terça-feira, 18 de setembro de 2012

“Top Model”: valeu a pena ver de novo



Os filhos de Gaspar: Olívia (Gabriela Duarte), Elvis (Marcelo Faria), Ringo (Henrique Farias), Jane (Carol Machado) e Lennon (Igor Lage)

Hoje vai ao ar, pelo Canal Viva, o último capítulo da reprise de “Top Model”, novela de Walther Negrão e Antonio Calmon que marcou toda uma geração. E, concidentemente, há exatos 23 anos atrás, dia 18 de setembro de 1989, a Globo exibia o primeiro capítulo da novela, que na época de seu encerramento, deixou muitas saudades e uma legião de fãs, principalmente crianças e adolescentes, todos desejando ser um dos filhos de Gaspar (Nuno Leal Maia), ter nome de astros do rock e do cinema e viver naquela casa super animada à beira da praia.

Pra quem, como eu, era adolescente na época, foi um verdadeiro deleite e um retorno no tempo acompanhar a novela. Mas as gerações seguintes também gostaram de conhecer a trama que sempre ouviram falar bem. Claro que, muitos anos e dezenas de novelas depois, nosso olhar é outro e hoje, bem mais crítico, consigo reconhecer que não se trata de uma novela perfeita. Pelo contrário, a trama muitas vezes, foi conduzida em banho-maria, sustentando-se apenas pelo carisma dos personagens, interpretados por um ótimo time de veteranos e por um surpreendente elenco jovem, talvez o melhor elenco adolescente já reunido em uma novela. Todos os garotos e garotas foram muito bem construídos e pareciam de carne e osso, não ficavam o tempo todo proferindo um amontoado de gírias e tendo atitudes “modernas” que sempre soam forçadas em tramas adolescentes. O mais bacana é que eles não eram apenas filhos de alguém. Todos tinham o mesmo peso dos personagens adultos. A trama das irmãs Olívia e Jane (Gabriela Duarte e Carol Machado), por exemplo, apaixonadas pelo mesmo garoto, Artur (Jonas Torres), foi conduzida com extrema sensibilidade, sem vilanizar nenhuma das duas, mostrando, sobretudo, que o amor que uma sentia pela outra sempre foi maior do que qualquer rivalidade.



Maria Zilda: destaque positivo
 Outro aspecto positivo da trama foi a ausência de maniqueísmo e estereótipos. A mocinha não era tão mocinha, o vilão, muitas vezes, foi humanizado, o herói tinha um pé na marginalidade e o grande paizão da trama, em vários momentos, não passou de um garotão irresponsável. Um bom exemplo disso foi a personagem Marisa (ótima atuação de Maria Zilda Bethlem), que começou a trama parecendo ser mais uma vilã corriqueira, mulher interesseira que abandona o irmão pobre, a quem ama, pra ficar com o irmão rico. Mas Marisa foi muito além e teve uma trajetória bastante interessante, chegando, em um determinado momento, a assumir o controle dos negócios da família, para depois se tornar riponga, desmemoriada, chegando ao cúmulo de aconselhar a rival Naná (Zezé Polessa) a conquistar seu próprio marido. E em todos esses momentos, Maria Zilda se saiu muito bem, sempre imprimindo leveza e bom humor. Zezé Polessa e Drica Moraes foram as grandes revelações adultas da novela. Zezé, como uma adorável faz-tudo eternamente apaixonada por Gaspar. Quem não gostaria de ter uma Naná em casa? Já Drica, na pele da “empreguete” Cida, provocou muitas gargalhadas como a doméstica apaixonada por bandido que virou cantora (quem disse que a Cida de “Cheias de Charme” foi a pioneira?).

Eva Todor e Zezé Polessa: diversão garantida na trama

Outro grande destaque do time dos veteranos foi Eva Todor, que brilhou na pele da atrapalha avó Morgana e fez uma dupla adorável com o saudoso Luiz Carlos Arutin. Nos momentos em que a trama não andava, era Morgana quem garantia a diversão, sempre com um texto inspirado. E para fazer justiça, é impossível não citar Cecil Thiré, que simplesmente arrasou como o doentio vilão Alex Kundera, outro personagem muitíssimo bem construído. Alex não era um monstro 100% do tempo. Claro, era um psicopata que não conseguia conviver com a inveja que sentia pelo irmão, mas também tinha dimensão humana: sofria por amor e demonstrava afeto pelo filho Alex Júnior (Rodrigo Penna). Um papel que só podia mesmo ter sido vivido por um grande ator como Cecil Thiré.

Cecil Thiré na pele de Alex Kundera com Rodrigo Penna: ator brilhou na pele de vilão
Já o par romântico central da trama não funcionou como deveria. A heroína Duda (Malu Mader) começou forte e decidida, mas foi enfraquecendo no decorrer da novela e desistiu com muita facilidade de seu amor por Lucas (Taumaturgo Ferreira), mostrando-se, muitas vezes, mimada e egoísta. Além disso, os autores mantiveram o casal separado na novela por muito tempo. Nesse meio tempo surge Giulia (Alexandra Marzo em seu melhor momento na tevê), para arrebatar o coração de Lucas e promover o antagonismo com Duda. Nesse caso, a ausência de maniqueísmo contou a favor de Giulia, já que ela estava bem distante das características de uma vilã. Ao contrário, Giulia era amiga, simpática, companheira, generosa, determinada, enfim, adorável, tudo o que Duda não foi. Resultado: houve uma imensa torcida para que Lucas ficasse com Giulia e não com Duda, que chegou a ficar ausente da trama justamente nos capítulos finais. Até mesmo a reconciliação de Lucas e Duda foi promovida por Giulia que, se não foi a heroína da trama, teve mais atitude de heroína do que a mocinha original, que nada fez para lutar por seu amor.

Luiz Carlos Arutin e Alexandra Marzo: fotografados de minha tevê

A trilha sonora também foi um caso à parte. Poucas vezes, canções e trama combinaram tão bem em uma novela e muitas delas se tornaram memoráveis. Impossível não ouvir “Stairway to Heaven” e “Hey Jude” e não se lembrar de Gaspar e sua família. Ou “Oceano” e “Right here waiting”, que nos remetem imediatamente ao romance de Duda e Lucas, da mesma forma que “Wish you were here”, com os Bee Gees, vai sempre nos lembrar de Giulia. “Stay”, com Oingo Boingo e “À francesa”, com Marina Lima, também são exemplos de canções que sempre irão nos remeter à novela. A lista é grande...

Lucas e Duda: casal ficou distante demais durante a trama
Enfim, mesmo não tendo o ritmo de uma novela que se espera que tenha nos dias de hoje, em que os espectadores querem uma novidade por minuto, “Top Model” manteve seu charme, seu frescor da época com sua trama ensolarada e alto astral. Valeu a pena ver de novo e pra sempre valerá. 

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7 comentários:

Nilson Xavier disse...

Beleza de texto Vitor!

Recomendei em minha página no Facebook! ;)

Eddy Fernandes disse...

Assisti bem menos do que gostaria dessa reprise, mas simpatizei. Por gosto pessoal, ainda fico com Vamp, que era mais debochada, irônica e nonsense... mas Top Model também tem seu valor.

Adorei o trabalho da Gabriela Duarte. Super novinha e já expressiva. Showzaço de Eva Todor. E Drica Moraes tomando a novela para si.

Vai deixar saudades.

Marcelo disse...

A reprise de "Top Model", para mim, foi a melhor de todas as surpresas que o Viva nos fez desde a sua estreia. Foi muito bom revê-la e, mais uma vez, sentirei saudades.

Parabéns pelo texto, Vitor!
Concordo com cada uma de suas palavras. ;)

Walter de Azevedo disse...

Foi bom demais rever essa novela, lembrar da época e associar a um período da minha vida. Ótimo ver adolescentes tratados como adolescentes. Como você disse, mesmo reconhecendo alguns defeitos, o saldo final dessa reprise é muito positivo. Confesso aqui que me emocionei bastante no reencontro de Gaspar com sua família.
Parabéns, Vitinho. Olhar sempre preciso sobre as nossas novelas de estimação.

Lulu on the sky disse...

Parabéns pelo texto Victor. Top Model foi uma das novelas que mais gostei de assistir e depois que acaba e mesmo a gente vendo uma reprise bate uma saudade daquelas.

Amava os filhos do Gaspar e até mesmo o jeitão louco do Gaspar. Sem contar o charme do Sal com sua Carlinha.

Analisando por esse lado, achei injusto o Lucas ficar com a Duda. Por mais que fossem o casal central, sentia falta de quimica entre os dois embora fossem namorados na vida real.

Bem lembrada a vilania do Alex Kundera, só achei q ele deveria ter morrido mais pro final.

Big Beijos

Efe disse...

Delícia de texto, tal qual a novela!

Entre 1989-1990 minha mãe assistia a Top Model, mas eu era muito pequeno e não tenho praticamente nenhuma lembrança - apenas o carão da Suzy Rego no LP que tínhamos em casa na época rs.

Conheci Top Model mediante a reprise do Viva e gostei bastante do do que vi: uma trama q retratou muito bem o universo juvenil, especialmente o adolescente, sem esterótipos (como você muito bem citou) ou caricaturas, o que é usual hoje em dia infelizmente nas produções voltadas para os jovens.

Valeu muito a pena e já sinto falta do Gaspar Kundera e seus filhos alegrando e colorindo minhas noites rs!

Vinícius Pantoja disse...

Maravilhoso texto,Vitor!
Realmente,foi uma delícia acompanhar Top Model por esses meses,me envolvi de verdade com as tramas dos filhos do Gaspar,principalmente pela de Jane(interpretada maravilhosamente pela ótima Carol Machado,uma das melhores atrizes da sua geração),que era apaixonada pelo namorado da sua irmã Olívia(tbm bem interpretada por Gabriela Duarte).Diferente de outras tramas parecidas,Jane sofria por gostar do Arthur e preferia que ele ficasse com a irmã,apesar deles terem namorado um tempo.
Realmente a Duda foi uma mocinha errada e egoísta,mas mesmo assim eu gostei dela ter ficado com o Lucas no final,mas eu adorava a Giulia tbm.E que prazer foi rever Yara Cortes,Luiz Carlos Arutin e Miguel Magno,apesar deles não estarem mais entre nós.E também a querida Eva Todor,que fez de sua Morgana uma avó sensacional!Sem falar das então (ótimas) estreantes Drica Moraes e Zezé Polessa!enfim,Top Model vai deixar saudades.

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