De onde vem a inspiração?
Carlos Fernando Barros
Banqueiro dá trambique que causa prejuízo aos cofres públicos e clientes, suborna pessoas influentes e manda dinheiro roubado para paraíso fiscal. Descobertas suas falcatruas ele é preso, fica atrás das grades, sem direito a responder por seus roubos em liberdade. Foge da prisão e vai para um país em que fica abrigado por ter dupla nacionalidade. Tempos depois é preso pela Interpol quando saí a passeio desse país. Foi extraditado para o Brasil para pagar pelos seus crimes.
Vocês acham que isso é uma das tramas da novela ‘Insensato coração’, recém-terminada?
Não! É caso real vivido pelo banqueiro Salvatore Alberto Cacciola que foi notícia essa semana por ter obtido a liberdade condicional dada pela Justiça do RJ. Esse é mais um exemplo clássico em que a realidade virou ficção. Lembram-se da frase: “Isso só pode ser coisa de novela”? Nesse caso ocorreu o contrário.
Quem vive nesse mundo da escrita e precisa criar sempre novas histórias para suas novelas, livros, filmes, seriados, casos especiais, etc... Tem que estar atento a tudo que acontece em volta. Uma pequena nota no jornal ou na internet pode se tornar uma boa trama paralela na próxima novela. Às vezes a história está ao lado no banco do metrô ou na vizinha faladeira. É preciso ser um observador atento. Claro que isso não se aplica a todos os escritores. Muitos se valem de suas inspirações, visão de um mundo diferente ou mesmo de suas vivências, seus amores e desamores. Não importa que a inspiração seja um ‘mix’ de tudo isso. O que importa é que consigam tornar essas histórias interessantes.
Aí é que mora o perigo. Não é suficiente ter uma boa inspiração, qualquer que seja sua origem. Além da técnica da escrita o importante é que o escritor saiba contar essa história e fazê-la interessante para um número grande de pessoas durante todo o tempo em que ela for contada. Isso sim não é fácil. A relação dos aspirantes é grande, mas temos poucos roteiristas e escritores em relação ao número de pessoas existentes. Sei da dificuldade que é encontrar a oportunidade para mostrar os trabalhos e assim mostrar a capacidade, mas não são poucos os que são escritores de um trabalho só.
Não posso deixar de dizer que roteiristas como Alcides Nogueira, Aguinaldo Silva e Gilberto Braga, dizendo apenas os meus favoritos, vão continuar a inspirar e a servir de guia aos novos roteiristas que estão chegando aí. Segundo reportagem da revista Época dessa semana, alguns desses novos roteiristas já estão com a mão na massa e inspirados nesses grandes mestres prontos para ingressar nesse universo.
No final o que interessa mesmo é que, qualquer que seja a fonte de inspiração, continuemos a nos divertir e a saborear esses trabalhos feitos por esses novos e velhos escritores.
Carlos Carvalho é analista de sistemas por profissão.
Noveleiro, blogueiro, cantor e escritor por diversão.
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MELÃO AGRADECE:
Aproveitando o ensejo e com um enorme atraso, gostaria de agradecer a todos que mandaram mensagens carinhosas pela matéria na Revista Época. Pra quem ainda não conferiu, o roteirista Marcos Silvério disponibilizou a matéria na íntegra em seu blog: http://marcossilverio.blogspot.com/2011/08/nova-safra-de-autores-de-telenovelas.html
(clique sobre a imagem para ampliá-la)
4 comentários:
Ótimo comentário Carlos!
Janete Clair já dizia que buscava inspiração em colunas de jornais e pessoas nas ruas.
Ela mesma era uma telespectadora de novelas, e sofria como uma telespectadora ao acompanhar as suas próprias novelas.
Para escrever novelas, é primordial gostar muito do gênero.
É como foi dito ai, pra ser bom escritor não é só saber escrever bem, é tirar as coisas de todo o lugar e passar a informação de uma maneira que chame atenção, que envolva.
Gostei do post :)
Muito legal o blog e esta proposta democrática. Gostei bastante do post. Manoel Carlos sempre conta que guarda recortes de jornais com casos que acha interessantes, e foi deles que tirou a trama principal de Laços de Família. E o pior é que a realidade consegue ser tão absurda que as pessoas dizem que só pode ser coisa de novela.
Há uns anos atrás, em Porto Alegre, dois colegas de trabalho se descobriram pai e filho, durante uma conversa informal. Acho que isso já diz tudo. É bem aquela frase da Glória Perez "a ficção precisa fazer sentido, a vida não".
Ótimo texto, Carlos!
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