes do samba e de nossa teledramaturgia.

Fabio Ricardo, carnavalesco da escola
O enredo “Horário Nobre”, idealizado pelo sempre genial Milton Cunha e desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo promete trazer de volta muitas de nossas melhores lembranças televisivas traduzidas nas telenovelas de maior sucesso da Rede Globo. Um grande acerto da São Clemente, pois o tema é riquíssimo e praticamente inédito na passarela do samba, exceto pela Leão de Nova Iguaçu, que em 1992, homenageou a grande dama de nossas telenovelas, Janete Clair.

No desfile da São Clemente, não só grandes novelas de Janete, como “Sétimo Sentido”, “O astro”, “Selva de Pedra” e “Pecado capital” vão estar representadas, como também grandes sucessos de nossos principais autores como Dias Gomes, Ivani Ribeiro, Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Silvio de Abreu, Gloria Perez, Manoel Carlos, entre outros, através de 40 alas divididas em 7 setores.

O primeiro deles, “Vale a pena ver de novo”, vem apresentando o enredo, mostrando os telespectadores e o Projac, a grande fábrica de sonhos da Rede Globo. Já nesse início, há boas surpresas como o 1º casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira vestidos de Vlad e Natasha, os vampiros que conquistaram o Brasil com a novela “Vamp”.

O segundo setor, “Mistérios do interior” lembrará novelas rurais e interioranas como “Irmãos Coragem”, “O rei do gado” e “O bem amado”. Adorei saber que “Tieta” vai ter um carro alegórico só pra ela! Dá-lhe, cabrita!

Alegoria representando "Tieta"

Do interior, passamos para a cidade grande através do setor 3, “Vidas Urbanas”, que vai relembrar tramas passadas em nossas metrópoles que mobilizaram o país como “Vale Tudo”, “Pecado Capítal” e “Dancin’Days”, entre outras. O “quem matou” e “quem morreu” de “A próxima vítima” também será lembrado nesse setor.

A seguir, é hora de rir com o quarto setor, que apresentará comédias hilariantes como “Cambalacho”, “Ti Ti Ti”, “A gata comeu”, “Feijão Maravilha” e “Guerra dos Sexos”. É nesse mesmo setor que vem uma das grandes atrações: a bateria toda caracterizada de Crô, personagem de Marcelo Serrado em “Fina Estampa”. É o mundo do samba apoiando a diversidade. Um luxo!

O setor 5, “Estrela Guia”, mostrará novelas com temática mística ou paranormal, dentre as quais, “O astro”, “Mandala”, “A viagem” e “Alma gêmea”. O carro “Caminho das índias” promete ser um dos grandes destaques com a encenação de um casamento indiano em plena avenida.

Alegoria representando a novela "Caminho das Índias"
As novelas de época também serão lembradas com o sexto setor, “Há muito tempo atrás”, que vai destacar novelas passadas em diversas épocas como os anos 50 e 60 que serão representados por “Bambolê” e “Estúpido Cupido”, os anos 20 com “Chocolate com Pimenta” e também as famosas novelas de temática abolicionista como “A Escrava Isaura” e “Sinhá Moça”.

Finalmente, o sétimo e último setor, “Por amor” mostrará, não somente o amor romântico de tramas como “Sangue e areia” e “A moreninha”, mas também o amor materno em “Barriga de Aluguel”, o amor à nação em “O salvador da pátria” e também o amor lascivo em “Pedra sobre Pedra”. O último carro, “Final Feliz” vai fechar com chave de ouro e apresentar os grandes personagens de nossa telinha. A última ala, é claro, será dedicada à “Avenida Brasil”. Será que Carminha vai comparecer? Como diz Dona Milú: “mistéééério”.

Grandes personagens virão no último carro da escola
Este melão que vos fala não poderia ficar de fora. Vou estar lindo e glamouroso na ala “Irmãos Coragem”, logo após o carro abre-alas. Não poderia estar mais feliz, pois vou fazer parte ao mesmo tempo de dois universos que sempre me encantaram: o samba e as novelas. A ansiedade é tremenda, mas a festa promete ser emocionante. Dance bem, dance mal, dance sem parar! É hora de sambar e se emocionar. Odete, chegou sua hora! Dona Redonda vai explodir de tanta emoção. Então, o encontro está marcado. Espero todos presentes na tela da São Clemente!

Olha eu de "Irmãos Coragem".
Abaixo a letra do samba. Pra todo mundo saber de cor! 

HORÁRIO NOBRE
Compositores: Gabriel Mansilha, Nelson Amatuzzi, Victor Alves, Floriano do Caranguejo, Beto Savana, Guguinha e Fabio Portugal

Nem adianta me ligar agora
Eu estou grudado na tela
Antiga história de amor
Orgulho da gente
Ajeita a poltrona, chegou... São Clemente!
No espelho, a magia atravessa gerações
Está no ar a mística das grandes emoções
Coragem, irmãos, que a viagem
Tem os dramas da vida que imitam a arte
As lutas de um povo e suas bandeiras
Amores e risos por todas as partes

Dance bem, dance mal, dance sem parar
Roque quer sambar... Não é brinquedo não
Quero ouro, muito dez, Inshalá
O Astro na imagem da televisão

Bem lembro a me seduzir
A morena sensual Gabriela
Fogosa Tieta e a doce Isaura
Branca escrava, tão bela
Em Bole-Bole quem não viu?
Dona Redonda explodiu!
Segura a peruca, Perpétua
Odete, chegou sua hora
O Brasil parou! Quem matou?
Já vai terminar do jeito que eu quis
Vilão não tem vez, final feliz

Olha quem chegou, Sinhozinho Malta
Viúva Porcina sambando igual mulata
Milhões de imortais também presentes
Na tela da São Clemente


Acesse www.saoclemente.com.br e saiba mais sobre o desfile de 2013.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Temas e Trilhas: ROBERTA MIRANDA




Melão assume seu lado escancaradamente romântico e declara: ADORA Roberta Miranda e seu canto derramado e apaixonadamente despudorado, que fala de amor sem reservas e sem vergonha! Já disse que cresci ouvindo os discos de Gal e Bethânia da minha mãe, mas ela também tinha alguns de Roberta Miranda que sempre ouvia e aprendi a gostar. E além dos grandes sucessos radiofônicos como “Vá com Deus”, “Dói” e “Sol da minha vida”, a cantora é presença constante na trilha sonora de muitas novelas, com seu canto inconfundível e sua interpretação personalíssima. Listei abaixo minhas favoritas, algumas porque nos remetem imediatamente à novela em questão, outras porque batem forte em minha memória afetiva. Vamos a elas:


10) “MEU DENGO” em “PARAÍSO” (2009)


Em dueto com a cantora Tânia Mara, esse animado forró era o tema das “regateiras”, espécie de “periguetes rurais”, as divertidas moças da pensão de Dona Ida (Walderez de Barros) vividas por Mareliz Rodrigues, Lucy Ramos, Paula Barbosa e Caroline Abras que, além de viverem à procura de um marido, também eram as responsáveis por espalhar todas as fofocas da cidade. Pra dançar agarradinho e relembrar do remake de Benedito Ruy Barbosa.


9) “SEU AMOR AINDA É TUDO” EM “ESTRELA DE FOGO” (1998)
Confesso que não assisti a um capítulo sequer dessa novela, mas sempre adorei essa música na voz de Roberta Miranda e, por isso, ela não podia ficar de fora da lista. Adoro essas canções que começam calminhas, introspectivas e depois vão crescendo até explodir em um ótimo refrão. Dramática, passional, desesperada... impossível não cantar alto!



8) “LA MAESTÁ IL SABIÁ” em “TERRA NOSTRA” (1999)
Aqui, em dueto com Chitãozinho e Xororó, Roberta interpreta em italiano uma composição sua de enorme sucesso na voz de Jair Rodrigues. O tema era de locação e ajudava a ambientar o ambiente rural em que viviam os imigrantes italianos da novela de Benedito Rui Barbosa. Portanto, a versão italiana de um clássico de nossa música sertaneja caiu como uma luva.

7) “SEMPRE MAIS” EM “ERA UMA VEZ...” (1998)



Versão de “Baby can I hold you”, sucesso avassalador de Tracy Chapman que fez parte da trilha de “Vale Tudo”, aqui ganha uma versão mais doce e brejeira na voz de Roberta Miranda. Na novela de Walther Negrão, era tema de Isaura (Myrian Rios), mãe solteira do menino Sarrafo (Eduardo Caldas), mulher batalhadora que trabalhava em um trailer e acaba se envolvendo com Julio (André Gonçalves), rapaz bem mais novo e que, por isso, mesmo, ela relutava em viver esse romance. Talvez o último bom papel de Miriam Rios em uma novela e ganhou uma canção à altura.


6) “MEU PRIMEIRO AMOR” EM “A FAVORITA” (2008)


Casal 20 da teledramaturgia brasileira, Tarcisio Meira e Gloria Menezes dispensam qualquer apresentação. Já formaram par romântico em diversas novelas. O mais recente foi em “A Favorita”, grande sucesso de João Emanuel Carneiro, em que viviam Irene e Copola, casal maduro que sempre foram apaixonados, mas que acabaram se casando com outras pessoas. Só após a morte do marido Gonçalo (Mauro Mendonça), Irene teve coragem de assumir seu amor por Copola, que abandona a esposa Iolanda (Suzana Faíni). Os encontros do casal, sempre regados com muito lirismo, eram embalados por essa belíssima canção, verdadeiro clássico de nossa música, que ganhou uma interpretação mais doce e menos arrebatada de Roberta Miranda, mas não menos emocionante.

5) “A MULHER EM MIM” EM “O AMOR ESTÁ NO AR” (1997)


Versão de um sucesso de Shania Twain, era o tema da perversa Úrsula, grande vilã da novela de Alcides Nogueira interpretada por Nicette Bruno. Úrsula era má, rancorosa, dominadora, mas também tinha seus momentos de fraqueza. Sua paixão não correspondida por Guima (Nuno Leal Maia) era embalada por essa canção, interpretada de forma apaixonada por Roberta Miranda. É do tipo de canção e de interpretação que remete imediatamente à novela.

4) “CABECINHA NO OMBRO” EM “PEDRA SOBRE PEDRA” (1992)


Outro grande clássico da música sertaneja que aqui, ganha uma versão repaginada no dueto de Fagner e Roberta Miranda. Também é daquelas canções que remetem imediatamente à trama. Como não se lembrar de Jorge Tadeu (Fabio Jr), fogoso fotógrafo que, mesmo depois de morto, continua a ter encontros amorosos com as mulheres de Resplendor? As cenas de amor, sempre pra lá de quentes, eram embaladas por essa canção, que fez um tremendo sucesso na época. Me transporto imediatamente para os banhos de rio entre Jorge Tadeu e sua favorita, a esotérica Úrsula (a sempre ótima Andréa Beltrão). Doces lembranças...


3) “ATRAÇÃO FATAL” EM “PORTO DOS MILAGRES” (2001)


Era o tema da beata atrapalhada e “invicta” Genésia (Julia Lemmertz dando um banho de interpretação), minha personagem favorita da novela. Também amava “Sem amor”, tema anterior da personagem interpretado por Patricia Mellodi (na época Patricia Melo), quando Genésia fervia de paixão e se lamentava por não ter um amor. Mas com a chegada do boy magia Ezequiel (primeiro papel de destaque de Vladimir Brichta em uma novela), o tema de Genésia passa a ser esse animado e fogoso forró na interpretação sacana e deliciosa de Roberta Miranda. Quando o amor dos dois explode, a “atração fatal” do título da canção passa a fazer todo o sentido.

2) “EU TE AMO, TE AMO, TE AMO” EM “O REI DO GADO” (1996)


Esse clássico da dupla Roberto e Erasmo Carlos já ganhou interpretações dramáticas, como a de Antonio Marcos e chiques como a de Marisa Monte. Mas, fala sério, delícia mesmo é ouví-la na voz aveludada e sôfrega de Roberta Miranda e seu delicioso “ah, eu amo”. A canção na voz da cantora nos remete imediatamente à apaixonadíssima Lea Mezenga, grande momento de Silvia Pfeiffer na tevê, às voltas com o malandro Ralf (Oscar Magrini), que a explorava, a espancava, mas também a fazia tremer (e gemer) de paixão. É um dos casos em que a canção se casa perfeitamente com a trama.


1)   “LUAR DO SERTÃO” EM “TIETA” (1989)


Sim, a primeira colocada, além de fazer parte da trilha de minha novela favorita de todos os tempos, ainda me remete a lembranças muito felizes de minha pré-adolescência. Daquelas que, só de ouvir, nos remete a uma época e a um lugar que não existem mais, exceto em nossas lembranças. Na novela, era tema do Comandante Lauro (Flavio Galvão) e sua esposa Laura (Claudia Alencar), que viviam felizes em Mangue Seco. Adorava as cenas do casal namorando na rede da varanda de casa, sob a luz de uma imensa lua que só existe nas novelas de Aguinaldo Silva, embalados pela doce e emotiva interpretação de Roberta Miranda para esse grande clássico de nossa música. Bela e inesquecível.


Agora é com vocês! Melão quer saber: quais são seus temas de novelas favoritos na voz de Roberta Miranda?
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LEIA TAMBÉM:


TEMAS E TRILHAS – MARIA BETHÂNIA





sábado, 8 de dezembro de 2012

Melão entrevista Ricardo Linhares: "o escritor recria a realidade a partir do seu olhar"




Ainda faltam alguns dias para o natal, mas o melão e seus leitores já ganharam um tremendo presente: uma entrevista super especial com o queridíssimo e talentoso Ricardo Linhares, que em breve vai assinar o remake de um grande sucesso de Dias Gomes, “Saramandaia”. Ele nos revela algumas novidades dessa nova versão e algumas diferenças em relação à original. Generoso, o autor nos conta toda a sua trajetória, desde o início como autor de programas educativos, o aprendizado com Doc Comparato, que o levou à Rede Globo como redator de casos especiais, passando por programas de humor como “Viva o Gordo”, as primeiras colaborações em novelas e minisséries até se tornar o autor mais jovem a assinar uma trama no horário nobre: “Tieta”, em parceria com Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretsohn. A partir daí, foi conquistando vários êxitos em sua carreira e hoje em dia é um dos profissionais mais valorizados e respeitados de nossa teledramaturgia. Além disso, Ricardo, um noveleiro de mão cheia, relembra suas primeiras paixões televisivas, opina sobre a classificação indicativa e fala do papel da telenovela na vida do brasileiro. Tudo isso com muita simpatia e delicadeza. Além de profissional de primeira linha, Ricardo também nos encanta com sua simplicidade ao narrar uma trajetória tão vitoriosa e (por que não dizer?) inspiradora e emocionante, sobretudo para quem ama novela e trabalha no ramo. Tapete vermelho estendido, melão dá a palavra ao querido Ricardo:  



O que podemos esperar da nova versão de “Saramandaia”? Quais as novidades e o que você pretende manter em relação à versão original?

Ricardo Linhares - Os tempos são outros. De 1976 (data em que a primeira versão foi ao ar) para cá, o mundo mudou, a TV mudou e os espectadores mudaram. Hoje, há outra expectativa em relação à dramaturgia televisiva. O público era mais passivo, em parte por falta de concorrência, de conhecimento comparativo com o que era feito nas TVS de outros países. Apesar da TV não ser mais novidade, ainda tinha uma certa aura, uma certa mitificação. Era o grande veículo popular de acesso às informações. Muitas casas ainda não tinham aparelhos de televisão, a TV a cores era um luxo para poucos. Hoje, num certo sentido, a TV se banalizou. Os aparelhos estão espalhados pelos cômodos, assiste-se à TV no computador, nos ônibus, nos celulares. Eu sou espectador também, eu curto novela, assisto ao trabalho dos amigos, vibro com uma boa história. Então, me coloco no lugar do público, que está mais exigente, é ativo. É preciso acompanhar a evolução. Então, não faz sentido simplesmente reproduzir o que foi feito há quase 40 anos. É preciso recontar, recriar. A primeira versão de “Saramandaia” era uma novela atemporal, que se passava numa cidadezinha perdida no interior, ainda dominada por coronéis, como se estivessem nos anos 40. Eu trouxe a novela para o Brasil contemporâneo. Parte da história vem da novela do Dias; outra parte, eu criei especialmente para esta versão, com novos conflitos e novos personagens, alguns de realismo mágico, mas todos vivendo questões da atualidade.

Como está sendo a experiência de escrever uma novela de duração mais curta?

Ricardo Linhares - É um alívio ter 60 capítulos em vez de 185 (de “Insensato Coração”, minha novela mais recente). Por outro lado, é um desafio condensar a história em vez de espichá-la, fazer as tramas renderem por diversos meses, como habitualmente. Os escritores de telenovela não têm hábito da concisão. É estimulante. As cenas são curtas, o diálogo ágil, o ritmo intenso.

Você teve suas primeiras oportunidades como roteirista depois de fazer cursos, como o que fez na CAL ministrado por Doc Comparato e, posteriormente, na Casa de Criação Janete Clair. Considera importante iniciativas como essas para a formação do profissional como a atual oficina de teledramaturgia promovida pela Rede Globo?

Ricardo Linhares - Considero fundamental. Devo o início da minha carreira aos cursos que fiz e aos ótimos professores que tive, como Doc, Paulo José, Flávio de Campos. Além dos que você citou, eu fiz outros cursos. Entre eles, uma Oficia de Humor, na Globo. Nessa época, eu já escrevia como freelancer um programa chamado “Caso Verdade”, que ia ao ar no horário atual de “Malhação”. Havia necessidade de redatores de humor e a Globo criou esta oficina. Entre outros, estavam Alexandre Machado e Mauro Wilson, que acabou de ganhar o Emmy por “Mulher Invisível”. Éramos todos jovens... A direção gostou dos trabalhos que apresentei ao longo da oficina. E foi assim que tive o meu primeiro contrato, de 1 ano de duração, como redator do programa “Viva o Gordo”, do Jô Soares, fazendo parte da equipe do Max Nunes e do Hilton Marques. A partir daí, meus contratos foram sendo renovados. E, ao fazer a Oficina de Telenovela, na Casa de Criação, fui convidado para trabalhar como colaborador do Aguinaldo Silva em “O Outro”. Espero que a Globo faça mais Oficinas de Dramaturgia e que outras emissoras também invistam na formação de novos profissionais. Mas hoje em dia o panorama do mercado mudou, com a entrada forte das produtoras independentes na TV a cabo, com a nova legislação. E o jovem roteirista não precisa mais ter a Globo como única meta. É a maior empregadora da área no Brasil e uma empresa sólida, que valoriza seus profissionais. Tenho orgulho de trabalhar lá. Mas o leque se abriu, existem mais alternativas do que quando eu comecei. Infelizmente, Record, SBT, Band e outras emissoras não conseguem manter um investimento constante na área de teledramaturgia, o que aqueceria o mercado. Já realizaram trabalhos excelentes e de grande repercussão, gerando muitos empregos, mas avançam e recuam, não transmitem confiança a longo prazo. Por isso, considero o trabalho nas produtoras independentes o grande caminho atualmente. É difícil de entrar, ficar e conquistar um lugar na Globo. Imagino que nas produtoras também. Mas a TV fechada está iniciando uma trajetória de expansão. E um dia a TV aberta vai chegar na exaustão.

Você escreveu muitos casos especiais no início de sua carreira. Que tal o formato? O que aprendeu com eles e levou para as novelas depois?

Ricardo Linhares - O início, na Globo, quando eu tinha 21 anos, foi nos programas “Caso Verdade” e “Tele-tema”, que o sucedeu (ao mesmo tempo, eu já trabalhava como redator de programas educativos na extinta TVE, desde os 19 anos, enquanto ainda cursava faculdade de Comunicação, sou formado em Jornalismo). Ambos tinham o mesmo formato: 5 capítulos, de 30 minutos cada, com 2 intervalos comerciais, que iam ao ar de segunda à sexta-feira, no mesmo horário em que “Malhação” é exibida hoje. Era preciso ter uma história com início, meio e fim, com ganchos diários e fôlego para durar os 5 dias. Foi uma excelente escola para escrever novelas. Quando eu e Ana Maria Moretzsohn fomos convidados pelo Roberto Talma para supervisionar a primeira temporada de “Malhação”, levamos este formato para lá, com algumas adaptações, claro. Havia um núcleo central na academia de ginástica, e historinhas com personagens de participação que duravam 5 capítulos. Os 2 primeiros anos da novelinha foram um sucesso. E eu atribuo à dinâmica desse formato.

Você diria que “Tieta” representa um marco em sua carreira? Quais suas lembranças da novela?

Betty Faria na cena em que Tieta retorna ao agreste

Ricardo Linhares - Só tenho lembranças boas de “Tieta”! Há novelas especiais, em que tudo dá certo, e “Tieta” é uma delas. A parceria com o Aguinaldo e a Ana, a concepção do Paulo Ubiratan (um dos grandes diretores da nossa TV, infelizmente pouco valorizado), o elenco maravilhoso, as caracterizações, a música. Aguinaldo, Ana e eu nos reuníamos toda segunda-feira num apart-hotel, disponibilizado pela produção para os nossos encontros, e criávamos as tramas do próximo bloco. A partir da reunião, Aguinaldo fazia as escaletas, que são o resumo de cada capítulo. E cada um de nós escrevia 2 capítulos. As reuniões eram deliciosas, ríamos muito, trabalhávamos nos divertindo o tempo todo. Claro que o trabalho era puxado, embora a duração de cada capítulo fosse bem mais curta que hoje em dia. Mas o retorno foi compensador. É muito importante trabalhar com pessoas queridas, generosas e criativas. Éramos um time entrosado. É uma novela que deixou saudade no público e na equipe. Agora, a lançaram em DVD. Eu comprei a caixa, mas por conta do trabalho em “Saramandaia”, ainda não tive tempo para assistir. Vai ser o meu programa de férias!


Depois de “Tieta”, você assinou “Lua Cheia de amor” em parceria com Ana Maria Moretsohn e Maria Carmem Barbosa. Como foi essa experiência?

Francisco Cuoco e Marilia Pera em cena de "Lua cheia de amor"

Ricardo Linhares - Foi um remake de “Dona Xepa”, novela do Gilberto Braga baseada na peça homônima de Pedro Bloch. O Gilberto supervisionou os primeiros capítulos. A direção era do Talma. E o elenco era encabeçado pela Marília Pera, que fazia dona Genu, uma camelô – diferentemente da personagem original, que era feirante. Os dois filhos tinham vergonha da mãe batalhadora, mas inculta. É um tema melodramático fascinante e eterno, que recentemente fez sucesso em “Morde & Assopra” e “Fina Estampa”. Li que Gustavo Reiz vai escrever uma novela baseada na peça, para a Record. Achei uma ótima ideia e desejo sucesso a ele. Infelizmente, a minha novela não pode ser reprisada, apesar dos inúmeros pedidos dos espectadores, por uma questão jurídica envolvendo os direitos dos herdeiros de Pedro Bloch. Quem roubou a cena foi a querida Arlete Salles, que fazia a alpinista social Kika Jordão, cujo bordão “translumbrante” caiu na boca do povo. Suzana Vieira, como Laís Souto Maia, a rica chique e bom-caráter, também se destacou. A novela demorou um pouco para engrenar; por inexperiência, abrimos tramas paralelas demais no início. A partir da entrada de Francisco Cuoco, que fazia o marido malandrão da Genu, que havia a abandonado, a trama deslanchou.


Você escreveu muitas novelas em coautoria com Aguinaldo Silva e Gilberto Braga. O que destacaria de cada uma dessas parcerias?

Ricardo Linhares e Gilberto Braga: parceiros constantes

Ricardo Linhares - Eu gosto de trabalhar em parceria. Gosto de somar e compartilhar. E tive a felicidade de contar com dois companheiros como Aguinaldo e Gilberto para dividir a autoria de inúmeros trabalhos. Ambos têm muito em comum, como talento, disciplina, organização, método, criatividade e generosidade. Nunca houve qualquer tipo de desavença entre nós, nunca divergimos sobre os rumos de uma trama porque sempre houve respeito pela ideia do outro. Conversando, nós sempre chegávamos à melhor solução. Aguinaldo e Gilberto têm um universo de referência diferente e trabalhar com ambos foi enriquecedor e fundamental na minha formação. É muito bom trabalhar em dupla. É curioso que em diversas ocasiões eu havia sugerido, separadamente, ao Filipe Miguez e a Izabel de Oliveira que procurassem trabalhar em parceria, principalmente ao assinar uma trama pela primeira vez. E os dois se uniram para escrever Cheias de Charme, esse sucesso estrondoso.

Como foi ajudar a escrever “Anos Rebeldes”, uma das mais cultuadas minisséries de Gilberto Braga?

cena de "Anos Rebeldes"
Ricardo Linhares - Existem oficinas de roteiro, faculdade de Letras, mas só se aprende realmente a escrever para TV na prática. Como não existe faculdade de Teledramaturgia, cada trabalho é como um curso de formação. Colaborar com o Gilberto em “Anos Rebeldes” foi como fazer um mestrado na área. Aprendi muito com o talento dele. E tenho o maior orgulho de ter participado desse trabalho.

Em “Pedra sobre Pedra”, você retomou a parceria com Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretsohn. O que destacaria de positivo nessa novela?

Ricardo Linhares - Continuamos grandes parceiros e grandes companheiros. Levamos mais adiante a proposta de realismo fantástico, com personagens marcantes até hoje, como Jorge Tadeu (Fabio Jr) e Sérgio Cabeleira (Osmar Prado), que era sugado pela lua cheia. Mais uma vez, Paulo Ubiratan foi o diretor responsável por altos voos de criatividade, além de saber escalar muito bem um elenco. Digo mais: esta novela mereceria um remake, com as possibilidades de efeitos especiais que temos hoje.

Sergio Cabeleira (Osmar Prado) em "Pedra sobre pedra"
“Fera Ferida” foi uma novela inspirada na obra de Lima Barreto. Em adaptações como essa, qual o limite entre seguir a obra original e a livre criação?

Ricardo Linhares - Tanto em “Fera Ferida” quanto em “Porto dos Milagres” (baseada em “Mar Morto” e “A descoberta da América pelos turcos”, de Jorge Amado) não ficou praticamente nada das obras que originaram essas tramas, além do nome de um ou outro de personagem, de uma ou outra situação. Tivemos que mudar tudo, pois não havia trama que sustentasse meses de história. Se não fosse mexido, não haveria novela. Tanto Lima Barreto quanto Jorge Amado entraram mais como uma grife, foram homenageados como os grandes escritores que são. O adaptador não pode ficar engessado na obra que serviu de ponto de partida.

Lima Duarte e Edson Celulari em "Fera Ferida"
Suas novelas-solo “Meu bem querer” e “Agora é que são elas” têm em comum o fato de serem novelas regionalistas cujas tramas se passam em cidades fictícias. Você se sente mais à vontade nesse universo?

Ricardo Linhares - Eu sou um contador de histórias. Esse é o meu ofício. Estas duas novelas foram regionais porque as ideias brotaram assim. Cada trama nasce com as suas características próprias. Eu me sinto à vontade tanto no universo urbano quanto no rural. Até hoje, não escrevi novelas de época, tirando a colaboração em “O tempo e o vento” e “Anos Rebeldes”. Gostaria muito de escrever uma trama histórica. Não gosto de ficar restrito a um estilo. Sobre cidades fictícias, a verdade é que todas as tramas se passam em locais fictícios, embora alguns pareçam reais.

Flavia Alessandra e Leonardo Brício em "Meu bem querer"

Em “Paraíso Tropical”, pudemos identificar muito do estilo de Gilberto Braga, mas também é possível identificar muitas características de suas obras como os diversos quiprocós que aconteciam no Edifício Duvivier. Até que ponto a Copacabana da novela se assemelhava com as cidades fictícias das tramas regionalistas que você escreveu?

Ricardo Linhares - Respondi acima sem ter lido esta pergunta. A Copacabana do Edifício Duvivier era tão fictícia quando o Divino de “Avenida Brasil” ou o Leblon do Manoel Carlos. O escritor recria a realidade a partir do seu olhar; senão, faria um documentário.

“Insensato Coração” foi uma novela, cuja estrutura nos primeiros 100 capítulos foi mais episódica com tramas que iniciavam e se encerravam rapidamente e personagens que entravam e saíam o tempo todo da trama. A partir da segunda metade, a novela apresentou uma narrativa mais linear seguindo o modelo clássico do formato do gênero. A que se deveu essa mudança?

"Insensato Coração": sucesso também no mercado internacional
Ricardo Linhares - Na segunda metade, pode ter diminuído um pouquinho as participações, mas a novela continuou episódica até o final. Esta era a proposta da trama, a sinopse foi criada assim. Eu sempre quis escrever uma novela em que personagens fixos contracenassem com participações. Como na vida. Quantas pessoas passam por nós, convivem algum tempo, marcam ou não nossas vidas, e depois nunca mais as reencontramos? Por que na novela temos que acompanhar todos os personagens do início ao fim? Às vezes, a trama de um núcleo já acabou, mas os atores ficam até o final, sem história. Eu e o Gilberto optamos por fazer com que eles saíssem da novela quando se esgotasse a sua função. Nos seriados americanos, esse recurso é super comum. Atores entram e participam de 2 ou 3 episódios e depois vão embora; alguns voltam 10 episódios depois e somem novamente. O público entende a dinâmica. Na novela, provocou polêmica: houve quem visse uma novidade, houve quem reclamasse que esse formato não dava tempo de gerar empatia com os personagens novos. O nosso público está cada vez mais conservador e imediatista, quer a trama mastigadinha para entender. Uma novela ousada, inteligente e sensacional como “O Casarão”, do Lauro César Muniz, que se passava em 3 épocas simultâneas, jamais poderia ser feita hoje. O espectador ficaria confuso. Enfim, eu fiquei feliz por ter podido experimentar. E considero o saldo positivo. Gilberto e eu nunca pretendemos revolucionar a telenovela. Acho que isso não existe. Mas quisemos contar aquela trama desta maneira específica. A venda da novela para outros países tem sido excelente.

Como é a divisão de trabalho entre você e seus colaboradores? Você costuma dar a liberdade a eles para criar dentro da escaleta ou sugerir novos rumos para as tramas?

Ricardo em seu escritório. Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores"
Ricardo Linhares - Todos têm liberdade, claro. Somos uma equipe de amigos, de pessoas em quem se pode confiar. A opinião de cada um é importantíssima e soma no resultado final. Eu divido o trabalho por núcleos, já que cada escritor naturalmente tem mais afinidade com determinado tom: comédia, romance, ação, jovens, etc. Então, meus colaboradores costumam seguir um personagem, ou um núcleo, do início ao fim da novela. Temos sempre reuniões de criação em que conversamos sobre os rumos da trama. E hoje em dia, com a facilidade da internet, ficamos o tempo todo conectados trocando dezenas de e-mails com dúvidas e sugestões.

Você atuou como supervisor de texto em “Cheias de Charme” e, aparentemente, a novela não tinha muitas características de suas obras, ao contrário de outras supervisões em que notamos de maneira muito clara o estilo do supervisor. Até que ponto o supervisor deve intervir no trabalho do autor?

Ricardo Linhares - Cada pessoa trabalha de uma maneira diferente, não existe certo, nem errado. Na minha opinião, o supervisor não deve intervir no tom dos autores. Além de “Cheias de Charme”, da primeira temporada de “Malhação” e da penúltima temporada, já fiz outros trabalhos de supervisão, principalmente de sinopses. Como gosto de trabalhar em equipe, considero o supervisor mais um membro do time. O meu trabalho é ajudar o autor a contar a história que ele deseja contar e do jeito que ele quer. Claro que, com a experiência de 30 anos de TV que eu tenho, sei que algumas coisas devem ser bem avaliadas e dou a minha opinião e apresento alternativas. Não existe nada pior do que alguém que diz: não vai por esse caminho. E não apresenta outras soluções. Mas na TV não existem regras nem fórmulas. O que deu errado uma vez, pode dar certo em outras circunstâncias. O que faz sucesso hoje pode ser um fracasso no ano que vem, vice-versa. Então, é preciso liberdade e ousadia. Como supervisor, eu cuido, ajudo, ando de mãos dadas, tiro dúvidas, leio tudo, do início ao fim, participo das reuniões de criação, mas nunca impondo. Felipe e Izabel são dois escritores talentosíssimos, antenados, criativos e responsáveis. Ambos já tinham uma grande experiência como colaboradores com diversos autores. O sucesso que fizeram me encheu de orgulho. E fiquei muito feliz por ter feito parte da equipe deles.

"Cheias de Charme": novela de sucesso que contou com a supervisão do autor

Qual sua opinião sobre classificação indicativa?

Ricardo Linhares - Não sou contra a classificação indicativa. Acho que o espectador (principalmente os pais) tem o direito de saber a censura que o Ministério da Justiça dá a cada programa. No cinema, é assim. Sabemos se um filme tem censura livre, ou é proibido para maiores de 12, 16 anos etc. Sou radicalmente contra atrelar a classificação indicativa ao horário de exibição. É a mesma coisa que filmes com censura 18 anos só pudessem ser exibidos a partir das 22h nos cinemas. As regras da censura oficial não são claras. Programas sensacionalistas, supostamente jornalísticos, exibem nudez ao meio-dia. E em “Malhação” não podemos fazer cenas de intimidade de namorados acordando na mesma cama. É hipocrisia.

Geralmente, quando cria algum personagem, já pensa no possível ator / atriz para interpretá-lo?

Ricardo Linhares - Primeiro nasce o personagem, em função da trama. Ao elaborar a ação do personagem e suas características, já penso no ator/atriz para interpretá-lo. Ou, pelo menos, num tipo de ator, inicialmente. Por exemplo, ao começar a esboçar um perfil, posso pensar em Sophia Loren. E depois, à medida em que desenvolvo suas características, me vem à cabeça a intérprete brasileira. Na fase de sinopse, muitas vezes as escalações iniciais podem não se concretizar, por diversas razões. Mas ao escrever o diálogo dos primeiros capítulos acho importantíssimo saber o intérprete.

Você é noveleiro? Assiste a novelas desde criança ou só começou a acompanhar por força do trabalho? Quais as novelas e personagens favoritos do Ricardo Linhares espectador?

Ricardo Linhares - Sou noveleiro desde cedo. Mas na minha casa não havia o hábito de se assistir às novelas. Aliás, víamos pouca televisão em família. Tenho lembranças de novelas antigas, “Irmãos Coragem”, “Cavalo de aço”, a primeira versão de “Mulheres de Areia”, de “A Viagem”, “O semideus”, “Selva de Pedra”, “Escalada”, “Estúpido Cupido”, “Anjo Mau”, “Helena”, “Bravo”, “Corrida do ouro”. Pelo horário, eu não podia assistir às novelas das 22h porque tinha que acordar cedo para ir para o colégio. Mas sempre dava um jeitinho de acompanhar. Lembro de “O Bem-amado”, “O Espigão”, “Gabriela”, “Saramandaia”. Gostava de quando os meus pais saíam ou tinha festa em casa, porque a TV ficava liberada. Uma novela das 10 que me marcou muito foi “Os ossos do barão”. Fiquei eletrizado com “O Rebu”. Adorei “Nina”. “O grito” foi inesquecível. Enfim, são tantas... “Pecado Capital”, “Duas Vidas”, “Feijão Maravilha”, “O Astro”, “Vejo a lua no céu”, “O feijão e o sonho”, “A sucessora”, “Paraíso”, “O Casarão”, “Dancin’ Days”. Nem passava pela minha cabeça que um dia eu seria escritor e criaria novelas. Mas acho que a semente foi plantada ali.

Foto: Cícero Rodrigues para o livro "Autores"


Já pensou em escrever para outros veículos como teatro ou cinema?

Ricardo Linhares - Na verdade, comecei a escrever para teatro, aos 14 anos. As minhas primeiras leituras foram de peças teatrais, devorei os clássicos na adolescência, dos gregos a Tennessee Williams, Shakespeare, Ibsen, Arthur Miller, O’Neill, Pirandello, Nelson Rodrigues, Jorge Andrade, Dias Gomes, Ionesco, Beckett, entre dezenas de autores maravilhosos. Eu lia tudo o que podia, era rato de biblioteca. Leitura é tudo. Acho que hoje em dia as pessoas leem tão pouco... Há quem queira ser escritor e nunca tenha lido Édipo Rei, por exemplo, que é a base de toda a dramaturgia ocidental. Ganhei alguns prêmios em concursos de teatro. E pretendia seguir por aí. Nem pensava em televisão. Mas conheci uma produtora da TVE, Ana Gouveia, num curso de inglês (olha a importância dos cursos na minha vida!). É uma mulher inteligente, culta, dinâmica. Ela produzia uma série de programas educativos chamada “Qualificação Profissional”. Conversando no intervalo das aulas, eu contei que havia ganho alguns prêmios com peças de teatro. Ela me pediu para ler. E depois me convidou para escrever os roteiros da série. Eu tinha 19 anos, era estudante de Jornalismo. Foi assim que entrei para a TVE. Gostei do trabalho, soube do primeiro curso que o Doc Comparato daria na CAL, me inscrevi. Doc gostou do meu texto, me encaminhou ao “Caso Verdade”, na Globo, que era dirigido pelo Paulo José. E eu nunca mais parei, sempre emendei um trabalho no outro. Tenho 50 anos, trabalho na Globo desde 1983. Já escrevi para todas as faixas, de Malhação a minisséries e linha de show. Fui o mais novo autor de novela das 21h, aos 27 anos, ao assinar “Tieta” com Aguinaldo e Ana Moretzsohn. Entre autoria, coautoria, colaboração e supervisão, já fiz mais de 15 novelas, além de Malhação, minisséries, especiais, seriados e humor. Nesse tempo todos, várias vezes já pensei em voltar ao teatro, mas, por falta de tempo, fui adiando... e hoje não tenho mais interesse. Adoro teatro como espectador, sou assíduo. Mas guardo as minhas ideias pra TV. Anda tenho muito trabalho pela frente.

Qual o papel da telenovela na vida do brasileiro?

Ricardo Linhares - É, e acredito que sempre será, a grande fonte de emoção, risos, romances, sonhos e reflexões. É nossa querida companheira diária. Ao mesmo tempo em que entretém, a telenovela ajuda na evolução dos costumes, a diminuir o preconceito, leva informação e ilustra a vida da maioria da nossa população. É preciso sempre estar mudando para acompanhar a evolução do mundo e do comportamento, com ousadia, liberdade e responsabilidade. A novela é o espelho da vida.

Ricardo, gostaria de agradecer muitíssimo pela entrevista. É uma honra para o melão e uma alegria para os leitores. Sou muito seu fã. Te desejo muito sucesso em “Saramandaia” e fica a torcida para que possamos trabalhar juntos algum dia.

Ricardo Linhares - Valeu, querido! Eu é que agradeço a oportunidade. Um beijo grande de final de ano para os seus leitores. Feliz 2013 a todos, que seja um ano pleno de realizações! Parabéns pelo merecidíssimo Emmy de “O Astro”, e tomara que os nossos caminhos se cruzem adiante. Muito obrigado pela torcida positiva!

Eu e Ricardo em evento na PUC-Rio
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

OS MELHORES PRIMEIROS CAPÍTULOS – Ponto de partida para uma boa novela.



Por Wesley Vieira – Blogueiro convidado


O primeiro capítulo de uma novela, obviamente, é o chamariz para toda a história que irá se desenrolar ao longo dos próximos meses. Quando bem amarrado, fisga o telespectador de imediato. Alguns clichês são necessários para chamar a atenção, como as cenas de ação e os amores à primeira vista. Também é essencial um melhor acabamento estético para impressionar o público. Não necessariamente um bom primeiro capítulo é sinal de novela boa, assim como um primeiro capítulo ruim não é sinal de novela ruim. Aqui no Melão, listei 10 melhores primeiros capítulos na minha humilde opinião. Claro que muitos excelentes ficaram de fora, mas citarei apenas aqueles que eu vi e gostei. 


Celebridade – Primeiro capítulo exibido no dia 13/10/2003




Fama, inveja e vingança eram os temas centrais dessa moderníssima trama de Gilberto Braga. Nesse excelente primeiro capítulo, como sempre, a agilidade na apresentação das tramas e personagens - marca registrada do autor: Considero esse primeiro capítulo como uma espécie de prólogo para mostrar, logo de imediato, o que seria a espinha dorsal da novela: as armações de Laura (Claudia Abreu) para pegar o lugar de Maria Clara (Malu Mader) em um misto de inveja e vingança. Um curioso recurso foi utilizado para “familiarizar” os personagens: na medida em que eles iam aparecendo, a imagem congelava e seus nomes eram grafados na tela. O capítulo, resumidamente, mostra as artimanhas de Laura para conseguir um emprego de secretária na produtora de Maria Clara Diniz, famosa empresária do mundo da música. Humilde, a jovem disputa uma vaga, mas não obtém êxito. Ela, então, parte para o plano B: Marcos (Marcio Garcia) seqüestra Maria Clara e Laura surge para defendê-la. O seqüestro, aliás, vira um acontecimento televisivo, algo tipicamente hollywoodiano, afinal Maria Clara é uma celebridade. Tiros, explosões, muitos flashes... E a promoter consegue escapar do bandido. Em forma de agradecimento, Laura ganha o cargo de secretária. Um brinde! Mas nesse primeiro capítulo, personagens como Darlene (Débora Secco) e o bombeiro Vladimir (Marcelo Farias) também eram apresentados. Ela queria ser famosa. Ele, o namorado, não. Por ironia do destino, é Vladimir quem salva Maria Clara de uma explosão e por esse ato, ele será reconhecido. Outro importante personagem é o arrogante jornalista Renato Mendes (Fábio Assunção) disputando o seu alto ego com Maria Clara. O capítulo fecha com o prenúncio do que viria pelos próximos capítulos: Laura e Maria Clara brindam pela felicidade: “Você vai ter tudo o que sempre mereceu”, dispara a falsa boazinha. Capítulo perfeito!


Tieta – Primeiro capítulo exibido no dia 14/08/1989




Inesquecível novela baseada no livro de Jorge Amado, “Tieta” arrebatou o público ao mostrar as deliciosas histórias criadas pelo grande autor baiano. De forma simples, mas interessante, os autores centralizaram o capítulo em Ascânio (Reginaldo Faria) e seu retorno a Santana do Agreste. Após muitos anos vivendo no Rio, ele está de volta e reencontra todos os amigos que deixara para trás. Seria óbvio iniciar a novela justamente com a protagonista-título, porém o reencontro de Ascânio com os amigos serviu para que eles contassem o que aconteceu com aquela “cabritinha apetitosa”. Entra o flashback mostrando os assanhamentos de Tieta envolta com os homens da cidade. Assim, o público já reconhece que sua irmã, Perpétua, é a grande invejosa da história. É ela a responsável pelo flagrante que o velho Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos) dá em Tieta, no momento de prazer com Lucas (Herson Capri). Quem não se lembra do “ypsilone duplo”? Diante dos moradores da cidade, Zé Esteves dá uma surra na filha e a expulsa da cidade. Ela jura que voltará para se vingar. A ação volta aos dias atuais e com a morte do pai, Ascânio decide ficar de vez na cidade. Ele volta para o Rio e se casa com Helena (Françoise Fourton), que opõe radicalmente à mudança. O capítulo termina em Helena desesperada com a nova vida que Santana do Agreste lhe reservará dali em diante. 


Fera Ferida – Primeiro capítulo exibido no dia 15/11/1993



Vingança, tema recorrente em muitas histórias, também era o pilar principal desta trama baseada em histórias de Lima Barreto e escrita pelo trio Aguinaldo Silva, Ana Maria Morethzon e Ricardo Linhares. Este primeiro capítulo, forte e conciso, iniciava com Raimundo Flamel (Edson Celulari) a caminho de Tubiacanga, sua cidade natal, de onde teve que fugir quando ainda era criança. Gusmão (Ewerton de Castro), seu fiel escudeiro, ouve a sua triste história e entra flashback, revelando a saga do rapaz. Seu pai, Feliciano Mota da Costa (Tarcisio Meira), o prefeito, acredita que a cidade possui minas de ouro e tendo o apoio dos companheiros poderosos, entre eles o Major Emiliano Bentes (Lima Duarte), revela uma grande pepita de ouro para a população que fica alvoroçada com o achado. Logo, ele convence o povo a entregar suas economias para a construção de uma mineradora em Tubiacanga. No entanto, a cidade é invadida por garimpeiros que souberam da notícia e quando Feliciano volta da capital com o dinheiro do povo convertido em dólares, todos descobrem que a pepita era falsa. Clímax. Feliciano é perseguido pelo povo e para piorar, o dinheiro some misteriosamente. Além de mentiroso, todos o chamam de ladrão. Encurralado, ele foge com a esposa e o filho numa canoa, mas é atingido por um pistoleiro. Sua esposa também morre e Feliciano Júnior enterra os pais. Ele jura se vingar de todos. Quase ao final do capítulo, a ação volta para a atualidade e Raimundo Flamel faz mistério de seu retorno à cidade para curiosidade dos poderosos que foram responsáveis pela derrocada de sua família.  


Corpo a Corpo – Primeiro capítulo exibido no dia 26/11/1984

A novela que contava a história da mulher ambiciosa que faz pacto com o diabo para ascender profissionalmente, teve um primeiro capítulo excelente e muito bem amarrado. Em um tom bastante ágil, conhecemos os personagens principais, entre eles, Eloá (Débora Duarte) que trabalha na Fraga Dantas como engenheira e tem aspirações maiores que o marido Osmar (Antonio Fagundes). Por não ter sido escolhida para ir ao Japão, inconscientemente, ela deseja a morte de todos da família e no mesmo dia, descobre que a esposa de Alfredo Fraga Dantas (Hugo Carvana) morreu. Uma sequência de tirar o fôlego é a enchente em Santa Catarina, fato que levará Rafael (Lauro Corona), sua mãe e sua noiva ao Rio. A discreta aparição de Tereza (Glória Menezes) revela que há algum mistério ao redor daquela mulher, que, de forma suspeita, aborda Bia (Malu Mader) após o término da missa de sétimo dia de sua mãe. Quando Cláudio (Marcos Paulo) sofre um espancamento, é Tereza a escolhida para cuidar dele. O capítulo termina com Eloá em uma festa conhecendo o suposto diabo – entrecho que vai permear toda novela.


Vereda Tropical – Primeiro capítulo exibido no dia 23/07/1984


Sem dúvida, a minha novela das sete preferida tinha que entrar nessa lista. Anárquico e movimentado, o capítulo de estreia da primeira novela de Carlos Lombardi com supervisão de Silvio de Abreu, teve todos os bons ingredientes para torná-lo memorável. Cenas rápidas e divertidas deram o tom que seria característica principal do folhetim. A novela começa no ano de 1976, em Belém do Pará, onde mora Silvana (Lucélia Santos), uma simples operária que se apaixona por Vitor (Lauro Corona), rapaz rebelde, filho do poderoso Oliva (Walmor Chagas). Como Vitor gosta de se sentir livre, ele foge enquanto Silvana dá à luz na beira do cais. Nesse momento, uma bonita sonoplastia de Ave Maria sobrepõe aos berros da mocinha (esse recurso foi utilizado porque os censores não gostaram de ouvir os gritos de Silvana. Os autores, então, prometeram inserir a música para que a cena não fosse cortada). Desde então, Silvana vive fugindo do sogro e em 1984 ela está em João Pessoa onde mora com a avó e o filho, Zeca (Jonas Torres). Conhecemos o atrapalhado Oliva e suas três filhas, entre elas, a ambiciosa Catarina (Marieta Severo) e Verônica (Maria Zilda), femme fatale, que está na Espanha aproveitando a vida e, de quebra, seduzindo os homens. Uma das melhores cenas é quando ela provoca uma briga no cassino e consegue se livrar, linda e poderosa, do local. Claro, o capítulo, também, apresenta Luca (Mario Gomes), o jogador de futebol correndo atrás da sorte e se metendo em muitas confusões, principalmente com a feiosa Clô (Regina Casé), filha do diretor do time, que descobre o romance e coloca os capangas para pegá-lo. Ligando todos os núcleos, está a Vila dos Prazeres onde a fábrica de perfumes CPP, de propriedade de Oliva, e a cantina italiana La Tavola de Michele, comandada por Bina (Georgia Gomide), a mãe de Luca, estão instaladas. Oliva consegue raptar o neto e o leva para São Paulo. Em ritmo de muita ação, o capítulo fecha com Luca se livrando dos capangas.


Vale Tudo – Primeiro capítulo exibido no dia 16/05/1988


Gilberto Braga é mestre em excelentes primeiros capítulos. Ele sabe, como ninguém, mexer com todos os recursos folhetinescos para fisgar o telespectador já no início de suas narrativas.  Nessa célebre novela, o capítulo número um não seria diferente. Poucos personagens foram apresentados nesse início. Basicamente, o capítulo mostra Raquel (Regina Duarte) começando uma nova vida ao lado da filha em Foz do Iguaçu, após uma separação traumática. Anos depois, Maria de Fátima (Glória Pires), sua filha, é uma jovem ambiciosa, cansada da vida modesta e com vergonha da mãe que trabalha como guia turística. Sonhando com o Rio de Janeiro, ela conhece o modelo César Ribeiro (Carlos Alberto Ricceli) e vê nele a chance para sair daquela vida. Na base das artimanhas, Maria de Fátima consegue fazer figuração para uma sessão de foto e descobre que César precisa de alguém que arrume um jeito para passar uns produtos pela alfândega. É assim, que entra em pauta um importante debate sobre corrupção que dará o tom à novela inteira. Salvador (Sebastião Vasconcelos) morre e deixa a casa como herança para a neta. Nos minutos finais, Raquel descobre que a filha vendeu o imóvel e levou todo o dinheiro. Um capítulo simples, mas deliciosamente bem amarrado. 


A Gata Comeu – Primeiro capítulo exibido no dia 15/04/1985




Simplesmente Ivani Ribeiro. E isso já diz muito. Ivani, uma das maiores novelistas da televisão brasileira, prezava pela simplicidade e por isso mesmo arrasava. E A Gata Comeu é um clássico do horário das 18 horas. O capítulo começava enquadrando o Pão de Açúcar, localizado na Urca, bairro que centraliza a ação da novela. O professor Fábio (Nuno Leal Maia), em sala de aula, cita o nome de todos os alunos que irão participar de uma excursão com a lancha emprestada pelo importante empresário, Horácio Penteado (Mauro Mendonça). É quando entra em cena, a linda Jô Penteado (Cristiane Torloni) – ao som de “Só Pra o Vento”, música do Ritchie - moça mimada que, por ironia do destino, sugere ao noivo um passeio na mesma lancha no próximo feriado. Nesse ínterim, o impagável casal Gugu (Claudio Correia e Castro) e Tetê (Marilu Bueno) aparece e já arrancam risadas dos telespectadores. Tipos adoráveis que viviam às turras, eles são convidados a participarem da mesma excursão e soltam um “Topo, Gugu!” que adotei pra minha vida. Depois, descobrimos que Paula (Fátima Freire), a noiva de Fábio, trabalha na agência de turismo que pertence a Horácio. Está amarrada a teia. Após uma discussão com Jô, ela é demitida, mas tem a chance de participar da excursão como convidada do noivo. Jô, que se tornou a sua arquiinimiga, a barra na entrada do cais causando tremenda confusão. É nesse momento que Fábio e Jô se conhecem e a antipatia é recíproca. O capítulo termina com o motor da lancha explodindo em alto mar, gancho para os próximos capítulos, quando essa turma ficaria perdida durante muitos capítulos em uma ilha deserta. 

Louco Amor – Primeiro capítulo exibido no dia 11/04/1983

Em uma narrativa bastante ousada para a época (e incrivelmente inovadora, até, para os dias de hoje), Gilberto Braga utilizou o recurso do “flashback dentro do flashback”, fazendo deste, um dos melhores primeiros capítulos já exibidos (em minha opinião, claro). Já em tom de flashback, a trama começa durante a festa de 17 anos de Patrícia (Bruna Lombardi). Ali está o mocinho, Luiz Carlos (Fábio Junior), apaixonado pela aniversariante, mas obrigado pela madrasta da moça a servir os convidados. A partir daí, ele relembra os primeiros momentos de sua chegada à mansão de Edgar Dumont (José Lewgoy), quando ainda era criança, passando para a descoberta do amor até chegar ao primeiro clímax quando a malvada Renata (Teresa Rachel), totalmente contra o relacionamento, pega o casal em flagrante. A ação volta para festa. Luiz Carlos, humilhado, solta os cachorros em Renata e nos convidados. Esta é, em minha opinião, uma das melhores cenas da teledramaturgia brasileira. Impressionante. É esse fato que o separará de Patrícia. Fim do epílogo. Nos “dias atuais”, o mocinho trabalha numa sapataria, vive longe da mãe e está prestes a se formar em jornalismo. Também conhecemos Claudia (Glória Pires), colega de classe de Luiz Carlos. Ela tem uma difícil relação com o Alfredo (Fernando Torres), seu pai, que sensibilizado com a situação de Luiz, o convida para dividir um quarto. Após seis anos longe do Brasil, Patrícia retorna ao Brasil e Luiz Carlos invade a mansão, descobrindo que ela teve um filho.


O Astro – primeiro capítulo exibido no dia 12/07/2011




A ganhadora do Emmy de melhor telenovela em 2012 também teve um capítulo de estréia exemplar. Nessa versão baseada no antigo texto de Janete Clair (Ave Janete!), e escrita por nosso amigo Alcides Nogueira, o Tide, e Geraldo Carneiro, muitas cenas de ação e a apresentação corretíssima de todos os personagens, sobretudo do protagonista Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi). As primeiras cenas, em flashback, o mostram em apuros na pequena cidade de Bom Jesus. Após dar um golpe nos fieis da igreja, Herculano descobre que fora enganado pelo seu companheiro, Neco (Humberto Martins). Sozinho, ele é perseguido por todos. Impressiona a ferocidade dos populares. Muitos takes espetaculares dessa fuga e de repente, a única solução é entrar na delegacia e pedir ajuda. Na cadeia, ele conhece Ferragus (Francisco Cuoco), um homem misterioso, misto de mágico e bruxo, que se torna o seu mentor. Aos poucos Herculano aprende todas as técnicas com ele e após uma passagem de tempo, está livre. Agora ele se tornou o Professor Astro e faz sucesso com shows de ilusionismo na casa de espetáculos Kosmos. É lá que Amanda (Carolina Ferraz), procurando se distrair, o conhece e apesar de negar, fica impressionada com seu desempenho. Conhecemos Marcio Hayalla (Thiago Fragoso) tocando seu flugelhorn pelo metrô e encantado pela beleza de Lili (Aline Moraes). É no universo dessa mocinha que encontramos Neco, o mesmo mau caráter que enganou Herculano no passado e agora está casado com a sua irmã. O empresário Salomão Hayalla (Daniel Filho) está inaugurando um novo supermercado ao lado de sua família, incluindo a esposa Clô (Regina Duarte) e seus irmãos ambiciosos. É quando Márcio surge liderando uma multidão de pessoas pobres que adentram o supermercado numa fúria avassaladora. Salomão fica irado e desconta a sua raiva na esposa. Porém, o maior clímax desse irresistível capítulo acontece no final, quando Marcio fica nu diante de todos os convidados na festa preparada por sua mãe na mansão dos Hayalla. Escândalo!  


Belíssima - Primeiro capítulo exibido no dia 07/11/2005



A primeira cena dessa novela já me chamou a atenção: uma linda modelo no topo de um prédio segurando a bandeira de São Paulo. Tudo não passava de uma ousada e polêmica campanha de marketing pelos principais pontos da grande Sampa para comemorar o jubileu da Belíssima. A ação chamou a atenção da mídia e de grupos de protesto contrários com as “performances indecentes” das modelos praticamente desnudas. O mais interessante foi apresentar os personagens conforme uma sequencia da campanha rolava em locações diferentes. E para dar um charme, um jornalista em off explicava o que estava acontecendo. Conhecemos a protagonista Julia Assunção (Glória Pires) contrária à campanha idealizada por sua avó, Bia Falcão (Fernanda Montenegro). O noticiário na televisão, explicando a confusão pelas ruas de São Paulo, serviu para apresentar os personagens mais a fundo, inclusive com a apresentação do núcleo de Katina (Irene Ravache). Capítulo seguindo e vimos o misterioso André (Marcelo Antony) cruzar o caminho de Cemil (Leopoldo Pacheco). E algumas cenas depois, a trama vai para a Grécia onde Vitória (Claudia Abreu) e Pedro (Henri Castelli) vivem felizes com a filha, longe dos despautérios de Bia, a tirana que fora contra o relacionamento. Eles estão de casamento marcado e temem pela aproximação da vilã. Julia descobre que a avó tem planos para destruir a cerimônia e vai para a Grécia antes. O capítulo termina com Bia Falcão chegando e ficando frente a frente com a neta disposta a tudo para impedir qualquer plano que ela tenha em mente para acabar com a felicidade dos noivos. Um capítulo forte, criativo e com tramas muito bem desenvolvidas.


O Salvador da Pátria – Primeiro capítulo exibido no dia 09/01/1989

Uma das minhas novelas preferidas também teve um primeiro capítulo excelente. Lauro César Muniz e Alcides Nogueira souberam amarrar os núcleos e desenvolvê-los com cuidado de nos apresentar todos os personagens e tramas principais. Primeiro take de um sol nascendo sobre a plantação de laranja e surge o icônico Sassá Mutema (Lima Duarte) acordando e indo para o trabalho com Off do locutor Juca Pirama (Luiz Gustavo) dando bom dia para os trabalhadores do campo em seu programa “Meninos eu vi!”. Em seguida, a linda Clotilde (Maitê Proença) está perdida pelas estradas a caminho de Tangará e encontra o engenheiro Paulo (saudoso Marcos Paulo) que decide ajudá-la. Ele é o elo para o núcleo da empresária Marina Cintra (Betty Faria) e suas filhas. Enquanto isso, em sua rádio, Juca Pirama brada sobre as mazelas políticas da cidade e os outros núcleos são apresentados. Na escola, Clotilde se apresenta aos alunos e é nesse momento que nós, telespectadores, somos brindados com a apresentação de Sassá, esse lindo personagem que conta toda a sua trajetória de vida. Ele é convocado para arrumar o jardim da casa do patrão, o deputado Severo Blanco (Francisco Cuoco), que descobrimos ser a principal vítima dos comentários de Juca. Ele é casado, mas mantém um caso amoroso com a ninfetinha, Marlene (Tássia Camargo). O radialista explora o caso e sob as ameaças do pai da moça, Severo é instruído pela própria esposa a encontrar um marido para a amante. Depois de uma tentativa frustrada, Gilda (Suzana Vieira) tem a mirabolante ideia de mandar justamente o ingênuo Sassá para a fazenda.


Cordel Encantado – primeiro capítulo exibido no dia 11/04/2011


Cinema perde! Assim defino o primeiro capítulo desse grande sucesso escrito pela dupla Thelma Guedes e Duca Rachid. Junção perfeita dos elementos do cangaço e dos contos de fada, “Cordel Encantado” começou, literalmente, já trazendo fogo para a telinha. Um cometa corta o céu e cai no sertão nordestino na visão do profeta Miguezin (Matheus Nachtergaele). Do chão, brota a flor de açucena, “a certeza de um novo tempo que o rei vai trazer”. Imediatamente somos remetidos para o distante reino de Seráfia do Norte, onde o Rei Augusto (Carmo Dalla Vechia) relata sobre essa mesma visão que tivera na noite anterior. Amadeus (Zé Celso Martinez) revela que ele fará uma viagem ao Brasil. Logo, o rei é informado que o exército de Seráfia do Sul está invadindo o palácio sob o comando do Rei Teobaldo (Thiago Lacerda). Em seguida, takes espetaculares de uma guerra entre os dois reinos. Definitivamente, uma sequência fantástica que não deixa nada a dever para o cinema americano. Nesse mesmo momento, a Rainha Cristina (Aline Morais) dá a luz a uma menina que recebe o nome de Princesa Aurora. Seráfia do Norte vence a batalha e Teobaldo morre após assinar um acordo que prevê o casamento entre seu filho Felipe e a princesa para a união dos dois reinos. A Duquesa Ursula (Débora Bloch), a grande vilã também é apresentada demonstrando muita inveja de Cristina. Após descobrirem que há um tesouro perdido no nordeste brasileiro, eles decidem embarcar e são alertados para os perigos do sertão, sobretudo pelo ataque dos cangaceiros.  Esse é o mote para ligar ao drama do Capitão Herculano (Domingos Montaigner), o cangaceiro, rei do sertão que deixa o filho Jesuíno aos cuidados do Coronel Januário (Reginaldo Faria). A comitiva de Seráfia chega a Brogodó e é atacada pelos cangaceiros. A Rainha Cristina sofre um atentado em armadilha engendrada pela Duquesa Úrsula e deixa a filha aos cuidados do casal de sertanejos, Virtuosa (Ana Cecília Costa) e Euzébio (Enrique Diaz). O tempo passa e Açucena (Bianca Bin) é uma linda jovem apaixonada por Jesuíno (Cauã Raymond). Augusto sofre pelo desaparecimento da filha, enquanto a duquesa comemora o fato de sua filha estar de casamento marcado com o Príncipe Felipe (Jaime Matarazzo). No Brasil, Zenóbio (Guilherme Fontes) encontra uma medalha de Santa Eudóxia e acredita que a princesa está viva. Ele interrompe o casamento para dar a grande notícia para o rei. O capítulo termina com o profeta Miguezin discursando como um louco que o rei chegará. Perfeito!

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Wesley Vieira é um dos blogueiros convidados mais frequentes do melão. Não por acaso, é considerado o Editor-Chefe da Sucursal Minas deste blog.
Jornalista, roteirista, noveleiro, blogueiro, dramaturgo, escritor... esse moço vai longe!




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