Foto: site da atriz |
Como já disse outras vezes, as entrevistas do melão são sempre especiais. Todas têm uma razão de ser. Como não sou jornalista, tampouco entrevistador, posso me dar ao luxo de entrevistar apenas pessoas a quem admiro muitíssimo ou com quem me identifico de alguma forma. No caso da entrevistada em questão, ela preenche plenamente esses dois requisitos. Além de admirá-la de montão como profissional, ela também me serve de inspiração como pessoa. Engraçado que tive pouquíssimas vezes com ela, mas nossos encontros sempre foram plenos de carinho e torcida mútua e nossas trajetórias artísticas, de certa forma, caminham lado a lado. Nos encontramos em um momento em que nossos destinos estavam sendo traçados e, apesar de otimistas, também estávamos incertos do que estaria por vir e nos desejamos boa sorte. Para nossa felicidade, voltamos a nos encontrar em um momento muito feliz, em que eu havia saído de uma empreitada bem-sucedida como colaborador de “O astro” e estava lançando meu primeiro livro e ela, simplesmente, ar-ra-sou como a hilariante empregada Marilda de “Fina Estampa”. Daquelas atrizes que agarram as oportunidades com unhas e dentes e fazem maravilhas com o que possuem, foi crescendo a cada capítulo até se tornar um dos destaques positivos de “Fina Estampa”. E isso é só o começo. Sei que vem mais coisa boa por aí. Mas, por hora, fiquem com essa deliciosa e, por que não dizer, emocionante entrevista. Ela fala sobre o longo caminho que percorreu, dos colegas de trabalho e de suas cenas favoritas de Marilda. Katia também se revela uma noveleira de mão cheia, destacando suas novelas e atores favoritos. Sua trajetória e garra mostram que ela veio pra ficar. Senhoras e senhores, melão orgulhosamente apresenta... Katia Moraes!
Apesar de ser sua estreia na televisão, você possui uma carreira longa em teatro. Destacaria algum trabalho favorito?
O meu trabalho favorito é e sempre será a Marilda de FINA ESTAMPA. Nenhuma personagem me trouxe tantas alegrias na vida e no "palco" como ela. É claro que me apaixonarei de novo e virão novos amores. Mas o meu primeiro amor, que me fez ser reconhecida pelo povo e pela crítica, foi ela. Amo a todas as minhas personagens, mas antes da Marilda destaco a Margarida, do Musical "Muito Barulho por nada", de Shakespeare. Foi um trabalho maravilhoso e que tudo me ensinou. Fiz parte do Grupo de Teatro Mosaico e ficamos com essa peça por três anos, viajando o país todo e com quatro temporadas bem-sucedidas no Rio de Janeiro.
Como foi sua trajetória até chegar na Marilda de “Fina Estampa”? Fez muitos testes? Já desanimou alguma vez?
A trajetória foi longa, comecei a estudar teatro aos 16 anos no Tablado, mas tive a sorte de estudar numa escola que tinha Artes Cênicas no quadro curricular. Então, o exercício começou quando era criança. Passei por muita coisa, minha estreia com temporada num teatro (O extinto Teatro de Lona da Barra e Anfiteatro do Morro da Urca) foi aos 19 anos como protagonista num infantil premiado chamado "Flor de Maio", onde fiquei cartaz por um ano. Fiz também um ano do preparatório da CAL. E muitas apresentações isoladas (como todo ator no início da carreira) pra citar umas: no Circo Voador, na campanha do Betinho com um grupo que se chamava Prato Feito. Veio a época do vestibular e prestei pra Artes Cênicas (lógico - risos) na UNI-RIO, onde me formei em Interpretação. Logo que entrei pra faculdade tive o privilegio de ser convidada pra integrar um grupo de teatro que eu amava (Teatro Mosaico), onde fiquei por três anos e tudo aprendi, como já relatei acima. Nós varríamos palco, montávamos cenário, nos maquiávamos e passávamos nosso próprio figurino. Além de cantar, tocar instrumentos e dançar. Ganhamos muitos prêmios em vários festivais desse Brasil todo, além das temporadas bem-sucedidas no Rio de Janeiro (Espaço dos Correios, Casa de Cultura Estácio de Sá, SESC Copacabana e Teatro Gláucio Gil). Depois o diretor-produtor do grupo voltou para o Mato Grosso do Sul, sua terra natal, e eu integrei mais cinco grupos diferentes. Um com temporada no Teatro da ABL (O Alienista), outro fazendo teatro de rua na Central do Brasil e em praças (chamado Tupinambás Urbanos), outro excursionando pontos da orla da praia (A Presença Cia de Teatro), outro fazendo temporadas em shoppings (Macacos de Imitação- era uma ralação!), outro onde eu também era produtora, e fiquei cartaz na Sala Paraíso do Teatro Carlos Gomes, dentro do projeto Nova Dramaturgia do Roberto Alvim, com a peça "Três Contos de fé ou Os Bons para o Inferno" de Fernando Borba. Além de der dado muita aula em ONGs como a Ação Comunitária do Brasil. É importante dizer também que durante as práticas de montagens na UNI RIO, aprendi com grandes mestres como Léo Jusi e José Renato.
Bom, cada qual com seu cada um (risos), e a verdade é que vida de ator não é bolinho não! Eu tinha um sonho que era ser descoberta no teatro. Venho de uma geração onde ainda era possível se sonhar com isso. Mas a coisa não é tão simples e enfim, o mundo mudou, os recursos mudaram e pra estar em boas produções, ou seja, ser patrocinado, é fundamental que se tenha visibilidade. E isso não é tarefa fácil. Fiz alguns testes, mas não muitos, porque a verdade é que nem sempre os testes (nem vou comentar de televisão!) em teatro são abertos a todos (e nem daria devido a tanta gente no mercado). Por tudo isso, pensei, sim, em desistir muitas vezes, mas sempre vinha alguém que me trazia de volta. Como aconteceu agora em FINA ESTAMPA e foi assim também quando entrei em cartaz pela primeira vez. Não dá pra fugir do destino, e mesmo dizendo que pensei em desistir, a verdade é que nunca desisti dele.
O que te atrai em um personagem?
O fato dele ser um personagem (risos). Quem são os personagens? São retratos de nós, que estamos aqui, ali e em toda esquina. Todos têm uma característica mais forte, que pode ser mais explorada. E eu gosto disso, de explorar as características deles.
Como surgiu o convite para atuar em “Fina Estampa”?
Bom, num desses momentos precisando me sustentar e não me ausentar da minha carreira, fui fazer licenciatura. Eu fui professora de Artes Cênicas do Município do Rio de Janeiro por quatro anos. Sai de lá e fiquei, sabe? Sem rumo... Até que apareceu o Aguinaldo na minha vida. Eu estava passando roupa quando ele foi no Sem Censura falar da Martes Class. Eu não passei, enfim, também gosto de escrever e como disse, estava sem perspectiva. Mas a partir daí fiquei o acompanhando, me apaixonei mesmo.
Pra encurtar a história, o Aguinaldo me observou numa palestra que ele deu sobre dramaturgia. E no dia seguinte me chamou pra fazer um teste pra novela dele. Coisas que não tem explicação, como ele mesmo me disse no lançamento da novela: "Estava escrito". E Vitor, simplificando a análise, não tem explicação, ESTAVA ESCRITO!
Katia caracterizada de Marilda de "Fina Estampa" |
Sua personagem em “Fina Estampa” começou praticamente muda em cena e, aos poucos, foi ganhando espaço até cair definitivamente nas graças do público com suas ótimas tiradas e suas caras e bocas. Que estratégias você usou para isso? Se inspirou em alguém ou em algum personagem para compor a Marilda?
Não. Eu me inspirei no texto. Quando a gente lê um livro, a gente não imagina a personagem citada? Foi exatamente assim. Quando eu recebi os textos, o que eu percebi? A patroa da minha personagem era vilã. Então, ela deveria temer a ela. E assim fui. Teve uma cena em que Marilda entrava em cena e dizia somente isso: "Chamou, Dona Tereza Cristina?" Mas creio que Marilda demonstrou tanto medo, que "Tereza Cristina" criou a cena da Marilda se escondendo por trás da pilastra. Assim as coisas vão, é uma troca eterna. A Marilda foi tomando conta de mim, vivenciando tudo, dia apos dia, como numa novela (risos).
Como foi a recepção dos atores veteranos à sua chegada e como está sendo o processo de trabalho em conjunto?
A primeira cena que gravei foi com a Lília Cabral, ela me recebeu lindamente. Foi logo batendo texto comigo e quando acabou a cena me deu um lindo abraço de boas vindas, que jamais esquecerei. O processo de trabalho foi sempre muito intenso como vocês puderam ver na tela, nós todos estávamos realmente apaixonados e entregues completamente as nossas personagens. Então a troca era intensa tanto no ensaio quanto na gravação. A Christiane Torloni foi extremamente generosa comigo e devo muito a ela também. De cara, na nossa primeira cena, ela sugeriu ao diretor me dar um susto atrás da pilastra. E essa cena fez a Marilda, minha personagem, ir pra chamada da novela, antes dela entrar no ar. Então, nossa sintonia foi imediata e tudo indicava de prima que daria certo como deu. Ela é minha musa eterna.
Katia em cena com Christiane Torloni |
Tem alguma cena favorita da Marilda? Qual?
Tenho algumas, várias! kakakakaka! Tem a primeira, que foi quando a Marilda abriu a boca mesmooooo (risos). Que foi a primeira mostra de quem era a Marilda. Ela falava sozinha, quando a Tereza Cristina saia de perto, insinuando que o Seu Rêne tava era pulando a cerca. (risos) Marilda adorava isso. Ela dizia, puramente, as maldades que todo mundo estava pensando (risos). Nessa cena, os câmeras ficaram todos felizes, comentaram, foi o maior barato! Ninguém esperava, né? (risos) Ela a principio sempre com medo da outra, de repente soltar essa. A segunda foi logo depois, foi numa cena com o Crô, e lembro até hoje a fala: " Não é porque a rainha saiu, que você vai bancar a princesa!" , simplesmente o estúdio foi abaixo de tanta risada. Nessa cena, eu ganhei a Marilda. Lembro como se fosse hoje, o diretor, meu grande parceiro Ary Coslov, virou-se, quase em câmera lenta, me olhou e quase que me disse com o olhar: "Vai, que é sua! Pode brincar!" Outra, foi uma que amo demais, Chapliniana como gosto. Foi dirigida pelo Marcus Figueiredo, e de uma criatividade ímpar. A cena era pra o Antenor entrar na casa, ponto. Mas pra isso, Marilda tinha que sair e deixar a porta aberta. Pois ele criou toda uma mise en scene pra mim. Carregar sacos de lixo, reclamar, limpar as mãos, enfim, AMO ESSA CENA!!!!! Ele me deu OPORTUNIDADE de ser Chaplin TOTAL (e eu sou chegada nisso, risos)! E lógico, claro e evidente a minha maior cena foi: A VINGANÇA DA MARILDA! Dirigida pelo Marco Rodrigo, que foi um parceirão. Tem a cena da faca, que o Wolf criou, foi a primeira vez que vi um diretor criar cena pra mim. Foi muita coisa boa!
Você é noveleira? Se sim, quais suas novelas e atores favoritos?
Roque Santeiro: uma das novelas favoritas |
Mega, hiper, totalmente noveleira. Eu amo novela e assisto todas, quando posso. Fico passada com ator que diz que não vê e não gosta de novela, como assim? (risos) Bom, eu amo novela e todos os autores, mas não dá pra citar de todos, então citarei algumas, as que por algum motivo me marcaram: FINA ESTAMPA, ROQUE SANTEIRO, VALE TUDO, PANTANAL e PÁGINAS DA VIDA . ROQUE SANTEIRO é a novela, e anseio, desejo, faço mandinga e mangalô três vezes pra que invistam em novelas desse gênero novamente. Claro que não temos mais o genial Dias Gomes, mas temos o genial Aguinaldo Silva, que escreveu a novela junto a ele, e que provou agora com FINA ESTAMPA o quanto o povo gosta desses personagens farsescos (ambientados no urbano), aliás TIETA, é outra das minhas favoritas. VALE TUDO, era outra com personagens muito bem definidos num ambiente urbano, e Maria De Fátima Forever, merecia final feliz assim como Tereza Cristina. PANTANAL é lindooooooo!!!!! Não sei se sou do mato, acho que sou (sou sim), mas nossa, eu vivia aqui lá só de assistir. E PÁGINAS DA VIDA foi num momento muito especial da minha vida, eu estava grávida, adoro aquelas conversas na cozinha refletindo sobre a vida das novelas do Manoel Carlos, eu quase que converso com as personagens (risos). Amei AMÉRICA, mas fiquei brava no final porque a Sol não terminou com o Tião (sou careta pra cacete com isso, pra mim casal que começa se amando na novela tem que terminar junto, e ponto final. risos). A única vez que abri exceção foi pro Giovanni Improtta, em Senhora do Destino, e não abri agora não, pro Guaracy. O ator é maravilhoso, mas eu queria Grizelda com Renê. adorava a Norminha da grande Dira Paes EM CAMINHO DAS ÍNDIAS. E A FAVORITA foi maravilhosa. No final eu aplaudi de pé, sério mesmo! Estava minha irmã e meu marido em casa e eu levantei pra aplaudir, mas confesso que ela me cansou no meio, não gosto de vilão que se dá bem demais.
Atores favoritos tenho muitos, então citarei minhas musas e musos que me receberam: Eva Wilma, Christiane Torloni, Lilia Cabral e José Mayer. Te mete? Contracenei com todos eles! Mas vou citar outra que jamais conheci e simplesmente amo o trabalho: Drica Moraes.
Que famoso personagem televisivo você teria vontade de interpretar?
Sem dúvida alguma a Marilda de FINA ESTAMPA (risos). Engraçado isso, mas sempre fui tão expectadora que nunca tive isso, de assistir uma personagem e querer interpretá-la (mentira, imitava todas as personagens da Regina Casé, nas aulas de teatro). Salvo duas vezes, uma, que foi a personagem que me fez querer fazer novela, eu tinha 7 anos. A culpada de tudo foi Elizabeth Savalla, com sua Carina, uma bailarina na novela PAI HERÓI, era minha brincadeira predileta imitá-la. E outra, é claro, a maravilhosa Perpétua interpretada pela grande Joana Fomm. Adoro também Dona Pombinha de Roque Santeiro.
Carina (Elizabeth Savalla) em "Pai Herói" (1979): inspiração |
Já tem novos projetos após o final da novela?
SIM!!!!!!!! Meu monólogo "A REZA O RISO" DE FERNADO BORBA. Vamos excursionar pelo país e E ABALAR BANGU! QUANTO A TV, EU VOLTAREI!!!!!!!!!! KAKAKAKAKAKAKA!!!!!!
Katia, querida, muitíssimo obrigado por sua gentileza em conceder a entrevista, ainda mais nessa reta final da novela em que o tempo é bastante escasso. Saiba que fiquei muito feliz com todo esse sucesso que você está fazendo. Quem diria que, há pouquíssimo tempo atrás, estávamos voltando juntos de um evento cheio de sonhos e agora estamos conseguimos realizá-los. Te desejo muito mais sucesso e tenho certeza de que você tem uma carreira brilhante pela frente. Beijo carinhoso com gostinho de melão!
UM BEIJO ENORME PRA VOCÊ!!!! Lembro bem disso, cheio de sonhos e logo depois você foi colaborador do O ASTRO e eu atriz de FINA ESTAMPA. A vida foi boa pra gente e a gente tem que comemorar!!!!!.
Katia e eu em "momento ternura" |
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3 comentários:
A Kátia chegou com vontade de fazer bem feito, teve uma oportunidade ímpar e soube aproveitá-la. Torço para que continue a conquistar seus objetivos.
Um abraço, Vitor!
Bela entrevista e excelente seu blog. Parabéns aos dois.
eu acho que é muito legal um ator se sentir tão agradecido e ter tanta ajuda de veteranos, dá maior esperança nessa classe..que seja o primeiro de vários papéis dessa atriz talentosa....a minha cena preferida foi qdo ela estourou, ela roubou a cena até do Crô, algo difícil na novela.
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