quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dois extremos e uma só tristeza.



Foi uma terça-feira bastante triste e atípica para o meio artístico. Logo antes do meio-dia, tivemos duas lamentáveis notícias de dois falecimentos de pessoas muito queridas do público: a veterana atriz Dirce Migliaccio e a autora roteirista Andréa Maltarolli.

Dirce nos deixa após uma carreira vitoriosa e uma galeria de personagens antológicos, dentre os quais a primeira Emília do “Sítio do Picapau Amarelo” da Rede Globo e Juju, uma das inesquecíveis irmãs Cajazeira da novela e da série “O bem amado”, de Dias Gomes.

No entanto, a lembrança mais viva que tenho da atriz é da doce Ceição de “A gata comeu”, ingênua e encantadora senhora que acreditava piamente na doença do marido Oscar (o impagável e inesquecível Luiz Carlos Arutin) sem saber que ele azarava as gatinhas às vistas de todos os moradores daquela bucólica e agradável Urca da imaginação genial de Ivani Ribeiro. Naquele papel, mesmo coadjuvante, Dirce mostrou várias facetas de uma grande atriz: a doçura e encanto de uma senhorinha ingênua, a luta e o sacrifício de uma pobre dona de casa e depois a ira de uma mulher enganada. Mesmo sendo uma comédia rasgada, Dirce, além de gargalhadas, nos despertava os mais sinceros sentimentos de compaixão para com sua personagem, afinal aquela simpática senhora poderia ser nossa mãe. Uma perda irreparável para o meio artístico, mas sem dúvida Dirce deixa seu legado e uma galeria de trabalhos digna de quem veio nesse mundo e cumpriu sua missão.

Já a notícia da morte de Andréa caiu como uma bomba para quem trabalha ou simplesmente admira a teledramaturgia. Quase ninguém sabia de sua doença, por isso o choque a tristeza se misturaram e até agora está sendo difícil de acreditar. Não cheguei a conhecê-la pessoalmente, mas comemorei quando ela conquistou sua primeira e bem sucedida novela-solo, “Beleza Pura”, uma inspiração para jovens roteiristas. A novela, além de conter uma trama simpática e descontraída, nos despertou a curiosidade pelo que ainda estava por vir da imaginação da autora. Infelizmente o porvir jamais chegará e fica a sensação daquilo que poderia ter sido. Mesmo já possuindo uma consistente carreira como roteirista na TV, sempre ficará a sensação da ausência, de hiato, de interrupção de uma promessa de que o melhor ainda iria chegar.

Dirce e Andréa representam dois extremos: enquanto a primeira descansa em paz nos deixando a sensação de uma carreira plena, a segunda nos deixa essa sensação de incompletude e nos faz refletir sobre o que poderia ter sido e que nunca será. Sim, algumas pessoas se despedem desse mundo de forma tão súbita e sorrateira que sempre nos leva à reflexão de que a vida é agora e que jamais podemos deixar pra depois o que se pode fazer hoje.

O contexto do falecimento das duas é diferente, mas a tristeza é a mesma. Obrigado por tudo e que descansem em paz.

5 comentários:

Duh Secco disse...

Triste demais. Não tanto pela Dirce, que creio eu, descansou. Vinha sofrendo já tinha tempo e finalmente encontrou o repouso que tanto merecia. Mas por Andrea, fiquei chateado mesmo. E o texto resumo bem o porquê.

Tá de parabéns pelo texto, Vitor. Excelente, como sempre.

Carmen Farão disse...

Parabéns, Vitinho. Belo texto. Comovente.

Eddy Fernandes disse...

Por incrível que pareça, a morte de Dirce não me surpreendeu. Talvez por ser mais velha... o sub-consciente ''já esperava''. Mas recebi a notícia de Andréa, num primeiro momento, como piada. Estava no twitter, o fake de Christian Pior, anunciou o que havia acontecido. Até ri. Convenhamos, é natural, em se tratando de uma figura de tão pouca credibilidade como aquela.

Minutos depois, Kogout anunciou o que tinha acontecido em um de seus tweets. Fiquei chocado. A ficha não caiu. Até agora.

Torcia por Andréa. Sua ''Beleza Pura'' foi uma das mais simpáticas e agradáveis novelas das 7 da década e aguardava ansioso por seu regresso. Que infelizmente não virá. Fica um vazio enorme. Um gosto ruim na boca. Uma sensação... sabe-se lá deus de que.

Ivan disse...

texto comovente, q passa em belas palavras q um talento como vc Vitor, sabe descrever tão, hj vi q alem de grande escritor vc tem a habilidade de descrever sentimentos...

Fernando Barreto Vianna Russowsky disse...

Bah, Vitor, meus parabéns, muito tri o texto!
Os sentimentos que eu tive em relação às duas partidas foram exatamente os mesmos.
Dirce é uma página. Andréa tinha tudo pra ser, mas à posteridade restou um verbete com não mais que três linhas...

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