sábado, 20 de novembro de 2010

Bate-papo com Glória Perez & Manoel Carlos

No ano em que a TV brasileira comemora seis décadas de existência, André Bernardo e Cintia Lopes, autores do livro "A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo", da Panda Books, têm o prazer de convidá-los para participarem de um bate-papo com os autores Glória Perez e Manoel Carlos na próxima segunda-feira, dia 22/11, às 19h, na Livraria da Travessa, do Shopping Leblon.

Dois dos maiores representantes do gênero no Brasil, Glória Perez e Manoel Carlos nunca se contentaram em simplesmente entreter o telespectador. Em suas novelas, eles gostam de difundir valores, debater temas e propor campanhas. Quem não lembra da campanha de "Laços de Família" sobre a doação de medula óssea? Ou, então, a de "O Clone", sobre dependência química?

No auditório da Livraria da Travessa do Shopping Leblon, Glória Perez e Manoel Carlos falarão sobre as principais campanhas de merchandising social, o critério para a escolha dos temas e o futuro da teledramaturgia brasileira. O público poderá participar do bate-papo através de perguntas.
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Serviço:
Evento: "O Merchandising Social e a Teledramaturgia Brasileira"
Convidados: Glória Perez & Manoel Carlos.
Dia: 22 de novembro de 2010 (segunda-feira).
Horário: 19h.
Onde: Livraria da Travessa - Shopping Leblon.
Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon - 2º Piso.
Telefone: 3138-9600.
Entrada gratuita.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Blogueiro convidado: Raphael Scire e a metalinguagem em “Ti Ti Ti”.

                                                                                                                                                                                                           
                                                                                                                                                                                
Inaugurando o novo banner, o melão recebe mais um blogueiro convidado.



 Jornalista de São Paulo, de 22 anos, Raphael Scire é mais um noveleiro a colaborar com o melão. Fã de Sílvio de Abreu, Gilberto Braga e Maria Adelaide Amaral, Raphael elegeu a atual novela da autora citada como assunto de seu texto: a metalinguagem em “Ti Ti Ti”, que vem divertindo o público, sobretudo, os apaixonados por telenovelas como nós. Além de escrever muito bem, Raphael também é um ótimo papo pelo Twitter (@Raphael_Scire ). Quem seguir o rapaz não vai se arrepender. O melão agradece mais uma excelente colaboração. Como é bom ter amigos inteligentes...



A metalinguagem de Ti ti ti

Por Raphael Scire


A aposta da Rede Globo para recuperar a audiência na faixa das 19h não poderia ter sido mais certeira. O remake de Tititi e Plumas e Paetês, dois clássicos de Cassiano Gabus Mendes dos anos 1980, trouxe uma trama leve, romântica e bem humorada, tudo muito bem dosado por Maria Adelaide Amaral e equipe, que sabem a hora certa de carregar a tinta tanto na comédia como no drama.

É uma delícia ver Malu Mader (Suzana) segurar o riso nas cenas em que Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Ari – o melhor papel de Murilo Benício na televisão até agora – disputam sua atenção. A Jacqueline de Claudia Raia é outro ponto de destaque. Surtada e adorável, é dona de frases cortantes, divertidas e alucinadas. Rodrigo Lopez (Chico) começou a novela algo que caricato, com forte sotaque paulistano, a acentuar sua profissão de motoboy. Aos poucos, foi ganhando a simpatia do público e suas cenas com Nicole (Elizângela) são hilárias.

Mas o que torna o remake de “Tititi” ainda mais emblemático do que o próprio original é a liberdade que a autora vem tendo para divertir o público, em especial os aficionados por telenovelas. Há, pelo menos, uma citação a outras novelas de sucesso por dia. Metalinguagem televisiva nunca vista antes.

Logo nos primeiros capítulos, quando Jorge Fernando fez uma participação como ele mesmo, Ari explicou a Chico quem era o diretor: “Jorge Fernando, Chico, aquele que dirigiu A próxima vítima”. A novela em questão, escrita por Silvio de Abreu, contou com a colaboração da própria Maria Adelaide.

Malu Mader em "Fera Radical": uma das mais frequentes citações da novela.

Jacqueline, por exemplo, é uma das que mais solta tais pérolas. Ela alfineta a “rival” Suzana chamando-a de Fera Radical, referência explícita à trama protagonizada por Malu Mader nos anos 1980. Em uma cena, ao comemorar o sucesso de Jacques Leclair, Jacqueline propõe um brinde entre ela e o amado. A empregada Rosário (Rosanna Viegas), animada, pede para participar e ouve da patroa: “Ih, olha a empregada querendo ter fala. Isso aqui não é novela do Manoel Carlos, não!”


Ari, ao explicar a Mabi (Clara Tiezzi) sua relação com Victor Valentim, comparou-a com a de Murilo Benício na novela “O Clone” (foto), em que o ator tinha dois papéis. Isso tudo, é claro, com enorme esforço de Benício para segurar o riso.


E não é só a novelas que são feitas referências. Thaysa (Fernanda Souza), na tentativa de conquistar Adriano (Rafael Zulu), disse ao rapaz que dançaria para ele, a fim de fazer com que ele deixasse de ser gay. Prontamente, ele respondeu que ela só dançaria na “Dança dos Famosos” do programa do Faustão. Explica-se: a atriz Fernanda Souza foi a campeã da última etapa do quadro. A dupla rendeu ainda mais risada aos nostálgicos telemaníacos. Adriano, ao ver que Thaysa chegava ao mesmo local onde ele estava soltou essa: “lá vem essa Chiquitita taradita”. Uma amostra de que a metalinguagem  de Ti ti ti não fica apenas nas produções da emissora.

Fernanda Souza nos tempos de "Chiquitita", novela do SBT.

Ti ti ti é um claro exemplo de que um verdadeiro clássico se faz com base em verdadeiros clássicos. A continuar assim, a trama de Maria Adelaide Amaral reserva inúmeras boas surpresas para nós, loucos por telenovelas.
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Leia também: "Ti Ti Ti: uma novela sem vergonha de ser novela
http://euprefiromelao.blogspot.com/2010/08/ti-ti-ti-uma-novela-sem-vergonha-de-ser.html
                                                                                                                                                                                                                                      

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas – Ed. 11

                                                                                                                                                                                  
Ø AS CARIOCAS: UM GRANDE ACERTO



      Está sendo uma grata surpresa na grade de programação da Globo a série “As cariocas”. Anunciada desde o início do ano, ninguém deu muita atenção, mas foi só ir ao ar o episódio “A noiva do Catete” com Alinne Moraes, para termos a certeza de que se tratava de um biscoito finíssimo, de algo que, ao mesmo tempo, nos remetesse a um passado delicioso, mas com um quê de moderno. O produto é muitíssimo bem acabado do ponto de vista estético. A fotografia é moderna e deslumbrante, exala beleza, bom gosto e destaca as “belezas naturais” do programa, como sugere o narrador ao falar das protagonistas. O texto, baseado na obra de Sérgio Porto, às vezes, parece um pouco datado, tanto em alguns termos como “mulher honesta”, tanto em situações como assédio do patrão (hoje em dia um processo resolveria a questão). Mas é um porém muito pequeno se comparado às qualidades: agilidade, leveza, bom humor e sensualidade na dose certa. Cada episódio é diferente, mas ao mesmo tempo preserva a unidade da série. A narração de Daniel Filho é outro acerto. Aliás, que falta faz Daniel Filho à TV! O fato de gravar em locações da cidade maravilhosa lembra os antigos programas da Globo dos tempos pré-Projac. A série ainda não chegou nem em sua metade e já estou ansioso pelo DVD.


   Ø “POR UM FIO” É SÉRIO DEMAIS!

Quem acompanha “Por um fio”, versão brasileira do reality “Share Genious”, em que cabeleireiros disputam um prêmio, detecta as mesmas diferenças da versão original da versão brasileira de “America’s Next Top Model”. Não que o programa seja ruim, mas os brasileiros levam a sério demais esse tipo de competição. Nas versões americanas, os jurados são mais espirituosos, parecem se divertir e também divertem o público com seus comentários irônicos e engraçados. Já os brasileiros parecem sempre carrancudos e sempre fazem críticas muito severas e aborrecidas ao desempenho dos participantes, que saem tão arrasados e culpados como se tivessem cometido algum crime, tornando o programa pesado e tenso, no mau sentido. Talvez essa decepção dos jurados com relação aos participantes tenha a ver com a seleção: na versão americana, mesmo os piores cabeleireiros arrasam no visual. Aqui parece que todos só sabem fazer o mesmo tipo de cabelo. Não há ousadia. Não se sabe se a falta de criatividade vem do temor que os jurados causam. Só a apresentadora, Juliana Paes, é amistosa e transmite carisma e bom humor. Enfim, “Por um fio” é um bom programa, mas em relação ao original americano, ainda tem muito a caminhar.


Ø VILÃS COM TUDO NO “VIVA” ESSA SEMANA


Como já disse antes, o verdadeiro “Vale a pena ver de novo” está no canal Viva. E essa semana, especialmente, será um deleite, pois duas de nossas maiores vilãs vão estar com a corda toda. Enquanto em “Vale Tudo” a temida Odete Roitman (Beatriz Segall) está finalmente chegando e vai começar a aprontar das suas, à tarde em “Por amor”, a não menos terrível Branca Letícia de Barros Mota (Susana Vieira em estado de graça) vai acertar as contas com a dissimulada Isabel (a sempre ótima Cássia Kiss), com direito a luta corporal no solo e tesourada pra tudo o que é lado. E, claro, um texto fantástico e desempenho memorável das atrizes. Preparem seus gravadores e divirtam-se!

Ø AGUINALDO EM VERSÃO DIGITAL




E o intrépido Aguinaldo Silva não para de surpreender. Depois do sucesso do blogão e de ser presença constante em sites de relacionamento como Twitter e Facebook, o autor agora amplia seus domínios com um site: o “Aguinaldo Silva Digital”, um espaço super completo onde, além dos sempre inspirados textos do blog, também abriga entrevistas, enquetes, cenas de suas novelas e minisséries, dicas de livros, sites e links para outros blogs, dentre os quais, meu humilde melão está incluído. Estamos chiques, né? Enfim, mais um espaço para quem curte teledramaturgia, bom papo, diversão, cultura e o estilo único de Aguinaldo Silva. O melão deseja boa sorte, sucesso e vida longa para o “Aguinaldo Silva Digital”.

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Abraços a todos e até mais!!!

domingo, 7 de novembro de 2010

Enfermeira, Eu prefiro melão!

                                                                                                                                                       
O MELÃO NOVAMENTE RESPONDE A PERGUNTA QUE INSISTE EM NÃO CALAR!

Apesar da célebre frase proferida por Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) para sua enfermeira Elza (Zilda Cardoso) em “Meu bem meu mal” (1990/91) ter feito história na TV, muita gente ainda pergunta de onde eu tirei o título desse blog. Houve outros melões famosos em novelas como os de Tancinha (Claudia Raia) em “Sassaricando”, mas o de Dom Lázaro é imbatível.

Mesmo já tendo respondido essa pergunta, posto o vídeo abaixo da matéria do Video Show lembrando os 20 anos da novela. Para conhecer ou relembrar! E também minha eterna gratidão e homenagem ao grande Cassiano Gabus Mendes. Agora já posso dizer que o melão é nosso!!!



domingo, 31 de outubro de 2010

Blogueiro convidado: Fábio Leonardo Brito – memória cultural e telenovelas


 Mais um queridão entra para o rol dos colaboradores do melão, que já se espalham de norte a sul do país: este vem do Piauí.  Estudante de História e telemaníaco convicto, o jovem Fábio Leonardo Brito já deu provas de sua competência na escrita e de sua capacidade analítica em comunidades e listas de discussão das quais fazemos parte. Agora, esse futuro historiador nos dá a honra de publicar um belo texto aqui no melão em que ressalta a colaboração de nossas telenovelas para a memória cultural brasileira. Excelente e esclarecedor texto. Aproveitem!

TEIAS, TRAMAS E LEMBRANÇAS:
AS TELENOVELAS COMO LUGARES DE MEMÓRIA

Fábio Leonardo Brito

Odorico Paraguaçu cercado pelas inesquecíveis Irmãs Cajazeiras em "O bem amado"

“Eu lembro dessa novela!” Quantas vezes já não ouvimos ou falamos essa frase? Talvez uma das mais comuns em todo o Brasil. A grande verdade é que a televisão, e a telenovela em especial, é, desde seu surgimento, objeto das maiores paixões nacionais. Paixões, sim: e manifestas em suas duas formas, o amor e o ódio. Mesmo aqueles que não gostam de novelas admitem tê-las assistido, ou mesmo acompanhado assiduamente pelo menos uma vez. As novelas no Brasil, muito mais do que o cinema ou os livros, tornaram-se um veículo de comunicação eficiente. Ditaram moda, modos de falar, incitaram a participação política... As novelas construíram o Brasil, pois moldaram a maneira de pensar dos brasileiros.

Sou graduando em História e, como tal, sempre quis (e pretendo) trabalhar a teledramaturgia como um elemento de análise a partir dos novos conceitos da minha ciência. Nos meus estudos, dei de cara com Pierre Nora, um de nossos teóricos, que trabalha a memória como ponto de partida para o estudo da história. Segundo ele, os monumentos (sejam eles materiais ou imateriais) são “lugares de memória”, elementos que incitam a lembrança. São monturos para serem queimados pelo historiador, que problematiza o monumento.

E pensei: porque não fazer isso com a dramaturgia? Se a Ilíada pode ser usada para analisar os usos e costumes da Grécia Antiga, e Lancelot os a França medieval, por que não Pecado Capital e Vale Tudo os do Brasil contemporâneo? Como historiador, é minha obrigação problematizar sobre esse tema, ainda carente de pesquisas que lhe façam justiça.

Luiz Gustavo, no papel título de "Beto Rockfeller" (1968) e Bete Mendes.
As novelas, como espaço de memória, permeiam a vida dos brasileiros e são espaços de identificação com este desde a estreia de Beto Rockfeller, em 1968, na Tupi. Até então, as novelas eram histórias no bom e velho estilo capa-e-espada, passadas em países distantes. O estilo, marcado pela direção de dramaturgia de Glória Magadan na Globo, perdurou até o fenômeno causado pela trama. Depois dela, nunca mais a dramaturgia seria a mesma.

A novela serve como um espaço para que as pessoas se identifiquem. Para Carlo Ginzburg, historiador italiano, autor de O fio e os rastros, “um escritor que inventa uma história, uma narração imaginária que tem como protagonistas seres humanos, deve representar personagens baseados nos usos e costumes da época em que viveram: do contrário eles não serão críveis” (p. 82). Lembro de uma entrevista em que Janete Clair surpreendeu-se quando descobriu que o ex-presidente Juscelino Kubitschek assistia à sua novela no ar, Selva de Pedra, que dera, dias antes de tal revelação, 100% de Ibope na Grande São Paulo.

Do porteiro ao presidente da República, as novelas representam o dia-a-dia da população. Não, não falo apenas das cotidianas crônicas de classe média de Manoel Carlos. Qualquer história sobre humanos representa o que poderia ter acontecido: nisso são reais. Do Brasil que não perde a oportunidade de se dar bem, mesmo que, para isso, tenha que passar por cima dos outros, ao extremo símbolo da honestidade, do batalhador tupiniquim que mata um leão por dia ao político que dá uma banana pro Brasil, e foge do país após roubar milhões. Todos estivemos representados em Vale Tudo. Dos pudicos nordestinos, que escondem debaixo do tapete suas taras, àqueles que revelam seu fogo e seus desejos interiores: também todos estávamos nos tipos marcantes de Tieta. E quem não viu sua aldeia representada nos múltiplos Brasis contidos em Sucupira ou Asa Branca?

A memória nacional permanece viva nas novelas. A partir delas, lembramos de momentos marcantes de nosso país, do cotidiano de várias épocas, de seus hábitos, vestimentas e falares. E é pela televisão que o homem, através da fantasia, se olha no espelho: conclui que sua vida reflete-se e é refletida na arte que cria. Nas teias ilusórias propostas pelos autores, nas tramas que se interligam com escandalosas coincidências, ganchos e viradas, nos vemos, melhorados ou piorados, de forma clara ou estigmatizada. Mas somos nós, nossas qualidades e nossos defeitos. Traduzimos nossa sociedade e mostramos nossa cara.
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Fábio Leonardo Brito é autor do interesantíssimo blog Super CultVale muito a pena a visita!
                                                                                                                                                         

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Reprises, remakes e relançamentos: o passado reinventado.

                                                                                                                                                                   
E alguns motivos para não perder "Vale Tudo"

por Vitor Santos de Oliveira



Um fenômeno casa vez mais recorrente em nossa teledramaturgia atual é a reverência ao passado. E o fenômeno não se mostra isolado. Acontece de várias formas e em vários veículos diferentes, como por exemplo, a criação do Canal Viva que, inicialmente, tinha como público-alvo a crescente audiência feminina da classe C e cada vez mais vai se tornando acima de tudo um oásis para telamaníacos saudosos de grandes obras. Na mesma linha, o SBT tem vasculhado o baú da extinta Rede Manchete e resgatando pérolas como “Pantanal”, “Xica da Silva” e “Ana Raio e Zé Trovão”, que garantem sempre boa audiência para a emissora, senão as mais altas. Lembrando que, tanto as reprises do Viva quanto as do SBT, têm feito mais sucesso do que as reprises do tradicional “Vale a pena ver de novo”, constantemente criticado por exibir tramas muito recentes e  ainda assim, pouco memoráveis em muitos dos casos.

Mas as reprises são apenas um exemplo dessa espécie de “revival”. Os remakes também têm acontecido com frequência cada vez maior, com super destaque para “Ti Ti Ti” que, além de revitalizar a audiência do horário das sete, conseguiu uma proeza ainda mais difícil: ser sucesso de crítica e público, ser popular e sofisticada ao mesmo tempo e, principalmente, reverenciar o passado, mas sem deixar de ser uma obra extremamente contemporânea, cheia de frescor e atualidade.



E pra quem sempre achou que novela fosse um gênero descartável está aí o lançamento em DVD de “Roque Santeiro” para provar exatamente o oposto. Incrível que, 25 anos depois de sua exibição, personagens como Sinhozinho Malta, Viúva Porcina e Dona Pombinha, entre outros, ainda povoam o imaginário popular, tal qual os grandes personagens do cinema.

Para coroar essa onda “cult” nenhuma novela ou minissérie, no entanto, tem causado tanta repercussão como a reprise de “Vale Tudo”. Lançada com pompa e circunstância pelo Canal Viva, que investiu em publicidade digna de uma novela inédita, “Vale Tudo” consegue a proeza de ser mais comentada do que as novelas atuais. Para comprovar esse buxixo, basta entrar no “Twitter” às 0:45 diariamente para ver o frisson que a novela vem causando junto ao público. E as reações são as mais diversas e inusitadas: há o grupo daqueles que já assistiram à novela e se deleitam com cada lembrança revisitada e há o grupo dos novinhos que sempre ouviram muito falar de “Vale Tudo” e que agora estão entendendo o porquê da novela ser tão cultuada. Como representante do primeiro grupo e mesmo possuindo a novela gravada, confesso que nada se compara a assistir à novela pela tevê simultaneamente com milhões de outras pessoas, compartilhando opiniões e me divertindo com as reações. Uma frase do twitteiro @guisalviano traduz perfeitamente esse interessante momento em que vivemos, de junção do melhor do passado com os recursos disponíveis que temos atualmente: “Ver #valetudo é uma oportunidade de estar nos anos 80 com Twitter e chat coletivo. Impagável. Não tem preço”.

Do ponto de vista técnico e estético, a novela envelheceu, claro. O curioso é que isso não depõe contra a reprise. Pelo contrário, acaba sendo um dos seus grandes trunfos, já que é muito divertido constatar como o mundo era tão diferente há tão pouco tempo atrás: cabelos, roupas, gírias e comportamento em geral. Tirando esses fatores, a novela é assustadoramente atual: a temática da corrupção, a violência nas grandes cidades e o “vale tudo” propriamente dito continuam mais do que presente em nossa vida. E o que falar do texto? E o que falar do ritmo, da agilidade? Nesse sentido, “Vale Tudo” é mais moderna do que muita novela atual. Ganchos folhetinescos da melhor qualidade, grandes atuações e elementos do mais tradicional melodrama casam perfeitamente com a naturalidade impressionante de cada diálogo. O trabalho de direção, até hoje, é referência: ágil, objetivo e ao mesmo tempo detalhista, sabendo explorar o melhor de cada ator. Uma novela ousada que une o melhor da tradição, mas que apresenta aquele diferencial, aquele componente que a torna única e inesquecível.

Enfim, é inegável que há uma busca pelas boas coisas já produzidas no passado. Porém, acredito que a nostalgia pela nostalgia não faz muito sentido. Quem sabe a atual teledramaturgia pode buscar justamente no passado bons exemplos e boas inspirações para a tão necessária e constante reinvenção do gênero? Não basta apenas cultuar o que já passou, mas também buscar boas lições e reforçar as bases que possam proporcionar algo novo e surpreendente. Que venham outros remakes tão bons como “Ti Ti Ti” e que o Viva, SBT e Globo Marcas e outros canais e mídias possam nos brindar com o melhor e mais memorável que temos em nossa tão rica teledramaturgia.

A seguir, para quem ainda não conferiu a reprise de “Vale Tudo”, segue um empurrãozinho.


10 motivos que tornam a reprise de “Vale Tudo” imperdível

1)      ATUALIDADE DO TEMA:
Corrupção, relações familiares complicadas, alcoolismo, homossexualidade, crise ética e, sobretudo, solidariedade do povo brasileiro são ingredientes irresistíveis.

2)      A INUSITADA PARCERIA DE GILBERTO BRAGA E AGUINALDO SILVA:


 A saudosa Leonor Bassères, que completa o trio de autores, foi parceira constante de Gilberto Braga. Além dela, temos aqui uma improvável e feliz união de dois grandes mestres, cujas características são tão diferentes, mas que se complementaram perfeitamente. Perguntado pelo melão, qual foi a contribuição de Aguinaldo Silva para o folhetim, Gilberto Braga, humildemente, declarou: “Contribuição total. Ele fazia as escaletas, que são a alma da novela, em termos técnicos. E alguns personagens acabaram sendo mais dele do que meus, como a Raquel (Regina Duarte) e seu grupo. Aguinaldo é um autor mais popular do que eu, por isso, acho, Vale Tudo fez tanto sucesso”. Sem desmerecer um e sem contrariar o outro, penso que o sucesso reside exatamente na junção desses dois universos tão bem explorados pelos dois em cada uma de suas tramas: o requintado e o popular.

3)      REGISTRO DE UMA ÉPOCA:
Inovações tecnológicas estavam surgindo como o “disc-laser”, ter videocassete era um luxo, celular e internet não eram nem sonho e operador de telex era uma das profissões do momento. Além disso, você podia vender sanduíche natural na praia sem ser pego pelo choque de ordem e explorar menores sem se preocupar com o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Chuquinha no cabelo, ombreiras e fumar em locais fechados era hábito de gente super transada. Aliás, a palavra “transada” vivia na boca de todos e era usada para finalidades diversas. Figurino e direção de época são um show à parte.

4)      GRANDES PERSONAGENS
Lógico que as vilãs Maria de Fátima e Odete Roitmann são sempre as mais lembradas. E com toda a razão. Mais do que meras vilas estereotipadas, cuja maldade é a única característica, eram, sobretudo, humanas, com fraquezas e sentimentos inerentes a cada um de nós. Que atire a primeira pedra quem nunca vibrou quando alguma armação de Fátima deu certo! Odete, por sua vez, sofria com o problema de alcoolismo da filha e, dentro de sua moral, fazia o que achava certo para o bem de sua família. Além delas, Ivan não era um herói chato e perfeito. Era ambicioso e chegou a colocar seu desejo de ascensão social na frente de seu amor por Raquel, que por sua vez, chegou a desejar vingança contra a filha. Toda essa vasta gama de características dos personagens, que fugiam muitas vezes da polaridade bom/mau, ajudou a criar junto ao público fortes elementos de identificação, até mesmo com as vilãs.

5)      GRANDES CENAS
São tantas e tão marcantes que é impossível enumerar todas, mas quem não se lembra do mambo caliente de Heleninha (Renata Sorrah), da banana de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) para o Brasil ou do assassinato de Odete (Beatriz Segall) por Leila (Cassia Kiss)? Confesso que minha favorita é a cena em que Raquel (Regina Duarte), após ser humilhada por Odete, rasga o vestido de noiva de Fátima (Glória Pires) num ataque de fúria num dos muitos acertos de contas entre mãe e filha. A cena em que Fátima vê a mãe vendendo sanduíche na praia também é excelente e uma aula de subtexto pra qualquer roteirista. Outro momento catártico é quando Solange (Lidia Brondi) dá o tão esperado tabefe em Fátima, a jogando no chão. Ainda tem Fátima rolando as escadarias do Teatro Municipal, Afonso (Cassio Gabus Mendes) dando uma surra em César (Carlos Alberto Ricelli), que não transa violência, só pra citar algumas de uma interminável lista de cenas memoráveis.

6)   GRANDES ATUAÇÕES

Os gritos, caras, bocas e gestos da protagonista Raquel são sempre objetos de controvérsia por parte do público, mas convenhamos: se há alguém que pode ser chamada de “a alma da novela” esse alguém é Regina Duarte. Intensa, vigorosa, emotiva, amorosa, Regina nos oferece uma interpretação visceral, quase operística em alguns momentos, mas é impossível imaginar a Raquel sendo vivida por outra atriz. Ninguém possui tanto carisma e tanta identificação junto ao público quanto ela. A atuação de Beatriz Segall ficou tão marcante que a atriz até hoje não conseguiu se livrar do estigma de Odete Roitman. As frases deliciosamente polêmicas, tão bem criadas pelos autores, caíam como uma luva para a interpretação da atriz e garantiu que a vilã figurasse em qualquer lista das maiores de todos os tempos. Glória Pires também entrou para o rol das grandes atrizes, sabendo aproveitar com maestria a riqueza de possibilidades de sua Maria de Fátima. Nathalia Thimberg tinha tudo para ficar apagada como a frágil Celina, mas soube compor uma personagem doce, comovente e extremamente simpática, de grande empatia com o público. E o que dizer de Renata Sorrah (foto) e sua Heleninha? O nível de realismo das cenas dos grandes e homéricos porres da personagem é assustador e imbatível até hoje. O sofrimento era latente e a emoção, sempre à flor da pele. Era muito aflitivo ver tais cenas e sem uma atriz tão boa como Renata Sorrah, que se joga sem rede de proteção, o resultado não seria tão perfeito e irretocável. A galeria de grandes atuações não para por aqui. Todo o elenco esteve inspiradíssimo.

7)      TRILHA SONORA

Sobretudo a nacional. As canções combinavam perfeitamente com as tramas e personagens, com destaque para “Faz parte do meu show”, com Cazuza, tema de Solange e Afonso; Besame, com Jane Duboc, tema de Fátima, “Todo o sentimento”, de Chico Buarque com belíssima interpretação de Verônica Sabino era perfeita para Heleninha; “Tá combinado”, com Maria Bethânia, que envolvia o romance de Ivan e Raquel. O tema internacional dos dois, “Baby, can I hold You”, com Trace Chapman, também era ótimo. Mas três canções em especial se tornaram a cara da novela: “Brasil”, o tema de abertura interpretado com vigor por Gal Costa; “É”, crítica social contundente de Gonzaguinha” e “Isto aqui o que é”, com Caetano Veloso, que nos remete imediatamente ao universo da trama.



8)      DUPLA DINÂMICA
Lília Cabral e Rosane Gofman ficaram mais conhecidas como as deliciosas beatas Amorzinho e Cinira de “Tieta”. Mas o primeiro encontro das duas aqui como as secretárias e vizinhas Aldeíde e Consuelo nos dá a impressão de que as duas juntas poderiam render outros ótimos momentos em muitas outras tramas.

9)      AS FRASES DE EUGÊNIO
Possuir um mordomo é um luxo para poucos. Agora possuir um mordomo cinéfilo que sempre tem uma frase ou citação a algum grande clássico de Hollywood você só encontra em uma novela de Gilberto Braga. De Eve Harrington de “A malvada” a Scarlett O’Hara de “E o vento levou”, ninguém estava livre das referências de Eugênio, vivido deliciosamente por Sergio Mamberti.

10)   LÍDIA BRONDI

 Afastada da TV há quase 20 anos, ver o trabalho da atriz na novela é uma ótima oportunidade para quem apenas ouviu falar dela. Com tantas feras no elenco e com tantos personagens ricos e complexos, Lídia conseguiu transformar sua mocinha Solange Duprat em referência de moda na época e, graças ao seu talento e carisma, não ficou apagada na novela. Pelo contrário: Solange era cheia de personalidade. E o par romântico que formou aqui com Cássio Gabus Mendes esteve longe de ser sem graça. A gente acreditava e torcia de verdade por esse amor. Impossível sair do clichê: que falta faz Lídia Brondi às novelas! Linda e adorável sempre!

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Quem mais está acompanhando a novela? O chat está aberto e a palavra é de vocês!!!
                                                                                                                                                              

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Teledramaturgia atual: crise de criatividade ou motivação comercial?



Vitor Santos de Oliveira - A.R

Já em pleno século XXI, as novelas continuam sendo nosso principal produto de exportação e maior entretenimento da população. Mesmo com o advento de novas mídias e a chegada de novas gerações, ela permanece reinando absoluta em nossos lares e ainda é o programa mais assistido de nossa TV, ainda que venha perdendo, gradativamente, boa parte de seu público. Por isso mesmo a pergunta: até quando? Será que a novela, ao lado do futebol e da música, sempre terá lugar cativo no coração dos brasileiros?



Acredito que sim, mas sinceramente, o alerta vermelho já foi acionado. Sem dúvida, há algo de podre no reino da Dinamarca. Tá certo que reclamar de novela também é um dos esportes favoritos do brasileiro, mas é impossível quando nos lembramos de novelas do passado como “Vale Tudo” ou “O casarão”, com textos tão primorosos, situações que fugiam do clichê e, principalmente, com uma trama totalmente imprevisível, para vermos que há um abismo qualitativo separando as produções de outrora das produções de hoje.

Antes que me chamem de saudosista, não pretendo levantar essa bandeira. Não acho que um “Vale Tudo” funcionaria nos dias de hoje. Esta e outras novelas antológicas como “Roque Santeiro”, Pecado Capital”, “Guerra dos Sexos”, “Saramandaia”, “Pantanal”, “Tieta”, “Beto Rockfeller”, “O bem amado”, entre outras, deram certo, exatamente por terem sido revolucionárias em seu tempo, por romperem com a “cartilha” estabelecida e, assim, conquistarem um avanço na linguagem televisiva. Mocinhas sem caráter, heróis sem ética ou protagonistas cinqüentões jogando torta na cara um do outro foram na completa contramão da fórmula manjada do folhetim e conquistaram público e crítica, claro que, por um bom texto e boas atuações, mas também pela ousadia e inovação. O público não é bobo e não agüenta mais assistir à mesma novela. Os ganchos que funcionavam ontem já não funcionam hoje. É preciso se reinventar sempre. Se não houvesse transgressão, até hoje estaríamos assistindo a Glória Magadan. E é esse o problema das novelas atuais: as emissoras, com medo do fracasso e da falta de retorno financeiro, não apostam em renovação, tampouco permitem que os autores, já calejados, ousem em alguma coisa. Por isso, nossas novelas estacionaram e há muito não temos uma trama realmente memorável que marcasse época na TV. Qual foi mesmo o último grande sucesso? As últimas novelas memoráveis talvez datem dos anos 80. E não estou falando do antigo horário das dez, que a Globo utilizava para novas experimentações. As novelas realmente revolucionárias e memoráveis habitavam os horários ditos “comerciais”, como foram os casos de Beto Rockfeller", que trouxe a modernidade e a coloquialidade, "Pantanal", que pegou emprestada a linguagem cinematográfica e imprimiu um ritmo único em sua narrativa. No horário das sete, tivemos "Que rei sou eu?" e "Guerra dos Sexos", que inovaram ao seu modo: a primeira por ser uma crítica mordaz e bem humorada, além de trazer a época para o horário das sete; e a segunda pela anarquia total, que ia desde a atores se dirigindo diretamente para a câmera, até citações e alusões a clássicos do cinema. Enfim, uma novela que transitava na corda bamba e soube ser genial. “Bebê a Bordo”, de Carlos Lombardi, também surpreendeu pelo ritmo ágil, texto anárquico e debochado e não deixa de ser um marco.

Mais exemplos: "Roque Santeiro", que universalizou o regionalismo, fazendo de sua Asa Branca, metáfora e metonímia de um Brasil debochado e corrupto. Fugiu totalmente à fórmula do folhetim ao apresentar um trio de protagonistas de caráter mais que duvidoso. Inovou e foi sucesso. Isso sem contar "Saramandaia", que inaugurou o realismo fantástico; "Irmãos Coragem", que trouxe o gênero aventura para o folhetim; "Tieta", que mostrava a relação incestuosa entre tia e sobrinho na maior leveza.

Não sei se entendem onde quero chegar, mas nenhuma dessas tramas que citei tinha uma proposta experimental. Elas inovaram e venceram por elas mesmas, mas acho que não teriam lugar nos dias de hoje, já que tudo o que foge à cartilha do folhetim e dos arquétipos já consagrados, não vem tendo lugar nas emissoras.
Ou seja, a televisão vem produzindo as mesmas novelas há anos. Têm audiência, rendem lucro, etc. e tal, mas não inovam uma linha e com isso, saturam o gênero. Os autores de hoje são quase os mesmos de outrora, mas o público é outro e está ávido por novidade. A TV não está perdendo audiência para a Internet, mas para sua própria falta de ousadia.

Portanto, ainda que a novela seja um produto que representa grande parte da fatia comercial de uma emissora, é preciso abrir os olhos e ver que precisamos inovar. “Os mutantes” da Record, ainda que gere alguma controvérsia, ganha o público pelo inusitado. Ao invés de mocinhas sofredoras e tramas folhetinescas, o público se diverte com as lutas diárias entre mutantes do bem e do mal. De uma forma ou de outra, amada ou odiada, não passa incólume. Na mesma Record, “Vidas Opostas” também apostou na criatividade e na ousadia ao trazer para seu horário nobre a favela mais realista de nossa TV. A Globo, em contrapartida, apostou em “A Favorita” que, se não inovou na estrutura, inovou na narrativa, ao embaralhar a cabeça do público ao não revelar de cara quem era a heroína. Quem sabe se esses três últimos casos não representem uma (tímida) reação do inusitado? Acertando ou errando, precisamos muito dele. Se o inusitado tivesse mais espaço e as emissoras deixassem o medo de lado e permitissem que os autores apostassem na ousadia, o gênero se reinventaria e a novela estaria a salvo. Pelo menos pelos próximos anos...

(Texto escrito em 28/08/2008 e publicado no site da AR - Associação dos Roteiristas : http://www.artv.art.br/informateca/escritos/televisao/teledrama.htm )

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Entrevista: Nilson Xavier – enciclopédia televisiva.

                                                                                                                                                                   
            


"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". A frase de Cora Coralina me parece adequada para apresentar o novo entrevistado do melão: Nilson Xavier, criador do site “Teledramaturgia” e autor do “Almanaque da Telenovela Brasileira”, dois veículos que são verdadeiras fontes de conhecimento pra todo mundo que ama novelas e afins.
Noveleiro desde pequeno, Nilson anotava em um caderno todas as informações referentes a cada novela no ar. Anos mais tarde, tornou-se analista de sistemas e uniu o agradável ao útil e criou o site “Teledramaturgia”, que contém informações sobre todas, eu disse TODAS as produções teledramatúrgicas de nossa tevê desde os primórdios. Quer saber quem fez parte do elenco de “O sheik de Agadir”? Ou quer conhecer curiosidades sobre a minissérie “Quem ama não mata”? Seja o que for o que você deseja saber, está tudo no site, que atualmente passa por um processo de modernização em seu layout. Realmente um luxo!  Aos poucos, o trabalho hercúleo e importante de Nilson começou a ser reconhecido em várias instâncias e hoje em dia é muito mais do que um mero guia de consulta para telemaníacos. Além de ser procurado por vários estudantes e pesquisadores do gênero, o site também serviu de base para várias publicações importantes, dentre as quais, o projeto Memória Globo. Não satisfeito, Nilson também publicou o “Almanaque da telenovela”, que além de informativo, traz várias curiosidades sobre inúmeras novelas e séries. Feliz de nossa teledramaturgia que pode contar com pessoas como Nilson, que preservam com tanto capricho e carinho a sua memória, trabalho que deveria ser feito pelas instâncias institucionais, pois já está mais do que na hora de reconhecerem que a telenovela está para o Brasil assim como o cinema está para os States.

“Eu prefiro melão” orgulhosamente apresenta: Nilson Xavier!


            Eu prefiro melão - Quais são suas primeiras lembranças televisivas?
Nilson Xavier - Lembro, muito remotamente, de cenas da novela O Semideus (1974): de Tarcísio Meira de cabelos crespos e um casacão escuro, da personagem de Mirian Pires, uma mulher meio enlouquecida. Depois lembro de Fogo Sobre Terra, principalmente do último capítulo, pois me marcou muito a cena em que Nara, personagem de Neuza Amaral, é tragada pelas águas da represa pois se negava a deixar a sua casa. Na seqüência veio Escalada, e já lembro de mais coisas.

Eu prefiro melão - Você tinha a real noção do enorme sucesso e repercussão quando decidiu criar o site Teledramaturgia? Imaginou que ele se tornaria referência, fonte de consulta para estudiosos, acadêmicos e amantes do gênero? Sei que você já respondeu isso milhões de vezes, mas como tudo começou?
Nilson Xavier - Nunca imaginei, juro! E devo tudo isso ao meu amigo Hugo Pitada, que na época mantinha o site “Gilberto Braga On-Line” que me serviu de referência e foi a base para meu site. Na verdade, minha primeira intenção foi migrar para a rede as minhas anotações de mais de 20 anos. Somado a isso, fiz um bom trabalho de pesquisa com a bibliografia que tinha em mãos na época (1999/2000). Claro que o livro de Ismael Fernandes (“Memória da Telenovela Brasileira”) foi minha principal fonte. Mas o site foi crescendo, crescendo, num trabalho incansável.  “De formiguinha” mesmo! E, aos poucos, tornou-se o que é hoje: uma base de dados, com mais de 900 títulos catalogados, de produções teledramatúrgicas nacionais.

Eu prefiro melão - Do site você partiu para o Almanaque da Telenovela. Como surgiu a ideia do livro?


Nilson Xavier - Em 2004 a Ediouro lançou o “Almanaque dos Anos 80”, livro que gostei muito, pela identificação com a época retratada. Então imaginei que seria bastante interessante um livro nos mesmos moldes (tópicos de curiosidades e fartamente ilustrado), mas apenas com informações sobre o universo novelístico. A maioria das curiosidades sobre novelas eu já tinha, através do site. Bastava compilar de uma forma diferente (por temas), colher mais pesquisa, juntar material ilustrativo e pronto! O livro não poderia ser igual ao site, pois não faria sentido publicar algo que já se encontra na Internet. Então eu diria que o livro complementa o site: tem informações que existem no livro mas não existem no site, e vice-versa.

Eu prefiro melão - Você acha que a novela ainda é considerada pela elite cultural como gênero descartável e de segunda linha? Ou o preconceito já diminuiu?
Nilson Xavier - Acho que o preconceito tenha diminuído um pouco de vinte anos para cá, por tanto que se “bateu nesta tecla”! Mas convenhamos que as produções atuais não têm ajudado para melhorar este cenário. Como bem disse o novelista Lauro César Muniz numa entrevista, hoje em dia se nivela por baixo, e a qualidade fica aquém do esperado.

Eu prefiro melão - A que você atribui o sucesso permanente da telenovela em nosso país? Qual a relação do brasileiro com o gênero?
Nilson Xavier - A telenovela é quase uma “instituição nacional”. Muitos a comparam com o futebol e o Carnaval na preferência popular. E eu concordo. E isso se deve ao fato de as emissoras terem criado no brasileiro médio o hábito de ficar ligado na TV diariamente, em horário nobre, através de uma boa história seriada. Somado a isso, ótimos profissionais em excelentes produções.


Eu prefiro melão - Que novelas e autores você considera emblemáticos e primordiais para a história da nossa TV?
Nilson Xavier - Ah, são tantos! Tantos exemplos de novelas marcantes, que ficaram no subconsciente coletivo. Todos – inclusive quem não é fã do gênero - já ouviram falar de O Bem Amado, Roque Santeiro, Vale Tudo, Dancin´Days, Pecado Capital, Selva de Pedra, Irmãos Coragem (foto), Mulheres de Areia, Beto Rockfeller. E neste histórico, os nomes de Janete Clair, Dias Gomes, Ivani Ribeiro, Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa, Lauro César Muniz, Manoel Carlos e tantos outros serão sempre lembrados!


Eu prefiro melão - De que forma você analisa o atual panorama da produção teledramatúrgica?  Você ainda assiste a novelas com o mesmo entusiasmo do passado? Falta a criatividade e ousadia de outros tempos?
Nilson Xavier  - Acho que o que falta é o público aceitar o novo, o moderno... ou até o revolucionário. Muita coisa mudou de 30 anos para cá. A sociedade, como um todo, por conta dos avanços tecnológicos. Mas - e conseqüentemente - o público de televisão aberta também mudou. Está menos exigente, menos aberto às novidades e menos tolerante às mudanças. Enquanto isso, a classe formadora de opinião está cada vez mais deixando de lado a TV aberta. E isso se reflete nas ótimas produções de teledramaturgia vistas hoje na TV a cabo, e até mesmo na Internet, onde, me parece, é menos nocivo arriscar-se e criar mais.

Eu prefiro melão - Classificação indicativa é uma forma de censura?
Nilson Xavier - Acho que enquanto funcionar como um “alerta” aos pais, não é censura e não atrapalha. Mas a partir do momento que extrapola, faz-se necessário revisar as regras do que “pode ou não pode”. Na minha opinião, a classificação indicativa não deveria podar horários, por exemplo. Acho que cabe aos pais, baseados na classificação indicativa, permitirem ou não o programa a seus filhos. Acho que classificação indicativa é censura quando limita a criatividade por causa de uma grade de programação.

Eu prefiro melão - Em tempos de novas mídias como internet e TV digital, para onde caminha a teledramaturgia?
Nilson Xavier - Acho que a teledramaturgia não deve ignorar as novas mídias. Pelo contrário, deve fazer uso delas, senão, vai ficar para trás, com certeza. Como a Internet é um “mundo sem fim, sem fronteiras”, aumenta-se a possibilidade de novos dramaturgos, novas cabeças pensantes, novas tendências e possibilidades que a TV aberta não consegue abraçar. E isso já está acontecendo. E , apesar destes tempos modernos, continua valendo uma das máximas do showbiz: se estabelece quem tem competência!

Nilson prefere...

Novela favorita: Elas por Elas (memória afetiva) / Roque    Santeiro (melhor novela que já acompanhei)
Minissérie: Os Maias (digno de filme hollywoodiano)
Autor: Ivani Ribeiro e Cassiano Gabus Mendes
Ator: Lima Duarte e Tony Ramos
Atriz: Eva Wilma (foto) e Dina Sfat
Cena marcante: a morte de Juliana (Marília Pêra) na minissérie O Primo Basílio
Tema de novela inesquecível:  Melo do Piripipi” (Gretchen), tema de Mário Fofoca (Luiz Gustavo) em Elas por Elas.

Eu prefiro melão - Obrigadíssimo pela gentileza, querido! E não canso de repetir. Você realizou um trabalho que o Ministério da Cultura deveria desenvolver, afinal preserva a memória cultural de nosso país. Vida longa para o Teledramaturgia!
Nilson Xavier - Obrigado! ;)

                                                                                                      

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