sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Roteirista convidado: Eddy Fernandes, um talento promissor!


 A cada blogueiro convidado, esse melão fica ainda mais orgulhoso de poder contar com tantos talentos nessa seção. Muitíssimo jovem, mas com um texto já super maduro, Eddy Fernandes, ou meu “sobrinho” como carinhosamente chamo, me chamou a atenção desde seu primeiro texto que li. Dono de um humor inteligente e perspicaz, esse jovem e promissor talento de Manaus, já saca tudo de roteiro. Mordaz e irônico, mas ao mesmo tempo simpático e gentil, além de um ser humano adorável do primeiro time dos queridões, Eddy possui sensibilidade, conhecimento e um talento nato para a escrita. Com certeza, irá trilhar um caminho brilhante. Tudo isso que falei a respeito dele se comprova na cena a seguir, de uma comédia romântica (sua especialidade, mas também arrasa no drama) em que nosso querido Eddy mostra todo seu potencial. Guardem bem esse nome: um dia ouviremoa falar muito dele e vou ficar feliz por ter publicado um texto de sua autoria. Orgulho do titio...rs! Com a palavra... Eddy!

EDDY FERNANDES APRESENTA “MORTA VIVA”

"A cena abaixo foi escrita há alguns meses por mim e é parte de uma sinopse que desenvolvo há pouco mais de dois anos. A história chama-se "Morta Viva" e trata-se de uma comédia dramática. O título, à primeira vista, um tanto esdrúxulo (rs), traduz completamente a história central, que está na figura de uma mulher que precisa forjar a própria morte para se proteger. A sequência que vocês lerão, no entanto, não é protagonizada pela nossa heroína e sim por Chico, o (anti?) herói. 35 anos, pai solteiro de três filhos, que é abandonado pela esposa ambiciosa logo no começo da narrativa. Especialmente para o Melão, um dos momentos-chave da história, o confronto do mocinho com sua ex". 

CENA 1/ telhado/ ambiente. Exterior/ Noite.

As meninas empurram Maria, fazendo algazarra. Ela, muito contrariada, ainda tenta segurar a porta, mas as garotas são mais rápidas e trancam por fora. Caio entra em quadro, de costas, assoprando a mão, para ver se está com mau hálito. Maria cutuca o ombro dele, impaciente.
MARIA                 — Vamo logo com isso!
Caio se volta, assustado.
CAIO                    — Mas já?
MARIA                 — Não foi pra isso que a gente veio?
E espicha os lábios. Caio recua.
CAIO                    — Espera.
MARIA                 — Já sei. Vai pôr uma bala de menta na boca.
CAIO                    — Eu não! (T) Devia?
MARIA                 — Peraí, deixa eu ver...
Maria chega perto, faz sinal para Caio tossir, ele obedece. Ela determina:
MARIA                 — Até que não. (tom) As meninas que disseram que você tinha um esgoto aí dentro...
CAIO                    — Isso é conversa da Tininha porque eu não quis enfrentar aquele aparelho.
MARIA                 — Se tiver problema, eu tiro. O meu é móvel.
CAIO                    — (bobo) Em você, fica lind... quer dizer, legal.
MARIA                 — Então, tá. Abre a boca aí.
CAIO                    — Vai ser de boca aberta?
MARIA                 — É como a gente vê no cinema.
CAIO                    — (inseguro) Eu preciso te contar uma coisa.
MARIA                 — Nunca beijou antes?
CAIO                    — Eu não sabia que era transparente.
MARIA                 — Tá suando mais que o meu pai em ônibus da Central. Eu deduzi. (T) Tá com medo?
CAIO                    — Um pouco. Eu sei que você não queria me beijar.
MARIA                 — Eu vim em busca do Jefferson, mas nem tudo é perfeito.
CAIO                    — Assim, como se fosse um favor, eu também não quero.
MARIA                 — E eu vou contar o quê, pra elas lá fora?
CAIO                    — Não precisa contar. Quer apostar quanto que elas tão ouvindo?
Corta rápido para o corredor: as meninas amontoadas na porta, de repente, retrocedem. Corte de volta para o telhado. Maria e Caio lado a lado, de costas para a câmera, recortados contra a lua. Imagem linda. Silêncio constrangedor entre eles. Caio tira um pacote de bala do bolso. Oferece.
CAIO                    — Tem de laranja e tutti-frutti.
MARIA                 — (pegando) Tutti-frutti.
CAIO                    — (mascando) Cê já quer sair?
MARIA                 — (faz que não) Tá bom aqui. Batendo um ventinho...
CAIO                    — (aponta pro céu) Aquela estrela ali, ó. Chama cassiopéia.
MARIA                 — (no deboche) Cê jura? Esse filme eu também vi.
CAIO                    — (irritado) Mas será que eu não dou uma dentro!?
MARIA                 — Desculpa, eu que tô sendo grossa. Implicância minha, vai ver a boca do Jefferson nem é lá essas coisas.
CAIO                    — Isso eu te garanto.
MARIA                 — (provoca) Já beijou ele, por acaso?
CAIO                    — Não. Mas tô com muita vontade de beijar você.
MARIA                 — E o que te leva a crer que isso vai acontecer? A aposta?
CAIO                    — A aposta eu já entreguei pra Deus. Mas tem essa sinergia...
MARIA                 — Eu topo.
CAIO                    — (engole em seco) Oi?
MARIA                 — Não precisa gastar saliva, muito menos texto decorado de filme B de ficção científica... eu topo.
CAIO                    — E não vai sair falando mal de mim se eu te decepcionar?
MARIA                 — (beija os dedos) Não.
E eles vão se aproximando, devagarzinho... de repente, Maria se ergue.
CAIO                    — Que foi?
MARIA                 — O aparelho. Eu não quero te machucar. (pede) Vira pra lá.
Caio fica de costas. Maria tira o aparelho, não sabe onde pôr, enfia no bolso. Chega nele.
MARIA                 — Onde é que a gente parou?
Caio olha para ela, sorrindo. Trêmulo, toca no rosto, deslizando lentamente pelos cabelos. Uma espécie de carícia, muito tímida. Maria sorri, meio bobinha. A sonoplastia sublinha e já podemos ouvir o piano de Leoni. No que as bocas se juntam, no beijo casto, mas avassalador, entra o refrão: “Noite e dia se completam, no nosso amor e ódio eterno...”. E nisso, a câmera vai se afastando, se afastando...

FIM

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9 comentários:

Fábio Leonardo disse...

Morta Viva é uma dentre as muitas tramas do Eddy da qual eu me sinto padrinho. Acompanhei o processo de nascimento, o "parto" da história, assim como o Eddy acompanhou (e acompanha) minhas Dança da Vida e Rouge & Carmin. Espero ver na telinha, um dia, claro! Mas o Melão já é, por si só, um veículo de divulgação dos mais luxuosos! Parabéns, Eddy e Vitor!

Evana R. disse...

Eu já tinha lido um trecho antes e não podia deixar de dizer que Eddy manda muitissimamente bem, né?
Parabéns, meus queridos! :D

Anônimo disse...

Já tinha lido outros textos do 'menor' e sempre soube desse talento. Gostei muito do que li, mas fiquei com gosto de quero mais!
\o/

José Vitor Rack disse...

Grande companheiro Eddy e uma grande história (que tem o pior título do mundo...). Parabéns.

Efe disse...

Hilário e romântico ao mesmo tempo o seu texto, Eddy! Impossível não rir com as menções de Maria ao hálito do Caio rs!

Já fiquei imaginando a cena com as ótimas rubricas do seu texto. Parabéns Eddy e que outros roteiros seus venham para nosso deleite.

O Midiático disse...

Que delícia de texto, Eddy! Nossa... Muito bom! Seremos parceiros de roteiros... Você mandou super bem com o "Morta Viva"... hahahaa
Parabéns!!!!!

Walter de Azevedo disse...

Insuportavelmente delicioso!! Esse menino é talentoso e vai longe. Amei a cena. Romântica e engraçada na medida certa!

Eddy Fernandes disse...

Puxa, gente! Muito obrigado pelos elogios. Me dão a dimensão do meu trabalho. A certeza de que eu não tô escrevendo uma coisa inviável ou confusa.

PS: Vitor, valeu a oportunidade, seu lindo :)

Ale disse...

HAHAH Muito legal. Lí e imaginei a cena na minha cabeça. Parabéns e muito sucesso.

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