sábado, 24 de novembro de 2012

Melão entrevista NORMA BLUM: “o ator deve se apaixonar perdidamente por seu personagem”



 Ela, humildemente, recusa o título de grande dama, mas poucas atrizes possuem uma carreira tão rica, tanto no teatro quanto na televisão, veículo em que participou desde os primórdios. Norma Blum ainda hoje é bastante lembrada por suas mocinhas das novelas de época dos anos 70 como a Aurélia de “Senhora” ou a Malvina de “Escrava Isaura”, papel que até hoje lhe rende reconhecimento popular. Mas já provou que seu talento e versatilidade estão a serviço de qualquer personagem, como a cultuadíssima vilã Frau Herta de “Ciranda de Pedra” ou a mãe sofredora Walkíria de “Anos Rebeldes”. Nessa deliciosa entrevista, Norma faz um passeio por toda a sua carreira, revela o desejo de viver uma vilã cômica e se mostra uma noveleira de primeira, antenada com os mais recentes sucessos de nossa teledramaturgia. Norma foi uma das atrizes biografadas no livro “As grandes damas e o teatro brasileiro”, de Rogéria Gomes e, na companhia da autora, tem viajado a muitas cidades para tardes e noites de autógrafo. Além disso, já marcou sua volta às telas de cinema em 2013, gravando uma participação em um filme esse ano. Com muito orgulho e muita alegria, melão estende o tapete vermelho pra essa grande dama em todos os sentidos: Norma Blum.


Você faz parte da história da tv participando praticamente desde o início ainda criança e também fez parte do elenco da primeira novela diária da Rede Globo, “Ilusões Perdidas” (1965). Além das enormes diferenças tecnológicas, que mudanças considera significativas da televisão do início para a televisão de agora?
Norma Blum - No início era tudo improvisado. Estavam todos aprendendo a fazer tevê ao vivo. Não existia o videoteipe e a adrenalina estava sempre a mil. Parecia teatro ao vivo transmitido pela tevê. Aconteciam erros, pequenos acidentes imprevisíveis e, claro, a tevê era em preto e branco. Apesar das limitações tecnológicas como estúdios, equipamentos, produção, grandes programas foram gerados. No Rio de Janeiro foram doze anos de pioneirismo até a chegada da tecnologia de gravação em fita. Hoje contamos com o HD, a alta definição da imagem a cores e inúmeras mídias repetidoras, trucagens e malabarismos na edição, além da possibilidade do registro para a memória já que tudo é gravado e arquivado para as futuras gerações.

Norma em cena de "Senhora" (1975) ao lado de Claudio Marzo

Mesmo atuando em muitas tramas contemporâneas, suas personagens em novelas de época são muito marcantes. Tem especial predileção por esse tipo de papel e que lembranças você tem das antigas novelas das seis dos anos 70 como “Senhora” e “Vejo a lua no céu”?
Norma Blum - Adoro fazer época, os figurinos, os cenários e o tratamento cinematográfico da fotografia recriam épocas diferentes, vide “Lado a Lado”, que nos remete ao início do século passado e usa o recurso de transformar fotos antigas em cenário. E o que dizer da deliciosa “Cordel Encantado” que misturou época com atualidade? Para os atores, há o desafio no gestual e no emprego da linguagem como em Escrava Isaura e principalmente em Senhora de José de Alencar, ambas adaptadas genialmente por Gilberto Braga. Em “Senhora” todo o tratamento era na segunda pessoa do singular e do plural. Um primor e um banho de cultura. Geralmente são personagens densos e situações arquetípicas que favorecem a interpretação.

Uma das cenas mais marcantes e comentadas em nossa teledramaturgia até hoje foi a da morte de sua personagem Malvina em “Escrava Isaura” (1976). Como foi a repercussão na época? Até hoje você é lembrada pela novela e por essa personagem?
Norma Blum - Até hoje sou parada em lugares públicos porque as pessoas se lembram de Malvina, Leôncio (Rubens de Falco) e de Isaura (Lucélia Santos). Na época, havia uma bolsa de apostas entre muitos espectadores que garantiam que Malvina e Tobias (Roberto Pirillo) teriam escapado do incêndio e retornariam ao final da novela.

Rubens de Falco e Norma Blum em "A Escrava Isaura" (1976)

A terrível governanta Frau Herta de “Ciranda de Pedra” (1981), brilhantemente interpretada por você, entrou para a galeria das vilãs memoráveis de nossa tv. Como foi viver essa personagem? Sente vontade de interpretar outras vilãs?

 Norma Blum - Ao ser convidada por Herval Rossano para essa novela, num primeiro momento rejeitei o personagem emocionalmente. Minha família fugiu dos nazistas na Segunda Guerra. Senti que, para a atriz, interpretar uma nazista fanática seria um grande desafio. Na verdade o ator deve se apaixonar perdidamente por seu personagem. Então busquei alguns resquícios de humanidade nessa vilã e ela acabou sendo votada como um dos personagens favoritos da novela. Quando conseguimos imprimir muitos tons à vilã ou à mocinha o personagem adquire uma dimensão muito maior porque supera o maniqueísmo entre o Bem e o Mal. Adoro fazer vilãs. Gostaria novamente desse desafio. Mas gostaria de representar uma vilã que inicialmente pareceria um anjo de bondade para o espectador enquanto trama a destruição de outros. Isso é um personagem rico a ser explorado. Quando, durante os dez primeiros anos da TV Tupi, fazíamos pelo menos três tele-dramas por semana tive vários personagens onde pude exercer essa fascinante dualidade. Ajudada pelo fato de ser muito bonita na época e da carinha inocente. Em toda mocinha também consegui colocar umas pitadas de diabinho. Achava as simplesmente “ingênuas” muito chatas. Então vamos acrescentar mais uns tons à sua humanidade, certo? Foi um exercício constante no aprendizado da atriz.

Você esteve no elenco da clássica minissérie “Anos Rebeldes” no papel de Walkiria, mãe do militante João (Cassio Gabus Mendes) e protagonizou cenas emocionantes quando ele foi perseguido pelos militares. Você sofreu algum tipo de repressão durante os anos de chumbo? Usou alguma experiência vivida nessa época para compor a personagem?
Norma Blum - Com certeza, apesar de Walkíria pertencer a uma família conservadora. Pessoalmente participei muito do movimento contra a censura assim como inúmeros colegas e todos nós sofremos repressão. Nos laboratórios para as gravações os atores veteranos puderam compartilhar com os jovens atores do seriado a experiência que foi a luta contra a ditadura. Foi muito enriquecedor e uma grande sacada do diretor Dennis Carvalho.

Norma Blum e Denise del Vecchio em "Anos Rebeldes" (1992)
Pergunta do leitor Rodrigo Ferraz: Você esteve no elenco das novelas “Floribella”, “Malhação” e atualmente está em “Carrossel”. Como foi trabalhar com artistas jovens e crianças? E o que você acha de obras feitas especialmente pra esse publico infanto-juvenil?
Norma Blum - Sempre trabalhei com e para crianças e adolescentes. Durante os primeiros dez anos de carreira pisei nos palcos em inúmeros espetáculos infantis. Participei de programas infantis na tevê e durante seis anos fui princesa e/ou mocinha do Teatrinho Trol, dirigido por Fábio Sabag. Era transmitido nos domingos das 14 às 15 horas e a praia do Rio de Janeiro esvaziava porque todos corriam para assistir. Depois das 15h a praia voltava a encher. Foi considerado o primeiro fenômeno de massa associado à televisão no Brasil, isso na década de cinquenta, devido ao enorme sucesso do programa. Depois, em 1975, com direção de Geraldo Casé, inauguramos o horário infantil das 17h na TV Globo com a minissérie “Pluft, o Fantasminha” em vinte capítulos. Fiz a menina Maribel. O horário foi depois ocupado pelo “Sítio do Pica Pau Amarelo”.

Recentemente você fez uma participação no episódio “A culpada de BH” da série “As Brasileiras” interpretando uma personagem cômica, mostrando uma faceta ainda pouco conhecida do grande público. Você se sente à vontade fazendo comédia? Gostaria de fazer com mais frequência?
Norma Blum - Adoro comédia embora me considerem mais uma atriz dramática em virtude dos papéis que fiz nas novelas. Assim como uma vilã adoraria fazer papéis cômicos. Ah, porque não uma vilã cômica? Esse foi o personagem que gravei recentemente em “Carrossel” numa participação de seis capítulos. Divertido.

Norma Blum, ao centro, em recente participação em "As Brasileiras" (2012)
Você acredita que a oferta de bons papéis diminui para os veteranos e por quê?
Norma Blum - Não. Basta ver Eva Todor, Laura Cardoso, Juca de Oliveira e Luiz Gustavo na ativa além de muitos outros. Os bons papéis por enquanto só andaram diminuindo para mim. Ah, lástima! E eu que adoro tanto trabalhar!

Você é uma das atrizes biografadas no livro “As Grandes Damas e um perfil do teatro brasileiro” de Rogéria Gomes e vai viajar com a autora dando palestras por várias cidades. Como foi convidada para o projeto e que tal ser considerada uma grande dama?
Norma Blum - Nunca me considerei uma dama de nada a não ser da paciência e da boa educação. Foi uma surpresa quando recebi o convite para dar meu depoimento para Rogéria. Depois da surpresa uma honra de estar reunida a colegas maravilhosas.

Você é noveleira? Quais as novelas e personagens favoritos da Norma telespectadora?
Norma Blum - Recentemente “Cordel Encantado”, “Amor Eterno Amor” e o remake de “Tititi”. Cláudia Raia em “Tititi” e Cláudia Abreu como Chayenne. Muito boa. Destaque para o Crô de “Fina Estampa”. Hilário e impagável.

Tem algum projeto em cinema, teatro ou televisão para 2013?
Norma Blum - Meu projeto é trabalhar muito em 2013. Este mês gravei minha participação no média-metragem “Entre Dois Amores”, direção de Bruno Saglia. Adorei voltar ao cinema apesar de não ser um longa. Adoro a linguagem cinematográfica e gostaria muito de voltar a fazer mais cinema. E também aguardo ansiosa um convite para minissérie ou novela.


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Norma, querida, muitíssimo obrigado por conceder essa entrevista. Saiba que é uma honra para mim e uma grande alegria para os leitores do melão poder conhecer um pouco mais a seu respeito e de sua brilhante carreira. Desejo ainda mais sucesso e que um dia possamos trabalhar juntos. Beijo carinhoso!

Agradecimento: Marcelo Rissato
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4 comentários:

Nilson Xavier disse...

AMO Norma Blum!
Tive a oportunidade de almoçar com ela! [fotos em meu Facebook]
E, claro, tietei muito! :D

Assisti as belíssimas novelas Senhora e Ciranda de Pedra, em reprises, no início da década de 1980.

E Norma me surpreendeu no episódio de As Brasileiras fazendo um papel cômico. Ela sim, a braileira do título!

Ótima entrevista!

Ivan disse...

adorei a entrevista! vi o dvd de ESCRAVA ISAURA recentemente e a personagem Malvina era adorável!

aladimiguel disse...

Norma Blum é uma das pilastras que ajudaram a erguer a TV GLOBO. Trabalhos memoráveis que entraram para a história da teledramaturgia brasileira. Uma diva da nossa TV. Dividiu a cena com a Lucélia em três clássicos inesquecíveis: Escrava Isaura, Ciranda de Pedra e Sinhá Moça. Adoro !!!!

Abraços

Aladim Miguel
Arquivo Lucélia Santos / RJ
www.arquivoluceliasantos.com

Walter de Azevedo disse...

Uma das melhores entrevistas que já li no Melão! Parabéns Norma Blum e Vitor!

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