quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Série Memória Afetiva – 10 vilãs memoráveis - PARTE II – ANOS 90



Sim, já estou preparado para as pedradas. Por isso, nunca é demais esclarecer que este blog nunca teve a pretensão de, com suas listas, enumerar as maiores e melhores de acordo com o senso comum e sim, MINHAS MEMÓRIAS AFETIVAS. Portanto, sem essa de “falta essa” ou “falta aquela”, já que se trata de uma lista estritamente subjetiva e pessoal.

Dito isso, outra dificuldade: os anos 90 estão REPLETOS de grandes vilãs, portanto, ao enumerar apenas 10, inevitavelmente vou ser injusto com tantas outras, mas fazer o quê? Escolhas requerem sacrifício.

Portanto, não levem tão a sério. Vamos começar o desfile das malévolas que infernizaram meio mundo nos anos 90 (melhor grifar, porque teve gente que não leu direito o post das vilãs dos anos 80 e me cobraram a ausência de vilãs de outras épocas):

10) MARY MATOSO (Patricia Travassos), de “Vamp” (1991)

Vilãs cômicas, quando bem construídas, são o máximo. Aqui temos um dos exemplos mais bem-sucedidos da categoria. O texto inspiradíssimo de Calmon casou perfeitamente com uma Patrícia Travassos simplesmente infernal, deliciosa, na pele da terrível e engraçadíssima perua vampira. Aliás, todo o grupo de vilões dessa novela foi um show à parte e Mary, sensualíssima, torturando nossos ouvidos ao cantar “O amor e o poder” é simplesmente impagável. Diva total! Risadas inesquecíveis com essa personagem.


9) ISABELA FERRETO (Claudia Ohana), de “A próxima vítima” (1995)

 Sonsa, lasciva, ordinária e extremamente cruel, a terrível vilã fez escola com as tias megeras, Francesca (Teresa Rachel) e Filomena (Aracy Balabanian), (aqui mencionadas honrosamente, porque arrasaram também) e passou a perna nas duas. Uma das mais dissimuladas vilãs de todos os tempos, ela usava sua falsa candura para enganar as mulheres e sua sensualidade à flor da pele para seduzir os homens. Tá certo que ela sofreu: levou uma surra do noivo às portas do casamento, teve o rosto retalhado pelo amante e terminou vendo o sol nascer quadrado. Mas essa devoradora de homens aprontou bastante, inclusive cometendo assassinatos e, por isso, conquista essa honrosa oitava posição.



8) MARIA ALTIVA (Eva Wilma), de “A Indomada” (1997)


“Oxente, my god!”. Quem não se lembra desses e de outros bordões anglo-nordestinos proferidos pela diabólica beata que infernizava a vida dos moradores de Greenville? Uma personagem extremamente caricata que só podia dar certo se fosse vivida por uma grande atriz. E Eva Wilma deitou e rolou com o inspiradíssimo texto de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e equipe. Se atirou de cabeça na maravilhosa brincadeira e foi over, over, over, sem medo de ser feliz. E ao melhor estilo do realismo fantástico, mesmo depois de morrer queimada, ainda aparece no céu gargalhando e ameaçando a população com um antológico “I’ll be back!!!”. Pois aqui no melão, Altiva pode voltar o quanto quiser.


7) IDALINA (Nathalia Thimberg), de “Força de um desejo” (1999)

 Que atriz fantástica é Nathalia Thimberg. Consegue tanto despertar nosso afeto e simpatia com a doce e frágil Celina de “Vale Tudo”, quando nosso ódio eterno como a terrível Idalina ou Constância Eugênia, que figura na lista de menções honrosas. No folhetim de Gilberto Braga e Alcides Nogueira, Idalina não dava descanso à cortesã Ester (Malu Mader) e armava as piores vilanias para se dar bem. Interesseira, mesquinha, moralista, Idalina era capaz de tudo por um punhado de vinténs, mesmo que isso significasse a infelicidade dos próprios netos. E o olhar de La Thimberg assustava pra valer. Um dos grandes destaques dessa deliciosa novela.


6) ISADORA VENTURINI (Silvia Pfeiffer), de “Meu bem meu mal” (1990)


Isadora é daquelas vilãs clássicas: bonita, charmosa, rica, elegante e implacável com seus oponentes. Talvez a inexperiência de Silvia Pfeiffer tenha sido um fator positivo, já que grande parte da graça de Isadora era a deliciosa canastrice de sua intérprete, que talvez não casaria tão bem com uma atriz que oferecesse uma construção mais realista da personagem da trama de Cassiano Gabus Mendes. O figurino de Isadora era um espetáculo à parte. Isadora era fria e calculista, mas sempre na maior elegância. Usou e abusou de Dom Lázaro (Lima Duarte) antes dele se recuperar do derrame e preferir melão, chegando ao ponto de tentar mata-lo asfixiado com um travesseiro. Só sucumbiu por causa do amor que sentia por Ricardo (José Mayer), que foi absolvido pelo autor no final da trama. À Isadora restou a presidência da Ventutini Designers e uma solidão de rasgar o coração em um dos melhores finais de novela de todos os tempos.

5) TEODORA (Debora Bloch), de “Salsa e Merengue” (1996)

 Um verdadeiro show! O que dizer? As maldades dessa vilã mais arrancavam gargalhadas do que ira por parte do público. Teodora era deliciosa, uma festa, com tiradas fantásticas que partiam das geniais mentes de Maria Carmem Barbosa e Miguel Falabella e incorporadas com perfeição por Debora Bloch. Politicamente incorretíssima, Teodora tinha uma empregada a quem chamava de Sexta-feira, humilhava os pobres e chamava sua rival Madalena, vivida por Patricia França, de aborígene, por esta ser de origem humilde. O fato é que o sucesso de Teodora junto ao público foi tanto que no final, acabou vencendo a mocinha e arrematando o mocinho Eugênio (Marcelo Antony), com quem viveu feliz para sempre, junto de seus gêmeos afrodescendentes, já que a inseminação artificial com a intenção de conceber crianças loiras que se parecessem com Eugênio não saiu como o planejado. O fato é que, cada capítulo de “Salsa e Merengue” era aguardado, em grande parte, por causa do ótimo texto e das ótimas tiradas de Teodora. Debora Bloch faturou o Troféu Imprensa de melhor atriz daquele ano e a novela, infelizmente, nunca teve uma reprise. Torçamos para que o Viva repare essa falha, pois o público merece rever Teodora.


4) RAQUEL (Glória Pires), de “Mulheres de Areia” (1993)


Gloria Pires já tinha feito misérias como Maria de Fátima em “Vale Tudo” e já não precisava provar pra ninguém sua enorme potencialidade. Mas na trama de Ivani Ribeiro, ela se superou, pois conseguiu a proeza de criar quatro tipos diferentes: Ruth, Raquel, Ruth fingindo ser Raquel e Raquel fingindo ser Ruth. E sem o menor sinal de caricatura, o público percebia perfeitamente quem era quem, graças a um magnífico trabalho cheio de sutilezas e nuances. Que atire a primeira pedra quem nunca se divertiu quando a malvada Raquel destruía as esculturas de areia de Tonho da Lua (Marcos Frota). Mais um golaço de Gloria e um trabalho digno de figurar na galeria dos maiores de todos os tempos.


3) BRANCA LETÍCIA DE BARROS MOTTA (Susana Vieira), de “Por amor” (1997) 

 Branca podia ser falsa, maldosa, cruel, traiçoeira, preconceituosa, mas uma coisa ninguém nega: era uma delícia estar na companhia dela. Talvez a mais sarcástica de todas as vilãs, Branca tinha uma tirada inteligente para cada situação e, muitas vezes, era dolorosamente sincera ao confessar a falta de sentimento pelo marido Arnaldo (Carlos Eduardo Dolabella) e pelo filho Leonardo (Murilo Benício). O fato é que Branca protagonizou grandes e memoráveis barracos, seja com a filha Milena (Carolina Ferraz), seja com a rival Isabel (Cassia Kiss), este com direito a tapas, empurrões, tesouradas e quedas em escadaria. Um grande trabalho de Susana Vieira para se rever e aplaudir sempre.

2) VIOLANTE (Drica Moraes), de “Xica da Silva” (1996)


Que Drica Moraes era uma fera do humor, ninguém duvidava. Mas na pele de Violante em “Xica da Silva” provou que é uma das maiores e mais versáteis atrizes de sua geração. Em uma novela de tom quase operístico, de personagens grandiloquentes e caricatos, a começar pela protagonista, Drica, sem alterar o tom da voz, mostrou toda sua intensidade dramática com a ressentida e cruel Violante, um trabalho magnífico, muitas vezes tendo o olhar como ponto alto. O olhar fulminante de Violante e sua voz sussurrante causavam arrepios por todo o Arraial do Tijuco. Sua aparente fleuma ocultava uma crueldade sem limites e uma vontade ferrenha de destruir Xica (Taís Araújo) para ficar com o contratador João Fernandes (Victor Wagner), sua grande paixão. Os embates entre Xica e Violante eram memoráveis e Violante não poupava Xica de apelidos jocosos como Sinhá Macaca. A novela da extinta Manchete foi antológica, em grande parte, por conter uma grande vilã e uma atriz talentosíssima dando vida a ela.

1) LAURINHA FIGUEROA (Glória Menezes), de “Rainha da Sucata” (1990)

 No início era apenas uma quatrocentona falida, que não perdia a pose e explorava a empregada. Mas a partir da convivência com a perua emergente Maria do Carmo (Regina Duarte), por quem tinha verdadeira repulsa, Laurinha foi se tornando cada vez mais cruel. Tomada de ciúmes do enteado Edu (Tony Ramos), com quem Maria do Carmo se casou e por quem nutria uma paixonite, Laurinha chegou ao cúmulo de matar lenta e dolorosamente o diabético marido Betinho (Paulo Gracindo), dono do antológico bordão “Coisas de Laurinha”, com doses diárias de glicose no lugar de insulina. Num ato de desespero, para incriminar a sucateira ordinária Maria do Carmo, como ela mesma chamava, se atirou do alto de um prédio em plena Avenida Paulista, numa das sequências de morte mais famosas de toda a teledramaturgia. Os duelos de Laurinha com a sucateira são inesquecíveis e a personagem é, de longe, minha preferida de Glória Menezes, que a compôs com classe, elegância e também com uma intensidade incrível. Glória se jogou na personagem e quem ganhou foi o público.



MENÇÕES HONROSAS:

ü  CONSTÂNCIA EUGÊNIA (Nathália Thimberg) e Karen (Maria Padilha), de “O dono do mundo” (1991)
ü  ADRIANA (Cristiana Oliveira), TIA RUTH (Laura Cardoso) e GILDA (Ariclê Perez) em “Salsa e Merengue” (1996)
ü  ÂNGELA VIDAL (Claudia Raia) e SANDRINHA (Adriana Esteves), de “Torre de Babel” (1998)
ü  PAULA (Alessandra Negrini), de “Anjo Mau” (1997)
ü  MARIA REGINA (Letícia Spiller), de “Suave Veneno” (1999)
ü  LEONOR (Betty Faria), de “Labirinto” (1998)
ü  SALUSTIANA (Joana Fomm), de “Fera Ferida” (1993)
ü  ÚRSULA (Nicette Bruno), de “O amor está no ar” (1997)
ü  BRUNA (Andrea Beltrão), de “Era uma vez” (1998)
ü  ELVIRA (Marieta Severo), de “Deus nos acuda” (1992)
ü  CUSTÓDIA (Marilia Pera), de “Meu bem querer” (1998)
ü  DEBORA (Viviane Pasmanter), de “Felicidade” (1991)


Esqueci de alguém? E as favoritas de vocês? O melão quer saber!!!

Quer lembrar da lista das vilãs do anos 80? Acesse o link http://euprefiromelao.blogspot.com/2011/01/serie-memoria-afetiva-10-vilas.html

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Blogueiro convidado: Leonardo Távora defende “Eterna Magia”


 Mais um blogueiro convidado no melão. E este entende de blog. Trata-se do mineirinho Leonardo Távora, dono do ótimo Literatura Exposta, caprichado blog recheado de contos, crônicas e poemas do próprio autor. Pra quem não visitou, recomendo. Minha seção favorita é a “Livro em cena”, na qual trechos de grandes clássicos são roteirizados por Leonardo.

Aqui, o rapaz contribui com sua memória afetiva e sua apurada análise de uma de suas novelas favoritas, Eterna Magia”, de Elizabeth Jhin que, segundo Léo, foi injustiçada por não ter tido o reconhecimento e a repercussão que merece. O melão adere totalmente a essa defesa. Obrigado, querido, e volte sempre! Seus textos sempre serão muito bem-vindos no melão.


Eterna Magia: Uma defesa
Por Leonardo Távora Dias


Escrever uma novela não é algo tão simples quanto possa parecer aos olhos leigos do espectador. Existe todo um trabalho muito árduo de produção, que lembra, é verdade, uma linha de montagem em série, tal qual numa fábrica. Por isso as pessoas se arvoram a dizer que a televisão é uma “fábrica de sonhos”. Esse é o produto dela. Levar até você, espectador, imagens bonitas, fortes, tocantes, que mexam de algum modo com seus sentimentos. Isso te tira do seu mundo e o leva, naquele momento da atração, a sonhar. Com função social ou apenas encantadores universos, as produções dramatúrgicas são capazes de dar descanso à mente das pessoas, depois de um dia inteiro de trabalho. Distrai, é verdade, mas mantém também o cérebro funcionando, seja para torcer pelos mocinhos, seja para descobrir quem é o assassino misterioso da trama.
Uma novela tem essa função. Toda criatividade dos autores estão a serviço dos teus sonhos, leitor. Não é a toa que o gênero “novela” faz parte do cotidiano do brasileiro, e já de grande parte do mundo. Seja criando universos fantásticos, seja te aproximando de uma realidade que muitas vezes seria melhor esconder, a novela tem a função de dar contornos à sua imaginação. Guiados por uma câmera e pelas mãos dos diretores de cena, os espectadores da dramaturgia vão passeando por lugares, inserindo-se no mundo daquela história que está sendo contada. E, tal qual em uma linha de montagem, problemas que aparecem no decorrer do produto precisam ser resolvidos rapidamente, muitas vezes com a própria inteligência e sagacidade do autor, outras, com base em pesquisas de opinião, outras ainda, com auxílios de supervisores. Seja como for, é preciso sanar as querelas, e levar ao público tudo o que ele espera da história.

 Eterna Magia foi uma novela muito criticada. Considerada a primeira novela “solo” de Elizabeth Jhin, teve 148 capítulos que buscaram criar um universo fantástico para o deleite de quem assistia. A ideia era trabalhar o tema da religião Wicca de um modo lúdico mesmo, ambientando a história em uma época que permitisse explorar esse lado fantástico da trama. A década de 40, com todo seu charme permitia isso, além de criar um link com o mundo real, falando do desenvolvimento da aviação (Lembro a cena em que todos chamavam a personagem de Malu Mader de louca por atravessar o atlântico em um avião, vindo de Dublin). Uma trama extremamente sóbria, com locações que enchiam os olhos. A primeira crítica é justamente pela época da história, já que a religião Wicca começou a ser divulgada na década de 50. Em minha opinião, um excesso de preciosismo, já que a obra não procurava trazer para o público uma visão da realidade, mas estava propondo levá-lo para uma viagem lúdica.

Elizabeth Jhin fez o trivial bem contra mal, onde as Valentinas eram as bruxas boas, e as Rasputinas eram as más, trazendo elementos celtas e da história russa, lembrando o lendário mago Rasputin, influente na corte russa de fins do século XIX. Mas talvez pela abordagem da trama, com poucos elementos da realidade à qual estamos acostumados (outra critica bastante repetida), e muito também pela faixa de horário da novela, que estreou em horário de verão, a história das bruxas foi rejeitada pelo publico, forçando a autora e a direção a promover sensíveis mudanças na trama, na mudança de fase da novela, que já estava desenhada na sinopse. E como a primeira impressão é a que fica, os espectadores acabaram rejeitando toda a história muito pelas notas desfavoráveis que saiam na imprensa. Afinal, reverter um quadro de descrédito não é fácil, ainda mais quando se tem pouco tempo para fazer as coisas acontecerem.
É preciso que louvemos três pontos dessa novela:

Primeiro: A história em si. Muito bem construída pela autora Elizabeth Jhin - com supervisão do já experiente Silvio de Abreu, autor de grandes sucessos de público e crítica - que fez o que propôs. Levou o público a um mundo diferente do habitual. Com alguns elementos de realidade, como a ambientação e os conflitos da cidade, como a instalação de uma brigada contra incêndios, por exemplo, ou a paixão do personagem de Thiago Lacerda pela aviação. Talvez o maior erro tenha sido mesmo a condução da história, com uma maior integração dos núcleos que compunham a novela, e talvez uma melhor exploração da personalidade de cada um no triângulo Nina-Conrado-Eva. Embora fossem centrais e importantes, estes personagens tiveram uma abordagem um tanto quanto superficial em seus perfis psicológicos.

Segundo: A equipe de produção. Toda a equipe de “Eterna Magia” merece palmas. Uma fotografia impecável, figurinos bem compostos, e a mão segura de Ulisses Cruz, do núcleo de Carlos Manga, que é essencial para dar vida à história. Uma boa direção não garante o sucesso de um produto como uma novela, mas é um dos fatores importantes na construção. E como não se consegue fazer um produto desse tamanho sozinho, deve-se levar em consideração o trabalho da equipe inteira, que se dedicou, mesmo nos períodos mais críticos da produção. Trabalhar em equipe é fator primordial para se conduzir um trabalho da magnitude de uma novela, que tem abrangência nacional, e em maior ou menor escala, acaba intervindo nos hábitos e costumes da população, que várias vezes repete os bordões criados e difundidos nas novelas.

Terceiro: O elenco. É preciso louvar os trabalhos impecáveis de Irene Ravache, Osmar Prado, Malu Mader, Aracy Balabanian, Cássia Kiss, dentre outros medalhões, que souberam defender bem personagens bastante densos. Maria Flor, que já tinha feito uma bela participação em “Cabocla”, saiu-se bem na pele da Valentina Nina Sullivan, irmã da Eva Sullivan de Malu Mader, que também não decepcionou, apesar do que eu já disse acima, que, assim como Thiago Lacerda, podia ter aprofundado mais a personagem. Mas, metade da culpa dos atores, outra metade do perfil que eles receberam. Afinal, o trabalho de um ator na hora de compor personagem vem muito do que ele apreende do perfil que lhe é passado quando oferecem o papel.

Cassia Kiss na pele da perversa Zilda
Ainda falando de elenco, duas participações devem ser louvadas. A estreante Marcela Valente trabalhou muito bem, dividindo cenas magníficas com a incrível Irene Ravache, que consegue transformar suas personagens em pilares de uma novela, mesmo sendo de núcleos acessórios da história. E o já “veterano” (começou criança em “Esplendor”) Thiago de los Reyes, que é um ator bastante sóbrio, próprio para tipos mais centrados, os tais “amigos-psicólogos”, ou os “heróis sensatos”, e deu o tom mais adequado possível ao seu Bruno, que era um aspirante a escritor, cheio de sonhos e conflitos internos. Personagem difícil, introspectivo, com uma carga dramática demasiada densa, que é um desafio para qualquer ator já experimentado, quanto mais para um jovem, ainda que este jovem já esteja no meio há algum tempo.
É preciso julgar as obras de dramaturgia observando sempre o que elas propõem. “Eterna Magia” procurou levar fantasia para o público. Mesmo com um foco diferente, se assemelha às comédias do Walcyr Carrasco, que tem esse flerte com o lúdico, e cria personagens às vezes muito caricatos, que algumas vezes podem destoar um pouco da realidade à qual estamos acostumados. É bem diferente do que busca Glória Perez, que tem suas tramas já bem mais sedimentadas na realidade, ainda que buscando levar o espectador a uma viagem fantástica por culturas diferentes da nossa, cria os chamados tipos psicológicos, personagens que exploram a mente humana ao máximo que se puder. Ao olhar por esse lado do fantástico e do lúdico, mesmo com todos os problemas que infelizmente atrapalharam a aproximação do público com a novela, “Eterna Magia” foi uma das melhores histórias que pude assistir, capaz de me colocar dentro do universo dela, e de me encantar, seja na aventura das valentinas, seja em outros núcleos da trama, que dosaram perfeitamente a densidade dramática da história de Eva e Nina Sullivan contra a malvada Zilda.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Melão circulando por aí

O que este intrépido melão anda conferindo pela cidade maravilhosa?

LAURO E LAURA: EXPOENTES DA NOSSA TV



Mesmo com um certo atraso, preciso registrar o encontro com o público realizado na semana passada no CCBB-RJ de dois grandes nomes de nossa teledramaturgia: a atriz Laura Cardoso e o autor Lauro César Muniz.
Doce e amável, Laura Cardoso foi a primeira a compartilhar suas lembranças e experiências televisivas, desde os tempos da Tupi em que, segundo ela, tudo era mais artesanal, mais trabalhoso, chegando ao ponto dos atores levarem de casa sua própria roupa para fazerem as novelas e até mesmo os pratos que os personagens comeriam em cena. O ponto alto foi quando Laura se emocionou ao lembrar da cena em que sua personagem Isaura em “Mulheres de Areia” (Globo, 1993) ficava sabendo da morte de sua filha Raquel (Glória Pires). Segundo a atriz, para que a cena ganhasse em emoção, a atriz desejou que aquela filha retornasse ao seu ventre. O público reviu a cena e constatou que a atuação de Laura foi mesmo arrebatadora. Pra terminar, Laura confessou que, embora respeite profundamente o talento de suas colegas atrizes, ela não entra em cena pra perder. Quer sempre roubar a cena e ganhar. Nós, o público, nunca duvidamos disso. Viva Laura!

Depois foi a vez do novelista Lauro César Muniz falar de suas obras e opinar sobre o atual panorama da teledramaturgia. O autor lamenta que seus colegas tão talentosos tenham que escrever aquém de sua capacidade para atender os interesses do mercado. Lauro destacou os anos 70 como os mais importantes para a história das novelas, em que o mérito artístico era mais importantes e que muitos novelistas arriscavam em obras geniais como “Saramandaia”, de Dias Gomes ou “O rebu”, de Bráulio Pedroso, inclusive o próprio com "Escalada" (foi mostrado um video delicioso com todo o elenco), "O casarão" e "Espelho Mágico" . Até Janete Clair se superou com “Pecado Capital”, segundo o autor. Muitas histórias e curiosidades foram lembradas como, por exemplo, o último capítulo de “Carinhoso” ter somente a presença do casal protagonista e os nebulosos incidentes que envolveram “O salvador da pátria”, em que sassá Mutema deveria se tornar Presidente da República, mas que não passou de prefeito de Tangará. Lauro adiantou que sua próxima novela na Record em 2012 terá muitas cenas de ação e mostrou-se animado com o novo projeto.

Enfim, uma noite memorável e preciosa para os amantes do gênero.

DÁ-LHE, VEDETES!



O melão também foi conferir o lançamento do maravilhoso livro “As grandes vedetes do Brasil”, de Neide Veneziano, em que o amigo Daniel Marano faz parte da equipe de pesquisadores. Aficcionado por vedetes e tendo na saudosa Anilza Leoni sua grande musa, Marano está de parabéns, não só pelo trabalho realizado no livro, como também pelo carinho com que trata nossas queridas vedetes, verdadeiros patrimônios nacionais. Muitas estavam lá, para a nossa alegria: Carmem Verônica e Iriz Bruzzi, também musas de nossa teledramaturgia, Esther Tarcitano, Brigitte Blair, Lia Mara, e claro, a lendária Virginia Lane, sempre irreverente a alto astral.

O livro é uma preciosidade. Ricamente ilustrado (as fotos são lindíssimas) e com histórias das vedetes mais famosas, desde as pioneiras do século XIX como Aimée, passando pelas lendárias Luz del Fuego e Elvira Pagã até as mais irreverentes como Sonia Mamed e Consuelo Leandro. Pra quem não teve o prazer de desfrutar da agradável noite de autógrafos, pode adquirir o livro e viajar no tempo até um capítulo riquíssimo de nossa memória cultural. Parabéns, Neide e equipe e sobretudo, a todas as vedetes do Brasil.

Acima, Virgínia Lane e eu. Abaixo, com o amigo Daniel Marano.
  

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Lembranças de uma novela cheia de amor

Por Wesley Vieira
Cá estou eu de novo, nesse saboroso Melão, fazendo mais uma participação a convite do Melão-Chefe, o amigo Vítor. Resolvi falar de uma das muitas novelas que marcaram a minha infância. Será que alguém adivinha a novela em questão?

Lembra da Genuína Miranda, mais conhecida como Genu? "Vem chegando, minha gente, que já tá ficando quente... Compra madame, na minha barraca, panela bem útil e bem mais barata..." E de sua filha, a Mercedes, uma moça pobre e ambiciosa? Provavelmente a memória vai te trair em relação a essas personagens, mas se eu falar sobre a translumbrante e fofa Kika Jordão, com certeza você vai se lembrar de “Lua Cheia de Amor”, novela das 19h, exibida pela Rede Globo entre dezembro de 1990 e julho de 1991 com exatos 191 capítulos.

Escrita por Ricardo Linhares, Ana Maria Moretshon e Maria Carmem Barbosa, “Lua Cheia de Amor” era uma reedição bem disfarçada de outro antigo sucesso da emissora, “Dona Xepa”, exibida em 1977, escrita por Gilberto Braga, que nessa versão atuou como supervisor nos primeiros capítulos. A novela apostava numa inédita parceria entre Globo em co-produção com a Radio Television Espanhola e a RTSI da Suíça.

A Dona Xepa que era feirante na história original, virou Dona Genu, interpretada por Marília Pêra, uma mulher que perdeu sua loja por conta dos desatinos do marido viciado em mesas de jogos. Muito honesta e batalhadora, Genu pegou a mercadoria que restou da loja e foi para rua vender panelas e outros objetos. Virou “a dona da muamba”, tal como exemplificado na divertida música-tema de abertura, “La Miranda” cantada magnificamente por Rita Lee.

Genu é uma daquelas heroínas de novela bem simplória, quase sem instrução, mas muito sábia e generosa. Filha de mãe espanhola com pai brasileiro, ela foi muito maltratada pela vida e sem o apoio do marido, criou os dois filhos sozinha. Seu sonho é reencontrar Diego, que volta após 15 anos de sumiço sob a alcunha de Esteban Garcia. Mulherengo e amoral, Diego se envolve com várias mulheres deixando Genu cada vez mais desiludida com seu retorno. Seu filho, Rodrigo (Roberto Battaglin) namora a jovem Flávia (Renata Lavíola) e se sente na obrigação de casar com ela após a morte do sogro. No entanto, ele conhece a rica empresária Rutinha (Sylvia Bandeira) e desiste do casamento.

Mercedes (Isabela Garcia), a filha caçula, tem um pouco de vergonha do jeito pobre da mãe e a esnoba. Romântica na medida certa, seu sonho é encontrar um bom partido, mas como os corações são bastante insensatos, ela se apaixona por Augusto (Mauricio Mattar) e o rejeita por achar que ele é apenas um pobre motorista de táxi que foi morar na mesma vila onde ela vive. Mas ledo engano. O rapaz idealista e independente é herdeiro de uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Filho de Conrado (Claudio Cavalcanti) e da sofisticada Laís (Suzana Vieira), ele não liga para o dinheiro da família e seu sonho é montar o próprio negócio tendo suas idéias revolucionárias como característica.

Sem saber a verdade sobre Augusto, Mercedes, ambiciosa ao extremo, se envolve por interesse com Douglas (Rodolfo Bottino), o enteado da tresloucada nova rica Kika Jordão, interpretada magistralmente por Arlete Salles, que queria a qualquer custo ser uma colunável como a sua ídola, a socialite Laís Souto Maia. Ao som de “Alpinista social” do então desconhecido Lenine, Kika aprontava das suas e tinha como intuito impressionar Laís. Uma de suas investidas aconteceu durante o noivado de Douglas e Mercedes, quando Kika mandou preparar strogonoff de lagosta – “Feito com muita lagosta mesmo!” – e viu todos os convidados terem dor barriga por causa da sabotagem que sua filha preparou pra se vingar do noivo, por quem era apaixonada. A festa de casamento também foi outro vexame que deixou Kika de cabelo em pé. Com um vestido cafona estilizado de Carmem Miranda, ela viu tudo ruir após refrear os ânimos de um casal briguento e acabou caindo sobre a mesa do bolo. É claro que todos os fotógrafos presentes registraram o acontecimento e publicaram notas inclementes nas colunas sociais do dia seguinte. E lá se foi o sonho de ser a mais chique da sociedade...
Mercedes, totalmente apaixonada por Augusto, resolve se render ao amor no dia de seu casamento com Douglas. Porém, Augusto, achando que ela descobriu a verdade sobre sua origem, resolve lhe dizer muitos desaforos e escurraçá-la de sua vida. Arrasada com a revelação, ela tenta convencê-lo de que não sabia de nada, mas já é tarde demais... Como novela com casal unido não tem graça, Mercedes opta por levar o casamento adiante e se casa com Douglas.

Aliás, os desencontros entre Augusto e Mercedes eram pontuados pela linda “Heal the pain” do astro George Michael. As trilhas sonoras eram recheadas de grandes sucessos dos anos 90 como "Só Você Vai Me Fazer Feliz (Can't Help Falling In Love)" do Julio Iglesias; "Luz da Lua (Prendi La Luna)" na voz da espanhola Ana Belén; "You Gotta Love Someone" do britânico Elton John; I'm Free" do The Soup Dragons e a velha boyband New Kids On the Block com “Let´s try again”. Lembro perfeitamente das inúmeras vezes que a propaganda da trilha internacional era veiculada e meu desejo era ter o disco da novela. Foram preciso 10 anos para conseguir o tão sonhado disco, ou melhor, o cd com as ótimas músicas.

Mas “Lua Cheia de Amor” também tinha outros personagens interessantes como a recalcada Emília (Bete Mendes), a “boca de aranha” que teve um caso com Diego e vivia às turras com a vizinha Genu. Wagner (Mário Gomes) era o vilão da história e sua meta era roubar a agência de publicidade de Conrado. Além disso, ele vivia infernizando a vida da esposa Isabela (Drica Moraes), a filha cleptomaníaca de Laís e apaixonada por Lourenço (Felipe Martins).

Ao final, Diego se envolve numa rocambolesca trama e todos pensam que ele morreu num acidente após perder dinheiro que trouxe da Suíça. No entanto, ele reaparece na Espanha como crupiê de um cassino, enquanto Genu refaz sua vida ao lado do dedicado Túlio (Geraldo Del Rey).

Depois de muito vai e volta, Mercedes e Augusto resolvem dar uma chance ao amor que ambos sentem. Já a translumbrada Kika consegue entrar de vez para o hall das colunáveis socialites ao lado de Laís, sua mais nova amiga de infância.

Assim, sob a luz da lua cheia de amor, casais selavam suas uniões com muitos beijos e todos foram felizes para sempre...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"Insensato Coração" é a novela mais aguardada pelos leitores do melão!


Com mais da metade dos votos, (53%), a novela "Insensato Coração", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, é a campeã de apostas para 2011.

O segundo lugar ficou com "Rebelde", de Margareth Boury, que começou tímida, na lanterna e teve ume reação súbita, somando 25% dos votos.

Completando o pódio, "Fina Estampa", de Aguinaldo Silva, mesmo com previsão de estreia para o segundo semestre, já aguça a curiosidade de 21% de nossos leitores.

Confira as demais colocações:

4° lugar - CORDEL ENCANTADO, de Duca Rachid e Thelma Guedes - 15%
5° lugar - AMOR E REVOLUÇÃO, de Tiago Santiago - 12%
6º lugar - VIDAS EM JOGO, de Cristiane Fridman - 5%
7° lugar - MORDE E ASSOPRA, de Walcyr Carrasco - 4%
8º lugar - CORAÇÕES FERIDOS, de Íris Abravanel - 1%

Obrigado pela participação de todos!
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Queridos, o melão passará por uma manutenção em seus moderníssimos computadores. Retornaremos em breve com nossa programação normal. See you...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Série Memória Afetiva – 10 (ou mais) vilãs memoráveis - anos 80


O primeiro post afetivo do ano do melão só poderia mesmo ser dedicado a elas. Caricatas ou realistas, cômicas ou dramáticas, elas fazem a graça de qualquer novela e muitas vezes são a razão de ser das mesmas. Sempre interpretadas por atrizes superlativas, elas exercem fascínio incomum no público e quase sempre ficam em nossa memória afetiva. São tantas e tão marcantes que o post teve que ser dividido por décadas. Como a memória afetiva deste melão que vos fala se inicia na década de 80, vamos começar nosso desfile com as malévolas oitentistas. Vamos a elas:

PARTE 1 – ANOS 80

10) FEDORA ABDALLA (Cristina Pereira), de “Sassaricando” (1987)


Impossível ouvir “Fata Morgana” sem se lembrar da pérfida e sensual Fedora Abdalla, genial composição da ótima Cristina Pereira, que bem que merece voltar aos grandes papéis dos anos 80. Fedora era engraçadíssima: uma perua apaixonada pelo bandido trapalhão Leozinho (Diogo Vilela) e que infernizou o quanto pode a vida do pai, interpretado por Paulo Autran. Fedora fazia e desfazia e não hesitava em expulsar as pessoas de sua casa com o famoso bordão carregado nos “erres”: rá, ré, ri, ró, rua. Mesmo com tanta vilania, Fefê mereceu um final feliz nas areias do deserto ao lado de seu amado Leozinho. Sem dúvida, uma personagem deliciosa.

9) FERNANDA (Christiane Torloni), de “Selva de Pedra” (1986)


La Torloni não tinha uma missão fácil pela frente: dar vida a uma vilã que fora eternizada pela excelente Dina Sfat nos anos 70. Mas a atriz não só deu conta do recado como é considerada por muitos como o principal destaque do remake da célebre novela de Janete Clair. Dois momentos marcantes foram quando ela se casou vestida de preto, chocando a todos e nas sequências em que sequestrou a mocinha Simone (Fernanda Torres) e fez misérias com ela no cativeiro. Fernanda é daquelas vilãs bem malvadas, com aquele quê de loucura, mas extremamente charmosas, bem ao estilo de Torloni. Um momento off-villania, mas também bastante lembrado é o seu sensual banho de piscina com a personagem de Beth Goulart ao som de “Perigo”, de Zizi Possi: uma leve insinuação gay que não foi pra frente na novela, mas que ficou na memória geral.

8) RENATA DUMONT (Tereza Rachel), de “Louco Amor” (1983)


Em minhas remotas lembranças dessa novela, confesso que morria de medo de Renata. Sempre ouvia comentários na sala de casa sobre o quanto ela era má e naquela época ainda não distinguia atriz de personagem. Resultado: cresci com medinho da Tereza Rachel. Recentemente, pude conferir alguns capítulos e comprovar que a impressão que tinha era inteiramente verdadeira. Já no primeiro capítulo, a chique embaixatriz fez de tudo para separar a enteada Patricia (Bruna Lombardi) do filho da empregada Luis Carlos (Fabio Jr). A sequência em que ela é desmascarada por Isolda (Nicete Bruno) em plena festa é memorável: Renata, na verdade, chamava-se Agetilde e fora a responsável pela morte do patriarca da família Dumont. E ironicamente era a verdadeira mãe de Luis Carlos, a quem tanto humilhou durante a novela. Um trabalho magistral de Tereza Rachel, uma das atrizes que mais brilhantemente interpreta vilãs.


 7) ANDRÉA (Natália do Vale), de “Cambalacho” (1986)


Perigosa! Até hoje o refrão da música do grupo “Syndicatto” remete a essa bela assassina. Muitos consideram o melhor papel de Natalia do Vale. De fato, a atriz esbanjou beleza, charme, talento e maldade pura, na pele da alpinista social que dá o golpe no milionário Antero (Mario Lago), tramando sua morte e se tornando rica. Apaixonada pelo cunhado Rogério (Claudio Marzo), marido de sua irmã Amanda (Susana Vieira), Andréa fez de tudo para separar o casal, além de infernizar a vida da protagonista Naná (Fernanda Montenegro), adorável cambalacheira, filha do empresário assassinado. Andréa não escapou de pagar pelo seus crimes na prisão, mas garantiu lugar no rol das preferidas do melão.

6) JULIANA (Marília Pêra), de “O primo Basílio” (1988)

 A personagem criada por Eça de Queiros já era meio caminho andado. A adaptação brilhante de Gilberto Braga completava o percurso de sucesso. Mas de nada adiantaria se não fosse interpretada por uma atriz menos do que genial. Marilia Pera agarrou a oportunidade e fez misérias na pele de ressentida e ambiciosa empregada de Luisa (Giulia Gam), que descobria a traição da patroa e fazia de sua vida um inferno. As cenas em que Juliana obriga Luisa a realizar os serviços domésticos em seu lugar foram o ponto alto da minissérie, assim como o momento da revelação de que ela era detentora das cartas que provavam a romance de Luisa, com o primo Basilio (Marcos Paulo). Juliana era detestável, mas também patética, digna de pena. Impossível não ler o romance e imaginar outro rosto, que não o de Marília, para a desafortunada personagem. Um deleite para ler, ver e rever sempre.

5) JOANA FLORES (Yara Amaral) de “Fera Radical” (1988)

Dois anos antes, Yara Amaral já tinha brilhado intensamente como a hipócrita Dona Celeste, da minissérie “Anos Dourados”, cabendo aqui uma menção honrosa à personagem. Apesar de ter feito da vida da filha Lurdinha (Malu Mader) um inferno, ao final, Dona Celeste se revelou mais uma vítima dos acontecimentos e dos códigos de conduta da sociedade da época do que uma vilã propriamente dita.
Em “Fera Radical”, ela também fez da vida de Malu Mader um inferno, sendo a grande responsável pelo assassinato dos pais da heroína Claudia, que voltava anos depois jurando vingança. Pouco tempo depois, Yara morreria em pleno réveillon na tragédia do Bateau Mouche, portanto, Joana Flores ficou como a lembrança mais forte que tive dela: uma atriz fantástica, cuja interpretação era cheia de nuances, perfeita nos pequenos gestos e nas pequenas expressões, mas também fantástica e explosiva nos momentos de fúria. O acerto de contas da “fera radical” com a megera é memorável e Yara nunca esteve menos que perfeita nessa novela. Saudades imensas!

4) CAROLINA (Lucélia Santos), de “Guerra dos Sexos” (1983)


Carolina era a candura em pessoa: uma flor de criatura. Doce, gentil, humilde, bonitinha, mas muito, muito ordinária. Uma verdadeira loba em pele de cordeiro, a vilã enganou os personagens da novela durante muito tempo e seduziu grande parte do elenco masculino, inclusive o adorável cafajeste Filipe, em ótima interpretação cômica de Tarcísio Meira. O mote da novela era a batalha entre os sexos, mas Carolina só era a favor dela mesma e aprontou poucas e boas com Charlô (Fernanda Montenegro), Roberta (Gloria Menezes) e grande parte do elenco feminino. Um desafio à altura de uma atriz cheia de recursos como Lucélia Santos.

3) RAINHA VALENTINE (Tereza Rachel), de “Que rei sou eu?” (1989)

 Antes de mais nada, uma das gargalhadas mais gostosas de toda a história da teledramaturgia. Mais um tipo terrível interpretado por Tereza Rachel. Valentine era superlativa, operística, insanamente cruel e engraçada. Com ares de Maria Antonieta, mas muito esperta, sempre levava vantagem em tudo. Seu ponto fraco era a paixonite pelo bobo da corte Corcoran (Stenio Garcia) e as cenas de romance entre os dois eram hilárias. Tereza Rachel, nessa memorável novela de Cassiano Gabus Mendes, foi da comédia ao drama, da leveza à intensidade com a mesma maestria. Seu melencólico e solitário final ao som de “How can I go on”, nas vozes de Freddie Mercury e Montserrah Caballé, é de arrepiar. A melancolia e a derrota da rainha destronada era latente apenas no olhar da atriz que aqui não foi menos que genial.


2) PERPÉTUA (Joana Fomm), de “Tieta” (1989)

Adorável urubu. Bem no íntimo, a eterna viúva do Major Cupertino é minha favorita. O que dizer dessa divertidíssima criação de Aguinaldo Silva em que sua intérprete Joana Fomm fez o que quis? Outra especialista em vilãs (aqui vai uma menção honrosa para Yolanda Pratini, de “Dancing Days”, que mesmo sendo dos 70’s vale a lembrança), Joana Fomm começou carregando mais para o lado do drama, do rancor, do ressentimento que sentia pela sua irmã Tieta (Betty Faria). Mas aos poucos, Perpétua foi ganhando ares mais divertidos, até virar uma vilã das mais caricatas e adoráveis de todos os tempos. A avarenta e maldosa Perpétua dava um show a cada aparição, seja se fingindo de boazinha para a irmã, seja humilhando as fiéis escudeiras Cinira e Amorzinho (Rosane Goffman e Lilia Cabral). Poucas vilãs foram tão longe quanto Perpétua, chegando ao ponto de empurrar o filho para os braços da própria irmã por dinheiro. Além disso, ela se fingia de santa e virtuosa, mas na verdade, a tribufú era libidinosa e bizarra ao guardar o órgão sexual do próprio marido em uma misteriosa caixa branca. Perto disso, o segredo do Gerson (Marcelo Antony) de “Passione” é brincadeira de criança, né? Por essas e outras, Perpétua até hoje é lembrada como uma das maiores vilãs de todos os tempos e com muita justiça. Inesquecível!

1) MARIA DE FÁTIMA (Glória Pires) e ODETE ROITMAN (Beatriz Segall), de “Vale Tudo” (1988)

 Empate técnico. Não deu pra decidir entre as duas que, afinal se revelaram durante a trama mais parecidas do que nunca. Odete (Beatriz Segall) até hoje é o símbolo de uma burguesia corrupta e inescrupulosa, que demonstra desprezo pelo Brasil, mas que construiu sua riqueza às custas da exploração do país. As verdades ditas por Odete são inquietantes e é impossível não se identificar com elas, pelo menos um pouquinho. Odete foi uma criação genial de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres, sobretudo, porque foi uma personagem extremamente humana. Todas as suas vilanias estavam longe de serem gratuitas e eram justificadas pela preocupação que tinha com os filhos. O calcanhar de Aquiles era o fraco que ela tinha por garotões. O resultado é uma personagem poderosa, implacável, mas extremamente deliciosa de se assistir. Seu assassinato, até hoje, foi o que mais mobilizou o país e, mais de 20 anos depois, volta a fazer sucesso na reprise do Viva. Mesmo que Beatriz Segall tenha feito outros ótimos personagens, Odete sempre será seu carro-chefe. Definitiva!

Enquanto isso, Maria de Fátima é o símbolo da determinação. Disposta a vencer na vida e se tornar rica, a moça não media consequências para realizar seus objetivos, como por exemplo, colocar a própria mãe na rua, destruir o romance dela, trair a amiga Solange e até vender o próprio filho. Tudo isso parece terrível, mas mesmo assim Fátima era extremamente humana. Suas vilanias nunca foram motivadas por vingança ou questões pessoais, mas puramente para alcançar seus objetivos. Em sua moral (ou falta dela), Fátima se preocupava com a mãe, sofria cada vez que cometia uma maldade contra ela e achava que poderia consertar depois. E o trabalho de Glória Pires foi magistral. Sem qualquer ranço de caricatura ou exagero, ela sabia compôr duas Fátimas diferentes: a boazinha diante de todos e a pragmática e ambiciosa em suas cenas com o amante César (Carlos Alberto Ricceli). Vai ser difícil surgir uma alpinista social mais interessante e tão perfeitamente construída como esta. Antológica.


MENÇÕES HONROSAS:

ü  Santinha Rivoredo (Eva Todor), de “Sétimo Sentido” (1982)
ü  Tia Fausta (Joana Fomm), de Bambolê (1987)
ü  Donana (Geórgia Gomide), de Hipertensão (1986)
ü  Gláucia (Bia Seidl), de “A gata comeu” (1985)
ü  Lúcia Gouveia (Joana Fomm), de “Corpo a Corpo” (1985)
ü  Chica Newman (Fernanda Montenegro), de “Brilhante” (1981)
ü  Paula (Cissa Guimarães) de “Direito de amar” (1987)
ü  Frau Herta (Norma Blum), de “Ciranda de Pedra” (1981)
ü  Catarina (Marieta Severo), de “Vereda Tropical” (1984)

Esqueci de alguma? Quem foi terrivelmente injustiçada pelo melão? E das citadas, quais suas favoritas? Agora é com vocês!


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Melão Express – Rapidinhas, mas saborosas – Ed. 13


Ø  VETERANOS COM VIDA PRÓPRIA


Justiça seja feita. Um dos pontos altos de “Passione” é o ótimo desempenho do elenco veterano. Talento dos atores à parte, Sílvio de Abreu está de parabéns, não apenas pela escalação, mas por dar a eles papéis dignos e à altura de seus talentos. Não fazem apenas papéis de pais, tios e avós preocupados com os problemas dos personagens mais jovens como na maioria das novelas. Eles têm seus próprios dilemas, seus próprios dramas e suas tramas são as mais interessantes da novela. Que prazer ver o pentágono amoroso formado por Cleide Yáconis (destaque absoluto como a safadinha Dona Brígida), Leonardo Villar, Elias Gleiser, Aracy Balabanian e Emiliano Queiroz. Genial a ideia de um casal à beira dos 90 se divorciar e começar vida nova. E nem preciso dizer o quão fantásticos são esses atores, né? Que roteirista não sonha em escrever pra eles? Quando “Passione” terminar, eles, com certeza, serão lembrados entre os aspectos positivos da novela.

Ø  ZAPEANDO PELA TV FECHADA

ü  Sempre fui fã do “Saia Justa” e acompanhei suas diferentes formações e gostava muito da formação anterior que, pra mim, era a mais plural e a que mais fazia jus ao título do programa. As divergências entre Maitê Proença e Marcia Tiburi, por exemplo, era, pra mim, um aspecto positivo e ajudava a apimentar a atração. Tenho acompanhado a atual temporada e sinto que ainda não decolou. Não que Christine Fernandes e Teté Ribeiro não sejam boas, mas ainda estão sérias demais, muito travadas. Falta alguém descontraído como Betty Lago para dar mais leveza ao debate. A ideia das participações masculinas também é ótima, mas os homens, que poderiam dar essa graça que falta às novas saias, também estão levando a sério demais os debates. Talvez seja questão de entrosamento. Vamos aguardar.

ü  Tudo bem que era uma reprise de uma temporada exibida há algum tempo, mas nada justifica o Canal Liv interromper na metade a exibição da quarta temporada de “Project Runway” subitamente e sem justificativa alguma. Tremenda falta de respeito com os assinantes, pra não dizer, bagunça.

ü  Nunca fui aficcionado pelo programa de “Oprah Winfrey”. Sei lá, aquele fanatismo da plateia que aplaude o entrevistado e as tiradas da apresentadora a cada dez segundos sempre me irritaram um pouco. Mas qual não foi minha (agradável) surpresa, dia desses, zapeando de madrugada, quando parei na entrevista que J.K Rowling, criadora da série “Harry Potter” (confesso, também nunca li os livros ou assisti aos filmes) concedeu à apresentadora. Longe da histeria da plateia, na suíte de um hotel na Escócia, mais do que uma entrevista, foi um bate-papo franco, denso e, por que não dizer, emocionante. Oprah soube conduzir com a competência de sempre a entrevista e a entrevistada tinha uma bela história de vida pra contar. No final, o que se viu foi uma relação especular de duas mulheres muito parecidas, que vieram de baixo e que construíram fama e fortuna com seu talento incomum. E foi impossível não deixar que a emoção aflorasse por parte das duas. Era o último programa de Oprah e, em determinado momento, a entrevistada inverteu os papéis e perguntou a Oprah como ela se sentia em fechar um ciclo e Oprah respondeu com maior franqueza. A admiração mútua ficou evidente. Um bate-papo pra lá de memorável e inspirador.

Ø  AINDA SOBRE OS MELHORES, SEGUNDO O MELÃO



Meus queridos leitores citaram outros ótimos destaques que não fizeram parte de minha seleção e eu tenho que fazer justiça a eles. Como pude me esquecer dos excelentes “Dalva e Herivelto”, “Separação!?” e “A cura”? A minissérie foi pura emoção e nos brindou com uma das cenas mais emocionantes do ano: a morte de Dalva. Texto perfeito e interpretação magistral de Adriana Esteves. Já a série cômica trouxe de volta um humor semelhante ao de “Os Normais”, mas com uma linha dramática mais definida. Debora Bloch e Vladimir Brichta estiveram ótimos, mas os coadjuvantes não ficaram atrás, com destaque para Rita Elmor, Cristina Mutarelli e Kiko Mascarenhas. O texto de Fernanda Young e Alexandre Machado tem a capacidade de me fazer rir alto. Por fim, “A cura” que, apesar de não ser meu gênero preferido, nos apresentou um excelente e instigante thriller com identidade própria e gostinho de pão de queijo. Por isso, mesmo que tardiamente, incluo as três atrações no rol das preferidas do melão em 2010.

Ø  AINDA SOBRE “TI TI TI”

Sim, apesar da maioria esmagadora dos leitores concordarem com a eleição de “Ti Ti Ti” como a melhor novela do ano, a escolha não deixou de gerar alguma polêmica. Mas o mais curioso foi constatar que os detratores de “Ti Ti Ti” levam a novela mais a sério do que os admiradores, inclusive decretando a morte do gênero a partir da novela. Menos, meus queridos. Não acho que “Ti Ti Ti” tenha a pretensão de ser tão emblemática assim. Pelo contrário, o que a faz ser deliciosa é o fato de ser leve, descompromissada, uma grande farra e uma belíssima homenagem, não só à obra de Cassiano Gabus Mendes, como à teledramaturgia em geral, com suas inúmeras citações e intertextualidade a cada capítulo (e as referências não se limitam apenas aos 80’s como disseram alguns). O que mais me encanta na novela é que ela demonstra fôlego mesmo na reta final e está longe de ser uma novela escrita no automático. Os autores se preocupam em incrementar e surpreender a cada capítulo.  O que foi Stephanie (Sophie Charlotte) bancando a Esther Williams à beira da piscina e depois revivendo Marilyn Monroe em seu clássico número de “Os homens preferem as loiras” em que interpreta “Diamonds are a girl’s Best friend”? Tudo bem, grande parte do público pode não ter identificado as citações, mas e daí? Por isso vai se nivelar por baixo? Quem não conhece os filmes se divertiu do mesmo jeito, sem prejuízo para o entendimento da trama. É esse o caminho. Nunca subestimar o público. E o capítulo de sábado foi especial para telemaníacos... Que delícia a Elisângela interpretar no videokê seu antigo sucesso como cantora, “Pertinho de você”? Que homenagem bonita a ela...

E falando em homenagem, meu twitter e meu e-mail encheram de mensagens após a aparição de Divina Magda (Vera Zimmerman) em que Clotilde explica que Dom Lázaro (Lima Duarte em “Meu bem meu mal”), morreu entalado com um pedaço de melão? Mesmo muuuito que indiretamente, esse singelo melão que vos fala não pode deixar de sentir lisonjeado e homenageado, embora saiba que todas as honras e homenagens (como o próprio título desse blog) devem ser dadas inteiramente a Cassiano Gabus Mendes. De qualquer forma, adorei, Adelaide, obrigado! Confesso que esse melão ficou uma melancia, de tão enrubescido...hahaha!

Ø  PORTANTO, MEUS QUERIDOS... O MELÃO É POP!


Impossível não lembrar de Tancinha (Claudia Raia), em “Sassaricando” exibindo sensualmente a fruta na feira ao gritos de “Me olha os melão!!!”. Ainda que seja de Sílvio de Abreu, fica a dica para a equipe da novela para mais uma brincadeirinha metalinguística.


Por fim, agradeço ao meu queridíssimo amigo-irmão, Ivan Gomes, pela singela e belíssima homenagem logo no início do ano. Sim, querido, você prefere melão e o melão prefere você! Essa foto tem mais valor pra mim do que você pode imaginar. Um presentão!


Ø  ENQUETE NO AR
E aproveitem para votar na próxima enquete. Quais as novelas que você aguarda com mais ansiedade em 2011? Beijos, abraços e até a próxima!
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