terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Elegante chá de senhoras nos anos 50.



O CONTEXTO. A MATRIARCA DOMINADORA E PSEUDO-CONSERVADORA CARMEM LUCCHESI RECEBE SENHORAS RESPEITÁVEIS PARA UM AGRADÁVEL CHÁ DA TARDE EM SUA CASA: SUA IRMÃ, A SUBMISSA LEONOR, D. LYGIA, A AUSTERA DIRETORA DO COLÉGIO DAS FILHAS E LUCIMEI, MILIONÁRIA LIBERAL DE MODOS MODERNOS MUITO MAL VISTA PELA SOCIEDADE. TUDO TRANSCORRE BEM, APESAR DAS INTERVENÇÕES DA SOGRA DE CARMEM, DONA TININHA, UMA VELHA ASSANHADA E “PRAFRENTEX”, QUE SEMPRE DIZ O QUE PENSA.

CAP 3 - CENA 32. CASA DE CARMEM. SALA. INTERIOR. DIA.


CARMEM TOMA CHÁ COM LYGIA, LEONOR, LUCIMEI E DONA TININHA. DAÍSA ENTRA.


DAÍSA — Mais chá?


CARMEM — Não, Daísa. Pode ir.


D.TININHA — Espera, Daísa! Traz mais biscoitinho.


CARMEM — Já não comeu biscoito demais?


D.TININHA — Que é isso, Carmem, o que é que as visitas vão pensar? Que você fica regulando comida?


LYGIA — (LEVEMENTE CONSTRANGIDA) Imagina.


LEONOR — (SORRINDO) Vai acabar engordando além da conta.


D.TININHA — Ih, menina, é disso que os homens gostam. Eles adoram ter onde pegar.


CARMEM — (ENVERGONHADA) Dona Tininha!


LEONOR E LYGIA CONSTRANGIDAS. LUCIMEI SE DIVERTE.


LUCIMEI — Ah, Dona Tininha, a senhora não tá no gibi.


CARMEM — (RESIGNADA). Traz mais biscoito, Daísa. Leonor, e as meninas, por que não vieram?


LEONOR — A Renata está na aula de piano. Também, quase não sai de casa. A Roberta saiu com o namoradinho.


CARMEM — Ai, minha irmã, não me conformo de você permitir que a Roberta namore esse mecânico.


LEONOR — Que é isso, Carmem? É só um namorinho inocente. A Roberta só tem dezessete anos. Coisa da idade.


CARMEM — Não sei, não. Já faz um mês que ela tá nesse “namorinho inocente” e nada de você conhecer o rapaz. Eu soube que ele estava envolvido naquela confusão da sorveteria.


LUCIMEI — A Camila me contou que o Gustavo é um amor de rapaz. E que ele só queria defender a Roberta.


LYGIA — No colégio, ele vai indo muito bem. É um aluno bastante aplicado. Não posso negar, tira boas notas /


CARMEM — A que família ele pertence?



LEONOR — Como assim?


CARMEM — Ora, ele namora uma Lucchesi. Quatrocentos anos de tradição. E você nem sabe de que família ele é?


LEONOR — Não sei, Carmem, só sei que é gente simples.



CARMEM — Abre o olho, Leonor! Esse mundo tá cheio de aproveitadores. Francamente, eu acho um absurdo a Roberta sair com um rapaz que a gente nem conhece a família. Ah, se fosse filha minha...


LYGIA — Isso é verdade! As minhas eu levo ali no cabresto.


CARMEM — É como eu digo. Filha mulher é um castigo. Eu proponho um jantar entre as famílias.

 
LUCIMEI — (OLHA PARA O RELÓGIO) Xi, falando em filha, eu tenho que ir. Combinei de sair com a Camila.


CARMEM — Já vai, querida? É cedo.


LUCIMEI — Não, já tô atrasadíssima. A gente vai pegar a matinée. Tá passando um filme ótimo.


LUCIMEI LEVANTA. AS DEMAIS, EXCETO DONA TININHA QUE DEVORA OS BISCOITOS PARECENDO ALHEIA A TUDO, LEVANTAM PARA CUMPRIMENTÁ-LA.


LUCIMEI — Obrigado pelo chá, Carmem. Você, como sempre, recebe muito bem.


CARMEM — Imagina, vê se aparece mais.


LUCIMEI — Boa tarde, meninas!


TODAS — Boa tarde.


CARMEM — Daísa, acompanhe a Dona Lucimei até a porta.


DAÍSA ABRE A PORTA. LUCIMEI SE DESPEDE E SAI.


LYGIA — Que absurdo. Mãe e filha indo ao cinema desacompanhadas no meio da tarde. Como se fossem da mesma idade...


CARMEM — Também o que esperar de uma mãe solteira? Teve a filha não sei com quem. Não é à toa que a menina foi recusada em vários colégios.


LYGIA — Eu aceitei a matrícula por piedade. Coitadinha, a menina não tem culpa da mãe que tem.


D.TININHA — Engraçado, Dona Lygia. Eu pensei que a senhora tivesse aceitado a menina no colégio porque a mãe é milionária.


CARMEM — Dona Tininha! Mais uma dessas eu coloco a senhora lá pra dentro, hein?


DAÍSA DE LONGE RI. LEONOR DÁ UM LEVE SORRISO.


LEONOR — Carmem, não se pode negar que a Lucimei é muito boa pessoa. Ajuda nas obras da paróquia, contribui com a creche do bairro/


CARMEM — Isso é pra expiar os pecados. E aquela filha dela, solta daquele vai jeito acabar perdida igual a mãe.


LEONOR — Que exagero, Carmem!


CARMEM — Exagero nenhum! E você que não cuide da Roberta que ela vai pro mesmo caminho. Está decidido. Vamos fazer um jantar com a família desse rapaz pra saber quem é ele!


LEONOR — Mas /


CARMEM — Ai, minha irmã, o que seria da nossa família sem mim?


LYGIA E DONA TININHA SE ENTREOLHAM. LEONOR, RESIGNADA E CARMEM, DECICIDA.

(Cena 32 do cap. 3 de “Só Você”, sinopse desenvolvida por mim e com seis capítulos escritos em parceria com Fellipe Carauta e Carlos Fernando, sob a supervisão de Margareth Boury, que coordenou a oficina onde tudo começou em 2007).

7 comentários:

Walter de Azevedo disse...

Adorei, Vitinho! Fiquei aqui imaginando a cena com algumas atrizes. Os diáologos estão mara! Hipocrisia, teu nome é Lygia! haha Essa história precisa ir pra frente!
Ah!...Amei Carmem!

O Vitor viu... disse...

Walter, vindo de vc esse elogio já me sinto lisonjeado...rs! Tb não canso de imaginar atrizes...rs! Carmem (Marilia Pera?), Leonor (Beth Savalla?), Lygia (Jacqueline Laurence?), Lucimei (Angela Vieira?)e Dona Tininha (Eva Todor?)... tomara que todas estejam vivas até lá!!! kkkk (maldade...rs!) Aliás, NÓS DOIS precisamos ir pra frente, né? rs... Grande abraço!

Walter de Azevedo disse...

Também pensei na Eva Todor de Tininha!!!!! Carmem eu imaginei Joana Fomm, Regina Braga de Leonor e...não sei porque...Alessandra Maestrini como Lucimei. Apesar de impossível :(( veio na minha cabeça a saudosa Yara Amaral no papel de Lygia.
Quanto a ir pra frente...Yes! We Can! hahaha
Abração, meu querido.

Fellipe Carauta disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Adorei relembrar nossas meninas!!!!
Beijos mil,
Fellipe

Eddy Fernandes disse...

Nada como a falsidade feminina... Adorei! Muito espirituoso!
Eu imagino a Tininha - até agora o único! rs - como a Lupe Giglioti. Aquela laranja mecânica devorando biscoitinhos... rs. Lucimei é a mais jovem, certo? Narjara Turetta certamente. Carmem também associei á Joana Fomm.. Tou vendo VAMP! rs
Leonor como Betty Lago e Lygia... improvável, sei... a saudosa Dina Sfat! Ou a Vera Holtz.

Aprovada a minha escalação? Abraço.

O Vitor viu... disse...

Eddy, queridão, interessante sua escalação. Na verdade, pensei em um outro papel pra Narjara: a sonhadora inspetora do colégio. A Lucimei é rica, requintada, charmosa e mais velha, estilo Angela Vieira, Silvia Pfeiffer, Silvia Bandeira, Mila Moreira, mais nessa linha que a Betty Lago se encaixa tb...rs! Se Dina estivesse viva, com certeza seria a Carmem, que é um personagem mais forte e força motriz da trama! Joana Fomm, sem dúvida, daria um show e é ótima pedida (mas nã conte pro... vc sabe quem! rs...).A Lupe seria divertida, sim (anos de comédia, né)! Mas acabei lembrando da Berta Loran, que tb seria uma delícia. Já a Leonor, como é mais sofrida, mais light, penso na linha Savalla, Nivea Maria, quiçá Eliane Giardini...rs!

Vlw, amigo, volte sempre! Manaus tb prefere melão! kkkk...

Blog do Walter disse...

Oi Vitin,
Adorei o diálogo das Senhoras. Deu curiosidade de ler os capítulos I e II. Tem como?
Abraços,
Walter Cerqueira

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